PRÉ
REVOLUÇÃO E O CHARME DA CORRUPÇÃO
Quem na grandiosa e antiga cidade,
Lisboa, passando na espaçosa Praça de Espanha, a mesma onde
está sediada a Embaixada do grande País Ibérico, circulando na via designada,
por Avenida de Ceuta. Em Alcântara, percorrendo todo o vale, outrora percorrido,
por uma ribeira, a céu aberto, vinda do Bairro do Bosque, às Portas da Amadora.
O agora Caneiro de Alcântara, visto que
continua a existir, mas encanado, passado por Benfica, às Portas de Lisboa, Sete
Rios, Praça de Espanha e Campolide, passa necessariamente sob o maior arco
ogival do mundo (devidamente registado no Guinness World Records).
Este arco faz parte da estrutura do
Monumental Aqueduto das Águas Livres, que o Rei D. João V, com a riqueza proporcionada
pelo o ouro, entretanto descoberto e vindo do Brasil.
De arquitectura militar, de Carlos
Mardel, João Frederico Ludovici, Ricardo Manuel dos Santos e António Caneveri,
o Aqueduto tornou-se Monumento Nacional.
Ora segue até ao nó de Alcântara, olhando
à esquerda, pode ver uma encosta, ainda com habitações, embora por agora, muito
degradadas, com a designação de Bairro do Casal Ventoso, de não boa conotação.
Aliás a designação estende-se a ambas as
encostas.
Curiosamente, no século XX, pelo menos,
daí se formavam bastante, operadores de Artes Gráficas.
Daí era oriundo Emílio, que se tornara
um excelente retocador de películas para impressão Ofsset. Profissão extinta,
com a rápida evolução tecnológica.
Dentro da mesma empresa, uma das melhores
do ramo, no Pais, a determinada altura, aceitou passar a fazer parte da Secção
de Vendas, aceitando as boas condições que se
lhe ofereciam.
De referir a sua enorme argumentação, como
homem de vendas.
Era capaz de vender de tudo, desde
automóveis, até chuchas, podia dizer-se.
Era o tempo das fotonovelas, enquanto
homem de vendas, participou, como artista em várias.
A determinada altura a empresa, de um
grupo Brasileiro, decidiu transaccionar o que possuía em Portugal.
Para inflacionar, a carteira de vendas,
com o objectivo de mais valorizar a Fábrica, para o que vieram gestores, da
Empresa mãe, do Brasil.
O procedimento foi assim:
- Para orçamentos, já executado de
edições de livros, o cliente recebia nova visita do vendedor respectivo, porque
a gráfica, pelo seu parque gráfico, tinha capacidade para imprimir quatro títulos de
cada vez.
O cliente, porque o orçamento, por
título ficaria mais em conta aceitava, mais porque, com esse argumento, era
instado a isso.
Ora foi deste desiderato, que o grande
Emílio, na hora da empresa mudar de mãos e da reestruturação que se empunha. Saiu recebendo as suas elevadas comissões, que deram para fundar o seu atelier
gráfico.
Nasceu assim a Selecor, que dados os
seus grandes contactos anteriores, depressa cresceu, como empresa.
Mercê de bem estruturada composição de
pessoal, o atelier depressa se tornou bem rentável e mudou para novas
instalações maiores e mais funcionais.
Instalada a empresa ai, com espaço para se
desenvolver, depressa tratou desse desenvolvimento que já previa. Desde logo, imediatamente
antes, admitiu um ex-colega de trabalho, como vendedor técnico, o Rangel, que passou
a ser como seu adjunto.
Depois contratou a aquisição de uma
máquina de revelação fotográfica automática, quer dizer:
- Com a mesma inovação, as peliculas
fotográficas já não tinham necessidade de ser estendidas penduradas na câmara
escura, para secarem, a fim de manterem as imagens fixas; saiam da máquina
fotográfica e eram logo metidas na nova máquina, saindo de imediato, do outro
lado à luz, já reveladas secas e prontas.
O custo dessa máquina era de oitocentos
e quarenta contos, uma fortuna para a época, que a rentabilidade, da empresa; e
que a mais-valia da da própria máquina justificavam
Disto resultava, grande redução de
tempo, no trabalho de preparação dos fotolitos para a sua montagem, para a
impressão.
Acrescia o volume de encomendas, que era
possível ampliar.
A partir dai, a máquina de revelação
automática, a primeira existente, a funcionar em Portugal, passou a motivo de
nova apresentação da Selecor.
Ora aconteceu que, nem sequer estava
estruturado o pagamento da máquina de Revelação Automática. Porém, para o
pagamento imediato e total da mesma, o já titular Emílio, tentava um avalista
de letra de câmbio, que submeteria ao banco, com o motivo diferente, de ser
para pagar a aquisição da máquina.
Até que, já com a promessa de fazer cedência
de quota ao Senhor Vinhas, Presidente da “Neocel”, uma empresa gráfica bem
constituída, porque bem administrada, solicitou a este, avalizasse letra da
respectiva importância.
Havia pressa de dinheiro, para pagar os
ordenados do mês e na circunstância com o aceite, da letra pelo banco, havia a
maneira de reunir, de imediato, a importância para tal.
O banco já só com a letra avalizada, e
recibo da Máquina de Revelação Automática, aceitava a mesma.
Assim deu-se uma verdadeira e rápida
revolução mental:
- O Emílio, agarrou-se ao telefone
contactou o chefe de vendas, da empresa fornecedora, Senhor Guimarães e pediu
este mandasse de imediato cobrar a máquina. Este respondendo confiante; haveria
tempo de depois tratar esse assunto.
Como resposta foi reiterado o pedido,
com a alegação de que, só com o pagamento ser possível mais capitalização.
Entretanto contactou o Senhor Vinhas,
seria possível, ele assinar a letra avalizando-a a seguir? O seu homem de
confiança Rangel, passaria a Neocel de imediato.
O Senhor Guimarães, mandou logo o
cobrador com o recibo. Ao recebe-lo, a Lisete, empregada do escritório, agarrou o
recibo, dizendo; não sei se o Senhor Emílio ainda está.
Vou verificar.
Claro, não estava, mas como da encenação,
curiosamente, fazia parte, a revelação automática, esta dirigiu-se ao fotógrafo
gráfico, e do recibo solicitou uma prova fotográfica, que saiu de imediato.
Já com a prova, como cópia, devolveu o
recibo, dizendo; o Senhor Emílio já saiu, entretanto.
Ao mesmo tempo, Rangel estava com o
Senhor Vinhas que, depois da assinatura e em presença do portador, fez uma
chamada telefónica para o gerente da Agência do banco e como homem de dinheiro,
pediu que a letra, quando ali apresentada, fosse de imediato descontada de imediato, tinha interesse que assim fosse, porque ia ter participação na Selecor..
Depois voltou-se para o Rangel e disse,
por favor, não fale deste telefonema ao seu patrão.
Chegado ao escritório com a letra
avalizada, já o depósito estava preparado para o banco e também um estafeta pronto para o levar e entregar, era ainda da parte da manhã.
De tarde já foi possível, levantar o
dinheiro para pagar os ordenados, já atrasados.
Estava-se em 1973, tempos de Pré-Revolução.
Daniel Costa