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terça-feira, 30 de março de 2021

o animal



Pegue-se numa personagem popular de BD criada há quase 70 anos (1952) destinada a um público infanto-juvenil, hoje a caminho da terceira idade, cpm características inusitadas: de indefinição morfológica e problemática classificação taxonómica, entre o símio e o felino, com pelagem às manchas, como um leopardo, cauda preênsil com mais de oito metros, e além disso marsupial...; a ferocidade aterradora se hostilizado, torna-o o rei da floresta da fictícia Palómbia; mas é dócil por temperamento e senhor dum apetite voraz e omnívoro. Um marsupilami, não é verdade?

André Franquin (1924-1977) introduziu-o no álbum de Spirou e Fantásio, Os Herdeiros, um clássico, e, a partir de então tornou-se omnipresente até o autor abandonar a série. Spirou prosseguiu sem este extraordinário coadjuvante até a Dupuis comprar os direitos da personagem, integrando-a de novo em 2015, em La Colère du Marsupilami, de Yoann e Vehlmann.

No livro desta semana, La Bête / O Animal, trata-se dum outro marsupilami. No porto de Antuérpia, em finais de Novembro de 1955, um barco atracado carrega no bojo um cenário de pesadelo: animais exóticos traficados da América do Sul não resistiram na maioria às condições do transporte decorrentes de uma avaria que obrigou o navio a parar duas semanas ao largo do Brasil. Entre os sobreviventes, uma estranha criatura que não se deixa ver, confinado a um canto escuro. Como matou a fome e a sede? Não sabemos. E o capitão, o armador e o secretário que desceram ao porão também não saíram para contar. Evade-se o animal que erra até aos arredores de Bruxelas. Aí, desfalecido, será encontrado por Franz, ou François para os demais, um rapaz de dez anos que tem uma especial habilidade para lidar com todos os bichos, que recolhe quando os encontra maltratados. Talvez por François, filho de mãe solteira e fruto da união desta com um soldado germânico durante a ocupação, ser alvo de bullying, como agora se diz, por parte dos colegas, tal como a mãe é olhada de lado no mercado onde ganha a vida a vender bivalves. Sabemos como foi a purga das mulheres que dormiram com o inimigo, imagens que ninguém esquece. Há porém o Professor Bonifácio, bonacheirão com os traços de Franquin (uma homenagem), heterodoxo na pedagogia, também ele vítima da guerra, por outra razão: a jovem noiva cansou-se de esperar quando os soldados belgas derrotados partiram em cativeiro. A BD mudou muito desde há 70 anos...

A forma como Zidrou (Bruxelas, 1962 – temos falado nele) pegou neste ícone é apanágio só dos grandes argumentistas; Já Frank Pé (Ixelles, 1956) é um artista com um lápis abençoado, fazendo o que quer dos seus riscos. Notável cada vinheta, num traço semi-realista, com cor directa suavíssima.

La Bête é um livro excepcional que bem merece uma edição portuguesa, assim as grande editoras não andem a dormir ou as pequenas tenham algum oxigénio durante o estrangulamento viral que nos assola.


La Bête

texto: Zidrou

desenhos: Frank Pé

edição: Dupuis, Charleroi, 2020

«Leitor de BD»

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Spirou (1 a 5) e o Marsupilami


Spirou – 1.
Guerra Fria: o Conde de Champignac foi raptado pelo KGB. Os soviéticos precisam da colaboração do excêntrico sábio na concepção dum vírus do comunismo, a disseminar pelo mundo inteiro. Uma piscadela de olho a Tintin?... Spirou chez les Sovietes, por Fabrice Tarrin e Fred Neidhart, Dupuis 2020.




Spirou – 2. Intriga internacional no Pacific Palace, hotel onde se refugia um ditador fugido da Europa Oriental, e com ele a jovem filha, a que Spirou também não ficará indiferente. Para tudo se tornar mais estranho nesta espécie de huis clos em extremo tensional, Fantásio é também groom, e como sempre desastrado. Por Christian Durieux, em curso de publicação no magnífico semanário de BD que leva o seu nome.



Spirou – 3. A dupla Vehlmann & Yoann, uma das boas que lhe assina as histórias, prossegue com o inofensivo “Supergroom”.

Spirou – 4. Mas talvez a grande dupla que pegou neste ícone belga tenha sido Tome & Janry, criadores também da série divertidíssima do Pequeno Spirou. Com a morte recente do argumentista, Janry prossegue com os gags.

Spirou 5. Entretanto, Émile Bravo desunha-se com a terceira parte da tetralogia L'Espoir Malgré Tout, que temos vindo a acompanhar. O álbum terá 112 páginas.



...e o Marsupilami. Mas o universo de Spirou é inesgotável. Antes de Champignac e Zorglub terem as sua próprias séries, o estranho animal criado por Franquin em 1952 é assegurado por Batem, entre outros. Mas ainda outra dupla, Zidrou e Frank Pê propõem uma outra leitura, também em curso de publicação autónoma, brinde aos assinantes da revista.

«Leitor de BD», jornal i


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Livros que me apetecem - «Super Groom»

Dir-se-ia quase inevitável, com tanta recriação e sequelas e séries paralelas: Spirou transforma-se no Supergroom, para “rivalizar” com os super-heróis americanos. Aparição em 2017 numa história curta paródica, da dupla Vehlmann & Yoann, parece que caiu no goto dos leitores, e assim a Dupuis acaba de editar novo álbum, cujo título diz muito: Justicier Malgré Lui.