30 Jan 2007

Amplas liberdades democráticas


Segundo o semanário Sol, Salazar vai à frente na votação popular para a eleição do maior português.
Esta notícia, a ser verdade, pois deve dar-se sempre uma margem de desconto a tudo aquilo que os jornalistas escrevem, é um absoluto espanto.
Salazar foi um camponês que governou aquilo que era uma dos maiores impérios mundiais como se governasse uma qualquer quintarola nas beiras.
Não permitia qualquer tipo de liberdade, não acreditava na democracia, e vivia completamente desligado do mundo real.
Já devia estar enterrado nas brumas da memória com uma singela nota de rodapé.
Então porque é que tanta gente, aparentemente, vota nele.

Há duas hipóteses.
A primeira é de que perante a ameaça do colectivo comunista se unir e votar no camarada Cunhal para o levar à vitoria (o que segundo o mesmo jornal, lhe está a dar o segundo lugar) a direita numa prova de força e sendo que os outros candidatos não têm força política, vota nele num sentido pranto saudosista.
É certo que uma hipotética vitória de Cunhal seria não só um espanto como um insulto a todos aqueles que se bateram para evitar que uma ditadura de direita fosse substituída por outra de esquerda.

A outra, ainda mais absurda, é de que os portugueses querem de volta a ditadura porque não sabem pensar pelas suas cabecinhas e querem sempre que outros, o Estado de preferência, lhes resolvam os problemas.

Qual destas estará a acontecer?

26 Jan 2007

A terceira mentira


Continua a gritaria em relação ao referendo sobre o aborto marcado para Fevereiro.
Como alguns se lembrarão já desmontei duas das maiores bandeiras que os adeptos do sim empunharam, a saber:

A nova lei liberaliza por completo o aborto até às dez semanas, sem que a futura ex-mãe tenha que dar qualquer justificação.

Nunca, em momento algum, de há vinte anos para cá uma mulher foi presa por abortar. Nem mesmo foram presas as parteiras que roubavam nos hospitais em que trabalhavam material para os fazer, a troco de uma modesta comparticipação de quinhentos euros.

Isto é verdade, não é publicidade.

Vamos agora desmontar a terceira afirmação/desejo.
Ela é – não devemos partidarizar a campanha, deixemos a sociedade resolver o problema.
E então para que isto seja verdade, o senhor Doutor Louça, o operário Sousa, e o talvez engenheiro José a toda a hora e a todo o momento estão nas televisões em alegres comícios (bem não podem ser muito alegres, porque fala-se de morte) a apelar ao votos dos filiados.

Deixemo-nos de hipocrisias.
Este referendo para lá do valor que terá ao demonstrar as qualidades éticas e humanas deste povinho é mais uma das muitas guerras travadas entre a direita e a esquerda.
Claro que a esquerda, que tradicionalmente consegue mobilizar o seu eleitorado gostaria que a mensagem passasse de tal maneira que a direita sentisse que este duelo não estava em jogo e assim desmobilizasse a sua actividade.

A ênfase da esquerda pode ser notado em, por exemplo, o senhor consultor em três crónicas dedica duas ao tema do aborto.
Isto até podia ter uma leitura positiva que era a de que o partido comunista acha que está tudo bem em Portugal menos este pequeno caso.
Verdade que a crónica de hoje apenas critica os argumentos do “não” sem se dar ao trabalho de enumerar as vantagens do “sim”.
Temos que ser sinceros, para o partido comunista, esta é uma luta de morte.
Farão da vitória do sim, que não se cansarão de repetir será alcançada mesmo contra o fraco entusiasmo do partido socialista, uma vitória pessoal e retumbante.

Há no entanto dois casos, protagonizados por mulheres, que lhes vão fazer engulhos.
Um é de Paula Teixeira da Cruz, conhecida esposa do dono do BCP-Millenium e pessoa graúda dentro do PSD que se lhe juntou.
Menina, por favor, agradecemos mas ponha-se na terceira fila por caridade.
O outro é Fernanda Câncio (dispensa apresentação) que hoje nos afirma

que a lei não abre excepções para meninas de 14 anos - mesmo se, aos 14 anos, nem sequer se é imputável criminalmente. O que se sabe é que a lei diz que toda a gravidez "normal" que não seja entendida como fruto de crime de violação deve ser levada a termo, com carácter de obrigatoriedade e sob ameaça de três anos de prisão.

Isto com a lei actual. E com a futura lei, como é que será, pergunto eu?


A Fernanda se sabe, esqueceu-se de pôr isso no artigo.

Nota Final: A Fernanda nas últimas seis crónicas, cinco foram sobre o tema do aborto. Estará ela de “esperanças”. Seria um milagre!

24 Jan 2007

Ninguém sabe dasatar o nó



O prós e contras desta semana (sobre a adopção) conseguiu ser uma vergonha maior do que a vergonha que é regularmente.
Fátima Campos Ferreira, que até é capaz de ter uma carteira de jornalista, entrou em palco decidida a ser a estrela principal, a apoiar sem limites uma das partes e a achincalhar da maneira possível a outra.
Um autêntico nojo digno de uma TVI mas imperdoável numa televisão que é do Estado e que deve ser imparcial.
A claque aplaudia a todo o momento e a Dra. Fátima impávida e serena, ela que um dia ameaçou pôr fora da sala uns acompanhantes de César das Neves.
Este caso está a tornar-se um autêntico maná para as televisões sempre ansiosas de causas fracturantes, com sangue, lágrimas e que não tenham que suar muito em complicadas investigações.
Ainda se lembram dos dois funerais de estado que a TVI arranjou à custa de um futebolista e de um actor de telenovelas?
São assim estes vampiros que gostam de ser chamados de jornalistas.

Vamos a factos:

A brasileira ilegal conheceu um português e na mesma noite levou uma queca (até a Carolina Salgado demorou um bom bocado mais a despir-se). Uma semana depois o namoro deu em nada.
Três meses depois a brasuca aparece ao infeliz e anuncia-lhe a boa nova.
Se alguém acha que o homem ia começar a dar pulos de contente e aos gritos-é meu, é meu- deve estar doido.

Entretanto através de uma amiga deu a filha a um casal que nunca tinha visto e este foi ao notário registar a aquisição.

Como um filho agora não pode ser de pai incógnito ela lá teve que fazer um esforço de memória e recordar-se do presumível pai que obrigado a fazer um teste de ADN e após o mesmo ser positivo decidiu aceitar a filha e perfilhá-la.

Isto foi há quatro anos. Escrevo outra vez há quatro anos.

De então para cá o senhor Luís Gomes recusa-se a entregar a criança, O pai recusa-se a deixá-la ir. A mãe o que quer é que não lha dêem de volta e os tribunais e todos os organismos do estado que deviam tratar a tempo e horas deste assunto dormem sossegados.

Claro que estes factos não se enquadram todos no choradinho nacional e assim os senhores jornalistas retocam a realidade para ficar de acordo como eles mais gostam.

Ainda hoje na entrega do “habeas corpus” que de antemão já se sabe que vai ser recusado o primeiro proponente (dono de um escritório de advogados) declarou:

O STJ não é pressionável mas obviamente vai ter em atenção que são dez mil assinaturas e pede apenas a análise jurídica do caso aos conselheiros sem ligarem ao alarido que o processo está a causar

Pois!

22 Jan 2007

História para criancinhas


No jornal Público escreve um senhor historiador que dá pelo nome de Rui Tavares.
No passado sábado apanhando a boleia da moda resolveu escrever sobre o referendo do aborto.
Agora estão para aí a pensar, deve ser bom de ler, uma resenha histórica do aborto desde Adão até aos nossos dias.
Mas estão enganados. Este senhor historiador é daquele género de reescrever a história, para poder contar depois muitas estórias.
Vamos então ouvi-lo:

Numa paróquia da encantadora cidade alto-alentejana de Castelo de Vide exerce um cónego que decidiu esta semana ameaçar com a "excomunhão automática" a todos os cristãos que votarem "sim" no referendo de dia 11 de Fevereiro. O nome do cónego é Tarcísio Fernandes Alves, e reparem num pormenor curioso: se em condições semelhantes um patrão ameaçasse despedir os seus empregados ou uma associação expulsar os seus associados, ninguém teria dificuldade em identificar ali um caso claro de chantagem, intimidação e constrangimento da liberdade de voto.

Sim, sim leiam segunda vez, que da primeira até dá para pensar que lemos mal.
Este senhor historiador, catedrático numa qualquer universidade perto de si ou do seu filho, acha que as pessoas que de livre arbítrio se deslocam a um lugar de culto para ouvir a voz do seu pastor, são iguais a um amanuense que recebe o pré ao fim do mês ou aos sócios do Futebol Clube do Porto com cartão, número de sócio e fotografia.

E depois, embalado não consegue travar e aí vêm mais pérolas.
Continuemos então a aprender história:

Ora não é de excluir que para muitos paroquianos de Castelo de Vide e do país inteiro seja igualmente grave a ameaça de ser expulso da comunidade dos fiéis, com todas as suas implicações terrenas e celestes, que aliás o cónego faz questão de também desenvolver, avisando já que pretende excluir da missa os abstencionistas e anunciando para mais tarde uma interdição de enterros religiosos. Colocadas no seu contexto, são ameaças sérias - caso contrário, a chantagem não funcionaria -, além de ilegais se forem repetidas em período oficial de campanha.

Chantagem?
Mas onde é que o senhor historiador terá ido buscar tão estapafúrdia ideia. Então, e apanhando o seu exemplo, se o Presidente do FCP ameaçar um adepto transviado que lhe aparece na assembleia-geral mascarado de adepto do Sporting com a expulsão da sala, isso é chantagem e deve ser proibido.
Se calhar até tem razão, mas vai ter que explicar isso muito devagarinho à claque do Super-Dragões.

Ilegais?
Então será que o senhor historiador vai querer avalizar antecipadamente os sermões que os párocos vão fazer no período eleitoral? Só pode.

No fundo isto não passa de espuma num momento em que as diferentes campanhas vêm para o terreno cheias de entusiasmo para fazerem valer as suas ideias.
O que preocupa é que este senhor é professor.Quando está a ensinar, ensinará história ou as suas estórias?