quarta-feira, 15 de abril de 2015

Flores de novembro


Logo que a chuva debulhar
seu colar de cristais, chame-me,
preciso ver o tempo azul-vidro.

Logo, bem logo a chuva deite-se felina,
insinuando-se estadia, mesmo temporária,
chame-me, preciso ver seu vestido descosturando-se
sobre nossa terra.

Logo que ela, temporã, derrame-se sobre o chão que chora,
chame-me, quero ver a vida renascendo nessa tarde de sol,
em meio às flores de novembro.


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Os pássaros não voarão






Os pássaros hoje não voarão:
O céu de cor gelo, azulado, gelo, 
A Pedra do Navio em tom ocre,
As árvores impregnadas de verde-oliva
A dança nas cores do tempo.

Não.
Hoje os pássaros não voarão.
Porque felizes e atentos às efemérides
Porque silenciosos em seus cantos vespertinos
Porque pássaros.

Hoje, os pássaros se acomodarão
-em suas intimidades passarinheiras-
Descansarão o eco de suas vozes
Ficarão juntos nesse aconchego de frio
E terão a noite inteira para serem pássaros.

Maria maria Gomes, in Proposta de chuva


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Um canto para a partida


Levou o que lhe pertencia:
roupas, alguns sapatos,
um relógio de algibeira
-do avô rico-,
o chapéu de palhinha,
a caixa de lenços bordados,
a coleção de chaves antigas,
o baú de tachinhas da velha Currais,
pedrinhas do chão das tardes azuis.
Levou o que lhe pertencia!
Quando me dei conta
o meu coração também ia.

Maria Maria Gomes, in Proposta de chuva



sábado, 28 de dezembro de 2013

Espartilho

A noite ruge felina
Eu, caça!

Mostro a ponta
-do pé-
Tiro o sapato
-cônico, o salto-
Desço a meia
-direita-
Finjo descer
-a esquerda-

Desato o laço
-do lado-
O outro,
-desamarro-
Simulo tirar o preto que me cobre.

Fujo um pouco para instigar.

Desfaço o botão
-da taça-
Vou tirando,
libertando
o que me desgasta

Pronto,
estou pronta
para o intento!


Maria Maria in O Beijo de Eros

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Descoberta


Descobri agora 
que o sertão está
lá fora.
Cá dentro,
a alegria caindo
e enchendo
esse mar que se oceana em mim.

Maria Maria Gomes

Foto: Jacobina-Bahia

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Em brasa



Acendo o fogo da lareira.
Morno cio.
Atiço o pavio
numa fogueira,
que crepita,
grita
e aquece o amor

nesse frio.

Maria Maria

quarta-feira, 7 de novembro de 2012


Pessoal, olha eu aqui de novo!
Desta vez em parceria com o poeta Antônio Francisco lançamento de mais um livro de poemas ALGODÃO e SAL. Será dia 23 de novembro (sexta-feira) às 19h e 30min em frente a Fundação José Bezerra Gomes.
Contamos com a presença de todos! Beijocas

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Defesas


Quando sol nascia
eu tinha ratos;

Quando o sol estava a pino
eu tinha gatos;

Quando o sol ensaiava o anoitecer
eu tinha cães.

Hoje, que a noite se estendeu
sobre meu jardim,
eu tenho leões
nos quatro cantos de mim.

Maria Maria

domingo, 2 de setembro de 2012

Decisões



Escolher alguém para sempre
é algemar desejos,
é desligar-se de uma identidade única,
é perder-se totalmente no universo
impenetrável de alguém.

Escolher alguém para sempre
é acreditar que o outro é parte
de nós, quando é apenas um outro ser
que não quer se eternizar
em ninguém.

Escolher alguém para sempre
é eternizar o (in)eternizável
é pensar que o outro pensa como nós
quando, na verdade, ele não nos quer 
escolher para sempre.

Maria maria

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Encantamento

                                         
As minhas águas se fazem rios
- imensos-
potes de águas doces,
- gargalhando-
entre o sorriso
-da Pedra da Acauã-
e a areia
-ladrilhada -
da scheelita.

quinta-feira, 5 de abril de 2012



Beco da lama

O beco estreito
da velha cidade
guardou os deleites
dos grandes amantes.

O beco estreito
da velha cidade
guardou uma pedra
de diamantes.

O beco estreito
da velha cidade
guardou as memórias
dos navegantes.

O beco estreito
da velha cidade
beco da troca,
 beco da trama.

O beco estreito
da velha cidade
foi beco da dama,
o Beco da Lama.

sábado, 24 de março de 2012

Espartilho




A noite ruge felina
Eu, caça!

Mostro a ponta
-do pé-
Tiro o sapato
-cônico, o salto-
Desço a meia
-direita-
Finjo descer
-a esquerda-

Desato o laço
-do lado-
O outro,
-desamarro-
Simulo tirar o preto que me cobre.

Fujo um pouco para instigar.

Desfaço o botão
-da taça-
Vou tirando,
libertando
o que me desgasta

Pronto,
estou pronta
para o intento!


Maria Maria, in O Beijo de Eros, 2012


terça-feira, 13 de março de 2012

Olá, queridos!

Eis o convite para o lançamento do meu mais novo livro de poemas: O Beijo de Eros




Obs.: Em Currais Novos, RN

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Convite

Olá, queridos!

Eis o convite para o lançamento do meu mais novo livro de poemas: O Beijo de Eros


Obs.: Em Currais Novos, RN

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Carnaval da Bahia


No carnaval,
desci a rua.
Com a fome nua,
de carnaval.
Meu olho ria,
na avenida.
A carne ardia,
de carnaval.

No outro dia:
subi ao Pelô,
ouvi atabaque,
ouvi agogô,
mas meu corpo tremia;
gritava alegria
na vã fantasia
de um pierrô.

Botei a máscara,
vesti-me farsante,
Assim, avoante,
como um condor!
Alguém me olhou:

__ Sorria! Alegria...
por que tão distante,
não sente amor?
__Amor sim,mas sinto azia!
_ _Que ironia! – dizia -
contra azia, o remédio
é ler poesia.

Maria Maria
Poema escrito em 1992 - Salvador/Bahia
Crédito da foto: Google

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Dizeres


Eu teria tanto a te dizer:

se não fosse o arco em teu dedo,

se não fosse minha voz que emudece,

se não fosse o tempo tímido,

se não fosse o medo de perdê-lo inteiro,

se não fosse a insegurança em falar-te,

se não fosse o desejo incontido de me jogar a teus pés,

se não fosse a aurora da manhã que chega rápida demais,

se não fosse

se não

se...

fostes!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A árvore de Natal de minha infância não era alta como os pinheiros europeus. Não tinha longas folhagens brancas de neve, bolas de cristais coloridas e nem festões comprados nas lojas da cidade. Não. Era uma árvore feita pela minha mãe, com algodão-mocó enrodilhando os galhos de cipó do mato, pendurando cascas de ovos pintadas com tinta imitando as cores da festa. Uma árvore bastante seridoense! Na noite de Natal, eu vestia meu melhor vestido, meu sapato branco de lacinho rosa e minha meia de renda. Usava no cabelo liso e longo, uma fita cor de rosa combinando com o laço do sapato e um brinco de ouro em forma de balãozinho. Na Noite de Natal, eu era a menina que queria ver o Menino Jesus. Hoje, o meu Natal não é o mesmo do tempo em que eu sonhava com as borboletas. É um momento em que as minhas esperanças de ver o mundo melhor aumentam e começo a enxergar o Menino Jesus com olhar de quem acredita que o homem tem jeito, que eu tenho jeito, que todos nós temos chance de consertar o que já fizemos de ruim para o planeta. Feliz Natal e Feliz Ano Novo! Maria Maria

sábado, 3 de dezembro de 2011


Antídoto

Para salvar o amor;
uma dose de acalanto:
mistura fatal de volúpia e canto
na ânsia de aniquilar o dissabor.

Para acabar com a dor,
a lágrima, o medo, o pranto:
carinho, ternura, paixão encanto
sem haver vencido ou vencedor.

Que veneno, que química me abrasa,
que me corrói tal qual dor dolorida?
Onde anda a paixão, bicho de asa,
nesse vale de amor sob medida?

E, se dos olhos a lágrima vasa,
como quem sente a alma combalida,
não detenha o choro, nem volte pra casa
são soluços da alma adormecida.


Maria Maria

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Caros amigos e amigas,

Com único intuito de divulgar os grandes escritores
e grandes livros Potiguares , agora existe um espaço para valorizar as nossas obras literárias.

Peço a vocês , que divulguem esse trabalho sem fim lucrativo, que quer apenas valorizar as obras da nossa terra. Todos os homenageados vivos, estão sendo comunicados e estão muito felizes .

Muitos dos grandes livros e autores do RN precisam ser reeditados e relançados urgentemente, é preciso chamar atenção dos governos estadual e municipal para essa causa .
Essa luta é de todos os Potiguares

101 livros do RN (que você precisa ler).


http://101livrosdorn.blogspot.com/

Leiam hoje e repassem !

sábado, 29 de outubro de 2011


Dúvidas

Às vezes duvido do poder
do pensamento
e, tal qual pássaro amarelo,
duvido do azul do céu,
do brilho das estrelas,
do reflexo do sol,
do raio e da luz.

Duvido da ânsia
de ser humana no universo
da mulher moderna.
Duvido da fúria do trovão,
da sede que sente o cacto,
da dor de tornar-me obsoleta
em décadas futuras.

Duvido do viço da minha pele
inabitada por fendas oblíquas,
do suor que desliza rio
pelo meu corpo.
Duvido do que sou nessa hora
sem tempo.
Duvido do tempo.

Tenho apenas uma única certeza:
Uma poeta dorme em mim,
em dúvida.

Maria Maria