(Publicada n’O Diabo em 20 de Junho de 2006)
A ida de militares da GNR para Timor foi decidida, segundo um dirigente partidário num congresso regional (jornais de 11/6), por «generais de pacotilha», referindo-se ao MAI e a um seu secretário de Estado, denunciando falta de brio e de vergonha. A indecisão e a obsessão por uma resolução rápida não permitiu uma eficiente análise da situação e dos factores que deviam ter sido levados a sério para a resolução do problema. Se houvesse consciência da complexidade deste, teria sido prudente, para compreender a integração das tropas no conjunto das forças presentes em Timor, que o MAI tivesse pedido parecer ao Instituto de Estudos Militares e ouvido generais conhecedores da Estratégia dos Altos Escalões, no tocante a organização e exercício do comando. Começaram por dizer que o destacamento iria depender do PR e do PM timorenses, o que logo pareceu aberrante porque não só não era uma dependência bem definida, de um único chefe, mas também porque ambas aquelas entidades se encontram em campos opostos da crise, parecendo tratar-se de um «golpe de Estado» da primeira contra a segunda, vindo até a saber-se recentemente, por declarações de um responsável australiano, que aquela adiou o desarmamento dos «rebeldes».
Depois, face aos incidentes entre GNR e australianos, o MAI e o MNE apareceram na TV a dizer que o problema estava resolvido, com a definição de áreas geográficas separadas. Ignorância gritante acerca da essência do problema! Os limites da área de responsabilidade são apenas uma pequena parte da questão. É indispensável definir a organização do conjunto das forças, sob um Comando único, estabelecer hierarquias e dependências, regras para a coordenação das actividades operacionais, como efectuar acções de apoio, ou reforço, ou substituição, etc. E, para total clareza, desenhar um organigrama em que constem todas as forças e os diversos tipos de relações entre si.
E quem desempenhará as funções de Comandante unificado? Haverá em Timor um general com preparação, capacidade de liderança e ascendente sobre todos os componentes da força multinacional? Parece que não. Haverá, por isso, que ser a ONU a nomear o General Comandante-Chefe e não admira que a nomeação recaia no general australiano, já conhecedor da situação e merecedor da confiança de Xanana. E, depois disso, já o nosso MNE deixa de ter razões para se opor a que a GNR, de um país com oito séculos de história, obedeça a um australiano, e «os nossos rapazes» deixarão de estar confinados ao problemático Bairro de Comoro e poderão exercer a actividade em que são competentes, nos locais, conforme ordens do comando de que dependam. E se, mesmo assim, surgirem conflitos inter-forças, pode acontecer que Portugal seja convidado a fazer regressar os seus militares.
E desta forma se criam problemas quando se tratam de ânimo leve assuntos altamente melindrosos, sem consultar aqueles que deles sabem, por dever de ofício.
SOMBRA NEGRA
Há 2 horas
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