O
GABINETE
Entre
coisas simples, do dia-a-dia de uma empresa, sobretudo se virada a uma certa
inovação, como era o caso da Selecor, visto que no início de meados do século
XX seria, a indústria das artes gráficas, a que em Portugal mais evoluía, rumo
à modernidade.
Nesse
contexto, há que referir o caso do então “copyright” de Selecções do Reader Digest’s, Simões
Nunes, à conversa com Rangel, disse um dia: quando disponho de algum tempo,
“desloco-me à Selecor e conversando com alguém, aprendo algo de novo”.
Em
amenas conversas, Rangel ouvira que este era coleccionador de protótipos de
armas de fogo adquiridas nos Estados Unidos da América e trazidos pela sua namorada,
hospedeira de vôo da TAP – Transportes Aéreos Portugueses.
Entretanto
o Bruno, “account” da mesma empresa, convocava o Rangel, para o questionar
sobre diversos itens da facturação, o que se passava: era que os trabalhos eram
emendados várias vezes, por interferência de Simões Nunes.
Sobre
o mesmo assunto, o montador de ofsset, Freitas, se queixara já, mas teve uma
explicação por resposta: sobre todos os trabalhos de montagem, era ele a
fornecer preços, portanto qualquer emenda proposta pelo cliente era debitada.
Realmente,
a mudança para o primeiro número um da Rua Saraiva de Carvalho, marcava nova
etapa da empresa.
Foi
nesse contexto que, Emílio ficara com espaço para criar o seu gabinete. Dando
seguimento ao que havia idealizado contratou um carpinteiro, para o construir.
Sem
qualquer projecto, a obra realizar-se-ia, muito de improviso. Assim a
determinada altura, foi determinado forrar parte, a cabedal, para assim ficar
mais aconchegante, mais atraente para quem fosse recebido e dando ideia de
grandeza à firma.
Na
mesma altura, talvez em complemento, o administrador da Selecor, visitou, na
Rua Rosa Araújo um pronto-a-vestir dos mais elegantes da Lisboa, da época,
adquirindo ali um casaco de cabedal, peça de vestuário, com o custo de vinte e
nove contos, então logicamente bastante, elevado.
Tudo
estaria certo, se não se tem dado o caso do pagamento ter sido efectuado por
cheque, sem provisão. Então o estabelecimento alertou, por telefone a Selecor,
de que tinha ficado com o número.
Na
mesma tarde, ao Rangel foi pedido para se deslocar ao mesmo com o dinheiro, a
substituir o famigerado cheque.
Já
era o indício, de que o atelier gráfico, embora de rendibilidade já assegurada,
estar enfeudada a faustos pessoais familiares, visto a empresa, sendo
unipessoal, não necessitar, nem estar obrigada a qualquer controle que não
fosse o do titular.
Outro
indício, um carro, um “Cimitarra”, que já havia adquirido funcionava com
motorista particular, devidamente fardado e ao serviço da esposa, como de uma grande
senhora, de estirpe social elevada.
Daniel
Costa