- «Mi preferencia personal se inclina a una dictadura liberal y no a un gobierno democrático donde todo liberalismo esté ausente.» (Hayek em entrevista de 1981 ao jornal chileno Mercurio, citado em Juan T. López, «Hayek, Pinochet y algún otro más», El País de 22 de Junho de 1999.)
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
O meu problema com o «liberalismo»
O liberalismo é...
Fiquei esclarecido. O liberalismo é o novo barbarismo.
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
Arrojadamente
Parece que Pedro Arroja escreverá em breve no Blasfémias, o que levou a Fernanda Câncio a colocar no Glória Fácil uma entrevista de 1994 com o arrojado Arroja. Deliciai-vos:
- Sobre o direito de comprar e vender votos: «Arr. Mas é precisamente a pensar nos pobres que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados? F.C. E o que é que produzia o voto vendido? Arr. Produzia votos esses sim em consciência, porque eu para comprar três votos para um partido tinha de ter grande apreço por ele.» Eu já estou informado de que a propriedade privada é mais importante do que a democracia, como repetem dia-sim dia-sim os blogues liberalistas. Transformar o eleitorado em propriedade privada é que é coisa que nunca tinha lido, nem nos dias maus do João Miranda. Proponho que se vá ainda mais longe, e que não se venda apenas o voto mas também o direito de voto: contratos para toda a vida em como fulano passa o direito de voto a sicrano, de acordo com renda actualizável pela inflação. Que tal?
- Sobre a escravatura: «Arr. Agora não se esqueça que os negros americanos não estão na sua própria terra. F.C. Ah não? E quem é que os levou para lá? Arr. Foram eles que foram. Atraídos pelo nível de vida que não têm em mais parte nenhuma do mundo. F.C. Para começar a terra era dos Indios. E está-se a esquecer do pequeno pormenor da escravatura. Arr. Alguns foram levados como escravos. Mas ainda hoje há gente a emigrar para lá, negros.» Nesta parte, nem sei o que é pior, se a aparente ignorância histórica (que transforma o tráfico de escravos em emigração voluntária) se o racismo que emerge de sob o fino verniz liberalista. De qualquer forma: os negros americanos não estão na terra deles. Adivinha-se qual será a opinião de Arroja sobre os cabo-verdianos nascidos na Amadora ou sobre os ingleses do vale do Douro...
- E mais ainda: «Arr. o trabalhador escravo negro era duas vezes mais produtivo que o trabalhador negro. F.C. E já se perguntou porque é que ele seria duas vezes mais produtivo? Arr. Diz-se que os negros não trabalham, não sei quê, e isto vem provar o contrário: mesmo sob condições de adversidade, a escravatura, os negros eram duplamente mais produtivos que os brancos. E os estados do sul, onde eles estavam concentrados, prosperaram muito mais do que os do Norte. Fantástico.». Fantástico, Melga. Fantástico, Mike. Os pretos trabalhavam o dobro porque se não o fizessem eram chicoteados até à morte. Que importa isso? Arroja responde: «Arr. Eu não quero dizer que a escravatura era aceitável, mas não foi má para os negros em termos económicos.» Ora aí está: a prosperidade económica tudo desculpa, até a própria escravatura. Liberalismo: propriedade privada como valor acima de tudo o resto, incluindo as liberdades individuais e a própria vida humana. Já ouvi isto em qualquer lado...
(Outros blogues que escreveram sobre o fantástico e liberalíssimo Arroja: Arrastão, o Avesso do Avesso.)
A cultura e a religião mutilam
«P. Conta no seu livro como foi excisada, aos sete anos, "de surpresa": o clitóris "serrado" a sangue frio com uma lâmina velha enquanto três mulheres a seguravam, a dor, o sangue, o silêncio dos adultos. Quando é que alguém lhe explicou o que tinha acontecido e porquê?
R. Nunca. Ninguém me explicou porque, suponho, quem faz isso também não sabe porque o faz. E eu também não fiz perguntas. Mas quando começamos a investigar, quando se lê sobre isso e se fala com os "velhos", temos várias respostas: faz-se para que a rapariga possa chegar virgem ao casamento, para que a mulher seja fiel ao marido; outros dizem que é preciso tirar "aquilo" porque se o marido lhe tocar morre, ou então é o bebé ao nascer que pode morrer... A maioria dir-lhe-á que é feito para agradar ao marido. Em nome da honra e dignidade do homem. Para que a mulher não seja demasiado gulosa por sexo...
###(...)
P. Como vê, hoje, a atitude dos médicos que se calaram?
R. É o relativismo cultural, aquela ideia "É a cultura deles, não temos nada a ver com isso". Mas há cultura e cultura! A mutilação sexual feminina tem de ser vista no contexto dos direitos humanos. E aí não há cores nem culturas. Não se pode fazer discriminação em termos de direitos humanos, dizer que são só para alguns.
P. Mas são também as comunidades imigrantes que dizem: "vivemos aqui mas não queremos ser como vocês, não queremos adoptar os vossos valores". E aí há um conflito, como no caso da interdição do véu muçulmano nas escolas públicas francesas.
R. Eu sou muçulmana e não uso véu. No meu país não se usa. E acho que se deve respeitar o direito da escola. Se são essas as regras da escola laica, se eu a frequento devo respeitá-las. Tal como, se estou num país, tenho de respeitar os seus valores, adaptar-me. Claro que há conflitos. Mas penso que nos países em que os imigrantes não vivem todos ao molho, em gueto, as coisas funcionam melhor.
P. Que devem os países europeus fazer?
R. Não é essencial fazer leis específicas contra a excisão: creio que em nenhum lugar da Europa é permitido mutilar qualquer parte do corpo. O que é preciso é ter atenção a essa realidade. Por exemplo, em França, todas as crianças dos zero aos seis anos são examinadas, incluindo o sexo, nas consultas pediátricas, e tudo é anotado na ficha respectiva. E explica-se à família tudo o que há a explicar sobre a excisão em termos de saúde, sublinhando que é uma prática interdita, ilegal, e que se a criança aparecer excisada o médico será obrigado a comunicar o facto ao ministério público. Em França há mais de 30 processos por esse motivo. E na Suécia houve um processo contra um pai que fez excisar a filha de 13 anos na Somália.» (Diário de Notícias)
Ao contrário desta muito corajosa senhora, acho que é necessária, em Portugal, uma lei específica contra as mutilações genitais. Só assim se garantirá que o respeito pelos Direitos Humanos ficará acima do respeitinho pelas «culturas». E não basta criminalizar a mutilação genital feminina, feita em culturas africanas sobretudo islâmicas (mas também cristãs e animistas). É também necessário criminalizar a mutilação genital masculina feita em crianças, que é um mandamento religioso judaico e uma prática hedionda.
quarta-feira, 27 de setembro de 2006
Daniel Dennet: «Concordo com o Papa»
terça-feira, 26 de setembro de 2006
Claudio Lomnitz: «Latin America’s Rebellion»
«Over the past decade, the left in Latin America has made spectacular gains. Since the election of Hugo Chávez in Venezuela in 1998, leftist parties or coalitions have won the presidency in Brazil (2002), Argentina (2003), Uruguay (2004), Bolivia (2005), and Chile (2006). In July’s congressional elections, Mexico’s Partido de la Revolución Democrática (PRD) became the second electoral force in the country, overtaking the Partido Revolucionario Institucional (PRI), which governed the country for 70 years. The PRD’s presidential candidate, Andrés Manuel López Obrador, lost the election by only half of a percentage point. In Nicaragua, the Sandinistas are poised to win the presidential election.
This is an unprecedented development. During the Cold War, countries that elected leftist presidents, like Guatemala in the 1950s or Chile in the 1970s, faced deep financial instability and CIA-backed military coups. Today’s electoral gains have gone hand in glove with mass mobilization of a scale that was only rarely seen in the past, but markets seem relatively resilient.
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(...)
For 25 years states and financial institutions forcefully imposed an unbridled capitalism on Latin America. Today’s collective resistance is important on a global scale; the only way to stop deregulation and the pauperization of the working and middle classes is to restrict capital’s freedom of action. Even if some Latin American democracies are unlikely to build robust internal economies, they still generate criticism and competition that shames the great powers and corporations into curbing their excesses.
(...)
Specters of the past haunt every step in Latin America’s turn to the left. Political arguments regularly appeal to a rectification of history, the return to an origin or founding moment, a second chance at achieving some project previously derailed. Because the specific histories being rectified are, each of them, presented as national histories, the imaginary points of reference vary from country to country. Thus, Evo Morales’s victory in Bolivia is supposed to rectify 500 years of colonial imposition of whites over Indians.
(...)
Hugo Chávez, in contrast, found the source of national redemption not in the pre-colonial past but in a return to the founding of the nation-state, under Simón Bolívar, almost 200 years ago. In Mexico the rise of the new left occurred first in 1988, under the leadership of Cuauhtémoc Cárdenas, in a movement that harked back to the presidency of Lázaro Cárdenas, Cuahtémoc’s father, and a period of agrarian reform and the nationalization of oil. Six years later, the Zapatista movement cast itself as continuing the radical struggle of Emiliano Zapata, in the armed phase of the Mexican Revolution (1910–1920). In Chile Michelle Bachelet is redeeming the democratic socialism of Salvador Allende, killed in 1973, along with Bachelet’s own father. In Argentina, as Beatriz Sarlo has argued, the secret of the posthumous life of Peronism lies in the obsession with lost opportunity that is the key motif in the cult of Evita. The crisis of 2002 made Peronism the only political force, the only powerful political idiom, in the country. In Brazil Luiz Inácio Lula da Silva’s electoral triumph was widely received as the symbolic conclusion of that nation’s democratic transition from military rule, which formally ended in 1981. And in Uruguay, Tabare Vázquez’s triumph, the first presidential victory of the left in that country, is also understood as a vindication of that country’s early social-democratic legacy of the 1920s.
(...)
But the current rise of the left occurs without an alternative economic project, which makes the very meaning of “left” and “right” difficult to pinpoint. And that difficulty may in turn explain why the “lost moments” all appeal to specific national traditions and images of autonomy and self-governance.
(...)
The new focus on civic virtue has brought with it a sentimentalism—which was perhaps most gushingly deployed by the Zapatistas—that plays on the image of civil society as the site of everything that is true, pure, and good. The ideal of dignity resonates deeply.
(...)
The tension between a form of democratic politics that excludes many of the poor and one based on mass mobilization—which can transgress legally sanctioned civil rights—is focused on the presidential body and its own transgressions. Thus, race is important for Chávez, single-motherhood for Bachelet, ethnicity for Morales, and a lower-class ethos for Lula. There is, in other words, a politics of identification between the body of the president and the irruption of the people into the democratic process.
(...)
Many of the characteristics of the Latin American left are common to the region’s democratic politics as a whole. One such characteristic is the shift away from the corporate state to flexible forms of social distribution, beginning with programs such as the “social liberalism” of Salinas’s Solidaridad Program in the Mexico of the early 1990s and moving through López Obrador’s distribution of pensions, Lula’s Zero Hunger Program and Chávez’s misiones. Each of these programs provides direct, targeted distribution of resources from the federal government (for money, food, construction materials, health, or education), unmediated by union membership or employer-based social security.
(...)
Today, the Latin American left is riddled by contradictions: it is a form of democratic politics that challenges some of the core precepts of liberal democracy; it is a rebellion against unbridled globalization that constantly risks falling back on nationalism and the developmental state; it seeks to strengthen state intervention and regulation but must rely on “flexible” forms of redistribution that it shares with neo-liberal parties; it seeks to produce alternative models of reality and development but is insufficiently invested in science, technology, and environmentalism.
These contradictions are not unacknowledged in Latin American public discussion, but they are too often hurled as partisan accusations rather than engaged as urgent policy debates. Until they are taken seriously, the Latin American left will remain a promising ideal of global resistance but a practical failure.»
segunda-feira, 25 de setembro de 2006
O 11 de Março também tem a sua teoria da conspiração
Morte ao Sol
Não há garantias
- «P. ¿Convocará el referéndum sobre la despenalización del aborto?
R. Acaba de presentarse en el Parlamento la propuesta para el referéndum. Después será discutida y vendrá aquí. El presidente no puede anticiparse al debate de los legisladores. Debo ser cuidadoso. Sólo cuando venga el proyecto me pronunciaré. Si no, mis palabras podrían ser utilizadas por un partido contra otro y eso rompería el principio de neutralidad.
P. Pero parece que hay consenso sobre la iniciativa, lo cual debería facilitar su aprobación. ¿Cuál es su opinión sobre el hecho de que haya mujeres perseguidas a causa de esa ley, una de las más restrictivas de Europa?
R. Ustedes hacen su análisis. Permitan que el presidente haga el suyo un poco más adelante.
Durante a campanha eleitoral, dissera algo ligeiramente diverso: «Tenho uma posição de princípio: um Presidente da República, em circunstâncias normais, deve dar seguimento às propostas de referendo que lhe chegam da Assembleia da República». Parece que afinal já não dá garantias: já foi eleito.
sexta-feira, 22 de setembro de 2006
Hélio Schwartsman: «O Papa e o profeta»
Peña-Ruiz: «L'erreur de Benoît XVI»
Quant à la récente déclaration attribuée à Al-Qaeda qui s'en prend à la laïcité en y voyant une invention des «croisés», elle révèle également une singulière erreur historique. L'idéal laïque, on le sait, stipule l'égalité de principe des divers croyants, des athées ioupiopioet des agnostiques, en même temps que leur liberté de conscience. Il fut conquis, en France, non contre le christianisme, mais contre le cléricalisme catholique qui prétendait dicter la loi au nom d'une foi. Bref, si l'on veut, contre les modernes «croisés». Les lois laïques de séparation ont reconduit la manifestation de la foi à la sphère privée, individuelle ou collective, des seuls fidèles. Ce qui est du ressort de la foi de certains ne peut s'imposer à tous. Dans cet esprit, les crucifix, notamment, furent ôtés des monuments publics, afin que tous les citoyens, quelle que soit leur conviction spirituelle, puissent se reconnaître à égalité dans un espace commun, soustrait à la tutelle particulière d'une confession. L'exigence de neutralité des institutions communes à tous leur permet d'assumer pleinement leur raison d'être : promouvoir ce qui est d'intérêt commun. Il n'est donc pas exact de voir dans une telle conquête une victoire des «croisés».
(Henri Peña-Ruiz no Libération de 20 de Setembro; ler na íntegra.)
terça-feira, 19 de setembro de 2006
Revista de blogues (19/9/2006)
- «Não existem sociedades superiores num horizonte difuso e abstracto. Existem sociedades concretas onde os valores dominantes as tornam mais dignas do que outras para os indivíduos que nelas vivem. (...) Numa altura em que mais um episódio de intolerância irrompe entre religiões e regiões que delimitam sistemas-mundo ideológicos, convém lembrar que não há sociedades superiores. Há sociedades que se superiorizam pelo que possibilitam aos indivíduos que nelas vivem.» («A diferença toda», no Kontratempos.)
- «Na questão da "liberdade" e da "responsabilidade", creio que frequentemente se mistura estes dois sentidos da palavra "responsabilidade". A "responsabilidade" que está ligada à liberdade é a primeira - se eu decido livremente agir de determindada maneira, devo aceitar os resultados dessa acção. P.ex., se eu decido não fazer a cama, tenho de aceitar o fato de ter uma cama não feita e, de na noite seguinte, ter os lençóis todos enrugados. No entanto, muitas vezes joga-se com a ambiguidade do conceito de "responsabilidade" para argumentar que as pessoas têm que ser "responsáveis" no segundo sentido para poderem ser livres - ou seja, passa-se do "pessoas livres devem arcar com as consequências de decidirem fazer ou não a cama" para "só as pessoas que fazem a cama todos os dias têm condições para serem livres".» («O que significa "responsabilidade"?», no Vento Sueste.)
Timothy Garton Ash: «Islam in Europe»
These Balkan Muslims are old Europeans and not immigrants to Europe. However, like the Turks, they do form part of the Muslim immigrant minorities in west European countries such as Germany, France, and Holland. Within a decade, most Balkan Muslims will probably be citizens of the European Union, either because their own states have joined the EU or because they have acquired citizenship in another EU member state.
(...)»
(Timothy Garton Ash na New York Review of Books.)
segunda-feira, 18 de setembro de 2006
Criacionismo: o debate na blogo-esfera
(Também dei a minha modesta contribuição, com dois textos sobre as reflexões de JP2: «Karol Wojtyla: "a evolução aplica-se a todos os animais menos um"»; e um sobre o recente pronunciamento de B16: «Joseph Ratzinger: "Deus aparece nas contas sobre o homem e sobre o universo"»; só lamento que ninguém tenha respondido ao meu repto: «Um desafio».)
É decepcionante, mas até agora não houve nenhuma defesa consistente do criacionismo na blogo-esfera, nem da trincheira católica nem da banda evangélica...
sábado, 16 de setembro de 2006
Revista de blogues (16/9/2006)
- «Se para ser livres tivessemos de ser responsáveis, tratar-se ia então de uma liberdade condicionada a um qualquer conceito de responsabilidade que nos seria imposto, logo não seria liberdade. Pelo contrário, só conseguimos ser responsáveis se formos livres.» («Liberdade e Responsabilidade» no armadilhaparaursosconformistas).
- «Confesso que, após uns anos “lá fora”, eu já me tinha desabituado destas coisas. Aliás, como nunca estive muito por dentro do meio académico em Portugal, a bem dizer eu nunca me tinha habituado.Então foi assim. Na conferência de Claude Cohen-Tannoudji, hoje de manhã, num grande anfiteatro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, havia uma série de lugares “reservados” na primeira fila. Esses lugares eram destinados a convidados especiais, que à medida que iam chegando se iam cumprimentando, com beijinhos e apertos de mão efusivos. Já não se viam desde o último seminário que fosse também “evento social”, como este era.» («Claude Cohen-Tannoudji e a feira das vaidades», n´o Avesso do Avesso).
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
É assim mesmo e mais nada!
- «Neste mandar da laicidade às urtigas, apanágio de todos os governos e presidentes da democracia (e candidatos a tal), o primeiro Executivo PS de maioria absoluta, que se intitula da"esquerda moderna", não destoa. Ante a polémica dos crucifixos nas salas de aula, afirmou que "a escola é laica" mas os símbolos só saíam "a pedido", não fosse alguém sentir-se com a sua abrupta (30 anos 30 após a Constituição ter estabelecido a não confessionalidade do ensino público) retirada. Perante o fim da obrigatoriedade concordatária de capelanias católicas nas Forças Armadas, nos hospitais e nas prisões, está há um ano a "estudar" o estabelecer da igualdade religiosa nesta matéria - enquanto tudo fica na mesma. E, em perfeito inverso da "escandalosa" postura de Zapatero, viu--se, esta semana, na inauguração de uma escola pública que teve direito a bênção de um padre (!), o primeiro-ministro português persignar-se. Quer releve de convicção quer de uma noção voluntarista de gentileza, o gesto ignora a distinção entre a esfera privada da vida de um chefe de Governo e a encenação pública da sua presença oficial, relegando a separação entre Igreja e Estado para as questões irrelevantes. É pena: cumprir assim a "tradição" é "limitar-se" a falhar a modernidade.» (A magnífica Fernanda Câncio no Diário de Notícias de hoje.)
Maryam Namazie: «Rights Trump Culture and Religion»
As a result, concepts such as rights, equality, respect and tolerance, which were initially raised vis-à-vis the individual, are now more and more applicable to culture and religion and often take precedence over real live human beings.
The distinction between humans and their beliefs is of crucial significance here. It is the human being who is sacred, worthy of the highest respect and rights and so on and so forth not his or her beliefs.
It is the human being who is meant to be equal not his or her beliefs.
quinta-feira, 14 de setembro de 2006
Para acabar de vez com as teorias de conspiração
A refutação mais sistemática das teorias de conspiração sobre o 11 de Setembro está na última Skeptic:
- Sobre a alegação de que as torres do WTC foram implodidas com explosivos: «Carefully review footage of the collapses, and you will find that the parts of the buildings above the plane impact points begin falling first, while the lower parts of the buildings are initially stationary».
- Sobre a alegada «queda vertical» das torres: «footage of the collapse of the South Tower, or Building 2 reveals that the tower did not fall straight down, as the North Tower and buildings leveled by controlled demolitions typically fall».
- Sobre a queda do edifício 7: «the fires burning in WTC 7 were extremely extensive (...) Emergency response workers at Ground Zero realized that extensive damage to the lower south section of WTC 7 would cause collapse».
- Sobre o Pentágono: «I saw the marks of the plane wing on the face of the building. I picked up parts of the plane with the airline markings on them. I held in my hand the tail section of the plane, and I found the black box».
- Sobre o voo 93: «the engine was found only 300 yards from the main crash site, and its location was consistent with the direction in which the plane had been traveling».
Entretanto, também já existem teorias de conspiração sobre o 7 de Julho:
- «He recently finished making 7/7: mind the gap, a film in which he suggests that, given the late running of trains on that fateful day last year, the four bombers could not have blown themselves up in London at the times claimed. He also believes that the closed-circuit TV image of the four men entering Luton Station is a "Photoshop job - a forgery, and a bad one at that". He goes so far as to argue that those who forged the photo did it badly in order to send a signal to the rest of us. "This could be elements in the New World Order saying, 'Look, we're sick of lying. We've had enough."»
O que me fascina neste fenómeno é a sua universalidade: lembra-me, irresistivelmente, aquelas pessoas que nunca precisaram de indícios para terem a «certeza» de que Sá Carneiro tinha sido vítima de uma conspiração para o assassinar; ou então, as que ainda hoje se recusam a acreditar que Kennedy foi assassinado por um louco isolado. Existe algo de comum em todas estas situações: a) foram acontecimentos violentos e inesperados; b) alteraram o rumo em que seguia a vida política; c) deixaram desconcertados movimentos sociais significativos. Aparentemente, as teorias de conspiração resultam de uma dificuldade cognitiva de adequação a mudanças, e são uma tentativa de as racionalizar. Acontecimentos para além da nossa compreensão dever-se-ão a uma «ordem oculta»...
Revista de blogues (14/9/2006)
- «(...) a melhor maneira de prestar homenagem às vítimas e de combater o terrorismo islâmico não é restringir desmesuradamente as liberdades individuais, violar os princípios mais elementares do Estado de direito (ver Guantánamo), lançar guerras mal avisadas que só alimentam o terrorismo (ver Iraque) e manter situações de opressão que nutrem o sentimento anti-ocidental no mundo árabe (como a questão palestiniana).» («Cinco anos depois», no Causa Nossa.)
- «O padre Domingos Soares, defendeu a intromissão da Igreja católica na política, numa missa celebrada em Gleno, ontem, «pelas almas dos que já tombaram e também por aqueles que estão agora a lutar pela verdade e pela justiça», de entre os quais destacou o major Alfredo Reinaldo.» («Timor - Igreja católica abriu Caixa de Pandora», no Diário Ateísta.)
- «Nas últimas semanas fechou um semanário, nasceu outro e o “Expresso” mudou o seu grafismo. Um insuspeito empresário do meio, Luís Montez, fez a análise do mercado: falta um semanário de esquerda. (...) Num país onde os jornais vendem tão pouco, o negócio conta mesmo muito pouco. Os jornais são uma arma de poder.» («Prejuízo com retorno», no Arrastão.)
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
O mundo está perigoso...
By Peter Baker
Washington Post Staff Writer
Wednesday, September 13, 2006; A05
President Bush said yesterday that he senses a "Third Awakening" of religious devotion in the United States that has coincided with the nation's struggle with international terrorists, a war that he depicted as "a confrontation between good and evil."
Bush told a group of conservative journalists that he notices more open expressions of faith among people he meets during his travels, and he suggested that might signal a broader revival similar to other religious movements in history. Bush noted that some of Abraham Lincoln's strongest supporters were religious people "who saw life in terms of good and evil" and who believed that slavery was evil. Many of his own supporters, he said, see the current conflict in similar terms.
"A lot of people in America see this as a confrontation between good and evil, including me," Bush said during a 1 1/2 -hour Oval Office conversation on cultural changes and a battle with terrorists that he sees lasting decades. "There was a stark change between the culture of the '50s and the '60s -- boom -- and I think there's change happening here," he added. "It seems to me that there's a Third Awakening."
(continua aqui)
Um exército de Voltaires
- «O nosso problema é que enviámos um exército tecnologicamente avançado para o mundo deles, e falhámos na compreensão de que aquilo de que eles necessitam é de um exército próprio de Voltaires.» (Thoughts on the Impossibility of Being both Deeply Religious and Cosmopolitan)
É disto que o «mundo islâmico» necessita: um exército de Voltaires. E é na Europa que o podemos recrutar. É essa a única guerra que faz sentido: cultural e ideológica, em papel e na internete. As outras guerras, no Iraque e até no Afeganistão, só têm atrapalhado.
Hélio Schwartsman: «A Gramática Universal»
terça-feira, 12 de setembro de 2006
Pacheco Pereira com alguns equívocos
E a propósito…
Revista de blogues (12/9/2006)
- «5 anos depois» no Blasfémias: «Do lado muçulmano, mais do que um problema civilizacional, a questão é religiosa. Uma visão fundamentalista, unilateral, totalizante. Similar a muitas que coexistem no cristianismo, sejam em versão evangélica ou na obediência romana. Mas que nunca se encontrarão porque a sua matriz é definirem-se como verdades isoladas e excludentes, por muito que essas crenças sejam quase-geminadas. (...) A chave, a solução para isto tudo é a laicidade. O abandono do religioso para além da dimensão privada da vida de cada um. A prioridade à isenção e abstenção das regras, princípios, instituições e poderes públicos nos domínios do sagrado.»
- «A ineficácia da redistribuição em Portugal», no Véu da Ignorância: «Na Suécia, os indivíduos pertencentes ao quintil superior têm rendimentos em média 3,3 vezes superiores aos do quintil inferior. Portugal aparece na cauda da lista, e ainda longe dos países que o precedem imediatamente, no caso, a Itália e a Grécia. Decididamente, a capacidade redistributiva não é o forte do Estado português - algo que devia levar a esquerda a reflectir seriamente, e em particular a esquerda com ligação ou "tradição" sindical.»
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
Como se tortura nos EUA
- «Uma reportagem do jornalista Brian Ross, da cadeia televisiva ABC, revela que, segundo ex-agentes da CIA, eram autorizadas seis técnicas progressivas de pressão sobre o interrogado, que se encontrava sempre algemado. Começava por uma indução da atenção, "envolvendo sacudir com força o preso"; seguia-se a bofetada de atenção, dada com a mão aberta na cara do detido; depois a palmada na barriga, causando dor temporária, mas não lesões internas; a quarta fase incluía a prolongada permanência de pé, sem possibilidade de dormir, pelo menos durante 40 horas, e que os agentes consideravam a técnica mais eficiente; no patamar acima, estava o "quarto frio", uma cela mantida a temperaturas em torno de dez graus centígrados, onde o preso, nu, era continuamente molhado; na sexta instância, vinha o "tapume de água".» (Diário de Notícias)
quinta-feira, 7 de setembro de 2006
Para a História
Apoio acrítico às aventuras militares de Bush. Neoliberalismo e independência do Banco da Inglaterra. Escolas confessionais em nome do «multiculturalismo». Propinas universitárias. Obsessão securitária.
Mas também a paz na Irlanda do Norte. A Carta dos Direitos Humanos. Os parlamentos regionais na Escócia e no País de Gales e a Câmara de Londres. A reforma da Câmara dos Lordes.
Revista de blogues (7/9/2006)
- «PSD quer Parlamento com menos 50 deputados» no Ponte Europa: «A redução do número de deputados, com o fundamento boçal de não serem precisos tantos e a explicação demagógica da poupança que induz, é um álibi para reduzir ou aniquilar a influência dos pequenos partidos e satisfazer a opinião pública. O pluralismo e a democracia ficam mais pobres e a contestação social arrisca-se a mudar de sede.»
- «Da Capital do Império» no 2+2=5: «(...) as plantações onde trabalhavam os “angolas” ficaram conhecidas como Angola. Daí a tal Angola no Luisiana, a Angola Farm no Delaware. Aparentemente há mais antigas plantações “Angola” espalhadas pelo sul. No estado da Virgínia houve uma plantação Angola que pertenceu inicialmente a um tal Anthony Johnson que era na verdade “António, o Negro” que foi libertado pelo seu patrão um tal Johnson.».
- «O nosso pequeno monstro» n´O Franco Atirador: «Um segurança subiu ao palco para o convencer a sair: o funcionário tinha o dobro da sua estatura e César Monteiro, obviamente, atirou-se a ele. Fê-lo com a energia dos loucos, foi vencido num ápice, e saiu humilhado ao colo do homem que o derrotara.».
quarta-feira, 6 de setembro de 2006
O paradoxo de Zenão tem solução
- "Aquiles, símbolo da rapidez, tem de alcançar a tartaruga, símbolo de lentidão. Aquiles corre dez vezes mais depressa que a tartaruga e dá-lhe dez metros de vantagem. Aquiles corre esses dez metros, a tartaruga corre um; Aquiles corre esse metro, a tartaruga corre um decímetro; Aquiles corre esse decímetro, a tartaruga corre um centímetro; Aquiles corre esse centímetro, a tartaruga um milímetro; Aquiles o milímetro, a tartaruga um décimo de milímetro, e assim infinitamente, de modo que Aquiles pode correr para sempre sem a alcançar."
O autor do blogue acrescenta ainda a seguinte apreciação:
- «A refutação ensaiada por Aristóteles é por muitos considerada frágil, e só a quântica, alguns anos mais tarde (séc. XX), pôs um fim lógico à perpétua corrida entre Aquiles e a tartaruga.»
Ora, o raciocínio está errado, e o aparente «paradoxo» pode ser desmascarado recorrendo à cinemática que se ensina no 10º ano. Então, é assim...
###- Seja x1(t) a posição de Aquiles e x2(t) a posição da tartaruga.
- Seja V a velocidade do simpático anfíbio, e portanto 10V a do herói grego (de acordo com o enunciado...).
- Então, as equações do movimento serão: x1(t)=10Vt [SI] e x2(t)=10+Vt [SI].
- Logo, igualando as duas equações do movimento determinamos que Aquiles apanha a tartaruga ao fim de exactamente t=10/(9V) segundos. (Basta substituir o valor da velocidade da tartaruga para obter um resultado numérico; se for V=0.1 m/s, temos t=11,1 segundos, por exemplo).
A razão para o Aristóteles não ter dado com isto penso que terá a ver com a ausência da metáfora adequada: as dizímas infinitas. Aliás, o que Borges descreve é o processo de obtenção de uma dízima infinita que resolve o problema que expõe. (Quanto à Física Quântica, não vejo qual seja a relação com o problema...)
Racialismo Religioso Católico
Outra coisa que chama a atenção é o ataque às susperstições locais de uma forma honesta, ou seja, reivindicando a sua incompatibilidade com as suspertições católicas, e nunca desde um ponto de vista de defesa de qualquer forma de racionalismo, o que também é revelador da inteligência institucional da Igreja Católica na África do Sul em não desperdiçar o precioso patrimônio de ignorância do seu povo: Esta práctica y estas creencias contradicen así las enseñanzas de la Iglesia sobre la curación. (...) La creencia que los antepasados están dotados de poderes sobrenaturales se acerca a la idolatría (...) Es Dios y solamente Dios quien es omnipotente, mientras que los antepasados son sus criaturas. Ellos pueden ayudarnos solamente intercediendo por nosotros. (...) Un comportamiento correcto cristiano consiste, en cambio, en ponerse en las manos de la Providencia.
###Mas quem ache que estou aqui a tentar formular uma simples acusação de racismo católico perante as religiões africanas próprias, que se desengane pois sei que que o próprio papa Bento, que por acaso nunca gostou demasiado dessas coisas inventadas pelo seu antecessor, acaba de escrever uma mensagem pelos 20 anos de um curso inter-religioso patrocinado pelo Vaticano, onde deixa claro o seu carinho pelas outras crenças ao mesmo tempo que reforça a chamada de não confundir amor com sexo: Mesmo quando nos encontramos juntos a rezar pela paz, é preciso que a oração se realize segundo aqueles caminhos distintos que são próprios das várias religiões (...) é importante não esquecer a atenção que então foi dada para que o encontro inter-religioso de oração não se prestasse a interpretações sincretistas, fundadas sobre uma concepção relativística. Ou seja, "se queres ser animista africano isso é lá contigo mas não venhas depois à igreja no domingo", todos juntos mas não rejuntos, e cada um a disfrutar no seu canto das suas "experiências espirituais específicas".
Me lembro agora de uma entrevista que uma vez vi na RTP, faz já alguns anos, a um radical alemão da extrema-direita, de visita a Portugal e amigo do le Pen, ou isso dizia ele (todos gostamos de contar vantagem na frente de uma câmara). O homem afirmava que não era racista, que não tinha nada contra os pretos, apenas achava que eles deviam ficar na sua terra. Dizia que isso não era racismo, era racialismo. E também me lembro sempre a propósito dessas coisas de uma entrevista que vi a Jorge Amado, onde o autor brasileiro dizia que o racismo era o mal de todos os nossos pecados (coisa típica de comunista à beira da morte esquecer-se da luta de classes), e que achava que a única salvação para a humanidade era o cruzamento de raças. Que fôssemos todos mulatos. Reconhecia que ia ser um pouco triste e aborrecido mas para ele era melhor que tanto sofrimento.
Ainda sobre o sexo também pude ler na Fide do Vaticano acerca de um informe sobre dois novos estudos, apresentados por Médicos Sem Fronteiras (MSF) na 16ª Conferência Internacional, realizada recentemente em Toronto, [que] demonstraram os bons resultados obtidos com o tratamento antiretroviral (ARV) em crianças contagiadas pelo HIV/AIDS em países pobres. Diz o informe (noticioso da Fide...): Em todo o mundo, estima-se em 2,3 milhões as crianças atingidas pelo HIV, e grande parte das quais estão na África sub-Saariana. Nove em cada dez crianças infectadas contraem o vírus da mãe, e isto ocorre porque os esforços de prevenção da transmissão permanecem insuficientes. Depois continua especificando que para o Vaticano prevenção de transmissão do vírus é só entre mãe e filho e é tratamento antiretoviral depois do filho nascer, ou seja, depois que a transmissão do vírus já ocorreu... não fosse alguém achar que se estava a falar de preservativos. Sempre a pensarmos no mesmo!!! (Pelo menos nisso nós e os cardeais somos parecidos.) A única hipótese de o Vaticano subscrever a proposta de Jorge Amado para miscigenação total da humanidade, e ao mesmo tempo talvez promover a genética, era que descobrissem como o fazer sem sexo e com a garantia de que os futuros engendros de tal experiência seriam cristãos rigorosos... e hermafroditas puros todos. Desconfio entretanto que neste caso a balança de sofrimento desequilibrava e o Jorge não aceitava.
Eu pela minha parte fico com Nietzsche: Considerem-se os seguintes sinais desses estados da sociedade, necessários de tempos a tempos, que são designados pela palavra "corrupção". Logo que a corrupção intervém em qualquer sítio, ganha força uma superstição de aspectos variados e empalidece e torna-se impotente a crença que todo o povo professava até então: a superstição é, com efeito, um pensar livre de segunda ordem. Quem a este se entrega, escolhe um certo número de formas e fórmulas que lhe convém e permite-se o direito de escolha. Comparado com o homem religioso, o supersticioso é muito mais "pessoa" do que aquele, e uma sociedade supersticiosa será aquela em que já há muitos individúos e apetência pelo individual. Considerada desta óptica, a superstição aparece sempre como um progresso em comparação com a fé e como sinal de que o intelecto se torna mais independente e quer afirmar o seu direito. Queixam-se então da corrupção os devotos da antiga religião e religiosidade - foram eles que até então determinaram o uso linguístico e desacreditaram a superstição mesmo entre os espíritos mais livres. Aprendamos que ela é um sintoma do iluminismo. (A Gaia Ciência - Nietzsche; I-23; Relógio d'Água, 1998)
Sabe-se que Jorge Amado, sendo ateu mas rigoroso baiano, gostava de regularmente ir aos cultos de candomblé de Salvador, celebrações máximas do sincretismo afro-cristão no Brasil. Muita gente nunca entendeu como desde o seu ateísmo ele era capaz de o fazer. Acontece que se para os negros e mulatos da Baía de Todos os Santos tudo aquilo estava diretamente ligado com a sua consciência e orgulho de raça, no caso de Jorge eu acho no entanto que ele sabia que algo de mais profundo estava também sendo celebrado por todos naqueles terreiros: a liberdade.
terça-feira, 5 de setembro de 2006
Peña-Ruiz: «La religion n´est pas un service public»
O Manifesto do «Terceiro Campo»
segunda-feira, 4 de setembro de 2006
Revista de blogues (4/9/2006)
- «Por falar em extrema-direita...» no Véu da Ignorância: «...se os que recusam sistematicamente a legitimidade da acção privada em favor da acção estatal são catalogados de "extrema-esquerda", então, simetricamente, não podemos deixar de concluir que os que acham que o imposto é um "roubo" e não reconhecem legitimidade na acção pública (para alem da estritamente necessária, claro, como os gastos militares e policiais, e mesmo assim...) - que necessita para isso de colectar impostos - devem ser catalogados de "extrema-direita".»
- «Conservadorismo» no umblogsobrekleist: «(...) o conservadorismo é, na sua essência, uma questão de temperamento, sem cheiro de conteúdo político. Não há rigorosamente nada de mal em ser-se, ou afirmar-se ser, conservador. Mais delicado é quando se deixa que um traço de temperamento extravase para a política. Deixemos aos ingleses o privilégio da anacrónica câmara dos lordes e da inadequação anedótica dos tories.»
A segunda lei da termodinâmica em formato teológico
###1 - Começamos pela sua crítica à possibilidade de 'acidentes aleatórios' tornarem matéria inanimada em matéria viva. Como sempre nestes casos começa-se por buscar os argumentos de alguém do mundo científico que sirva de aval fundamental, neste caso o elegido é o físico Fred Hoyle, que sendo ateu, e aproveitando-se para deixar bem claro este facto, dará uma solidez ainda maior a tudo. Hoyle terá calculado a probabilidade que teriam cada 20 aminoácidos em aparecerem na Natureza na correcta sequência para formar uma célula viva chegando ao que parece a um valor 1 em 1040000. Neste momento Orlando diz o seguinte absurdo: os matemáticos normalmente consideram a hipótese de 1 em 1.050 (1 seguido de 50.000 zeros) como uma impossibilidade matemática. Não sei sinceramente de onde o autor foi sacar semelhante idéia mas seria muito mais provável que um físico como Hoyle, por exemplo, a dissesse, mas nunca um matemático... Improbabilidade não é o mesmo que Impossibilidade, que o digam os vencedores de loterias e eu já conheci mais que um, se bem nunca tenha tido pessoalmente esta sorte. De qualquer forma parece ser que realmente é verdade que Hoyle utilizou tal raciocínio para concluir que uma teoria de evolução natural terrestre para a criação da vida era absurda. Acontece que o cálculo de Hoyle não é minímamente científico, e ainda que ele fosse um cientista nem todas as bujardas que o homem dizia eram ciência, longe disso. Antes de mais nada, é óbvio que o raciocínio de Hoyle e do Orlando pecam por reducionismo, considerando possível modelar a sequenciação de aminoácidos por via da física atómica quando a matéria a diferentes escalas e em diferentes lugares cria padrões de organização distintos impossíveis de prever por via da física atómica. O absurdo do raciocínio salta à vista de todos pois "impossibilitaria" practicamente qualquer coisa conhecida do nosso dia a dia, a macro-escala, de acontecer a não ser que se entrasse em linha de conta com Deus, é claro...
2 - A argumentação continua por caminhos estranhos, citando supostas evidências descobertas que não conheço, nem o autor refere quais, de inexistência de uma sopa pré-biótica, necessária nos modelos mais correntes para a criação dos primeiros aminoácidos na Terra. Orlando diz que os cientistas têm descoberto muitas razões para pensar que a Terra primordial não era de todo constituída por uma 'sopa pré-biótica', e eu não sei aqui até que ponto não se confundem, Orlando e suas fontes, entre 'existência de' e 'constituído por'... De qualquer forma é reincidente a pressa com que algumas pessoas desejam substituir a ignorância inegável que possamos ter sobre determinado problema com o factor Deus. Orlando aqui tão pouco é original.
3 - Utiliza-se a já conhecida argumentação baseada na teoria da informação com termodinâmica misturadas a gosto do freguês, para numa simulação de raciocínio, dar a impressão de que cientificamente a criação natural de vida é absurda, e contradiz a segunda lei da termodinâmica sobre o aumento de entropia em sistemas isolados e fora de equilibrío. Não se diz por exemplo que a segunda lei da termodinâmica não impede um sistema de organizar-se no caso de não ser isolado, nem de aparentemente poder apresentar uma maior organização macroscópica à custa de "desorganizar-se" a nível microscópico (e total). E para absurdo maior Orlando tenta aplicar a termodinâmica às teorias em lugar dos sistemas, ou pior, utiliza-a para fazer a comparação entre teorias e sistemas, destacando ele próprio a sua afirmação, roubada a um físico chamado Hubert Yockey, de que a informação genética contida no mais pequeno organismo vivo é muito maior do que o conteúdo de informação descoberto nas leis da física. Para Orlando este facto matemático é fundamental... Depois ele anda à volta com vários exemplos de complexidade macroscópica do mundo em que vivemos, incluindo "Os Lusíadas", que ele diz serem incompatíveis com a regularidade das leis da física, para chegar a este corolário magnífico, que diríamos roubado ao estilo de João César das Neves: Da mesma forma que a informação contida n’ 'Os Lusíadas' não foi determinada pelos químicos utilizados na tinta das penas de Luís Vaz de Camões, assim a informação do código genético (ainda que codificada num alfabeto de 4 letras) não é determinada pelos elementos químicos desse seu alfabeto.
4 - Depois a alucinação continua com mentiras como esta: Hoje é reconhecido que o Universo físico está programado para propiciar e criar as condições para a existência da vida (sintonização universal para a Vida). Reconhecido por quem? Parece que pelo menos por um tal John Polkinghorne, que ele refere como sendo sendo físico em Cambridge mas não como sendo também teólogo, e cuja citação Orlando extrae de um livro chamado "Beyond Science"... O Orlando anda aqui às voltas, sem o dizer, com o princípio antrópico. Se trata de um princípio com enunciados e abordagens muito distintas que vão do duvidoso ao banal, chegando ao pseudo-científico. De qualquer forma a situação actual está longe de poder possibilitar o tipo de afirmações teológicas bombásticas relativas a supostos reconhecimentos científicos generalizados sobre um Universo programado para criar vida...
Assim que quando Orlando termina o seu post dizendo que O Deus de barbas e 'castigador' já não existe. Mas existe inexoravelmente uma força superior que tudo isto criou: chamemos-lhe o Deus Cósmico. Ele existe, sem dúvida., ele não está chegando ao resultado de nenhuma equação matemática como quer fazer crer, mas simplesmente renovando a velha histeria religiosa em formato de sermão de aldeia global do século XXI, e de acordo com os novos cânones norte-americanos do gênero. Nada se perde, nada se cria, tudo se moderniza e se complica. Pura termodinâmica.
sexta-feira, 1 de setembro de 2006
América Latina: a primeira década do resto da História deles
Algumas curiosidades (outras) sobre a Evolatria (corrigido)
###Em primeiro lugar sou o primeiro a valorar e a reconhecer a importância da vitória democrática do presidente Evo Morales nas eleições da Bolivia, para lá da figura especificamente eleita. Assim como a reconhecer a justiça e necessidade das medidas de fundo de renegociação dos contratos de exploração das petroleiras estrangeiras em Bolívia. (Outra coisa é não ser cego com relação a eventual incompetência por parte do governo de Evo na forma como está levando a cabo estas negociações.) Neste sentido concordo com o essencial do que objectivamente se diz neste post do Ricardo S. Carvalho, citação de um artigo no New Left Review, se bem que a minha posição sobre este tema está provavelmente muito longe de coincidir com a de Ricardo S. Carvalho. O que critico em políticos como Evo Morales, na Bolívia, e Chavez, em Venezuela, é o que neles há de claramente anti-democrático e que no entanto é, regra geral, ignorado, desculpado, justificado ou mesmo falseado pela esquerda européia tonta.
Acontece que para mim não é uma alternativa credível uma esquerda que não é capaz de criticar o culto da personalidade, autoritarismo, contínuas ampliações de mandatos, e despudor moral na política de alianças (veja-se Cuba, China, Rússia, Irão, e agora Síria) re-inaugurada por Chavez na América do Sul. Política com ambições claramente extra-territoriais como se viu e vê mais claramente em Bolívia, Perú, mas também em Colômbia e Equador. Chavez não esconde o seu passado de golpista na hora de estabelecer as suas amizades e é a todos os títulos o personagem político mais perigoso para o futuro da liberdade democrática nos países da zona, e isto não pode ser ignorado nem desculpado. Não se trata muito menos de defender novos golpes de estado nem ingerências igualmente anti-democráticas, mas tão pouco de vestir-lhe ao homem o manto do perdão e levantar a guarda crítica perante o perigo que ele representa.
No entanto é um facto de que a capacidade de influência de Morales é infinitas vezes inferior a de Chavez. Na verdade se Evo assusta é porque demonstra que Chavez tem realmente capacidade de influência e existe apetência nos povos da zona por este tipo de figuras. Dirão de qualquer forma ainda que não se pode comparar Evo Morales com Chavez por outras razões. Que tal como nos diz Forrest Hylton, no post do Ricardo já citado, este representa realmente uma volta no bom sentido em termos de política social, ou pelo menos a nível dos seus objectivos apresentados. A verdade é que exactamente o mesmo se pode dizer de Chavez em Venezuela, e provavelmente com mais razão do que no caso de Evo Morales também por força dos recursos que um tem em comparação com o outro. Mas isso tudo nunca poderá anular o facto básico de que a liberdade não deve ser tão facilmente negociável, e as democracias sul americanas não estão para nada imunes de regressão perante líderes que trabalhem em seu contra. Além disso tal como repudiamos qualquer apoio a regimes anti-democráticos, o mesmo se aplica então em relação a todos, incluindo Chavez e Morales. Portanto não se entende que um líder democraticamente eleito como Morales saiba, ou finja saber, tão mal o que é uma democracia ao ponto de afirmar que Fidel Castro es un hombre democrático y que defiende la vida, que tiene sensibilidad humana. O que eu sei é que estes discursos e formas de fazer política seria melhor que já não tivessem eco na América Latina. Nem em nenhuma outra parte.
Quem quiser ainda assim comprar os tais selos, parece que são realmente muitos, assim que o perigo de se esgotarem não é demasiado grande, de qualquer forma e tal como vão as coisas o melhor é se apressarem e darem um salto aqui. Um verdadeira pechincha, menos de dois dólares cada um.
O post original referia como sendo da autoria de Ricardo Alves este post nele citado quando na realidade havia sido publicado pelo Ricardo S. Carvalho, antes Ricardo (O Outro). Entretanto a referência já foi corrigida e peço desculpas a ambos Ricardos pelo erro original.