segunda-feira, março 31, 2003


VIVA O MARXISMO?

"Entre uma mulher e um charuto, escolherei sempre o charuto."

Groucho Marx
Já que o Pedro Mexia de A Coluna Infame
gostou tanto da outra, cá vai mais uma do mesmo género:

IMBECIL DE ESQUERDA

"Ele tinha um coração enorme, daí que fosse de esquerda, porque só a esquerda procura melhorar o mundo e as condições de vida das pessoas.”

Almeida Santos em homenagem a Barros Moura

Reacções

Mandem as vossas opiniões para jcf_fumaca@mail.pt


A DEMOCRACIA A QUE ALGUNS TÊM DIREITO

Entre as várias publicações estrangeiras sobre charutos, uma das mais prestigiadas é a francesa "L'Amateur de Cigare". Existe há doze anos e tem contribuido fortemente para a divulgação dos charutos cubanos em França.

Pois o que é que lhes aconteceu no passado mês de Fevereiro aquando da realização do anual "Festival del Habano" em Havana?

Presentes com um stand, como ocorria desde a primeira edição desta manifestação, as coisas começaram a correr mal quando se aperceberam 2 dias antes da inauguração que um dos caixotes embarcados em Paris com revistas tinha desaparecido. Como? Mistério....

No dia da inauguração, têm a impressão de que a delegação oficial passa ao lado do pavilhão deles. Talvez coincidência?

Passados poucos momentos recebem a visita de um sujeito que diz ser grande apreciador de charutos e que lhes pede uma revista e se vai embora. Alguns minutos mais tarde, volta, agitando um cartão da DTI (segurança política cubana - a Pide lá do sítio...). Informa-os que têm de retirar todas as revistas dado que no número de Dezembro tinham sido publicados uns cartoons com o Che que não tinham agradado aos cubanos!

Após mais algumas peripécias (apreensão do material do stand, etc...), conseguem ser recebidos pelos organizadores (a Habanos S.A.), mais concretamente pelo director jurídico, que lhes comunica que foram eles próprios que pediram à polícia a apreensão da revista!

É altamente censurável que uma organização comercial, como a Habanos tenha posições destas, principalmente da forma como tudo se passou (bastante humilhante).

Igualmente, mais uma vez, se vê qual o conceito de liberdade de Cuba: qualquer crítica é proíbida e os seus autores perseguidos.

Há faltas mais dramáticas de liberdade de expressão pelo mundo? Claro que há (a começar por Cuba), mas esta é muito sintomática do que se passa por aqueles lados!

domingo, março 30, 2003


ANTE-MANHÃ

Janeiro 1967

Estás no altar, bem sei,
acima de mim que olho
o teu vestido de gesso
pintado de azul.
E escovo com a mão o fato,
com um gesto inusitado,
na lapela azul do fato.
Rezo um Pai Nosso.
"Pai Nosso. Ave!"
Digo:"Salve!
bendita entre as mulheres,
ó minha Mãe!"
Sou tão pequeno, pequeno,
ao pé de ti, minha Mãe!
"Eu tinha um urso de
pano...
Ave!
a quem arranquei os olhos"
Tenho frio nos joelhos.
Ainda é noite na cidade.
"Tu tiraste-mos da boca
e eu cresci, minha Mãe!"
Maria!
Cresci tanto que não posso
já com o peso dos anos.
"Tinha a boca ensanguentada
dos agudos olhos vidros."
Mas não está aqui ninguém.
Posso chorar à vontade.
"Pintaste as covas de azul,
digo, nas covas, os olhos.
E eu chorei."
Cheia de graça!
Chorei como choro agora
de sentir na minha carne
os raios de arame-cobre
que descem de tuas mãos.
O sol ainda não nasceu.
Também que mania esta
de não mudarem as horas.
Ave!
Aqui a luz é das velas
e de uma lâmpada eléctrica.
Mas que solidão, meu Deus!
"O urso ficou guardado
numa caixa lá no sótão.
Meti-lhe os dedos nos olhos."
O Senhor é convosco!
Senti, como sinto sempre,
a dor fina quando esfrego
os olhos, de ter chorado
depois, nesta vida breve.
Bendita sois vós!
Alguém entrou. Quem será?
Parece haver claridade.
São já oito horas certas.
Saíste de casa às sete.
Terás esquecido a chave?
Bendita sois vós!
Sou tão pequeno, pequeno
Ao pé de ti, minha Mãe!
"O tempo
é muito tempo
para uma vida
pequena"
Bendita sois vós!
A nossa vida é pequena,
como eu sou pequeno, Mãe!
E eu queria bendizer-vos.
Bendita sois vós!
Estás fraco, rapaz, estás fraco.
Levanta-te. Vai-te embora.
Mas antes reza a oração
que nosso Pai ensinou.
Digo: Jesus. Tanto faz.
Vá!
"Pai Nosso que estás no céu.
Santificado..."
É possível que o correio
Venha hoje de Timor.
Salve!
Timor!
Timor! Que paciência eterna!
Vinte anos de paciência.
Ilha de mistérios densa
e gente de tez morena.
Timor, minha ilha querida.
Minha verdade. Falida?...
Ó minha causa perdida!
Senhora, tem piedade.
Tem piedade, Senhora.
Tem piedade.
Olha-me por essa gente
portuguesa,
que te ergueu um trono, uma pedra.
Um sacrário de inocência.
Fatu lulik Maria!
Tata-Mai-Lau, Tutuala,
Mata-Bia, alma dos mortos.
Sagrado monte dos mortos.
Venilale, Ave-Maria!
E abro de pronto os braços.
Sou eu que agora actuo.
Não falo, apenas murmuro
no halo que Timor teve.
"Senhora, tem piedade.
Tem piedade de mim.
Sê tu a minha verdade
na vida."
E senti-me trespassado
nos olhos, no corpo todo,
pelos raios - momento breve,
fulgente de frio e cobre -
que tuas mãos irradiam
em S. Luís dos Franceses.
Salve!
Ó clemente,
ó piedosa,
ó doce...
E saí, doido varrido,
cego de azul, cego, cego,
mas contigo, só contigo
e o meu urso pequenino
cego, cego, cego, cego,
desta igreja escura e fria.
Numa manhã de neblina
doirada pelo céu de inverno
entrei, radiante, pelo Rossio.
Salve!
Não havia táxis.
Mas segui, radiante, o meu destino.
Salve, salve, salve!
Em Timor amanhecia!
Ave Maria!
Entrei na Brasileira do Chiado.
Pedi um chá com torradas
e li o jornal.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco...
Há notícias no jornal.
Caso raro.

Ruy Cinatti

CONDUÇÃO

Qual é melhor opção quando se vai com pressa em Portugal?

Conduzir pela faixa da direita. Quase ninguém a usa. Vão todos pela esquerda! Até se assiste a condutores que vão pela direita passarem para a faixa esquerda sem terem ninguém pela frente!

Solução? Tal como em muitos outros aspectos em Portugal, o problema não é a lei, é o seu incumprimento. Se começassem a ser multados por isso, iam ver como tudo se endireitava!

sexta-feira, março 28, 2003


SÁBADO

Ao sábado é o dia de descanso semanal do Fumaças. Salvo excepção que justifique, não haverá mensagens nesse dia. Abraços e desejos de bom fim de semana para todos.

Dieu est un fumeur de havanes

Dieu est un fumeur de havanes
Je vois ses nuages gris
Je sais qu'il fume même la nuit
Comme moi ma chérie
Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Je vois tes volutes bleues
Me faire parfois venir les larmes aux yeux
Tu es mon maître après Dieu
Dieu est un fumeur de havanes
C'est lui-même qui me l'a dit
Que la fumée envoie au paradis
Je le sais ma chérie
Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Sans elles tu es malheureux
Au clair de la lune ouvre les yeux
Pour l'amour de Dieu
Dieu est un fumeur de havanes
Tout près de toi loin de lui
J'aimerais te garder toute ma vie
Comprends-moi ma chérie
Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Et la dernière je veux
La voir briller au fond de mes yeux
Aime-moi nom de Dieu
Dieu est un fumeur de havanes
Tout près de toi loin de lui
J'aimerais te garder toute ma vie
Comprends-moi ma chérie
Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Et la dernière je veux
La voir briller au fond de mes yeux
Aime-moi nom de Dieu

Serge Gainsbourg

O general ("Depois de fortemente bombardeada, a cidade X foi ocupada pelas nossas tropas.")

O general entrou na cidade
ao som de cornetas e tambores ...
Mas por que não há "vivas"
nem flores?
Onde está a multidão
para o aplaudir, em filas na rua?
E este silêncio
Caiu de alguma cidade da Lua?
Só mortos por toda a parte.
Mortos nas árvores e nas telhas,
nas pedras e nas grades,
nos muros e nos canos ...
Mortos a enfeitarem as varandas
de colchas sangrentas
com franjas de mãos ...
Mortos nas goteiras.
Mortos nas nuvens.
Mortos no Sol.
E prédios cobertos de mortos.
E o céu forrado de pele de mortos.
E o universo todo a desabar cadáveres.
Mortos, mortos, mortos, mortos ...
Eh! levantai-vos das sarjetas
e vinde aplaudir o general
que entrou agora mesmo na cidade,
ao som de tambores e de cornetas!
Levantai-vos!
É preciso continuar a fingir vida,
E, para multidão, para dar palmas,
até os mortos servem,
sem o peso das almas.

José Gomes Ferreira
PRAZERES

Há algum tempo, fui jantar em Madrid, a um restaurante de nome VIRIDIANA cujo cozinheiro é ABRAHAM GARCÍA, onde tive aquela que considero (até agora...) a melhor refeição da minha vida:

Entrada: Huevos com boletus y trufas - ovos estrelados com um molho feito à base de cogumelos e trufas - nota 20!
Prato principal: Ciervo al Banyuls con Okra - um magnifico tournedó de carne de veado, com molho de vinho.
Sobremesa: Capuchina a la Cazalla y cafe - um docinho de ovos, chocolate e café.

Tudo isto com um serviço impecável e regado com um Terras Gauda 98 branco, de chorar por mais.

O Abraham García é fã do Bunuel, pelo que a decoração do restaurante é feita à base de fotos dos filmes do Bunuel, com algumas pequenas "aldrabices" que consistem na inclusão de fotografias a preto e branco do cozinheiro, em poses de alguns dos filmes.

Alguém menos atento não dá por nada!

Para os interessados, a morada : Calle Juan de Mena, 14 - 28014 Madrid
GOVERNO

A incapacidade para comunicar e explicar as decisões deste Governo é confrangedora!

Veja-se o exemplo da variação de preços dos combustíveis. Tivemos em dois dias declarações de dois ministros, aparentemente contraditórias, por pouco ou mal explicadas.

Anteontem, a ministra das Finanças Manuel Ferreira Leite declarou que o Governo não recorrerá a quaisquer artifícios na política energética para evitar um eventual aumento dos combustíveis, na sequência da guerra no Iraque. "Os portugueses podem contar com a ausência de artifícios relativamente à política energética e podem contar que, se houver evoluções negativas no mercado energético, Portugal sofrerá como qualquer outro país".

Ontem , o ministro da Economia Carlos Tavares surge a anunciar que pela aplicação da fórmula de cálculo dos preços dos combustíveis os diversos tipos de gasóleo aumentariam, mas que o Governo "ponderada a penalização do custo deste factor e esperando que a recente subida nos mercados internacionais tenha atingido o pico e que, proximamente, possa ser corrigida, decidiu proceder a uma descida do imposto, dentro da margem estipulada na lei".

Para quem esteja por dentro destes assuntos o que se passou é perceptível, mas para leigos (a maioria da população) careceria de explicações suplementares.

Bastaria explicar que o ISP (imposto) tem por lei uma banda de variação dentro da qual pode oscilar. O Governo utilizou essa faculdade para não subir o gasóleo rodoviário - a aplicação da fórmula de cálculo implicaria um aumento de 3 cêntimos, mas a banda de variação permitia manter o preço através da diminuição do ISP (foi o que o Governo fez).

Já no caso do gasóleo agrícola ocorreu um aumento de preço de 2 cêntimos. Porquê? Porque a fórmula de cálculo apontava para aumento de 4 cêntimos e o ISP já estava perto do limite mínimo imposto por lei. Assim nesse produto só foi possível baixar o ISP em 2 cêntimos, tendo de se proceder a um aumento do restante (2 cêntimos também).

Não há contradição entre os ministros dado que a ministra das Finanças ao falar em artifícios se referia ao que aconteceu com o Governo anterior quando esgotada a capacidade de variação do ISP se mantiveram os preços sendo a diferença suportada pelas empresas petrolíferas, que só foram ressarcidas dessas verbas larguíssimos meses mais tarde.

É esta incapacidade para explicar as coisas que aos poucos e poucos vai minando a base de apoio do Governo!

quinta-feira, março 27, 2003


O Raul Leal era

O Raul Leal era
O único verdadeiro doido do "Orpheu".
Ninguém lhe invejasse aquela luxúria de fera?
Invejava-a eu.

Três fortunas gastou, outras três deu
Ao que da vida não se espera
E à que na morte recebeu.
O Raul Leal era
O único não-heterónimo meu.

Eu nos Jerónimos ele na vala comum
Que lhe vestiu o nome e o disfarce
(Dizem que está em Benfica) ambos somos um
Dos extremos do mal a continuar-se.

Não deixou versos? Deixei-os eu,
Infelizmente, a quem mos deu.
O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?
Tretas da arte e da era. O Raul era Orpheu.

de "O Virgem Negra" por M. C. V. (Mário Cesariny).


CLARA PINTO CORREIA

Segundo informa o Público, vai ser editado o livro de Clara Pinto Correia cuja publicação estava suspensa desde que se descobriu o plágio de alguns artigos.

"Salvaguardámos que nesse conjunto de trabalhos não havia situações que pudessem ser equiparáveis às de plágio", assegura Gonçalo Bulhosa, um dos editores da Oficina do Livro, que afirma ter sido dada "uma garantia por parte da autora".

A pergunta que se impõe é a seguinte: será que as restantes vão ser editadas pelo The New Yorker?
ANEDOTA:

FIDEL E OS REFUGIADOS

Fidel morre e chega ao céu, mas não estava na lista.
Assim, São Pedro manda-o para o inferno. Quando chega lá, o Diabo em pessoa recebe-o e diz-lhe:
Olá Fidel, seja bem-vindo. Eu estava à sua espera. Aqui você vai-se sentir em casa.
Obrigado, Satanás, mas estive primeiro no céu e esqueci as minhas malas lá em cima.
Não se preocupe. Vou enviar dois diabinhos para pegar as suas coisas.
Os dois diabinhos chegam às portas do céu, mas encontram-nas fechadas porque São Pedro tinha saído para almoçar.
Olha, é melhor pularmos o muro. Aí pegamos as malas sem perturbar ninguém...
Então, os dois diabinhos começam a escalar o muro.
Dois anjinhos passavam por ali e ao verem os diabinhos, um comenta com o outro:
Incrível, não faz nem dez minutos que Fidel está no inferno e já temos refugiados!

UNIDADE, UNIDADE, UNIDADE !

4 moções de censura, ao governo - 4!

A "nossa" esquerda nem sobre um assunto em que à partida parecia andar unida conseguiu chegar a acordo sobre um texto comum.

E só após muitas hesitações (adivinhem principalmente de quem - há tiques que ficam!) acabaram todos a votar favoravelmente as moções dos outros.

A ideia que acaba por ficar é de fraqueza: muito dificilmente se entenderão entre eles, pelo que não constituiem actualmente alternativa!
SONHOS

"Dreams come true; without that possibility, nature would not incite us to have them."

John Updike
ET UN SOURIRE

La nuit n'est jamais complète.
Il y a toujours, puisque je le dis,
Puisque je l'affirme,
Au bout du chagrin
Une fenêtre ouverte,
Un fenêtre éclairée,
Il y a toujours un rêve qui veille,
Désir à combler, faim à satisfaire,
Un coeur généreux,
Une main tendue, une main ouverte,
Des yeux attentifs,
Une vie, la vie à se partager.

Paul Eluard



COMBUSTÍVEIS

Governo decidiu baixar ISP para evitar subida do preço dos combustíveis. Só no gasóleo seriam 3 cêntimos (depois de já ter subido 4 este mês).

Liberalização até Junho? Pois, pois...

quarta-feira, março 26, 2003

A pedido de um Amigo, umas pequenas indicações sobre como conservar charutos: 

CONSERVAÇÃO DE CHARUTOS

Os charutos, como produto "vivo", necessitam absolutamente de envelhecer em boas condições
É um produto que gosta da escuridão, temperatura constante (entre 15 e 20 º) e sobretudo de humidade.
Reunidas estas duas últimas condições, um charuto pode conservar-se mais de 10 anos sem problema, mesmo que, ao contrário de alguns vinhos, nada ganhe com isso. 

UM CLIMA PARECIDO COM O DAS CARAÍBAS

A escuridão e o calor são dois parâmetros fáceis de respeitar. Agora uma taxa de humidade entre 70 e 75% requer a compra de uma caixa humidificadora.
Uma dessas caixas, com o seu sistema de humidificação (e um higrómetro para verificar o nível de humidade) é o único meio para conservar correctamente charutos.
A venda de humidificadores têm-se expandido, havendo muitos modelos à venda, por exemplo em tabacarias. Infelizmente os preços não são geralmente muito razoáveis.
Para estar na sua plenitude, um charuto necessita de um clima semelhante ao das Caraíbas (durante todo o seu crescimento uma planta de tabaco vive num meio com uma taxa de humidade a oscilar entre os 70 e 80%), senão as folhas secam, estalam e perdem todo o seu aroma. 

ERROS A NÃO COMETER: 

· Guardar os charutos no frigorífico: o frio seca o charuto e acaba por o destruir.
· Fechar os charutos num saco com pedaços de cenoura ou batata: não garante a humidade (legumes secam depressa) e vai captar o cheiro. (Que desperdício um charuto com cheiro ou sabor a cenoura!)

Reacções

Mandem as vossas opiniões para jcf_fumaca@mail.pt
IMBECIL DE ESQUERDA

"Acho que ser de esquerda é também uma questão de inteligência e de bom senso. Claro que há imensas pessoas de direita inteligentes, mas é preciso um certo cinismo."

Inês de Medeiros
O HORROR

Já não bastavam as mortes de inocentes que ocorrem em qualquer guerra e tinha de aparecer agora o sanguinário ditador de Bagdade (ou quem eventualmente o substitui - são cada vez maiores os rumores de que ele terá sido ferido no ataque inicial) a mandar o seu próprio povo para a morte.

A utilização de escudos humanos (civis) pelas forças militares iraquianas está já a pesar significativamente na "contabilidade" de perdas de vidas humanas nesta guerra. Fico a aguardar que nos habituais protestos do próximo sábado contra a guerra seja fortemente condenado este aspecto!
Um dos mais belos lemas de vida que conheço:

"Goza a vida! É mais tarde do que pensas!"

in L'Aventure c'est l'aventure de Claude Lelouch - 1972
O texto que se segue foi "publicado" na intranet da empresa onde trabalho, em 21-01-2002 :

Na morte de CAMILO JOSÉ CELA

No momento da morte de um vulto da literatura mundial, prémio Nobel de 1989, nada como um texto do próprio, como forma de homenagem.

O texto que se segue foi publicado pelo jornal El Mundo, no dia em que outro grande escritor, Francisco Umbral completava a sua milésima crónica. Pela sua leitura se percebe facilmente estarmos em presença de um homem vertical, daqueles que começam a escassear.

CAMILO JOSE CELA

Querido Paco:

Una vez, hace ya algunos años, incluso más de los precisos, cuando tú eras aún un mozo y yo ya había dejado la mocedad muy a la espalda, te dije que a mi saber y entender, incluso desleal lo primero que necesitaba un escritor para serlo de modo que mereciera la pena, no estreñida y obedientemente, era tener voz y voluntad propias, poco importa si poderosas y arrolladoras o tenues y lánguidas pero propias, inequívocamente personales y propias. El más grande poeta español del siglo XIX, Bécquer, tañía un laúd de una sola cuerda, ¡pero qué sonidos le sacaba! En el extremo opuesto, los dos solemnes poetas metafísicos de aquel tiempo, Campoamor y Núñez de Arce, eran dos pelmas grandilocuentes aliterarios y farragosos que no se los saltaba ni un gitano al trote.

Tú tienes voz propia, querido Paco, no hay más que leerte cada mañana para verlo, y eso es lo que salva tus páginas, siempre maestras, pero también arruina tus días, siempre azarosos. ¿No te das cuenta de que sería pedir demasiado que te dejasen en paz tras escribir como escribes y vivir a tu aire?

Proclamo, antes de que cualquiera de los dos nos vayamos para el otro mundo a hacerle compañía a los poetas y a los prosistas de la generación del 50, ¡qué poco están durando!, que a mi juicio eres la única voz tonante, restallente e importante de la literatura española todavía no vieja. Escribes más que el Tostado y haces bien porque en este oficio más vale tener que desear, es preferible pasarse que quedarse corto y más se peca, contra lo que suponen los timoratos, por defecto que por exceso, pero también vives más y mejor, quiero decir con más intensidad y calidad que nadie, y esto suele escocer al prójimo.

En la Academia te dejaron a la puerta, mejor dicho, te dieron con la puerta en las narices, y lo peor es que no se percataron de que quien perdía con eso no eras tú sino la corporación que te rechazaba. Tampoco has accedido a los grandes premios literarios, pero puedes estar tranquilo porque aquí no le remuerde la conciencia a nadie.

¿Qué es lo que pasa contigo? ¿Por qué no se pregona en voz alta lo que se sabe y aun lo que se dice en voz baja? Para mí tengo que no eres ni lo bastante dócil ni lo bastante dúctil y eso lo hacen pagar muy caro los tristísimos funcionarios que nos gobiernan y que creen cumplir con la cultura presidiendo la tómbola de las prebendas y los disfavores. Yo sé que todo esto, a ti, te trae sin cuidado aunque durante unos instantes te duela y te decepcione, pero también sé que esto acontece porque tienes un temple heroico y eres capaz de echártelo todo a la espalda y seguir currando como si nada sucediera. Te felicito, querido Paco, y te animo a no cejar en tu actitud. ¡Si vieras el gusto que da ver pasar cadáveres embalsamados en laureles administrativos! Es posible que ya lo sepas pero, en todo caso, estate atento.

No sé cuál es el motivo por el que hoy se te festeja. Tampoco me importa demasiado porque a mí, sólo con que existas y escribas y yo me entere, me basta ya para pregonar la admiración que siento por ti y por tus cuartillas.

Y nada más. Que sigas feliz y trabajador es lo mejor que te deseo, tú sabes que todo el desguazado resto de las pompas y vanidades es algo que fluye solo y sin que nadie sea capaz de detenerlo.

Dile a tus señoritos en ese periódico que no sé si he escrito lo bastante para complacerles en lo que me pedían; a cambio tampoco les cobro nada, y pienso que bien puede ir lo uno por lo otro. Y no les cobro, querido Paco, porque les parecieron altas mis tarifas y a mí no me gusta hablar de dinero: me parece una ordinariez. Yo creo que los escritores, al menos en esto, debemos ser como los toreros o las putas, que pueden torear festivales o joder de capricho, pero sin bajar los precios jamás.

Un abrazo de tu lector y amigo.
Camilo José Cela.

Artículo conmemorativo de la aparición de la columna mil de Francisco Umbral (22.1.1993).
Para começar, o meu poema preferido:

CÂNTICO NEGRO

"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.

José Régio


Como indicado no sub-título, neste blog vão ser tratados alguns assuntos que me dão prazer.