Para quem ama a fotografia, não existe momento mais sublime
que o clique da máquina fotográfica. Aquele som avisa que uma imagem foi
fixada. Uma imagem para a eternidade.
Para quem fotografa, é-se ladrão por natureza. Mas não se
roubam almas como os índios diziam. Rouba-se o mundo, o ser humano, as
paisagens, os objetos de outros.
Para quem como eu, ama a fotografia, expomos as vidas alheias
e algumas vezes a nossa. Mostramos a morte e o nascimento, guardamos o ciclo
da vida em papéis.
Numa fracção de segundo congelamos sorrisos e amores,
registam-se lágrimas e tristezas. O primeiro choro de um bebe ou o rosto de um
velho marcado pelo tempo.
Nas fotografias a preto e branco guarda-se sentimentos, a
força do momento. A cores o expectador perde-se na perfusão das tonalidades.
Damos luz e cores únicas, impossíveis de se repetirem ou reproduzirem.
O nosso olhar, distancia-se do olhar comum. A realidade nunca
nos é vulgar, existe sempre um enquadramento e uma perspectiva diferente.
Jogamos com a luz e a sombra para compor e intensificar os acontecimentos.
Oferecemos a nossa visão sobre a realidade.
Mostramos grandezas e profundidades com os planos escolhidos.
Demoramos horas a preparar uma fotografia ou esperamos uma eternidade para
capturar o momento certo. Outras vezes uma fotografia é um golpe de sorte. Só
há tempo de deitar a mão à máquina e disparar.
Há quem diga que matamos através da câmara, uma morte
simbólica, um desejo egoísta de guardar o momento. É um erro. Não matamos,
celebramos o momento. Guardarmos algo que nos marca profundamente. A fotografia
permite partilhar esse instante com o mundo, expondo a sua realidade.
As fotografias são visões, memorias parar a posteridade.
Oferecemos recordações permanentes de instantes passados.
Deixamos as almas em paz mas roubamos os momentos.