Não suporto os movimentos de esquerda que arraigados de todos os males do mundo, abraçando todos os menosprezados da vida, se arrogam vir para a praça publica, envergando suas vestes thimberland displicente e propositadamente engelhadas, a bater com a mãozinha no peito e a gastar carradas de dinheiro em publicidade, para convencerem o povo para o facilitismo do “sim” ao referendo.
Não suporto as mãezinhas de família, padres, cds pps e afins, que vêm erguer a bandeira do “não” recorrendo a imagens distorcidas e dantescas acompanhadas de discursos de sapiência cristã.
Já o disse. Não pactuo com o facilitismo de um Estado que se demite da sua função. Não pactuo com esta hipocrisia de referendar, novamente, quando o poder legislativo poderia resolver a questão. Não pactuo com a hipocrisia de se fundamentar o referido referendo na alegada distorção do normativo existente. Não pactuo com clínicas de aborto, que sim, é verdade, serão custeadas com o dinheiro dos meus impostos. Não pactuo com a possibilidade de ver jovens porem fim a uma vida.
Não pactuo com os argumentos do “sim”. Porque esta é apenas uma questão de consciência. Sem religião ou cor partidária. Porque esta é uma questão que não se compadece com a arrogância de dizer “ a barriga é minha”, porque não o é. Porque esta é uma questão de vida. Apenas isso. De vida. De duas vidas em “conflito”. Mas em que nenhuma vale menos que a outra. Muito menos quando em causa estão fundamentos diferentes dos plasmados na lei.
E porra não me venham contra argumentar dizendo que então também deveria ser contra a actual lei penal.
Sei perfeitamente a quantidade de abortos ilegais que a esta hora se estão a praticar em condições desumanas.
Mas
Vou votar não. Porque em consciência me doem todos os abortos praticados e não será a legalização dos mesmos que me retirará essa dor. Apenas a agudizará.
Aquele coração Bate para a vida. Apenas para a vida."Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não". Sophia de Mello Breyner Andresen