sábado, 16 de novembro de 2019

O GABINETE


 Treinamento de motorista particular: funções e regras de convivência

O GABINETE



Entre coisas simples, do dia-a-dia de uma empresa, sobretudo se virada a uma certa inovação, como era o caso da Selecor, visto que no início de meados do século XX seria, a indústria das artes gráficas, a que em Portugal mais evoluía, rumo à modernidade.

Nesse contexto, há que referir o caso do então “copyright” de Selecções do Reader Digest’s, Simões Nunes, à conversa com Rangel, disse um dia: quando disponho de algum tempo, “desloco-me à Selecor e conversando com alguém, aprendo algo de novo”.

Em amenas conversas, Rangel ouvira que este era coleccionador de protótipos de armas de fogo adquiridas nos Estados Unidos da América e trazidos pela sua namorada, hospedeira de vôo da TAP – Transportes Aéreos Portugueses.

Entretanto o Bruno, “account” da mesma empresa, convocava o Rangel, para o questionar sobre diversos itens da facturação, o que se passava: era que os trabalhos eram emendados várias vezes, por interferência de Simões Nunes.

Sobre o mesmo assunto, o montador de ofsset, Freitas, se queixara já, mas teve uma explicação por resposta: sobre todos os trabalhos de montagem, era ele a fornecer preços, portanto qualquer emenda proposta pelo cliente era debitada.

Realmente, a mudança para o primeiro número um da Rua Saraiva de Carvalho, marcava nova etapa da empresa.

Foi nesse contexto que, Emílio ficara com espaço para criar o seu gabinete. Dando seguimento ao que havia idealizado contratou um carpinteiro, para o construir.

Sem qualquer projecto, a obra realizar-se-ia, muito de improviso. Assim a determinada altura, foi determinado forrar parte, a cabedal, para assim ficar mais aconchegante, mais atraente para quem fosse recebido e dando ideia de grandeza à firma.

Na mesma altura, talvez em complemento, o administrador da Selecor, visitou, na Rua Rosa Araújo um pronto-a-vestir dos mais elegantes da Lisboa, da época, adquirindo ali um casaco de cabedal, peça de vestuário, com o custo de vinte e nove contos, então logicamente bastante, elevado.

Tudo estaria certo, se não se tem dado o caso do pagamento ter sido efectuado por cheque, sem provisão. Então o estabelecimento alertou, por telefone a Selecor, de que tinha ficado com o número.

Na mesma tarde, ao Rangel foi pedido para se deslocar ao mesmo com o dinheiro, a substituir o famigerado cheque.

Já era o indício, de que o atelier gráfico, embora de rendibilidade já assegurada, estar enfeudada a faustos pessoais familiares, visto a empresa, sendo unipessoal, não necessitar, nem estar obrigada a qualquer controle que não fosse o do titular.

Outro indício, um carro, um “Cimitarra”, que já havia adquirido funcionava com motorista particular, devidamente fardado e ao serviço da esposa, como de uma grande senhora, de estirpe social elevada.



Daniel Costa






quinta-feira, 7 de novembro de 2019

OCASIONAL


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OCASIONAL

Rangel algumas vezes encontrava o seu ex-colega Emílio, porque trabalhando na grande editora, o Circulo de Leitores, ainda em formação, que se estenderia a todo o país.
Até que, no início a Selecor se instalou na mesma Rua, a Tomáz de Figueiredo, em Benfica, Lisboa.
Na sequência, este foi convidado por Emílio a pertencer aos quadros da nova empresa, o que não aceitou de imediato. No entanto, por desrespeito da sua chefia, veio então a aceitar o lugar oferecido.
Logo na entrada, verificou ser aliciante, tanto mais que se sentiu, como que em casa. Já que, ali encontrou vários ex-colegas, com destaque para a Lisete no escritório.
Todos pareceram motivados, o que era bom augúrio.
 Rangel Logo começou, em primeiro a tratar de assuntos com clientes também já seus conhecidos, como por exemplo, Revista Rádio e Televisão, do Diário Popular, que era então dirigida por Dinis de Abreu, dos quadros daquele Matutino. Ou Selecções do Reader’s Digest, cujo “Acount” era o Senhor Bruno, com quem já tinha tratado bastante.
A partir daí, foi estabelecendo novos contactos, alguns deles, já velhos conhecidos.
No dia de entrada, numa reunião ficaram assentes os deveres, assim como os direitos do novel funcionário.
Para deslocações que, seriam muitas começaria por utilizar o seu veículo pessoal, até que a empresa adquirisse um, económico, mais adequado às deslocações na cidade de Lisboa, que lhe seria distribuído. O mesmo iria ostentar, em formato bem visível, o logotipo da empresa, um modo de lhe dar visibilidade.
O que veio a acontecer, já com a mudança, para o número um da Rua Saraiva de Carvalho, frente à Igreja de Santa Isabel. É aí que com a visibilidade que o carro lhe dava, e as muitas visitas que Rangel fazia, que a Selecor se expandia a olhos vistos.
Era evidente, que Rangel ganhara prestígio e preponderância, pois tomava compromissos e fazia-os cumprir na laboração dos fotolitos, nas suas montagens, quando era caso disso.
Tanto assim era, que numa das habituais reuniões matinais entre o Administrador e o seu empregado, mais próximo, perguntou a Rangel:
- Onde pensas ir hoje, nas tuas visitas a clientes?
- Este falou do seu projecto para o dia, para além, além do necessário, por inerência.
- Como reposta, daquele, obteve: acho melhor, hoje suspenderes novas visitas, para não assoberbares o Atelier, com mais trabalhos.

Daniel Costa


terça-feira, 8 de outubro de 2019

O FASCÍNIO DAS EMILIAS


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FASCÍNIO DAS  EMÍLIAS



Um observador atento não pode deixar de reparar a atracção do mulherengo Emílio, por nomes de mulheres Emílias.

Na verdade, o poderão parecer pequenos-nadas, se bem vistos, podem ser marca de evolução de personalidade, como será o caso.

Vejamos:

- O Emílio teve como primeira mulher uma Emília, que lhe deu um filho. Este separou-se desta, pondo-lhe a mala com os seus haveres pessoais à porta, contado pelo protagonista.

Depois a trocou por outra Emília, esta bem moderna ao que Rangel sabe.

Entretanto, tinha uma amante de nome Emília.

Sabendo-se que o nome de Emília não é muito corriqueiro, assim como o de Emílio, podíamos dizer:

- Emílio e suas três Emílias!...

- Isto no campo sentimental.

Vamos porém, ao atelier Selecor, entre as cinco trabalhadoras, contava-se também uma Emília.

A Emília amante, dava-se por Mila, para os amigos.

A determinada, altura a Mila, deixou o seu “pabe”, na Freguesia de Santa Catarina, Travessa da Condessa do Rio e fundou um restaurante, em Campolide, Calçada dos Mestres, como o nome singular de “Olho do Cuco”.

Emílio não se faria representar na inauguração, então “destacou” Lisete e o Rangel, para o almoço de inauguração.

Estes foram mais como discreta representação apenas..

Devemos analisar, o papel de segunda mulher, Emília. Na verdade a Selecor, estaria bastante ao serviço e orientação dela, inegavelmente, era de um requintado gosto estético.

Dai que, a determinada altura, o casal tivesse mudado de casa, para um prédio novo, no Calhariz de Benfica.

Rangel teve ocasião de o observar interiormente, assim como a modificação introduzida, de maravilhosa e estética:

- A sala de visitas, com as paredes alteradas, o que consistia, em três paredes com novo acabamento de reboco saliente e irregular. Mantendo o branco singularmente branco, fosforescente.

Parecia traço de arquitecto, mas não tudo obedecia ao gosto estético da dona de casa.

Dona de casa, a Dona Emília, já então mãe de um rapagão, a tratar também do outro filho o marido, do Emílio com a primeira mulher, como já se sabe, também Emília.

Observando o quadro de Dona Emília, uma mulher, acima de tudo bastante elegante, vestida de banco calção curto, e uma blusa em tom de azul, ficaria romanticamente fascinado.

Aconteceu o caso, isto sem perder o respeito devido às pessoas, o que pareceu ter sido apreciado por Dona Emília.

De resto, Rangel continuou e merecer a consideração do casal, nos vários encontros em conjunto.



Daniel Costa


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

PRÉ REVOLUÇÃO E O CHARME DA CORRUÇÃO


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PRÉ REVOLUÇÃO E O CHARME DA CORRUPÇÃO



Quem na grandiosa e antiga cidade, Lisboa, passando na espaçosa Praça de Espanha, a mesma onde está sediada a Embaixada do grande País Ibérico, circulando na via designada, por Avenida de Ceuta. Em Alcântara, percorrendo todo o vale, outrora percorrido, por uma ribeira, a céu aberto, vinda do Bairro do Bosque, às Portas da Amadora.

O agora Caneiro de Alcântara, visto que continua a existir, mas encanado, passado por Benfica, às Portas de Lisboa, Sete Rios, Praça de Espanha e Campolide, passa necessariamente sob o maior arco ogival do mundo (devidamente registado no Guinness World Records).

Este arco faz parte da estrutura do Monumental Aqueduto das Águas Livres, que o Rei D. João V, com a riqueza proporcionada pelo o ouro, entretanto descoberto e vindo do Brasil.

De arquitectura militar, de Carlos Mardel, João Frederico Ludovici, Ricardo Manuel dos Santos e António Caneveri, o Aqueduto tornou-se Monumento Nacional.

Ora segue até ao nó de Alcântara, olhando à esquerda, pode ver uma encosta, ainda com habitações, embora por agora, muito degradadas, com a designação de Bairro do Casal Ventoso, de não boa conotação.

Aliás a designação estende-se a ambas as encostas.

Curiosamente, no século XX, pelo menos, daí se formavam bastante, operadores de Artes Gráficas.

Daí era oriundo Emílio, que se tornara um excelente retocador de películas para impressão Ofsset. Profissão extinta, com a rápida evolução tecnológica.

Dentro da mesma empresa, uma das melhores do ramo, no Pais, a determinada altura, aceitou passar a fazer parte da Secção de Vendas, aceitando as boas condições que se lhe ofereciam.

De referir a sua enorme argumentação, como homem de vendas.

Era capaz de vender de tudo, desde automóveis, até chuchas, podia dizer-se.

Era o tempo das fotonovelas, enquanto homem de vendas, participou, como artista em várias.

A determinada altura a empresa, de um grupo Brasileiro, decidiu transaccionar o que possuía em Portugal.

Para inflacionar, a carteira de vendas, com o objectivo de mais valorizar a Fábrica, para o que vieram gestores, da Empresa mãe, do Brasil.

O procedimento foi assim:

- Para orçamentos, já executado de edições de livros, o cliente recebia nova visita do vendedor respectivo, porque a gráfica, pelo seu parque gráfico, tinha capacidade para imprimir quatro títulos de cada vez.

O cliente, porque o orçamento, por título ficaria mais em conta aceitava, mais porque, com esse argumento, era instado a isso.

Ora foi deste desiderato, que o grande Emílio, na hora da empresa mudar de mãos e da reestruturação que se empunha. Saiu recebendo as suas elevadas comissões, que deram para fundar o seu atelier gráfico.

Nasceu assim a Selecor, que dados os seus grandes contactos anteriores, depressa cresceu, como empresa.

Mercê de bem estruturada composição de pessoal, o atelier depressa se tornou bem rentável e mudou para novas instalações maiores e mais funcionais.

Instalada a empresa ai, com espaço para se desenvolver, depressa tratou desse desenvolvimento que já previa. Desde logo, imediatamente antes, admitiu um ex-colega de trabalho, como vendedor técnico, o Rangel, que passou a ser como seu adjunto.

Depois contratou a aquisição de uma máquina de revelação fotográfica automática, quer dizer:

- Com a mesma inovação, as peliculas fotográficas já não tinham necessidade de ser estendidas penduradas na câmara escura, para secarem, a fim de manterem as imagens fixas; saiam da máquina fotográfica e eram logo metidas na nova máquina, saindo de imediato, do outro lado à luz, já reveladas secas e prontas.

O custo dessa máquina era de oitocentos e quarenta contos, uma fortuna para a época, que a rentabilidade, da empresa; e que a mais-valia da da própria máquina justificavam

Disto resultava, grande redução de tempo, no trabalho de preparação dos fotolitos para a sua montagem, para a impressão.

Acrescia o volume de encomendas, que era possível ampliar.

A partir dai, a máquina de revelação automática, a primeira existente, a funcionar em Portugal, passou a motivo de nova apresentação da Selecor.

Ora aconteceu que, nem sequer estava estruturado o pagamento da máquina de Revelação Automática. Porém, para o pagamento imediato e total da mesma, o já titular Emílio, tentava um avalista de letra de câmbio, que submeteria ao banco, com o motivo diferente, de ser para pagar a aquisição da máquina.

Até que, já com a promessa de fazer cedência de quota ao Senhor Vinhas, Presidente da “Neocel”, uma empresa gráfica bem constituída, porque bem administrada, solicitou a este, avalizasse letra da respectiva importância.

Havia pressa de dinheiro, para pagar os ordenados do mês e na circunstância com o aceite, da letra pelo banco, havia a maneira de reunir, de imediato, a importância para tal.

O banco já só com a letra avalizada, e recibo da Máquina de Revelação Automática, aceitava a mesma.

Assim deu-se uma verdadeira e rápida revolução mental:

- O Emílio, agarrou-se ao telefone contactou o chefe de vendas, da empresa fornecedora, Senhor Guimarães e pediu este mandasse de imediato cobrar a máquina. Este respondendo confiante; haveria tempo de depois tratar esse assunto.

Como resposta foi reiterado o pedido, com a alegação de que, só com o pagamento ser possível mais capitalização.

Entretanto contactou o Senhor Vinhas, seria possível, ele assinar a letra avalizando-a a seguir? O seu homem de confiança Rangel, passaria a Neocel de imediato.

O Senhor Guimarães, mandou logo o cobrador com o recibo. Ao recebe-lo, a Lisete, empregada do escritório, agarrou o recibo, dizendo; não sei se o Senhor Emílio ainda está. 
Vou verificar.

Claro, não estava, mas como da encenação, curiosamente, fazia parte, a revelação automática, esta dirigiu-se ao fotógrafo gráfico, e do recibo solicitou uma prova fotográfica, que saiu de imediato.

Já com a prova, como cópia, devolveu o recibo, dizendo; o Senhor Emílio já saiu, entretanto.

Ao mesmo tempo, Rangel estava com o Senhor Vinhas que, depois da assinatura e em presença do portador, fez uma chamada telefónica para o gerente da Agência do banco e como homem de dinheiro, pediu que a letra, quando ali apresentada, fosse de imediato descontada de imediato, tinha interesse que assim fosse, porque ia ter participação na Selecor..

Depois voltou-se para o Rangel e disse, por favor, não fale deste telefonema ao seu patrão.

Chegado ao escritório com a letra avalizada, já o depósito estava preparado para o banco e também um estafeta pronto para o levar e entregar, era ainda da parte da manhã.

De tarde já foi possível, levantar o dinheiro para pagar os ordenados, já atrasados.

Estava-se em 1973, tempos de Pré-Revolução.



Daniel Costa