No
meio da Avenida Paulista nos encontramos. Ele pegou de leve na minha mão e me
cumprimentou. Como amiga. Estranho não é? Você dorme com uma pessoa e depois de
alguns anos você imagina ela dormindo com outra. Falei da minha vida, ele falou
da dele. Está de casamento marcado, com ela. Aquela que ele me trocou. Claro
que eu não tenho remorso nenhum, tudo aconteceu como deveria ser. Ele estranhou
eu estar solteira e até sentiu uma pontada de culpa. Não quero parecer egoísta,
mas eu gostei. Não, eu não sou vingativa. Mas tenta entender, ele está se
casando com ela, a garota popular do ensino médio. E eu, estou com quase 30
anos, voltando da Europa solteira. Não entendeu? SOL-TEI-RA. Quem aos quase 30
não tem ninguém?
Não
que eu não tenha encontrado ninguém durante todos esses anos que eu me separei
dele. Encontrei, obviamente. Foram tantos: Loiros, morenos, altos, baixos. Só que
nenhum deles me satisfez como o primeiro. Tudo bem, eu só tinha 17 anos, mas não dá pra
esquecer o carinha que você teve a primeira vez. Foi no banco de trás de um
carro, eu sei, mas ficamos juntos até eu inventar de ir estudar 6 meses em Londres.
Eu pensei que ele entenderia, seriam somente 6 meses fazendo um curso de
inglês. Não me arrependo de ter ido, foi o melhor que eu fiz: lutar pelos meus
sonhos. Só que esperei mais dele. Ou talvez esperei que ele me esperasse. Eu
sei que você está pensando: “Quem espera
por alguém que está do outro lado do oceano, por 6 meses?” Eu, pelo menos,
esperaria. Na verdade, eu até esperei, levando em conta que voltei achando que
ainda seria dele. Pelo visto, só foi eu entrar no avião que ele logo encontrou
uma companhia. E que companhia hein, se contar que vão se casar logo, né?. Ele
me jurou que só ficou com ela depois que terminou comigo. Mas não sei se foi
quando ele terminou comigo por e-mail ou por telefone. Ou foi quando eu voltei
achando que seria dele, mas fui recebida com uma oficialização do nosso término?
Talvez
eu esteja com ciúmes. Mas é pouco. Talvez seja porque ele seguiu em frente, e
eu malditamente não consigo tirar da cabeça tudo que passamos juntos. O sexo no
banco de trás do carro, a despedida no aeroporto, as flores no aniversário de
18 anos, a comemoração de quando passamos no vestibular: ele pra engenharia, eu
pra medicina. E tudo mais que pensamos que seria pra sempre.
E
na verdade eu nem queria que fosse pra sempre. Eu queria que fosse. Por um
pouco mais de tempo, mas que fosse, e fosse sincero. Tudo bem ele falar que
foi sincero, mas no fundo eu não acredito.
Eu
tinha medo de reencontrá-lo e descobrir que ele ficava bem sem mim. E ele fica,
oras! Senão estaria de casamento marcado?
Dois
beijinhos no rosto. Troca de e-mail. Pensei até que ele fosse me convidar pra
ir ao seu casamento. Não seria nada mal não é? Estou louca pra ir à uma festa
mesmo, há tempos não tomo uns drinks e brinco de ser gostosa. Ok, ok, seria horrível
sim, porque eu choraria durante a cerimônia e ficaria morrendo de inveja da
noiva. Porque eu deveria estar vestida de noiva, tentando construir uma família,
e não ser uma solteirona de 30 anos que chega em casa e toma um bom vinho na
companhia de John Lennon, tentando tapar os buracos que ele deixou.
Era
pra eu seguir em frente. E segui, virei à esquina e corri, pois tinha aula de pilates
às 17h.