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domingo, 29 de setembro de 2013

COMUNICAÇÃO CIFRADA OU SIMPLESMENTE CONFUSA?


Há uma semana era publicado o post comunicação menos cuidada é armadilha e verifica-se que os altos responsáveis pelos destinos do País continuam a usar uma comunicação confusa – não creio que seja formalmente cifrada – que apenas serve para criar nevoeiro no espírito dos cidadãos. Faz lembrar a frase do ex-primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo «é só fumaça». Mas na época e na intenção tal frase estava correcta. Agora não é correcto altas entidades responsáveis e que devem ser credíveis e respeitáveis digam coisas de forma a confundir os cidadãos.

Passos, em notícia das 11h48 dizia que há sempre uma leitura nacional a fazer» das eleições o que coincide com a opinião geral e a leitura depende de quem a faz, dos interesses que defende, do conjunto de dados informativos de que dispõe, isto é, dizer «há uma leitura» subentende uma ideia, uma intenção que é deixada no escuro. E nem seria oportuno, durante o acto eleitoral, explicá-la, pelo que nem devia ter sido referida.

E, em notícia das 14h14, Cavaco disse que futuro do Governo não depende de eleições locais, mas não especificou que isso é o aspecto formal, legal, mas na sequência das perguntas do jornalista que se referiu ao caso de António Guterres que se demitiu na sequência de umas eleições autárquicas, em 2001, Cavaco Silva disse que essa foi uma decisão pessoal. «Isso foi a decisão de um primeiro-ministro, é com ele».

Perante isto, estas palavras de pitoniza permitem admitir que, em face dos resultados eleitorais locais, pode haver alterações no Governo. Há quem admita que, para poupar os custos de eleições, possa haver uma alteração como a que consistiu na substituição de Durão Barroso por Pedro Santana Lopes, e que agora seria a substituição de Passos, por exemplo, por Rui Rio.

Imagem do Google

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

É PRECISO QUALIFICAR OS POLÍTICOS


E se não bastar qualificar será indispensável «requalificar». O cronista Paulo Ferreira gaba-se, no Jornal de Notícias, que já sabe o que é requalificar, mas não fiquei a saber o que é. O meu dicionário apenas fala de qualificar, dizendo que significa atribuir qualidade.

Mas penso que se qualificarmos correctamente, deixará de haver, por exemplo, tantas agressões ao idioma pátrio. Por coincidência, ou por mero acaso, dois ex-colonos do Ultramar e depois colonos do rectângulo lusitano, agrediram impunemente o idioma nacional: Miguel Relvas disse que era preciso «ser ouvisto» e Passos Coelho aconselhou há dias em discurso público que «sejemos» realistas…

Será que o primeiro quereria impor o vergo «ouver» como função dos ouvisdos, à semelhança do verbo que exprime a função dos olhos. E será que Passos pretende criar o verbo «sejar», à semelhança do verbo palrar, actividade em que é exímio?

Ao meditar nestas inovações linguísticas, deparei com o poema de Zélia Chamusca que me mostra que não vale a pena prestar atenção a reformas requalificativas e que transcrevo:

SEM LEI NEM ROQUE

Zélia Chamusca

Num país sem lei nem roque
Nem ladrão a quem se toque,
Cada um mais enche o saco
Do pobre o recurso parco.

Todos os trabalhadores
Estão a sofrer horrores
E os pobres dos reformados
Cada vez são mais roubados.

São só os pobres a pagar
E os do Poder a roubar,
De quem lhes deu o poder
Eles se estão a esquecer.

Não merecem governar
Este país a ficar
Cada vez mais assaltado,
Como não vi no passado!

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Falsa esperança de crescimento positivo

Há quase onze meses, o Dr Frasquilho dizia “O que é que isto significa? Que se se concretizar este cenário é possível que no início de 2013 estejamos em condições de regressar ao crescimento positivo” Como depreendi que o adjectivo «positivo» subentendia haver um crescimento negativo perguntei o que é um crescimento negativo???. Fui à procura de resposta do autor da ideia e obtive como sua explicação que se trata do idioma (calão) «economês» e fiquei com a ideia de ser um «crescimento» do género do afogado que, em vez de estar a 20 metros de profundidade, passou a estar apenas a 10 metros.

Mas isto vem a propósito de constatar que tal esperança do douto deputado, falhou e não passou de uma fantasia para iludir a esperança dos cidadãos, coisa em que os políticos são exímios. Mas agora, como «gato escaldado de água fria tem medo», já não podemos acreditar da promessa contida na frase «O vice-presidente da bancada do PSD Miguel Frasquilho considerou esta terça-feira que as novas previsões do Banco de Portugal incluem "boas notícias" para 2014 e permitem manter a esperança na inversão da atividade económica este ano

A publicidade enganosa é árvore de folha caduca e tem a sua temporada limitada.

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domingo, 4 de março de 2012

A história garante que a crise passa !!!

Ao longo de mais de oito séculos de História, os portugueses passaram por diversas crises económicas, políticas e sociais e, talvez baseado nesses dados do passado, o ministro das Finanças afirmou, usando mais uma vez o verbo «garantir», que a história garante que venceremos a crise.

Seria desejável e um tónico para a esperança do povo português que o ministro, mesmo que não «garantisse», dissesse que as medidas já tomadas estão a dar bons resultados e que é de esperar que com os planos do Governo, em fase de implementação, Portugal venha a sair da crise no próximo ano em que já Frasquilho previu que se inicie o «crescimento positivo».

As palavras do ministro fazem recordar as do Rei de Espanha ao Presidente Hugo Chávez «porque não te calas?». Realmente Portugal ultrapassou muitas crises ao longo da sua história, mas a maior parte delas terminaram com a força das armas e dos paus de marmeleiro, correndo com políticos que deram lugar a outros mas causando sofrimento e perdas de vidas a pessoas inocentes e destruindo haveres e património público e privado. Perante esses desfechos que a História reporta, parece mau sintoma um ministro estar a fazer recordar as soluções para as crises da História. E, por outro lado, não perspectiva desempenho positivo por parte dos governantes, pois tais palavras podem levar a concluir que da iniciativa governamental não esperam mais do que dos casos da História.

Enfim, mais uma vez, se conclui que os homens públicos devem pensar previamente e preparar as frases que vão dizer em público, para que os efeitos não sejam opostos aos pretendidos.

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domingo, 26 de fevereiro de 2012

«Crescimento positivo»

A minha experiência de quase seis anos da blogosfera, dizia-me que provavelmente não obteria aqui a resposta esperada à pergunta do titulo do post O que é um crescimento negativo??? e resolvi ir pedi-la ao utilizador do «conceito», através de um comentário num seu post no blogue em que colabora. Consegui este «esclarecimento»:

Finalmente, CRESCIMENTO NEGATIVO é uma expressão de "economês" (isto é, linguagem de economistas) que indicia que houve um decréscimo na riqueza produzida. Sim, hoje eu usei a expressão "crescimento negativo" quando comentei as novas projecções da Comissão Europeia; e depois contrapus o "crescimento positivo" que, a perspectivar-se o cenário apresentado, poderá já ser verificado em 2013. Foi isto. Não usei pela primeira vez, e certamente voltarei a fazê-lo. Sinceramente, pode ser defeito de formação, mas não encontro melhor expressão para definir o fenómeno em questão... De qualquer modo, obrigado pelo comentário!...

Confesso que não gostei.

Compreendo que os economistas entre si utilizem o «economês», pois em todas as profissões existe jargão próprio que os isola numa terminologia indecifrável para os não familiarizados com ela. Há dias, um militar num convívio com a presença de alguns amigos de profissão dizia que a mulher anda muito desconfiada e ele quando chega a casa tem que lhe fazer o sitrep. Logo um não militar lhe perguntou que raio de carícia é essa?

Ora o Dr. Miguel Frasquilho, além de economista, é deputado em funções de destaque no partido do Governo e, quando utilizou o termo de crescimento positivo para os jornalistas, devia evitar falar «economês» e devia expressar-se de forma a que os simples cidadãos o entendessem. Os políticos, principalmente os eleitos, devem aproximar-se o mais possível dos cidadãos, para os compreenderem e para lhes explicarem a forma como estão a desempenhar as funções para que foram escolhidos pelos eleitores, e mostrar que não perdem de vista a finalidade da sua função de «governar», que é em benefício das pessoas em geral e não apenas do clã (bando ou manada).

A professora universitária brasileira Maria da Conceição Tavares, no vídeo publicado em Recado a jovens economistas e a governantes explica que a economia é uma ciência social, e o seu nome original era economia política e apoia-se na história e dirige-se ao povo, à vida da sociedade, e para ela «o modelo matemático não serve para nada». No entanto os nossos «economeses» passam a vida, com o seu jargão, a sua gíria, a brincar com os números para fugir à sua função social e para se convencerem de que estão a fazer uma figura de alta intelectualidade, e a colocarem-se muito acima do QI médio nacional.

O certo é que todos repetem que a crise se iniciou há muito e era previsível mas, com isso, confessam que não a compreenderam realmente e, por consequência, não conseguiram evitá-la ou amenizá-la e estão a mostrar incompetência para dela sair com os menores custos e sacrifícios para os portugueses, apesar dos repetidos e variados malabarismos com números e conceitos de «economês».

Nos tempos que atravessamos a arrogância, a ostentação, a vaidade e a futilidade, para ocultar a incompetência, é geral em todos os níveis sociais e é grave que os políticos estejam tão gravemente eivados de tal mal, e muitos se limitem a repetir frases de almanaque antigo e desajustado e nos queiram confundir com palavras vazias de conteúdo claro e entendível.

E, com estas inabilidades e insensibilidade para os problemas das pessoas, tardará muito a surgir uma luz ao fundo do túnel, e oxalá que, para ela aparecer mais depressa, não venha a ser utilizada qualquer ferramenta mais agreste criada pela indignação que alastra aliada ao descontentamento crescente. Dizia-se, há quatro anos, que, em democracia, «o povo é quem mais ordena».

Imagem de aqrquivo

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O que é um crescimento negativo???


Cada vez sinto mais «orgulho» pelos políticos que temos e lamento a minha pequenez de conhecimentos que não me permite compreender as coisas tão belas que nos dizem. Que o Sr deputado Miguel Frasquilho (da idade do meu filho mais novo, também economista e agora catedrático na Universidade de Newark) queira “deixar uma janela de esperança e encorajamento à população portuguesa», é louvável pela boa intenção, mas não parece correcto que nos queira impingir um novo conceito de «crescimento positivo» como bandeira de Marketing do género das promessas do professor Mamadou que resolve todos os problemas de saúde, de sorte no amor, etc.

Se fala em «crescimento positivo» (mania da adjectivação!) deve ser porque haverá crescimento negativo? Qual a diferença? Será que o primeiro é para cima e o outro é para baixo? Faz lembrar o Dr. Pádua que diz que hoje há jovens que aumentam de estatura, não tanto em altura mas em peso, com crescimento do perímetro da cintura. Num país em crescimento negativo, o que é que aumenta? Será a recessão, o défice, a dívida?

Por Zeus, será bom que os políticos usem uma linguagem de verdade, clara, que não se preste a ilusões, nem a anedotas. Lembrem-se que há ignorantes como eu que não compreendem as palavras difíceis nem sequer os jogos difíceis com palavras fáceis, como é este do «crescimento positivo».

No entanto, não pense o Dr Frasquilho que estou agastado, pois não quero terminar sem o elogiar por, ao contrário do Dr Vítor Gaspar, não usar o verbo garantir, mas ficar-se pelo condicional «se as previsões da Comissão Europeia se concretizarem». É prudente. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém!!!

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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Direito de compreender



Devemos exigir ser informados com clareza, para compreender.
Devemos escrever de forma a sermos compreendidos pelos menos letrados, Devemos evitar linguagem hermética e demasiado elevada, como se estivéssemos a escrever para a avó, pouco erudita.

sábado, 20 de agosto de 2011

O SALVADOR promete reformas históricas

Santos Pereira, como um profeta SALVADOR infalível, sem «a mínima dúvida» (!!!), garantiu que o Governo vai implementar «reformas estruturais históricas».

Segundo a sua profecia, as actuais dificuldades serão «ultrapassados se «implementarmos reformas verdadeiramente estruturais e não nos escondermos atrás de estatísticas e manipularmos estatísticas»». «Este Governo está totalmente empenhado em implementar as reformas estruturais que o país precisa». Mas não dá sequer um exemplo delas.

Com demasiada presunção, sublinhou não ter «o mínimo de dúvidas» de que estas mesmas reformas «serão verdadeiramente históricas e marcarão a economia portuguesa durante décadas». Parece que o País não precisa de reformas históricas (do passado) mas de reformas inovadoras (do futuro) e depois, a longo prazo, tais reformas poderão ou não ser classificadas de «históricas»

Disse mais que, para isso, é «absolutamente fundamental» «uma verdadeira consolidação orçamental», sendo necessários «cortes de despesa». «Iremos anunciar e temos vindo a anunciar, e nos próximos dias anunciaremos ainda mais, cortes de despesa, exactamente para conseguirmos alcançar esta consolidação orçamental» e para «aumentar a competitividade da nossa economia».

Enfim, não faltam promessas. Mas gostaríamos de ver realizações, trabalhos em curso, actividades concretas, reais, embora compreendamos que Roma e Pavia não se fizeram num dia. Porém, nada será visto enquanto os governantes se jactarem com anunciar, anunciar, anunciar, promessas vagas sem ponta a que a nossa esperança se possa agarrar. No final, resumindo à procura do essencial, temos que concluir que Santos Pereira nada disse, limitando-se apenas a falar!

Também a promessa já anunciada por Assunção Cristas acerca de intenções de eliminar a Expo-Parque, deixam a dúvidas (coisa que o Salvador Álvaro não sabe o que é!) de que na parte Oriental da Capital possa vir a surgir um novo caso BPN a absorver a maior parte do pouco dinheiro que ainda possa existir, para resolver o pesado passivo existente na empresa pública. Façamos o esforço de procurar ter esperança em melhores dias.

Enfim, não faltam promessas vagas e obscuras. Mas precisamos de factos tranquilizadores.

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais uma referência à qualidade da legislação


Mota Amaral, na sua tomada de posse como presidente da AR, em Abril de 2002, incitou os deputados a pensarem no aumento do seu prestígio perante os eleitores, melhorando a qualidade do seu trabalho, elaborando leis mais simples, perfeitas e eficientes. Realmente, são precisas leis exequíveis, rigorosas, claras, sem rodriguinhos, para serem facilmente interpretáveis e úteis.

Recentemente tal apelo tem sido feito por diversos altos funcionários da Justiça, por comentadores e por pensadores independentes.

Mas agora é o próprio Presidente da República. Segundo ele, como “a pretensão de mudar a realidade da vida pela força da lei raramente produziu bons resultados”, é indispensável a qualidade das leis, devendo haver mais rigor, mas sobretudo, “mais ponderação e prudência”, assim como “maior sentido de adequação à realidade”.

Salientou que “muitas das leis produzidas entre nós não têm adequação à realidade portuguesa. Correspondem a impulsos do legislador, muitas vezes ditados por puros motivos de índole política ou ideológica, mas não vão ao encontro das necessidades reais do país, nem permitem que os portugueses se revejam no ordenamento jurídico nacional”.

Esta actuação abstracta e despegada da realidade, faz recordar o caso concreto da segurança rodoviária e da prevenção dos fogos florestais em que, apesar de elevados gastos ainda não foram conseguidos resultados visíveis.

Houve alguém que disse que muitos dos problemas essenciais do País não foram ainda resolvidos porque os políticos ou os desconhecem ou não os querem resolver. Neste momento todos os grandes temas têm sido analisados com bastante profundidade, o que retira credibilidade ao seu desconhecimento por quem quer que seja, logo… Então haverá que analisar o porquê da falta de vontade e a incompetência ou os interesses que poderão estar por detrás.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cavaco Silva e os tabus

Daquilo que os jornais ultimamente têm trazido a lume verifica-se que há muita gente com dúvidas acerca dos comportamentos de Cavaco Silva e muitos seus admiradores sentem-se frustrados e desiludidos.

Efectivamente, não parece fácil interpretar uma pessoa que foge aos padrões mais vulgarizados entre as personagens mais mediatizadas. A meu ver, trata-se de um homem sério, segundo os padrões mais optimistas, de entre os políticos actuais, tímido, receoso de dizer algo de que amanhã tenha que se arrepender. Por isso, quando fala, controla rigorosamente as palavras acabando, muitas vezes, por não explicar nem esclarecer mas ocultar mais do que aquilo que diz, do que aquilo que deixa atrás da cortina, algumas vezes o essencial, e apenas permitindo subentendidos que têm efeitos maléficos. Há quem diga que, neste aspecto, não devem ser desprezados os indícios da influência da esposa, demasiado dominadora e controladora que parece exercer muita pressão sobre as suas decisões.

Quando foi eleito presidente do PSD, na Figueira da Foz, deu uma «explicação» que não convenceu ninguém e que uns interpretaram de uma forma e outros de maneira diametralmente oposta. Não se candidatou, não quis ir ao congresso da Figueira e só ali apareceu porque calhou ir para aqueles lados, por acaso, fazer a rodagem do carro novo. Depois de lá estar, por acaso, uns companheiros de partido pressionarem-no para aceitar ser eleito e tanto insistiram que ele, boa pessoa, não quis magoá-los e aceitou!

Os mais amigos logo o apelidaram de generoso, dedicado, que aceitou o sacrifício de contribuir para um Portugal melhor. Enfim, o homem-providência. Depois, no Governo, onde chegou pela força do partido e não por vontade própria, pois declarou que nem lia os jornais nem respondia aos jornalistas, e criou tabus. Ficou célebre o desmesurado naco de bolo que meteu na boca para se defender do jornalista e da sua próprias eventual tentação de responder. Cavaco não falava, não esclarecia, apenas calava, ocultava.

No caso do veto de leis usa de meios argumentos, não esclarecendo completamente, como o caso de ter enviado o Estatuto dos Açores ao Tribunal Constitucional, por motivos que não tinham constado da anterior devolução do projecto à AR.

E o tempo foi assim passando e agora esteve vários meses, segundo os jornais, sem esclarecer o problema das eventuais escutas e, quando o caso saltou para o conhecimento público, continua com cautelas, calando, insinuando timidamente e prometendo esclarecimento numa data posterior. Entretanto exonera o jornalista assessor de imprensa.

Não gosta da fórmula «dizer a verdade, toda a verdade e só a verdade». Considera que «o segredo é a alma do negócio» e diz um pouco das coisas e deixa o resto à imaginação dos eleitores. Destes, uns interpretam com pessimismo e logo o condenam. Outros mais optimistas e aficionados interpretam segundo os seus próprios desejos e, mais tarde, sentem-se frustrados e desgostosos.

Há uma boa norma que deve ser seguida quando é necessário falar: «clarinho, clarinho, para o cidadão mais simples compreender». E quando o silêncio è preferível às palavras, então, deve ficar calado, mas totalmente calado, sem estimular esperanças nem receios, porque as insinuações são sempre nocivas e corrosivas.

A. João Soares

domingo, 16 de agosto de 2009

Confissões discretas de políticos. 060423

Confissões discretas de políticos
(Enviada aos jornais em 23 de Abril de 2006)

Os nossos políticos, de quem não devemos menosprezar a inteligência, procuram de forma obsessiva defender a sua posição de homens do poder e, para isso, sentem necessidade de ocultar as verdades e fazer afirmações que, para os mais atentos, mais não são do que afirmações da sua insegurança. Recentemente a sucessão dessas confissões subtis foi sintomática. O ministro das Finanças, em relação à situação do País nos aspectos financeiros e económicos, afirmou que não há razões para entrar em pânico. Ora, este conselho só aparece em momentos em que o pânico é perfeitamente justificado, em situação de catástrofe, donde se pode concluir que o ministro queria expressar exactamente o contrário daquilo que disse. Aliás o mesmo se podia depreender da sua frase, aprendida dos conselhos de sua mãe «o que arde cura e o que aperta segura». Em concordância com esta afirmação, própria de qualquer ditadura em tempo de vacas magras, vieram afirmações de vários políticos aconselhando a que os cidadãos não devem criticar os políticos porque de política sabem eles. Mas, então, o que significa democracia? E liberdade de opinião e de expressão?

Outra confissão recente foi a do deputado M Alegre que disse que o PR não deveria no discurso do 25 de Abril «puxar as orelhas aos deputados». É uma afirmação própria de miúdo que cometeu uma falta e tem consciência de que merece um puxão de orelhas. Uma confissão de que os deputados tiveram um comportamento público que justifica um bom raspanete, e que vem justificar a referência aos cueiros feita em plena AR por um vetusto ministro, com longa experiência política em diversos cargos quer nacionais quer no estrangeiro. Se as faltas são condenáveis, é pior ainda o facto das assinaturas da presença antes da fuga e é infantil a preocupação de apresentar desculpas que não são aceitáveis para qualquer funcionário a quem eles devem dar bons exemplos, tudo isto sendo próprio de meninos mal comportados, como o Zequinha das anedotas escolares.

Embora difícil, não entremos em pânico e procuremos manter a esperança de os nossos políticos passarem a ter comportamentos que não suscitem críticas tão negativas como as que nos últimos dias têm sido lidas e ouvidas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ministro errou. 050504

(Publicada no Público em 4 de Maio de 2005)

O Sr. Ministro da Administração Interna confirmou a sua clareza e frontalidade ao reconhecer seriamente que errou ao prometer que as acções policiais tipo rusga passariam a ser acompanhadas por um magistrado e que esse erro foi uma precipitação por não conhecer perfeitamente as competências e normas de actuação das polícias.

Ficou-lhe bem reconhecer o seu erro, como homem, porque «errar é humano». Porém, o simples facto de ter errado é preocupante porque, veio confirmar a ideia muito generalizada de que os políticos falam demais e sem preocupação de rigor, não merecendo ser acreditados. Há quem diga que apeteceria perguntar a cada político, após ter falado, «Você acredita naquilo que esteve a dizer?». E tudo isto porque, na ânsia de utilizarem a comunicação social com fins de popularidade e propaganda, acabam por dizer, mais pressionados pela persistência dos jornalistas do que por iniciativa própria, coisas em que nunca pensaram com a devida profundidade. Envergonham-se de dizer «não sei» e, por isso, fazem afirmações «completamente estapafúrdias» que lhes retiram credibilidade, acabando esta por alastrar a tudo o que venham a dizer. Talvez fosse melhor evitarem falar e fazer promessas antes de analisarem cuidadosamente os temas a abordar e cingindo-se rigorosamente àquilo que tinham decidido dizer.

O nosso País encontra-se numa situação de desenvolvimento económico, cultural e social muito crítico em relação à Europa e ao mundo desenvolvido e não é com promessas vãs de conteúdo, só para «épater le bourgeois», que sairá do ponto em que está. São indispensáveis soluções e medidas sensatas, devidamente ponderadas, analisadas e discutidas, por pessoas especializadas, sem preocupação de sensacionalismo, a fim de conseguir convencer a população a aderir e a colaborar de forma a serem atingidos objectivos conducentes a um posicionamento digno e sustentável na comunidade internacional.

«Completamente estapafúrdio». 050422

(Enviada aos jornais em 22 de Abril de 2005)

A China, desde tempos pré-históricos, tem dado mostras de sociedade organizada e vocacionada para o desenvolvimento científico e cultural. Usufruímos de muitos benefícios que foram criados por chineses. Nos tempos mais recentes são notáveis os progressos científicos que lhe permitiram entrar na corrida do espaço, na energia nuclear e na informática, e o seu índice de desenvolvimento tem rondado os 10 por cento em anos consecutivos. Hoje, a sua propensão para grande potência, cria preocupações aos americanos, japoneses e indianos. Interrogo-me se toda essa tendência para o progresso se deve à inclinação para simplificar em vez de complicar, pois é notável, por exemplo, a simplicidade da linguagem, embora a escrita seja ideográfica, em que são inúmeras as palavras e os nomes próprios com menos de quatro letras (Mao Tse Tung, Lin Piao, Li Xau Xi, etc). A simplicidade é uma virtude de espíritos esclarecidos.

Estas reflexões surgiram ao deparar com um caso excêntrico que se coaduna com a propensão dos intelectualóides portugueses de empregarem palavras com a maior extensão gráfica possível, mesmo que, para isso, tenham de acrescentar umas sílabas à palavra original, mais correcta, como é o caso muito frequente de dizer gravoso em vez de grave.

Esse caso inspirador destas palavras foi constituído pela afirmação de uma jovem, pretensamente erudita, mas com pouco vocabulário, deputada, na sessão plenária da AR de 20 de Abril, de que o argumento que rebatia «é completamente estapafúrdio», expressão que repetiu vaidosamente várias vezes. E como o adjectivo de 12 letras não lhe parecesse bastante extenso, fê-lo preceder pelo advérbio de modo de 13 letras que nada acrescenta, sendo abnóxio.

Se a deputada fosse médica ainda tinha a desculpa de estar habituada ao nome das doenças, normalmente longo, por ter de referir os sintomas e o órgão afectado, mas parece não ser o caso. Talvez o facto se devesse à necessidade de compensar a falta de conteúdo do discurso para uma extensão conveniente, com o uso de palavras de «longa duração». Mas «é completamente estapafúrdia» a ideia de procurar força para os argumentos e erudição de orador parlamentar através do uso de palavras pouco utilizadas em tratados de oratória ou de ciências políticas ou jurídicas.

Num juízo rápido, esta excentricidade é uma ostentação abnóxia ou inútil. Seria conveniente que os políticos, ao invés desta jovem deputada, procurassem ser claros e objectivos para merecerem a confiança e os votos dos eleitores. Recordo o meu barbeiro que diz que, sempre que ouve os políticos, lhe apetece fazer um pedido e uma pergunta. O pedido é: «Troque lá isso por miúdos para eu perceber o que está a dizer» e a pergunta é: «O senhor acredita mesmo naquilo que esteve a dizer?». Realmente a virtude está na simplicidade e o exemplo chinês deve ser tomado em consideração.