sábado, 26 de maio de 2012
Anjos
If...
Mario Quintana
E até hoje não me esqueci
Do Anjo da Anunciação no quadro de Botticelli:
Como pode alguém
Apresentar-se ao mesmo tempo tão humilde e cheio
de tamanha dignidade?
Oh! Tão soberanamente inclinado…
Se pudéssemos ser como ele!
Os Anjos dão tudo de si
Sem jamais se despirem de nada.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Era uma vez...
Conto de fadas
Florbela Espanca
Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...
Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: "Era uma vez..."
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Natureza...
O Guardador de Rebanhos - II
Alberto Caeiro
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama, nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Matinal
Matinal
Mario Quintana
Entra o sol, gato amarelo, e fica
à minha espreita, no tapete claro.
Antes de abrir os olhos, sei que o dia
Virá olhar-me por detrás das árvores.
Ah! sentir-me ainda vivo sobre a face da Terra
enquanto a vida me devora...
Me espreguiço, entredurmo... O anjo da luz espera-me
Como alguém que vigiasse uma crisálida.
Pé ante pé, do leito, aproxima-se um verso
para a canção de despertar;
os ritmos do tráfego vibram como uma cigarra,
a tua voz nas minhas veias corre,
e alguns pedaços coloridos do meu sonho
devem andar por esse ar, perdidos...
terça-feira, 15 de maio de 2012
Vida...
Não sei
Cora Coralina
Não sei...
se a vida é curta ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa,
verdadeira, pura ... enquanto durar
segunda-feira, 7 de maio de 2012
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Tecer...costurar...
“Honrai as mulheres ! Elas traçam e tecem
Rosas celestes na vida terrestre,
Traçam os laços felizes do amor.
E na graça de seus véus decentes
Nutrem vigilantes o fogo eterno
De belos sentimentos com mão abençoada.”
SCHILLER (1759-1805)
Girassóis
Estatuto dos Homens - Artigo III
Thiago de Mello
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresça a esperança.
Come chocolates...
Tabacaria
Álvaro de Campos
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar do papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Doçura
E a doçura é tanta
que faz insuportável
cócega na alma.
Viver é mágico e
inteiramente inexplicável...
Clarice Lispector
Caracol
Leilão de Jardim
Cecília Meireles
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão)
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Coroai-me de rosas
Coroai-me de rosas
Ricardo Reis
Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas —
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.
Assinar:
Postagens (Atom)