sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Helton, a solidão e a maçã podre

Durante o jogo FCP – Málaga tive pena do Helton. Achei-o triste. Ninguém lhe bateu palmas, ninguém gritou por ele. Na verdade, acho que pouca gente deu pela sua presença.
Não fez uma única defesa digna desse nome, ninguém lhe passou a bola, para além de que todos os seus companheiros de equipa o abandonaram: foram todos jogar para o meio campo adversário.
Nesta primeira mão da Liga dos Campeões, este foi o jogo mais desequilibrado em termos de futebol jogado. Isco, jogador do Málaga, retrata isso de forma incrível: “O FCP só nos deixou respirar”. Eu diria mais: existiram determinados momentos do jogo em que nem respirar eles conseguiram.
Por falar em respirar, existem dois jogadores no FCP que de certeza que têm mais que dois pulmões. Eles correm como ninguém, estão em todo o lado e nunca estão cansados.
Acresce a tudo isto o facto de não errarem passes, defenderem e atacarem com critério e serem o pilar fundamental em todo o equilíbrio da equipa. Falo de Fernando e João Moutinho.
Faz-me um pouco de confusão no final do jogo existirem vozes que dizem: “espero não ser eliminado por causa de um golo em fora de jogo”. Para além de me fazer confusão, enerva-me e revolta-me.
Se forem eliminados, não será por causa do golo em fora de jogo: será por causa de não terem jogado futebol na primeira mão, por não terem construído uma oportunidade de golo, por terem sido dominados e humilhados pelo adversário e por nunca terem jogado futebol digno de uma equipa que merece estar na Champions.
 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sábio Professor!


Despercebido no Benfica, incompreendido no FCPorto, salvador no Sporting. Assim se resume a história de Jesualdo Ferreira nos três maiores clubes portugueses. Com um percurso de altos e baixos no que concerne ao reconhecimento público do seu trabalho, o facto é que a sua qualidade sempre se manteve intocável e é merecedora de um sublinhado especial.
A verdade é que nem sempre Jesualdo possuiu um discurso apelativo e capaz de chamar a atenção dos demais. Este facto, aliado ao ar sisudo e receoso com que normalmente enfrentava os jornalistas, fez com que os seus resultados – ótimos em Braga e Porto – ficassem para segundo plano no momento de avaliar o seu trabalho de uma forma global. A passagem fugaz por Málaga e a crise financeira que assolou o Panathinaikos aquando da sua estadia, acabaram por ofuscar um pouco as memórias positivas que tinha deixado em Portugal.
Voltemos atrás. Pensemos no que era o Braga antes da sua chegada e em como cresceram jogadores como Fernando, Lisandro ou Hulk. Como com o seu ar aparentemente fechado e pouco aberto ao diálogo, sempre conseguiu manter uma relação de excelência com todos os jogadores com estes a elogiarem publicamente o seu trabalho. Como com a sua experiência, tem tido a capacidade de fazer crescer cada jogador nas mais diversas posições, articulando sempre a movimentação/posicionamento individual com o coletivo que pretende fazer sempre sobressair.
Chegado ao Sporting, parece ter ganho uma nova vida. Acho, inclusivamente, que a manutenção de Jesualdo como treinador é muito mais importante para o clube do que a decisão do próximo presidente. Jesualdo pensa estrategicamente a equipa e o clube simultaneamente, conferindo-lhe um saber único de quem já anda há muito nestas andanças. Estou certo de que a maioria dos sportinguistas pensará da mesma forma.
Todavia, será a primeira vez que Jesualdo terá que construir uma equipa – pelo menos a médio prazo – suportada em jovens e pincelada por 3 ou 4 jogadores mais experientes. Até agora, foi sempre o inverso e, sejamos sinceros, neste cenário é sempre menos difícil atuar. Assim sendo, este é mais um verdadeiro desafio na carreira do Professor.
Resta-nos esperar para ver…     

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

SCP, Godinho Lopes e os treinadores




Godinho Lopes tem uma qualidade: consegue sempre surpreender!
Quando achávamos que já tínhamos visto tudo, eis que surge ele, vindo do nada, a capear o “Record” com uma entrevista absolutamente deprimente e desnecessária.
Após este tempo todo, e após a dança de treinadores que ele próprio conduziu, GL continua a achar que o problema do SCP é o … treinador! Como é possível vir dizer que estava a pensar em Jorge Jesus para a próxima época? Se eventualmente se recandidatar (como é possível ainda achar que tem condições para tal?) e hipoteticamente vencer, como vai explicar a Jesualdo Ferreira que quem ele gostaria de ver no banco do SCP era Jorge Jesus?
Já agora: onde iria ele arranjar dinheiro para pagar o salário de Jorge Jesus (tão apregoado ultimamente no parlamento por um banqueiro…)?
Citando Pedro Barbosa, penso que seria importante para o SCP ter um presidente que não prometesse títulos. Eu acrescentaria: que consiga evitar a extinção e falência do clube.
PS: impossível não falar dos empates de SLB e FCP. O do SLB é justo e num campo difícil. Artur a um nível deprimente (talvez por não ter concorrência), Maxi e Salvio esgotados e Rodrigo inexistente justificam quase tudo.
Quanto ao do FCP, parece-me que os jogadores acusaram demasiado o facto de saberem que o SLB tinha empatado. Só assim consigo explicar que a equipa mais sólida do campeonato, que recentemente cilindrou o Vitória com um jogo imaculado, tenha agora feito uma exibição deprimente contra uma equipa que se apresentou a jogo com 8 lesionados…
PS1: Matic, Cardozo e Marçal. O que têm em comum? Todos expulsos de forma estúpida e injusta por um árbitro que estava a fazer um jogo ao seu nível – perfeito – mas que no final quis ser protagonista. Infelizmente, o IFFHS, que o colocou como melhor árbitro do mundo, é o responsável por esta sede de protagonismo (já agora, só para que conste, este Instituto foi o mesmo que colocou o SCP como a melhor equipa portuguesa de 2012…).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O efeito doping





O caso de Lance Armstrong chocou o mundo inteiro. Durante anos a fio acreditou-se e venerou-se um herói construído com base numa farsa meticulosamente preparada, organizada e de grande complexidade. São casos como este que nos levam a olhar com outra seriedade todas as teorias de conspiração em volta do mundo desportivo.

E como muitos de nós possuímos a qualidade positiva de aprender com os erros, é com naturalidade que nos surge a questão “Que mais heróis do desporto se construíram com base numa farsa?”.

Eufemiano Fuentes é um médico desportivo espanhol apontado como um dos principais mentores de um complexo esquema de doping que deu origem ao enorme processo ainda em investigação chamado de “Operação Puerto” em Espanha. Suspeita-se que vários clientes de Fuentes não pertenceram só ao ciclismo, e há indícios que vários futebolistas pertencentes a diversos clubes de futebol, incluindo do Real Madrid e Barcelona, recorreram aos seus serviços.

Todas estas notícias fazem-nos de alguma forma recear que toda a credibilidade e emoção que depositamos numa personalidade ou equipa de futebol ou outra modalidade tenha sido completamente em vão e esta desconfiança não é nada saudável tanto para o bem estar da modalidade como para o interesse do adepto.

As audiências do ciclismo e o interesse dos patrocinadores tem descido exponencialmente com casos como de Armstrong, será o ciclismo a única modalidade que irá sofrer com escândalos relacionados com doping? 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Und jetzt?

Embora a presente época ainda nos vá proporcionar intensos momentos futebolísticos, torna-se inevitável começar já a projetar a próxima. Mais do que abordar o que poderá acontecer internamente, irei centrar-me sobre a segunda grande expectativa do próximo ano – será Guardiola capaz de transpor as suas ideias futebolísticas para uma equipa e campeonato totalmente díspares da sua experiência anterior?
À parte das diferenças na qualidade dos jogadores e na própria estrutura, importa sublinhar os entraves relacionados com a língua e com as diferenças culturais. Pese embora se possa aprender a língua ou mesmo tendo um tradutor do mais elevado calibre, é indesmentível que a mensagem passada nunca surtirá o mesmo efeito (basta lembrar o célebre “telefone estragado”). Este fator torna-se ainda mais relevante quando nos lembramos de que o estilo de jogo a ser implementado baseia-se em instruções precisas a cada jogador, devendo este saber todo e qualquer detalhe associado à sua presença em campo.
Num estilo de jogo suportado no passe, ter jogadores capazes de colar a bola ao pé e entregá-la com eficácia perto dos 100% torna-se fundamental. Não querendo menosprezar a imensa qualidade de jogadores como Robben, Kroos ou Schweinsteiger, a verdade é que não possuem o mesmo ADN futebolístico de Guardiola. Mais ainda, o quarteto defensivo – crucial na saída com bola do estilo de jogo pretendido – não parece ter a qualidade suficiente para implementar com a segurança pretendida esta filosofia. Para terminar, contará com Mandzukic, Muller e Gomez – típicos número 9 – posição meio híbrida no Barcelona “à la Guardiola”.
Será certamente um desafio à sua capacidade enquanto treinador e ao sucesso da sua filosofia. Se sobreviver num campeonato como o alemão, passa mais uma etapa para cimentar este estilo de jogo como histórico e perene.
PS: Obviamente, a grande expectativa para a próxima época passa por saber onde Mourinho continuará a encantar os adeptos do futebol e a ser atacado pela imprensa. Já o foi em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha… o que se segue?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Algumas considerações





O clássico entre Porto e Benfica foi certamente emocionante. Na primeira parte, mostrou todas as caraterísticas que um jogo como este deveria ter: espetáculo, emoção, qualidade tática e individual e golos. Porém, na segunda parte a emoção resfriou e tudo de alguma forma voltou um pouco ao que infelizmente costuma ser: muitas paragens, quezílias e mais timidez nos momentos ofensivos.

O jogo também ficou marcado por alguns erros de arbitragem e critérios incompreensíveis adotados pelo árbitro, erros esses que foram bem destacados e que criaram fúria em Vítor Pereira e Pinto da Costa. Por entre as declarações proferidas, lançaram também algumas suspeitas quanto à possível manipulação na escolha dos árbitros por parte da Liga. Comportamento muito semelhante ao dos dirigentes benfiquistas nas declarações pós-jogo de anos anteriores. Neste aspeto só se poderá concluir que tanto os dirigentes do Benfica como os do Porto são exatamente iguais relativamente ao tratamento que dão a questões de arbitragem e lançamento de suspeições relativas a eventuais ações de corrupção. Ou seja, neste aspeto não há nobres nem vilões, são todos iguais.

A perspetiva que lanço aqui é muito clara. Quando o resultado de um jogo é totalmente justo e reflete apropriadamente a qualidade de jogo apresentada pelas duas equipas (e realmente assim foi na minha opinião), deveria ser totalmente imoral lançar suspeitas relativas a corrupção sobre arbitragem pelo bem do futebol e pelo bem da integridade e coerência das personalidades que o integram.

Mudando um pouco de foco, este fim de semana assistimos a um Sporting diferente com uma dinâmica que não se via há imenso tempo. Será muito cedo afirmar que são efeitos de Jesualdo, se bem que poderão ser indícios de mudança. No entanto, apesar de ter assumido a equipa de uma forma um pouco fora do ideal, Jesualdo poderá incorporar uma parcela importante daquilo que o Sporting precisa: alguém com grande bagagem em conhecimento e experiência, capacidade de liderança forte e uma reputação que lhe confere respeito. Restará saber se a estabilidade da direção leonina acompanhará adequadamente este processo de reabilitação.