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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

de A a Z - Calvin and Hobbes (Bill Watterson, 1985)




Há um arco de volta perfeita que transporta os sonhos feéricos do Pequeno Nemo 80 anos para a frente, ao encontro do sonhar acordado de Calvin, seu par na marca que imprimiu na história dos comics e na memória de milhões. Deixar a mente voar nos bancos da escola, quando não nos interessa nada do que a professora está para ali a dizer – quem nunca foi o astronauta Spiff ou o Homem Estupendo?... Watterson é um mago que nos abriu os portais da infância, partilhando connosco o segredo que só ele e Calvin conhecem: na verdade, Hobbes é um tigre a sério.

«Leitor de BD»

domingo, 18 de abril de 2021

como se «Os Sobrinhos do Capitão» fizessem BD...



George e Harold tornaram-se melhores amigos no infantário. Um gostava de escrever, o outro de desenhar; e foi assim que criaram as histórias protagonizadas pelo Homem-Cão, para desgosto da Professora Construde, que detestava que as crianças perdessem tempo com comics. Mas o impulso para engendrar situações divertidas falava mais alto; além disso, segundo os próprios, não faziam histórias aos quadradinhos, mas romances gráficos, autoeditados na colecção “Contos Casa na Árvore”.

Acontece que os criadores são também elas criaturas de Dav Pilkey (Cleveland, 1966), o autor do Capitão Cuecas, que nos oferece histórias de imaginação desembestada e ultrafantasiosa, embora baseadas em experiência antiga de uma qualquer professora Construde... Quando o agente Knight e o cão polícia Greg são alvos de um atentado perpetrado pelo perverso gato Petey, e o médico no hospital verifica que a cabeça do homem e o corpo do cão estão inaproveitáveis, a “senhora enfermeira” larga um eureka que irá modificar para sempre a BD de polícias e ladrões, por todo o vasto mundo: cosendo-se a cabeça de um ao corpo do outro, dá-se a ocorrência de uma híbrida criatura fardada, que não fala, pois é cão, mas de vez em quando tem epifanias, deslindando casos, para desgosto dos criminosos, em especial Petey.

Enquadrado nos livros para crianças e recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, o Homem-Cão é uma boa mistura de um humor à Bill Watterson (Calvin & Hobbes) ou até Charles Schulz (Peanuts), aliás aqui homenageado com uma citação – o Homem-Cão deitado a ler no cimo de uma casota, na conhecida posição de Snoopy –, com reminiscências anteriores, que recuam à absurdez de Pat Sulivan e Otto Messmer (o Gato Félix) ou de um Tex Avery (Pernalonga / Bugs Bunny e um longo etecetera). Se as crianças são um público-alvo natural, os paizinhos ou os avós que se nutriram na infância de historietas em forma de assim não darão o tempo por mal empregue se lhe pegarem, ou acompanharem os mais novos na leitura. A opção por um traço característico de um miúdo de cinco anos funciona maravilhosamente, até porque as histórias de George e Harold nunca cessam de surpreender-nos, pela forma ingénua com que as crianças vêem o mundo dos adultos. Nada ingénuo foi Dave Pilkey ao pôr-se na cabeça e no lápis destas figuras que inventou.

Com um prólogo e quatro narrativas, talvez a mais saborosa seja “Livra-nos Homem-Cão!”, em que Petey, criminoso de gadgets, encomenda uma tinta especial que apaga as letras dos livros, uma vez que o esperto homem-cão gosta de ler e a leitura será a razão por que no fim leva sempre a melhor sobre o gato. Para combater esse obstáculo à sua vida de crime, o gato chega à conclusão que se não houver mais livros para ler, as pessoas ficarão burras. Numa espécie de toque de Midas invertido, a burrice dos concidadãos torna-se de tal maneira avassaladora, que Petey acaba por tornar-se a primeira vítima e sendo, mais uma vez, detido pelo pulguento e peculiar polícia.


Homem-Cão

texto e desenhos: Dav Pilkey

edição: Marcador, 2.º edição, Lisboa, 2020

«Leitor de BD»

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Baby Blues

Série criada em 1990 por Jerry Scott e Rick Kirkman, explora as situações de comicidade dentro de uma família de classe média americana: um casal, os três filhos e toda a humanidade que gira em volta de um lar: avós, parentes, vizinhos, professores, o pediatra... O habitat familiar foi sempre um recurso inesgotável para muitos autores, mesmo quando não está no centro da própria série, como é o caso dessa obra-prima de Bill Watterson, Calvin and Hobbes: lembremos Hi & Lois (Zezé, na versão brasileira), de Mort Walker (Recruta Zero) e Dick Browne (Hagar, o Horrível), até outra série excepcional que a Gradiva editou há amos, mas que infelizmente não vingou, A Balada da Máquina de Lavar, de Lynn Johnston. (Corram à procura!...) O gosto pelas tiras continua. Baby Blues #37 -- Vá para Fora Cá Dentro, edição Bizâncio, Lisboa, 2020.


«Leitor de BD», jornal i

 

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

um rapaz e o seu cocker

Criados em 1959, pelo belga Jean Roba (1930-2006), Boule e Bill, um rapazinho de sete anos e o seu cocker spaniel, são das personagens mais populares da BD francófona. As camadas de ternura aplicadas por Roba em cada vinheta, recriando um universo idílico numa família de classe média, com pais disponíveis, mesmo quando têm de impor regras, à criança (os tpc) e ao animal (o banho…), conjugadas com um humor por vezes desenfreado, foram ingredientes seguros desse êxito. Para Roba, o mundo já era suficientemente agreste para que os seus gags não permitissem essa distensão de humor sobre um tempo em que a vida é um recreio permanente, mesmo com vacinas e banhos obrigatórios…
As personagens inspiraram-se no filho do autor e no cão da casa, o que explica a quase beatítude que a leitura destas pequenas histórias proporciona, na procura duma inocência que só existiu no tempo em que os animais falavam. Numa entrevista a Hugues Dayez (Le Duel Tintin-Spirou, 1997), Roba afirmou: «acredito que o homem, num passado longínquo, pôde falar com os animais, e que esse privilégio foi-lhe subtraído. É isso uma maldição? Creio que sim.» Por vezes, encontram-se pontos de contacto com o Calvin de Bill Watterson. Bill não fala, mas pensa, e em pensamento dirige-se a nós, leitores.
A dupla continua, pelas mãos do francês Verron (Grenoble, 1962). Os álbuns de Boule e Bill estão inéditos em Portugal.
 
Roba, 60 Gags de Boule et Bill
edição: Dupuis, Marcinelle, 1962


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

vivaço

De idade indefinida, à volta dos 8/9 anos, Titeuf é um miúdo vivaço e inconveniente; um reguila, em suma, misto do Calvin de Bill Watterson e do Pequeno Spirou, de Tome & Janry -- sem a poesia do primeiro ou a finura do segundo. Divertido, sem dúvida, mas, pelo menos nestes dois álbuns, falta o golpe de asa que caracteriza aqueles.

Zep, Titeuf -- As Miúdas Ficam Banzadas / N'É Nada Justo, tradução de Paula Caetano, Porto, Edições Asa / Público, 2008.

domingo, 23 de março de 2014

bem escrito

«A 31 de Dezembro de 1995, Calvin dizia para o seu compincha Hobbes que valia a pena ir explorar o mundo lá fora, para lá dos claustrofóbicos limites de uma tira de BD e da necessidade diária de ser simples inovador, original e divertido.
E na passagem sem contornos da neve, ambos deslizavam num trenó para não mais voltarem.»
António Rodrigues, «O homem que soltou a criança em todos nós», Público / Ípsilon #8742, 21.III.2014

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

repostagens: Boule, antes de Calvin

Boule e Bill, um rapazinho e o seu cocker spaniel, criação magnífica do belga Jean Roba, em 1959, foi uma das grandes séries da revista Spirou. Reli há pouco o primeiro álbum. Boule lembrou-me o seu congénere americano Calvin: ambos miúdos de palmo e meio, beneficiando da cumplicidade das respectivas mascotes, o bouleversement (desculpem, mas não resisti) do mundo adulto e dos seus códigos de conduta, uma notável disponibilidade do(s) autor(es) para estar(em) na pele duma criança, e simultaneamente uma grande inocência. Antes de se retirar, há cerca de dois anos, Roba escolheu Verron para lhe suceder. Boule e Bill são pouco conhecidos entre nós e estão inéditos em livro.
(publicado aqui)