Vou me dar um minuto de licença filosófica para dar uma martelada nietzscheana em Descartes: só um espírito muito medroso rejeita como falsas mesmo as opiniões mais prováveis. O objetivo de Descartes é muito mais apropriar-se da verdade com absoluta segurança do que obtê-la. Seu fim não é propriamente a verdade, mas um modo específico de achegar-se a ela. É muito mais provável que se obtenha mais verdades correndo riscos epistêmicos do que o contrário. Descartes, no entanto, tem horror a qualquer risco. Em sua defesa, poder-se-ia dizer que ele não quer propriamente muitas verdades, mas quer absolutamente pelo menos uma. Mas o que se aproxima mais da finalidade de obter a verdade, obter várias ou obtê-la absolutamente? Se há mais de um modo de obter a verdade, não há qualquer razão para que um modo específico sacie mais a finalidade de obter a verdade do que outros. Privilegiar um ou outro modo tem menos a ver com a satisfação da finalidade de obter a verdade e muito mais com a satisfaç