Há um arco de volta perfeita que transporta os sonhos feéricos do Pequeno Nemo 80 anos para a frente, ao encontro do sonhar acordado de Calvin, seu par na marca que imprimiu na história dos comics e na memória de milhões. Deixar a mente voar nos bancos da escola, quando não nos interessa nada do que a professora está para ali a dizer – quem nunca foi o astronauta Spiff ou o Homem Estupendo?... Watterson é um mago que nos abriu os portais da infância, partilhando connosco o segredo que só ele e Calvin conhecem: na verdade, Hobbes é um tigre a sério.
quinta-feira, 21 de outubro de 2021
domingo, 18 de abril de 2021
como se «Os Sobrinhos do Capitão» fizessem BD...
George e Harold tornaram-se melhores amigos no infantário. Um gostava de escrever, o outro de desenhar; e foi assim que criaram as histórias protagonizadas pelo Homem-Cão, para desgosto da Professora Construde, que detestava que as crianças perdessem tempo com comics. Mas o impulso para engendrar situações divertidas falava mais alto; além disso, segundo os próprios, não faziam histórias aos quadradinhos, mas romances gráficos, autoeditados na colecção “Contos Casa na Árvore”.
Acontece que os criadores são também elas criaturas de Dav Pilkey (Cleveland, 1966), o autor do Capitão Cuecas, que nos oferece histórias de imaginação desembestada e ultrafantasiosa, embora baseadas em experiência antiga de uma qualquer professora Construde... Quando o agente Knight e o cão polícia Greg são alvos de um atentado perpetrado pelo perverso gato Petey, e o médico no hospital verifica que a cabeça do homem e o corpo do cão estão inaproveitáveis, a “senhora enfermeira” larga um eureka que irá modificar para sempre a BD de polícias e ladrões, por todo o vasto mundo: cosendo-se a cabeça de um ao corpo do outro, dá-se a ocorrência de uma híbrida criatura fardada, que não fala, pois é cão, mas de vez em quando tem epifanias, deslindando casos, para desgosto dos criminosos, em especial Petey.
Enquadrado nos livros para crianças e recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, o Homem-Cão é uma boa mistura de um humor à Bill Watterson (Calvin & Hobbes) ou até Charles Schulz (Peanuts), aliás aqui homenageado com uma citação – o Homem-Cão deitado a ler no cimo de uma casota, na conhecida posição de Snoopy –, com reminiscências anteriores, que recuam à absurdez de Pat Sulivan e Otto Messmer (o Gato Félix) ou de um Tex Avery (Pernalonga / Bugs Bunny e um longo etecetera). Se as crianças são um público-alvo natural, os paizinhos ou os avós que se nutriram na infância de historietas em forma de assim não darão o tempo por mal empregue se lhe pegarem, ou acompanharem os mais novos na leitura. A opção por um traço característico de um miúdo de cinco anos funciona maravilhosamente, até porque as histórias de George e Harold nunca cessam de surpreender-nos, pela forma ingénua com que as crianças vêem o mundo dos adultos. Nada ingénuo foi Dave Pilkey ao pôr-se na cabeça e no lápis destas figuras que inventou.
Com um prólogo e quatro narrativas, talvez a mais saborosa seja “Livra-nos Homem-Cão!”, em que Petey, criminoso de gadgets, encomenda uma tinta especial que apaga as letras dos livros, uma vez que o esperto homem-cão gosta de ler e a leitura será a razão por que no fim leva sempre a melhor sobre o gato. Para combater esse obstáculo à sua vida de crime, o gato chega à conclusão que se não houver mais livros para ler, as pessoas ficarão burras. Numa espécie de toque de Midas invertido, a burrice dos concidadãos torna-se de tal maneira avassaladora, que Petey acaba por tornar-se a primeira vítima e sendo, mais uma vez, detido pelo pulguento e peculiar polícia.
Homem-Cão
texto e desenhos: Dav Pilkey
edição: Marcador, 2.º edição, Lisboa, 2020
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Baby Blues
Série criada em 1990 por Jerry Scott e Rick Kirkman, explora as situações de comicidade dentro de uma família de classe média americana: um casal, os três filhos e toda a humanidade que gira em volta de um lar: avós, parentes, vizinhos, professores, o pediatra... O habitat familiar foi sempre um recurso inesgotável para muitos autores, mesmo quando não está no centro da própria série, como é o caso dessa obra-prima de Bill Watterson, Calvin and Hobbes: lembremos Hi & Lois (Zezé, na versão brasileira), de Mort Walker (Recruta Zero) e Dick Browne (Hagar, o Horrível), até outra série excepcional que a Gradiva editou há amos, mas que infelizmente não vingou, A Balada da Máquina de Lavar, de Lynn Johnston. (Corram à procura!...) O gosto pelas tiras continua. Baby Blues #37 -- Vá para Fora Cá Dentro, edição Bizâncio, Lisboa, 2020.
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
um rapaz e o seu cocker
edição: Dupuis, Marcinelle, 1962
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
vivaço
Zep, Titeuf -- As Miúdas Ficam Banzadas / N'É Nada Justo, tradução de Paula Caetano, Porto, Edições Asa / Público, 2008.
domingo, 23 de março de 2014
bem escrito
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
repostagens: Boule, antes de Calvin
(publicado aqui)