Por conta disso, esse subgênero é dos mais visitados e mais suscetíveis a toda sorte de clichês. Em geral, não envolve muito esforço para sua realização e sugere aquelas histórias banais filmadas para a televisão estadunidense exibidas em alguma sessão do Supercine, em um sábado à noite, na Globo. Contudo, o filme dirigido por Mike Flanagan (O Espelho e Ouija – Origem do Mal), disponível no Netflix, não cai nessa armadilha, até porque tem um elemento a mais para reforçar a dramaticidade de uma perseguição.
Madison "Maddie" Young (Kate Siegel) é uma escritora que vive sozinha em uma casa em um lugar relativamente remoto. Uma de suas únicas companhias é a vizinha Sarah (Samantha Sloyan), apresentada logo no início da narrativa. Maddie ficou surda e muda após contrair uma meningite quando tinha treze anos, e é nesse diferencial que se constrói boa parte da tensão da película.
Logo surge a figura de um assassino após a apresentação das duas personagens. E começa a batalha entre a protagonista, que luta sozinha contra o estranho criminoso. Uma luta obviamente desigual e que Flanagan faz questão de evidenciar nas primeiras cenas do antagonista de Maddie, quando ele observa a escritora sem ser percebido. É o cenário de impotência explorado em diversos filmes, sendo talvez o mais célebre Janela Indiscreta, onde o personagem principal tinha outro tipo de limitação.
Mas Madison não é uma “final girl” (expressão atribuída as mulheres sobreviventes em filmes de terror) qualquer. Seu perseguidor tem um lado sádico, transparecendo também subestimar o potencial de sua vítima. É desse contraste que decorre toda a tensão da história, seguindo em uma crescente à medida que a protagonista vai sofrendo no embate com seu algoz. Um clima que piora com a quase absoluta falta de diálogos predominante no filme, muito centrado na ótima atuação de Kate Siegel, responsável por boa parte do sucesso da trama.
No entanto, nem tudo são flores. Vendo a sinopse, muitos vão se perguntar: como sustentar um filme baseado somente nisso? Embora o roteiro seja bem costurado – atente para as cenas iniciais que dão dicas sobre o que acontece mais à frente – algumas das saídas encontradas pela protagonista são soluções fáceis, e a sua inventividade de escritora, vantagem utilizada como arma na narrativa, não aparece como deveria. Isso resulta em algumas oscilações e pode cansar um pouco quem não estiver completamente envolvido com o drama da protagonista.
Com esses prós e contras, o resultado final é um filme acima da média para o padrão de películas semelhantes.
Hush (2016)
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Kate Siegel, John Gallagher Jr., Michael Trucco
Nacionalidade: EUA
Duração: 1h27
Disponível no
Netflix
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