segunda-feira, 22 de agosto de 2016

António Franco Alexandre, o poeta enquanto Ignatz

George Herriman - imagem
No preâmbulo de uma entrevista já com uns anos, a partir de alguns tópicos previamente enunciados, defende-se que a poesia de António Franco Alexandre «chama a si a fábula de Ignatz, o rato e Krazy Kat, a gata. A imensa distância que se disse sem palavras nem coisas faz do tijolo uma mensagem.» Posto diante do problema, o futuro poeta de Aracne assente: «Bom, o tijolo de Krazy Kat é a mais interessante forma de mensagem na garrafa, não é?» Inimigo Rumor #11, 201, entrevista de Américo António Lindeza Diogo e Pedro Serra.


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

a poesia dos quadradinhos #6 - José Luís Costa

«[...] Confesso que subtraí / da dita máquina / umas verbas para comprar // Homens-Aranhas, Incríveis Hulques, até / Superaventuras Marvel. // (Uma superaventura / é uma aventura / que precisa de mais páginas.) [...]

José Luís Costa, «Da Infância - 2. No Juiz da Fome», Da Madragoa a Meca, Lisboa, & etc., 2013

Mark Bagley (2013)
ou
Daddy Q Ball (Fred Quihuis) (2003)

domingo, 24 de janeiro de 2016

jogo de máscaras


Divertidíssimo, começar pelo título, um jogo de máscaras paródico da literatura policial negra / fantástica, pelas mãos de dois grandes nomes da BD franco-belga actual -- ambos já vencedores do Alph-Art do Festival de Angoulême --, Lewis Trondheim (A Mosca, entre outros) e Frank Le Gall (Teodoro Pintainho, entre outros). Eficácia narrativa em economia de meios.

Lewis Trondheim & Frank Le Gall, As Aventuras do Fim do Episódio, tradução de Rui Ricardo, Porto, Associação Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, 1996.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

«um Zé Carioca»

Zé Carioca, por Paul Murry


«O carioca de hoje é uma declinação barroca do verdadeiro carioca: olheirento, falsamente festivo, mortificado pela obrigação de ser um carioca by the book, um Zé Carioca.»

Bruno Vieira Amaral, «Viver para sempre em Budapeste», Ler #138, 2015

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

à maneira do Lucky luke



Lucky Luke, por Morris
«Na recepção, um tipo magro, esquálido, de alguns trinta anos. Cigarro apagado, à maneira do Lucky Luke.»

Paulo Castilho, Fora de Horas (1989)


terça-feira, 4 de agosto de 2015

12 linhas até ao Guarda Ricardo

«[...] No fim da tarde, Alexandra procura o seu carro e acaba "por descobri-lo em cima do passeio e junto à mesma árvore onde o deixara há quase um eternidade. Tinha uma multa por estacionamento proibido, afixada no "pára-brisas" (pag. 352). Tudo o que aconteceu foi real e tão pleno que o tempo se distendeu à aparência de eternidade; mas, por sob isso, há um quotidiano mesquinho, vigiado, impermeável à transgressão, que remete a eternidade mais jubilosa à eterna idade da ordem. Pelo menos, da ordem portuguesa -- porque não deve ser difícil adivinhar que o autuante deve ter sido o portuguesíssimo Guarda Ricardo.»

Luís Mourão, Um Romance de Impoder -- A Paragem da História na Ficção Portuguesa Contemporânea, Braga e Coimbra, Angelus Novus Editora, 1996.

Sam, O Guarda Ricardo (1975)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

17 linhas para Snoopy

Charles Schulz
«Os leitores que se lembram da banda desenhada Peanuts e do simpático cão Snoopy recordarão que ele, quando armava em escritor, repetia de tira para tira um incipit que conseguiu tornar ainda mais célebre: "Era uma noite escura e tempestuosa." Trata-se do início do romance Paul Clifford, do escritor romântico Edward George Bulwer-Lytton, mais conhecido entre nós através d'Os Últimos Dias de Pompeia. O texto prossegue: «A chuva caía em torrentes, salvo em raros intervalos, quando era sacudida por uma violenta rajada de vento que varia as ruas (porque é em Londres que a nossa cena decorre), matraqueando ao longo dos telhados e agitando rijamente a débil chama das lâmpadas que lutava contra a escuridão.» É provavelmente um dos inícios mais conhecidos e parodiados da história da literatura. De tal maneira que um concurso da Califórnia em que se elegem os piores livros e os piores textos (State University, San Jose) dá o nome «Dark and Starry Night» a uma secção a que concorrem péssimos incipits

Mário de Carvalho, Quem Disser o Contrário É Porque Tem Razão, Porto, Porto Editora, 2014.

(imagem)

domingo, 22 de fevereiro de 2015

6 linhas para Corto Maltese

Hugo Pratt

«Esta é a cidade do espectro de Corto Maltese nas pontes suspensas e nos becos soturnos, do prenúncio de morte e da elegia do deboche, das gôndolas, dos senegaleses e dos pombos, dos japoneses e dos gondoleiros de boné, das arcadas vazias e das bacarie  a rebentar pelas costuras, do improviso de andar perdido e ter sempre um ponto cardeal no fim do caminho.»

Tiago Salazar, As Rotas do Sonho (2010)


domingo, 1 de fevereiro de 2015

música & bd: Gilberto Gil, «Retiros espirituais»


Nos meus retiros espirituais descubro certas coisas tão normais / Como estar defronte de uma coisa e ficar / Horas à fio com ela, bárbara, bela, tela de TV / Você há de achar gozado Barbarela dita assim dessa maneira / Brincadeira sem nexo que gente maluca gosta de fazer / [...]

É claro que Gil se refere à Barbarella de Vadim (Jane Fonda) e não a esta Brigitte Bardot estilizada. A verdade é que tudo começou com ela e com Jean-Claude Forest, em 1962. A música integra o esplêndido álbum Refazenda (1975).


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

já foi tempo


Mortadelo e Salaminho (prefiro a designação brasileira) povoaram-me a infância. Mortadelo será sempre uma das personagens mais carismáticas da 9.ª arte, e é um achado. Por ela, o seu autor, F. Ibañez, tem lugar no panteão dos autores de BD. Mas não é impunemente que se aguenta uma série desde 1958 (!).
Nem vale a pena gastar tempo a discorrer sobre o argumento deste Estrelas de Cinema!, pelos gags  previsíveis (de há muito, de resto) e até indigentes. É possível que uma criança ainda esboce um sorriso ou solte uma gargalhada. Mas os agentes da T.I.A. já tiveram os seus tempos áureos, que, aliás, ninguém lhos tira.

F. Ibañez, Mortadela & Salamão -- Estrelas de Cinema!, tradução de João Silva, Porto,Edições Asa, 2005.