Cegos guiados por loucos
(Public em O DIABO nº 2252 de 28-02-2020, pág 16)
Uma quadra do meu amigo José Caniné diz que a nossa vida está a ser dominada pelos fracos e os velhacos. Quanto a fraqueza, é maneira poética de esconder o vício da vaidade e da ambição, pois muitos dominadores são poderosos, sujeitos à pior droga que está a escravizar o mundo, tão forte e perigosa que nem exige cuidado para evitar a overdose, pois o dinheiro (como ela é conhecida) não implica esse perigo por poder ser consumida em quantidade ilimitada, havendo muitos drogados com ela que gostam de a acumular sem olhar ao montante.
Mas há também quem diga que o mundo é uma multidão de cegos guiados por loucos. E esta frase merece ser bem meditada e analisados os seus condicionamentos.
Comecemos pelos órgãos da Comunicação Social que, há cerca de 70 anos, eram um factor de instrução e cultura que ampliava o saber adquirido na família, nas escolas e na observação da vida real. Recordo, de entre muitos outros programas instrutivos; o do Engº Sousa Veloso que ensinava aspectos úteis e práticos da actividade agrícola de forma a tirar dela os melhores resultados conforme a ciência que ele bem dominava; o programa do professor doutor Vitorino Nemésio que, com os seus ensinamentos de história e cultura social, nos deixava convictos de ficamos mais elevados na categoria social; o programa de José Megre, que nos ensinava os cuidados a ter na condução automóvel de forma segura e cuidadosa, criando a esperança de regressarmos sãos e salvos e com o prazer de uma boa viagem; o programa de Edite Estrela, que ensinava ortografia e redacção e nos ajudava a interpretar o que líamos e a escrever de forma correcta as nossas ideias; etc, etc.
Mas tudo isso acabou. Já nada existe. E os próprios jornalistas são vítimas da falta de tais programas dedicados à cultura e ao uso do nosso idioma, como se vê em artigos publicados por jornais e empresas de rádio e de TV, em que se encontram erros de palmatória quer na estrutura das frases, quer na ortografia e palavras desconjuntadas com letras em falta ou trocadas, etc. Mas o que é mais grave é a qualidade dos programas que repetem as frases dos dias anteriores martelando coisas que se tornam maçadoras como eutanásia, coronavírus, racismo, nos intervalos de futebol, telenovelas e outras banalidades que servem apenas para evitar que os telespectadores ou ouvintes pensem nos problemas que os envolvem e que bem precisam de ser meditados, compreendidos e resolvidos.
Dá a impressão de que há uma intenção premeditada para tornar as pessoas estúpidas ou cegas e ignorarem os graves problemas sociais ligados à Saúde, Justiça, ensino e outros serviços públicos e, com tal guerra psicológica, deixem de reagir e reclamar. Mas a degradação mental dos portugueses nada traz de positivo para as gerações futuras e para o prestígio de Portugal no convívio internacional.
Acerca de tal degradação, em relação ao ensino, recordo um programa de quando ainda via alguma TV, em que as pessoas iam responder a uma pergunta e se habilitavam a um prémio. A candidata disse que era finalista de Direito na Universidade de Coimbra e que pretendia doutorar-se e ser catedrática. A pergunta era: qual o rio que passa em Leiria de entre os seguintes: Tejo, Lis e Ave. Ela, sem hesitar muito, disse que deve ser o Tejo. O apresentador tentou ajudar de várias formas. Uma foi dizer que o Tejo passa em Lisboa, Santarém e Abrantes. Ela continuava com a sua inclinação. Ele perguntou se já tinha ido a Leiria e ela respondeu que já lá tinha passado (talvez pela autoestrada). Acabou o diálogo a dizer que é o Tejo e não ganhou o prémio. No ensino de há 7 décadas saíamos da escola primária a saber todos os rios e seus afluentes e a conhecer as linhas férreas e todas as estações e apeadeiros.
Como sensibilizar a população para colaborar no desenvolvimento do País? Muitos políticos, tal como a candidata a catedrática de Direito, só conhecem o Terreiro do Paço e a TV já não ajuda. ■
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