Nos últimos 15 dias tenho sentido uma saudade e pensado muito no meu pai.
Este blog foi o "lugar" que eu criei para escrever sobre isso. Sobre meu pai, sobre os desafios de lidar com a ausência dele. Isso há 11 anos.
É comum eu, minha irmã e minha mãe dizer: Ah, meu pai gostava disso. Ah, meu pai dizia isso. É uma memória gostosa que temos dele.
Na semana passada, em uma conversa pelo Whatsapp num grupo e estamos eu, minha irmã (que mora em outra cidade) e minha mãe, falávamos de como eu me assemelho à minha mãe em diversas situações e de como minha irmã se assemelha ao meu pai. E eu fiquei pensando nisso vários dias, lembrando de fatos, de situações.
Hoje eu e Luís fomos almoçar na casa de um casal de amigos. Depois do almoço, subimos para o terraço e jogamos um "jogo do autoconhecimento", algo assim. São várias perguntas. Ao longo do jogo é sorteada uma e todos os participantes têm que respondê-la. São perguntas sobre a vida... Os participantes são convidados a olharem para si mesmo e seus sentimentos.
Uma das perguntas sorteadas foi: "Diga o nome de 7 pessoas com quem você gostaria de viver para o resto da vida". Enquanto eu ouvia meus amigos e Luís falarem eu pensava nas 7 pessoas. Às vezes é impossível pensar em só 7 pessoas. Mas, às vezes, 7 pessoas pode ser muito.
Na minha vez de responder, eu disse: as duas pessoas que eu gostaria de viver com elas para sempre são meu pai e minha mãe. Escolheria também minha avó materna, minha irmã e o Luís. Ao pensar em mais 2 pessoas, eu não tenho nome somente de 3. Mas escolheria pessoas que, em algum momento da vida, me possibilitaram viver experiências de transcendência. Experiências inexplicáveis. Experiências de amor, de doação. Que me amaram mais do que eu achava que merecia ser amada. Que abriram mão do seu conforto e da sua rotina para estar comigo em nos dias mais difíceis. Tenho alguns amigos que me possibilitaram viver essas experiências e esses sentimentos.
Depois de todos responderem percebi que eu fui a única pessoa que respondeu que queria viver com pessoas que já partiram, que já cumpriram sua missão (meu pai e minha avó materna). E comentei sobre isso... sobre essa relação que temos com a saudade, com as lembranças, com quem não está mais comigo pessoalmente no cotidiano, mas está intensamente presente na minha alma.
Nos momentos mais difíceis que vivemos nos últimos anos, relacionados à saúde da minha mãe, eu pedia meu pai que me ajudasse a ser firme, a ter coragem e eu tenho certeza que ele me ajudou.
José é um homem firme, corajoso, ogro, íntegro, solidário, simples, humilde, esforçado.
Tudo isso que ele é eu tento ser.
Meu pai acreditava que o valor das pessoas não está na roupa que ela usa ou no carro ou casa que ela tem. O valor da pessoa está naquilo que ela diz, naquilo que ela faz.
O jeito que ele demostrava o seu amor e seu carinho por nós, suas filhas, não era com tantas palavras e abraços. Mas com suas ações e posturas.
Lembro-me, por exemplo, de quando ele levantava, de madrugada, ia até nosso quarto e acomodava a coberta sobre nós. Aquele movimento da coberta era o sinal da sua proteção para mim.
Que presente José foi e é na minha vida.