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sexta-feira, 10 de abril de 2015

O nefando nexo entre "a guerra contra as drogas" e a "guerra global contra o terrorismo"

Sendo o título auto-explicativo, proponho-vos sem mais delongas a leitura do artigo de Adam Dick (minha tradução) aconselhando vivamente o seguimento dos links ("originais") inseridos no texto, particularmente o último de que se reproduz a imagem do seu cabeçalho.

Um excelente fim-de-semana!
8 de Abril de 2015
Por Adam Dick


Quando o presidente George W. Bush anunciou a “guerra global contra o terrorismo” em 2001, ele não teve de a começar do zero. De facto, o desenrolar da guerra do governo dos Estados Unidos contra as drogas, que o presidente Richard Nixon anunciara trinta anos antes, facilitou em muito a nova guerra de Bush. Duas revelações desta semana proporcionam novos exemplos do nexo existente entre as duas guerras.

Foto daqui

Primeiro foi Brad Heath, na quarta-feira, no USA Today, quem noticiou que, de 1992 até 2013, a agência americana Drug Enforcement Administration (DEA), registou e armazenou "praticamente todos" os telefonemas com origem na América tendo por destino uma longa lista de países. No seu pico, a recolha massiva incidiu nas chamadas telefónicas entre os EUA e mais de 100 países. Segundo o artigo, nos países que estiveram na lista "por diversas vezes", incluem-se a maioria dos da América do Sul, América Central e as Caraíbas, assim como o Canadá, México, Itália, Afeganistão, Paquistão, Irão e outros países na Europa, Ásia e África.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Até quando?

Foi hoje divulgado, pelo londrino British Medical Journal Open, um artigo onde se retrata a evolução, ao longo das duas décadas precedentes, de um conjunto de indicadores (preço de venda na ruagrau de purezaquantidades apreendidas pelas autoridades policiais) construídos a partir de dados governamentais de diferentes países, relativos à oferta no mercado ilegal de drogas (cannabis, cocaína e opiáceos como a heroína ou o ópio).

A conclusão a que chegam os seus autores é a seguinte: no período considerado, "aumentou a oferta das principais drogas ilegais, como resulta do declínio geral nos preços e de um aumento geral na pureza de drogas ilegais" (minha tradução).

O corolário só pode ser um: de nada valeu a "guerra às drogas" (iniciada por Nixon) para diminuir o consumo destes estupefacientes apesar das astronómicas somas de dinheiro despendidas e, pior, do recurso generalizado à prisão de milhões de consumidores cujo único crime (?) foi o de se terem prejudicado a si próprios, ao mesmo tempo que se promovia o enriquecimento e multiplicação das mafias e da violência sem limites e da corrupção.

A loucura de muitos, demencial e profundamente estatista, segundo a qual seria possível controlar os comportamentos das pessoas através de proibições e do enjaulamento massivo irá durar até quando?

O Público dá um tratamento minimamente decente a esta notícia aqui.

sábado, 10 de agosto de 2013

Armas, crimes e acidentes nos EUA nos últimos 20 anos

Continua animada a caixa de comentários a propósito do post O controlo de armas, e não a sua posse, é a principal causa do crime. Na troca de argumentos, a certa altura, é manifestada a preocupação com os acidentes com armas de fogo como razão relevante para circunscrever a sua posse (legal) a quem, a par das forças das seguranças, tenha "razões plausíveis para as transportar".

Não sendo eu um empirista, não deixo de registar a extraordinária ausência por parte dos proibicionistas (no caso, de armas de fogo) do recurso a estudos empíricos para sustentar a sua posição. Em contrapartida, existe muito material investigativo, inclusive académico, que sustenta a tese que o título do post citado veiculava. Sucede que acaba de ser publicada uma infografia que também endereça precisamente a matéria dos acidentes. Apresento-a abaixo.

Fonte: http://www.nssfblog.com/infographic-gun-crimes-plummet-even-as-gun-sales-rise/

sábado, 27 de abril de 2013

Leis de controlo de armas: mais pensamento mágico em acção

Thomas Sowell, em The Fact-Free Gun-Control Crusade, desmantela os argumentos (?) daqueles que periodicamente ensaiam, em cada episódio de matança pública levada a cabo por loucos e terroristas de múltiplas matizes, a proibição efectiva de meios de defesa pessoal e da propriedade dos cidadãos contra as acções de criminosos que atentem contra a sua vida e a dos seus bem como da sua propriedade.

Num mundo onde a estatística de há muito reina, tentando "vender" relações de causa-efeito a partir de meras correlações (onde o impulso para a batota é por vezes irresistível..,), Sowell sublinha a notável ausência de "estudos" na oratória dos promotores do desarmamento dos cidadãos ("para o seu próprio bem", claro). O pensamento mágico que subjaz  ao estatista segundo o qual um qualquer papel, proibindo isto ou aquilo, levará (!) os facínoras e criminosos a absterem-se de se comportar segundo a sua natureza - acaba invariavelmente por levar a resultados opostos aos anunciados. Por vezes, caso da Lei Seca ou da Guerra às Drogas, o resultado trágico é o de transformar milhões de pessoas, até então pacíficas, em "criminosos"; simultaneamente,  surgem e desenvolvem-se os gangs que são os directamente beneficiados pelo proibicionismo.

A tradução é da minha responsabilidade.
No meio de toda a acalorada e emocional defesa do controlo de armas, já alguém ouviu falar de uma única pessoa que tenha apresentado provas convincentes de que leis mais rígidas de controlo de armas tenham efectivamente reduzido os homicídios?

Thomas Sowell
Pense-se em todos os estados [dos EUA] e comunidades no seu seio, bem como nos países estrangeiros, que tenham leis de controlo de armas muito apertadas ou, pelo contrário, sejam pouco restritivas ou até mesmo inexistentes. Com tantas variantes e tantas fontes de informação disponíveis, certamente que, algures, haveria provas irrefutáveis de que leis mais restritas de controlo de armas reduziriam de facto a taxa de homicídios. E se leis mais rígidas de controlo de armas, na realidade, não reduzem a taxa de homicídios, por que razão estamos então correndo em direcção a tais leis após cada tiroteio que obtém a atenção dos media? Já alguma vez os meios de comunicação social mencionaram estudos que tenham apresentado evidências de que as taxas de homicídio tendam a ser maiores em locais com leis de controlo de armas mais restritas?

O inconfessável segredo está em que as leis de controlo de armas, na realidade, não controlam armas. Elas desarmam os cidadãos cumpridores da lei, tornando-os mais vulneráveis perante os criminosos, que permanecem armados em desrespeito a tais leis. Na Inglaterra, os crimes à mão armada dispararam com o quase desaparecimento da posse legal de armas sob as leis cada vez mais severas de controlo de armas nos finais do século 20 (ver o livro Guns e Violence [: The English Experience] [link], de Joyce Lee Malcolm). Mas o controlo de armas tornou-se numa daquelas cruzadas, baseadas em suposições, emoções e retórica onde os factos são dispensáveis.

O que quase ninguém menciona é que as armas são utilizadas para defender vidas assim como para ceifar vidas. Na realidade, muitos dos horrendos massacres a que assistimos através dos meios de comunicação social terminaram quando alguém apareceu munido de uma arma e pôs fim à matança. O Instituto Cato estima que aconteçam mais de 100 mil utilizações defensivas de armas de fogo por ano. Impedir que cidadãos cumpridores da lei se defendam a si próprios pode custar muito mais vidas do que as que se perdem nos episódios de tiroteio que os media divulgam. As vidas salvas por armas de fogo não são menos preciosas apenas pelo facto de os media não lhes prestarem atenção.

Muitas pessoas que nunca dispararam uma arma nas suas vidas e nunca enfrentaram perigos que ameaçassem a sua vida sentem-se, não obstante, qualificadas para impor restrições legais que podem vir a revelar-se fatais para outros. E os políticos, ansiosos por "fazer algo" que lhes confira publicidade, sabem que os votos dos ignorantes e dos ingénuos continuam a ser votos.

Virtualmente nada do que está sendo proposto na legislação de controlo de armas é susceptível de reduzir as taxas de homicídio. Restringir a capacidade dos carregadores   das armas à disposição dos cidadãos cumpridores da lei não irá restringir a capacidade dos carregadores dos que não são cidadãos cumpridores da lei. Essas restrições apenas significam que é mais provável que seja o cidadão cumpridor da lei a ser o primeiro a ficar sem munições. Qualquer um teria que ser um atirador de eleição para afastar três invasores da sua casa com apenas sete tiros dirigidos contra alvos móveis. Mas sete é o número mágico de balas permitido num carregador segundo as novas leis de controlo de armas do estado de Nova Iorque.

As pessoas que apoiam tais leis parecem despreocupadamente assumir que estão a limitar os danos que podem ser causados ​​por criminosos ou doentes mentais - como se os criminosos ou os loucos se preocupassem com tais leis.

Proibir as chamadas armas de assalto não passa de uma farsa, para além de uma fraude, porque não existe uma definição concreta do que é uma arma de assalto. É por isso que têm que ser especificadas pelo nome tantas armas nestas proibições - e as especificadas como sendo a banir não são tipicamente mais perigosas do que as outras não especificadas. Algumas pessoas pensam que "armas de assalto" significam armas automáticas. Mas as armas automáticas foram proibidas há décadas. A proibição de armas de feia aparência, parecidas com "armas de assalto", pode trazer benefícios de ordem estética, mas não reduzirá minimamente os perigos para a vida humana. Ficar-se-á tão morto quanto acontecerá se se for assassinado com uma arma de aparência muito simples.

Uma das perigosas inconsistências de muitos, se não da maioria, dos cruzados pelo controlo de armas é que aqueles que são os mais entusiastas por retirar as armas do alcance dos cidadãos cumpridores da lei frequentemente não estão tão preocupados em manter os criminosos violentos atrás das grades. A indulgência para com os criminosos há muito que faz parte do padrão dos fanáticos pelo controlo de armas de ambos os lados do Atlântico. Quando o desejo insaciável para reprimir os cidadãos armados cumpridores da lei se combina com uma atitude de indulgência para com os criminosos, dificilmente pode ser surpreendente quando as leis de controlo de armas cada vez mais restritas forem acompanhadas pelo aumento dos índices de criminalidade, incluindo assassinatos.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Ignorância e leis de controlo de armas

Há uma tendência que parece irresistível na generalidade das sociedades ocidentais, a meu ver crescentemente suicidária para a liberdade, para pretender mudar os comportamentos das pessoas através do poder estatal (pela força) recorrendo a uma infinitude de adjectivos "positivos" como "saudável", "seguro", "(não) discriminatório", "harmonizado", "humanitário", "solidário", "civilizacional", etc. A cada vez mais maior profusão (e confusão) legal e para-legal é, simultaneamente, o melhor indicador da consequente diminuição da liberdade de actuação do indivíduo. Há pouco, muito apropriadamente, Austin Petersen socorria-se do título do livro de Joel Salatin para constatar: "Everything I want to do is illegal".

Confesso que me escapa como pessoas inteligentes e de boa-fé continuam a alimentar a crença romântica e jacobina de que é possível mudar o comportamento das pessoas através de uma cada vez maior diarreia legislativa que diariamente jorra das folhas oficiais. No que deram as diferentes "Leis Secas"? No que deu e continua a dar a guerra às drogas? Na criminalização e encarceramento de milhões, na formação de gangs criminosos e assassinos de monstruosa violência que não mostram quaisquer dificuldade em adquirir todas as armas que acham necessárias (quando não com apoio estatal, vide fronteira EUA/México...), tudo isto produzindo enormes manchas endémicas de corrupção venal, quando não activamente criminosa, bem no centro das agências estatais.

Que não se entenda (ou queira entender) o significado histórico da 2ª Emenda, enquanto direito fundamental do cidadão americano para impedir o regresso de tiranias como a britânica, percebe-se embora se lamente. Já me espanta a olímpica indiferença dessas pessoas - e em especial dos intelectuais - face a conhecidas declarações de Hitler ou Estaline sobre a matéria e a recusa em delas retirar as únicas conclusões lógicas.

O muito incómodo, para o establishment "liberal" americano, Thomas Sowell, por ser negro, por ter nascido na Carolina do Norte, por ser filho de uma criada, por ter vindo depois viver para o bairro de Harlem em Nova Iorque, por ter tido de abandonar os estudos aos 17 anos, etc., e por ser um crítico feroz de Obama, desmonta aqui, ainda uma vez mais, a tese de que a publicação de leis de controlo de armas mais severas significariam menores crimes nas ruas e menos assassinatos. Nada mais falso, sustenta Sowell. Como sempre, eventuais erros de tradução do artigo são da minha inteira responsabilidade.

Será que de cada vez que acontece um trágico tiroteio é inevitável que ressurja a estridente ignorância estridente dos defensores do "controlo de armas"?

A falácia chave das chamadas leis de controlo de armas reside no facto de tais leis não as controlarem na realidade. Elas simplesmente desarmam os cidadãos respeitadores da lei, enquanto as pessoas propensas à violência com facilidade encontram armas de fogo.

Se os zelotas do controlo de armas tivessem algum respeito pelos factos, há muito que teriam descoberto isto pois, ao longo dos anos, demasiados estudos factuais se sucederam para que reste alguma dúvida que as leis do controlo de armas não apenas são inúteis como contraproducentes.

Lugares e épocas com as mais severas leis de controlo de armas foram, frequentemente, lugares e épocas com altas taxas de homicídios. Washington, D.C., é um exemplo clássico, mas é apenas um entre muitos.

A taxa de posse de armas é maior nas áreas rurais que nas urbanas, mas a taxa de homicídios é maior nas áreas urbanas. A taxa de posse de armas é maior entre os brancos do que entre os negros, mas a taxa de homicídios é maior entre os negros. Para o país como um todo, o número de pistolas [registadas] dobrou nos finais do século XX, enquanto a taxa de homicídios caiu.

Os poucos contra-exemplos apresentados pelos zelotas do controlo de armas não resistem a um escrutínio. O seu ponto referido mais convicto talvez seja o de a Inglaterra ter leis de controlo de armas mais restritas que os Estados Unidos e menores taxas de homicídio.

sábado, 25 de agosto de 2012

Culpado até prova em contrário?


Gosto bastante, como mero espectador de sofá, fora uma outra e muito ocasional ida ao estádio, de alguns desportos, como os jogos com bola ou o atletismo, mas não ao ponto de trazer o tema do desporto para as bandas do blogue (muito menos sobre ciclismo, que não gosto nada). Creio pois ser a primeira vez que me proponho escrever umas linhas laterais sobre o tema, a propósito do caso Lance Armstrong.

Fazendo parte daqueles que deploram e contestam as doutrinas proibicionistas impostas pelo aparelho estatal, em particular as que contendem com o direito de cada tomar, sob uma qualquer forma, as substâncias que entender, não aceito que, no abstracto, o que vulgarmente se designa por doping, seja moral ou eticamente reprovável. O que será sempre moralmente reprovável será a quebra de um contrato por qualquer uma das partes nele envolvidas.

Ora, conhecidas que sejam, a priori, as condições a observar por parte do atleta no disputar de uma dada competição, em particular - que "passe" nos testes de despistagem de substâncias que se utilizadas, são supostas conferir uma vantagem artificial perante os outros competidores -, é inaceitável que, após os factos, uma qualquer entidade externa às partes contratantes se atribua o direito de vir acusar o atleta de doping (ou seja, de quebra de contrato) mediante "provas" não previstas no contrato inicial (ainda por cima, muitos anos passados, embora para mim isso seja um aspecto menor)1. Lance Armstrong terá sido um dos atletas do mundo que mais vezes foi sujeito a testes de despistagem anti-doping (cerca de 500!), mas nunca teve um único controlo positivo!

Acusado não obstante, mediante o recurso a várias denúncias de ex-colegas (a inveja, sempre a inveja?) e a supostos "testes sanguíneos consistentes [com a sua hipotética utilização]", entendeu por bem não prolongar uma guerra onde o Estado americano, pela mão da Agência Anti-Doping dos Estados Unidos (USADA), vem mostrando uma dificilmente entendível sanha persecutória contra Armstrong, que dura há cerca de 10 anos, contando para tal com recursos aparentemente infinitos (os dos contribuintes, evidentemente). Armstrong terá entendido talvez que nunca iria conseguir dispor de um montante de recursos equivalente. Sabia, com toda a certeza, que iria surgir a acusação de que "se não se defende, é porque é certamente culpado". Não foi preciso esperar muito para que os lacraus "justiceiros" surgissem. Guilty until proven innocent?
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1Herbert Hoover, num dos seus livro de memórias, o Freedom Betrayed, conta que aquando dos julgamentos de Nuremberga  (nota nº 12, na página 145), os defensores dos réus alemães tentaram que o tribunal aceitasse como prova o tratado nazi-soviético assinado na véspera da invasão da Polónia pelos alemães (e consequente início da II Grande Guerra). Os soviéticos objectaram a que o documento (e seus anexos) fosse aceite (eles que invadiriam a Polónia 17 dias depois) o que realmente viria a suceder. Hoover sugere uma provável explicação para o facto: "[T]he Russians, having joined at Nurnberg in establishing ex post facto Nazi crimes by which aggression became punishable by death, did not wish so obvious a conviction of themselves to be placed on record. See the New York Times, January 2, 1948, p. 19:3)."

sábado, 7 de julho de 2012

Da (ir)racionalidade da Guerra às Drogas

Os defensores do proibicionismo apresentam como seu principal argumento a necessidade de proteger as pessoas dos actos cometidos por si próprias, especialmente quanto praticados pelos mais jovens.

Uma primeira observação que ocorre é a estranheza de - sabe-se lá como! - haver um conjunto de seres virtuosos que conseguem não só escapar a imanente fraqueza humana de cedência aos prazeres fáceis como ainda participar, activamente, no combate ao flagelo social associado ao consumo das drogas nomeadamente através do recurso ao aparelho coercivo do Estado.

Ultrapassada esta perplexidade de ordem moral e biológica (haverá mutações genéticas que bafejem os "virtuosos"?), dir-se-ia que a preocupação principal dos proibicionistas se deveria centrar na eficácia das suas acções. Por exemplo: está a diminuir o número dos consumidores de estupefacientes? Os preços das diferentes drogas têm vindo sustentadamente a subir (sinal de escassez relativa de oferta)? A população prisional relacionada com o consumo e comércio tráfico de drogas tem vindo a decrescer? Em especial, o crime violento relacionado com os narcóticos tem vindo a descer?

Um último comentário a uma objecção clássica que "prova" que o combate às drogas tem vindo a conseguir "importantes sucessos" - o de que as capturas de drogas ilegais não têm cessado de aumentar. Repare-se que, mesmo admitindo a veracidade desta asserção, ela não invalida que se verifique, na realidade, um fracasso da Guerra às Drogas. Bastará que o volume de drogas que chegue ao mercado de consumo não diminua, e até mesmo aumente, para que o argumento do número de cargas interceptadas seja logicamente inválido para classificar o "sucesso" da Guerra.

Neste artigo do New York Times, Numbers Tell of Failure in Drug War, abordam-se com clareza estes dois últimos aspectos que poderíamos classificar de "económicos". Alguns excertos de um artigo cuja leitura integral recomendo (realces meus):
When policy makers in Washington worry about Mexico these days, they think in terms of a handful of numbers: Mexico’s 19,500 hectares devoted to poppy cultivation for heroin; its 17,500 hectares growing cannabis; the 95 percent of American cocaine imports brought by Mexican cartels through Mexico and Central America.

They are thinking about the wrong numbers. If there is one number that embodies the seemingly intractable challenge imposed by the illegal drug trade on the relationship between the United States and Mexico, it is $177.26. That is the retail price, according to Drug Enforcement Administration data, of one gram of pure cocaine from your typical local pusher. That is 74 percent cheaper than it was 30 years ago.
...
Most important, conceived to eradicate the illegal drug market, the war on drugs cannot be won. Once they understand this, the Mexican and American governments may consider refocusing their strategies to take aim at what really matters: the health and security of their citizens, communities and nations.

Prices match supply with demand. If the supply of an illicit drug were to fall, say because the Drug Enforcement Administration stopped it from reaching the nation’s shores, we should expect its price to go up.

That is not what happened with cocaine. Despite billions spent on measures from spraying coca fields high in the Andes to jailing local dealers in Miami or Washington, a gram of cocaine cost about 16 percent less last year than it did in 2001. The drop is similar for heroin and methamphetamine. The only drug that has not experienced a significant fall in price is marijuana.
...
The use of hard drugs, meanwhile, has remained roughly stable over the last two decades, rising by a few percentage points in the 1990s and declining by a few percentage points over the last decade, with consumption patterns moving from one drug to another according to fashion and ease of purchase.

For instance, 2.9 percent of high school seniors admit to having tried cocaine in the last year, just slightly less than in 1992. About 15 percent of seniors said they abused a prescription drug last year. Twenty years ago, prescription drug abuse was not even consistently measured.
...
A war on drugs whose objective is to eradicate the drug market — to stop drugs from arriving in the United States and stop Americans from swallowing, smoking, inhaling or injecting them — is a war that cannot be won. What we care about is the harm that drugs, drug trafficking and drug policy do to individuals, society and even national security. Reducing this harm is a goal worth fighting for.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Insanidade proibicionista

Michele Leonhart, a actual primeira responsável pela agência federal norte-americana DEA - Drug Enforcement Agency, criada em 1973 pela administração Nixon no âmbito da "Guerra às Drogas", demonstra bem o carácter totalmente arbitrário dos fundamentos em que assenta a organização a que preside no "diálogo" que mantém com o congressista democrata Jared Polis durante uma audição. Um excerto:
Polis - "Is crack worse for a person than marijuana?"
Leonhart - "I believe all illegal drugs are bad."
Polis - "Is methamphetamine worse for somebody’s health than marijuana?
ML - "I don't think any illegal drug..."
Polis - "Is heroin worse for somebody’s health than marijuana?
Leonhart - "Again, all drugs..."
Polis - "Yes, no, or I don't know?... If you don't know this, you can look this up. As the chief administrator for the Drug Enforcement Agency, I'm asking a very straightforward question."
Polis - "Is heroin worse for a person healththan marijuana?"
Leonhart - "All illegal drugs are bad."
O resto é digno de se ver e ouvir e bem resume o papel primeiro (e último) do burocrata estatal. Tentar delimitar um conceito de moralidade a partir da arbitrariedade da lei. É por isso que Leonhart é "incapaz" de responder às questões de Polis. Se lhas respondesse de boa fé, esvaziaria a razão de ser (que lhe advém exclusivamente da lei e só dela) da agência que dirige.


Tudo isto é, para ser suave, altamente lamentável quando sabemos coisas como esta:


O gráfico foi elaborado a partir dos dados obtidos neste estudo realizado no Reino Unido em 2010 (acessível mediante registo prévio, mas sem custo).
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Nota: entretanto, não deixem de visitar, com a frequência que merece, o blogue A Droga de Política, onde muito se aprende sobre a matéria proibicionista, com Filipe Nunes Vicente.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

A consumação de um crime

Já aqui disse o que pensava sobre este disparate criminoso e não me quero repetir. No dia em que o Governo confirma a extensão da escolaridade obrigatória até aos 18 anos, o que hoje me ocorre sublinhar já foi escrito, de um forma magistral e quiçá definitiva, há mais de 80 anos, por uma personalidade ímpar - Albert Jay Nock. Resta-me citá-lo num excerto do seu livro: The Theory of Education in the United States
«Our system is based upon the assumption, popularly regarded as implicit in the doctrine of equality, that everybody is educable. This has been taken without question from the beginning; it is taken without question now. The whole structure of our system, the entire arrangement of its mechanics, testifies to this. Even our truant laws testify to it, for they are constructed with exclusive reference to school-age, not to school-ability. When we attempt to run this assumption back to the philosophical doctrine of equality, we cannot do it; it is not there, nothing like it is there. The philosophical doctrine of equality gives no more ground for the assumption that all men are educable than it does for the assumption that all men are six feet tall. We see at once, then, that it is not the philosophical doctrine of equality, but an utterly untenable popular perversion of it, that we find at the basis of our educational system.»

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Barack Obama: resumo de um mandato

Excerto de Why the Left Fears Libertarianism, de Anthony Gregory:
«But Barack Obama is really what has made the left-liberal illusion fold under the weight of its own absurdity. Here we had the perfect paragon of left-liberal social democracy. He beat the centrist Hillary Clinton then won the national election. He had a Democratic Congress for two years. He had loads of political capital by virtue of following a completely failed and unpopular Republican administration. The world welcomed him. The center cheered him. And what did he do?

He shoveled money toward corporate America, banks and car manufacturers. He championed the bailouts of the same Wall Street firms his very partisans blamed for the financial collapse. He picked the CEO of General Electric to oversee the unemployment problem. He appointed corporate state regulars for every major role in financial central planning. After guaranteeing a new era of transparency, he conducted all his regulatory business behind a shroud of unprecedented secrecy. He planned his health care scheme, the crown jewel of his domestic agenda, in league with the pharmaceutical and insurance industries.

He continued the war in Iraq, even extending Bush’s schedule with a goal of staying longer than the last administration planned. He tripled the U.S. presence in Afghanistan then took over two years to announce the eventual drawdown to bring it back to only double the Bush presence. He widened the war in Pakistan, launching drone attacks at a dizzying pace. He started a war on false pretenses with Libya, shifting the goal posts and doing it all without Congressional approval. He bombed Yemen and lied about it.

He enthusiastically signed on to warrantless wiretapping, renditioning, the Patriot Act, prison abuse, detention without trial, violations of habeas corpus, and disgustingly invasive airport security measures. He deported immigrants more than Bush did. He increased funding for the drug war in Mexico. He invoked the Espionage Act more than all previous presidents combined, tortured a whistleblower, and claimed the right to unilaterally kill any U.S. citizen on Earth without even a nod from Congress or a shrug from the courts.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

domingo, 25 de março de 2012

Preço mínimo, estupidez máxima (2)

Na sequência de "Preço mínimo, estupidez máxima" cheguei, através deste artigo, ao website da British Medical Association (BMA). A certa altura, visitando esta página, pode observar-se:


Tendo o cuidado de não clicar, cuidado que não observei, no link errado, chegamos, por exemplo, a: "We have responded to government's review of alcohol pricing and taxation calling on them to reduce its affordability, and end the use of alcohol as a 'loss leader' by introducing minimum pricing."

A bem da nossa [britânica] saúde, claro.

sábado, 24 de março de 2012

Preço mínimo, estupidez máxima

Alcoolismo na Suécia
Ao ler esta notícia no Telegraph (que o Expresso aqui retoma) segundo a qual os consumidores ingleses e galeses de bebidas alcoólicas irão começar a pagar, no mínimo, 40 pence por cada bebida, ocorre-me Einstein quando afirmava que "Só há duas coisas infinitas, o universo e a estupidez humana, e não estou certo quanto à primeira". Claro que é em nome da saúde (com o beneplácito e mesmo aplauso das associações médicas) dos governados que é justificada esta "medida" governamental. Mas este proibicionismo disfarçado irá provocar todo um conjunto de efeitos indesejados dos quais alguns não são difíceis de prever: menos rendimento disponível especialmente nos bolsos dos que já têm menos (são os pobres os mais afectados); mais um "bom" impulso para vicejar o contrabando e a mixórdia, os roubos, etc. Se há país na Europa onde as leis anti-álcool são violentas cuja venda e distribuição é totalmente controlada pelo Estado é a Suécia. Os resultados são conhecidos.

Mas se é fácil antecipar quem são aqueles que vão perder, nunca é demais sublinhar quem são os que irão ganhar. Um exemplo daqueles que inevitavelmente vão ganhar, à época o 701º homem mais rico do mundo segundo a Forbes, na primeira pessoa:
"I couldn't have gotten so stinking rich without George Bush, George Bush Jr., Ronald Reagan, even El Presidente Obama, none of them have the cajones to stand up to all the big money that wants to keep this stuff illegal. From the bottom of my heart, I want to say, Gracias amigos, I owe my whole empire to you."
Também não é difícil antecipar que este particular preço "mínimo" vá ter uma grande tendência para subir rapidamente. Em nome da saúde, claro. O facto de ser mais um acto contra a liberdade individual de pouco conta para estes temíveis "neoliberais".

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um ponto de viragem?

É verdade que Felipe Caldéron, o presidente do México em exercício, já havia aberto a porta à possibilidade de legalização das drogas caso houvesse consenso com outros países nessa matéria. É verdade que são múltiplos os ex-políticos (o americano Jimmy Carter, o espanhol Felipe Gonzalez e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso são alguns dos exemplos), que defendem hoje abertamente o fim da "guerra às drogas" declarada por Nixon. Porém, a declaração, divulgada no Washington Post, pelo actual presidente da Guatemala, segundo a qual irá propor a legalização do comércio de drogas aquando da próxima cimeira de líderes é, creio, uma autêntica première. Creio que a maré está mesmo a mudar. Oxalá!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Por que será (corrigido)

que a família de um fugitivo traficante de droga est(á)ava a financiar a campanha para a reeleição de Obama? A história está no New York Times da edição de hoje. Convido os leitores a especular sobre o facto.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Não é preciso ser uma águia

para antecipar o triplo desastre que resultará da extensão da escolaridade obrigatória até aos 18 anos de idade. Primeiro: "enjaular" criaturas em salas contra a sua vontade para nada aprenderem e tentarem que os outros nada aprendam é, no mínimo, idiota e talvez mesmo criminoso. Segundo: protelar ainda mais as já de si parcas possibilidades de quem queira entrar no mercado de trabalho, mesmo que mal remunerado, ganhando autonomia para daí desenvolver a sua cidadania, é criminoso. Terceiro: transformar em delinquentes todos aqueles que venham a escolher, livremente, não ir à escola é uma enormidade própria de pietistas e puritanos, uma grave  violação da liberdade.