Médio prazo.O critério para a escolha de quem me tem feito companhia ao longo da vida vai mudando. Na infância foram as afinidades nas brincadeiras, na puberdade e início da vida adulta foram as ideias e as brincadeiras. Agora não sei bem o que tem sido.
Se tiver sorte chegarei a velho e nessa altura será pouco provável que a minha mãe ainda cá esteja. Isto faz com que tenha que me começar a mexer para várias coisas, nomeadamente para precaver o conforto da alma. Um dia será urgente arranjar alguém profundamente devoto e crente que reze. Eu para isso não tenho prestado. Não acredito no céu e até acho que muitos dos cardeais também não, imagine-se a minha penúria se estiver enganado.
Como todos os velhos, conforme for indo, mais medroso vou ficar. No fim, segundo o que tenho ouvido dizer, não irei a tempo. Resta cercar-me de quem faça a papa toda: levante, cozinhe, leia e reze pelo traste que serei (também não acredito que até lá fiquemos como os asiáticos, para quem tratar dos velhos é uma honra, aliás, eu já nem tenho a certeza da palavra honra).
Se a minha mãe cá estivesse era fácil, ela gosta de mim.