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domingo, 5 de setembro de 2010

Decisores e assessores

Transcrição seguida de NOTA:

A Prova dos Nove dos nossos políticos
Destak. 02-09.2010. Por Isabel Stilwell. Editorial

Se os chefes dessem a importância devida ao papel da secretária, ou os políticos ao dosassessores, uns e outros teriam muito mais cuidado nas suas escolhas.

Deles depende em absoluto, a sua própria imagem, e quanto mais emproado, maldisposto e bipolar for o chefe/político, mais devia investir em que quem dá a cara por ele tivesse as qualidades opostas. Alguém que pudesse, a todo o instante, esconder esses defeitos, e vendê-lo como uma pessoa difícil, mas de coração de ouro; competente, mas com problemas pessoais em vias de resolução; inteligente, mas temporariamente embrutecido pela crise económica.

Ou seja, criaturas heróicas, capazes de engolir sapos e manter a lealdade, e capazes de levar quem as rodeia a acreditar que «aquele cretino não deve ser assim tão mau, porque pelo menos sabe escolher a equipa».

Infelizmente os chefes mais broncos, sejam patrões de uma multinacional, de uma empresa pública, políticos em lugares de destaque, ou donos de um estabelecimento comercial tendem a seleccionar os seus assessores à sua imagem e semelhança, o que se não é de estranhar, resulta numa desgraça a dobrar.

É como se um dissesse mata e outro esfola, aumentando exponencialmente, a cada minuto que passa, o ódio de quem tem de trabalhar para eles. Felizmente, nestes casos, quando finalmente o de cima é despedido, a secretária segue-lhe os passos, o que abre uma clareira de esperança em qualquer empresa.

Sinceramente, se fosse de uma dessas agências de ratting que anda por aí a avaliar o futuro da nossa economia, mensageiro do FMI ou investidor estrangeiro, o primeiro levantamento que faria era o da qualidade das secretárias do País. Proponho mesmo que, nas próximas eleições, os debates televisivos sejam entre as secretárias e os assessores dos nossos políticos e gestores porque, afinal, são eles a prova dos nove da sua qualidade (ou falta dela).

NOTA: Este texto suscita reflexões com alguns pontos comuns ao texto do capítulo Decisores e Assessores do livro Tempos Difíceis aqui citado em 01.08.2010.

Imagem da Net.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Assessores para que servem?

Já por várias vezes aqui escrevi sobre o suposto papel dos assessores. São feitos à imagem e semelhança dos seus «patrões» para descanso dos mesmos. Há poucos anos os jornais levantaram uma celeuma acerca da mais de uma centena de assessores que enxameavam os gabinetes, apesar de a maior parte só por lá aparecer em «part-time».

Ouvi na TV uma vereadora, senhora de reconhecido mérito a quem têm sido dados cargos de grande responsabilidade, dizer que tinha ao seu serviço quase uma dezena de assessores e a sua escolha não tinha obedecido a critérios de competência mas de «confiança política». Enfim, uma agência de emprego ou um asilo para não competentes, amigos ou protegidos da oligarquia partidária.

Para maior mal, é desses privilegiados pela tal «confiança política» que saem os deputados, os secretários de Estado, os ministros, e nas autarquias seguem percurso paralelo. Isto ajuda a compreender as broncas que ocorrem frequentemente com a legislação e decisões que depois ou são alteradas - os recuos – ou são mantidos teimosamente causando graves danos na vida nacional.

O artigo que a seguir se transcreve evidencia isso. Os assessores que apenas dizem o que pensam que o patrão deseja ouvir, que apenas sabem dizer, com má pronúncia, «yes sir», não ajudam a fazer o melhor e nem evitam que se cometam erros ou imperfeições desagradáveis. Para nada servem. Mas pelo país fora há milhares destes inúteis que são bem pagos pelo Estado e muitos acumulam com os proventos do tráfico de influências, que lhes é fácil por estarem próximos do bafo dos actores do Poder.

Eis o artigo atrás referido:

Cavaco está sozinho?
Correio da Manhã. 01 Outubro 2009. Por Octávio Ribeiro

Depois de ouvir o discurso de 11 minutos e de seguir as múltiplas reacções, fica a pergunta: estará Cavaco Silva sozinho? O discurso foi mau de mais para um Chefe de Estado que habituou o País ao rigor.

Ninguém das citadas Casa Civil ou Militar teve a coragem de dizer ao Presidente que aquele arrazoado de argumentos era uma confusão tremenda? Ninguém pigarreou para depois opinar que, de um Presidente, dois dias depois de Legislativas, as pessoas esperam um discurso claro, firme – de Estado? Por estes dias, Cavaco parece sozinho em Belém. E dessa solidão má conselheira desce para a rua um sentimento de descrença, que se cola aos 2 773 431 cidadãos que o elegeram à primeira volta. O País precisa, mais do que nunca, de um Presidente forte. Unificador. Sem prescindir dos princípios com que se apresentou ao eleitorado.

NOTA: Apesar de ser da sabedoria comum que «não há regra sem excepção» quero frisar que, quando refiro «os assessores» admito poder haver eventuais excepções.

domingo, 16 de agosto de 2009

Assessores benéficos para o erário público. 060726

(Publicada no Destak em 26 de Julho de 2006, p. 15)

O cronista do Jornal de Arganil de 6 de Julho, Carlos Gordalina, de quem sou amigo, apresentou uma versão da sociedade actual, ironicamente, situada entre os «parlapatões», políticos, e os «pacóvios», os vulgares cidadãos. A forma como defende esta teoria parece inatacável e, na minha qualidade de «pacóvio», faço o meu acto de contrição por ter expressado algumas opiniões sobre a quantidade exagerada de assessores governamentais e autárquicos e as somas monstruosas que os dinheiros públicos gastam com eles. Eu estava enganado, mas agora confesso-me esclarecido pelas palavras elucidativas de edis da Câmara Municipal de Lisboa. Maria José Nogueira Pinto diz que o assessor tem de merecer a confiança política do seu chefe e, por isso, tem de ser nomeado por escolha deste e não por concurso público. Sobre isto fiquei esclarecido! Entretanto Fontão de Carvalho diz que apenas tem 18 assessores e que muitos estão em regime de recibo verde pelos quais são pagos 21% de IVA e 20% de IRS. Também fiquei esclarecido que quantos mais assessores houver, quanto maiores forem as suas remunerações, mais os cofres públicos são beneficiados por ser maior o quantitativo de IVA e IRS, até porque este acabará, no cômputo final, numa taxa muito superior aos 20%.

Estes dados vindos a público na imprensa de 13 de Julho constituíram um grande alívio para a minha condição de «pacóvio» e, proponho ao referido cronista que retoque a sua teoria de forma a ter em consideração várias gradações de «pacóvios». Depois das palavras dos «parlapatões», às vezes fica-se mais esclarecido! Agora compreendo as razões de os «boys» estarem todos empregados, muito bem empregados, a ganhar currículo para altos voos e compreendo também que cada vez haja muito mais «boys» e quanto maiores forem os seus «salários» mais benefício resulta para a gestão dos dinheiros que pagamos em impostos e contribuições. E sendo «pacóvio» mas não me considerando estúpido, concluo também que, com tanta gente, qualquer problema, mesmo que de «lana caprina», demorará mais a ser resolvido, para dar oportunidade a que vários assessores o ponderem devidamente e o mantenham mais tempo «debaixo de olho». No fim, maior irresponsabilidade haverá nas decisões superiores que afectam todos nós.

Cuidado, senhores «parlapatões», os «pacóvios» não são cegos, surdos e mudos e mantêm alguma capacidade de observar e raciocinar que expressam, enquanto não for abolida a liberdade de opinião e de expressão.