Uma história emocionante passada nos socalcos do Douro no tempo em que se abriam as portas da ciência e do conhecimento.
Este romance recupera factos e histórias que Francisco Moita Flores não incluiu na série que escreveu para a RTP com o título A Ferreirinha. Narra a epopeia da luta contra a filoxera, uma praga que, na segunda metade do século XIX, ia destruindo definitivamente as vinhas do Douro. Na mesma altura em que, por toda a Europa, surgiam as primeiras técnicas e tentativas de criação de um método para a investigação criminal.
Moita Flores criou um bacharel detective - Vespúcio Ortigão - que, na Régua, persegue um serial killer, confrontando-se com o medo, com as superstições, com as crenças do Portugal Antigo que, temente a Deus e ao Demónio, estremecia perante o flagelo da praga e dos crimes. É uma ficção, é certo, mas também um retalho de vida feita de muitos caminhos que a memória vai aconchegando conforme pode.
«Quem subir ao alto de Vargelas ficará com a certeza de que chegou ao ponto mais belo do céu. O Douro visto daquele píncaro é o Paraíso prometido em todas as lições de catequese. É grandiosamente belo! As montanhas entrelaçam-se, magníficas, para, de repente, se escancararem em vales matizados com toda a paleta de verdes e castanhos que Deus inventou. E pelas encostas, as quintas vão pintalgando de branco o silêncio majestoso por onde o Rio serpenteia.»
O autor
Francisco Moita Flores é um especialista na área da criminologia e tem escrito obras de grande sucesso quer em livro quer para televisão. A crítica considera-o um dos melhores argumentistas portugueses e algumas das suas séries são marcos de excelência da ficção portuguesa, como foi o caso d’A Ferreirinha.
Pese o facto de ter dedicado a sua vida ao estudo da violência, da polícia e à ficção, é a primeira vez que escreve um romance policial. A acção decorre no século XIX, nos primórdios da investigação criminal como hoje a conhecemos. Uma história emocionante ocorrida nas vinhas do Douro num tempo que abriu as portas da ciência e do conhecimento ao tempo que é o nosso presente.
Críticas
"Neste romance de confirmação, Moita Flores só não surpreende porque, quem segue com alguma atenção o seu percurso, já espera um livro desta qualidade. É uma escrita que flui ao sabor de uma excelente descrição do ambiente psicológico da época, com as suas crenças, medos e esperanças."
Luís Robalo de Campos
A minha opinião
Conta a história da casa Ferreirinha, as margens do Douro junto a Régua, das vinhas em socalcos que compunham as encostas e da devastação que ocorria com a filoxera, uma praga que assolava as vinhas do Douro na segunda metade do século XIX.
A minha opinião
Conta a história da casa Ferreirinha, as margens do Douro junto a Régua, das vinhas em socalcos que compunham as encostas e da devastação que ocorria com a filoxera, uma praga que assolava as vinhas do Douro na segunda metade do século XIX.
O romance conta a história de Dona Antónia, a força de uma mulher que conseguiu criar um império com a sua determinação e trabalho, nunca vergando perante a praga que teimava em destruir as vinhas. Por outro lado e, à maneira de Moita Flores, existe uma história paralela que nos leva aos primórdios da investigação policial em Portugal. Vespúcio Ortigão, acolhido por Dona Antónia que pagou os seus estudos torna-se o personagem percursor de uma investigação que assolava, à semelhança da filoxera, as regiões do Douro com a morte prematura de jovens do sexo feminino.
Antónia Ferreira tinha uma influência gigante sobre as gentes da Régua e por todas as regiões do Douro. Relata a história de Dona Antónia com os seus 76 anos. Anos de lutas, guerras, a força e garra de uma mulher que empeendeu e dedicou a sua vida à casa Ferreirinha. Perseverança é a lição que Dona Antónia não esqueceu no percurso da sua vida, foi essa qualidade que não a fez desistir nas lutas que foi travando e as vitórias foram sendo somadas.
Em simultâneo estamos no início da investigação criminal, os métodos são desconhecidos, o que se sabe é pouco conhecido e quem defende novas práticas é apelidado de louco. A própria medicina é antiquada, instrumentos como o microscópio são ausentes, o próprio conhecimento da autópsia é praticamente nulo, poucos conhecem esta prática que em muito contribui para a descoberta e confirmação do motivo da morte.
Por outro lado, este romance retrata bem a realidade da política portuguesa na altura. A vaidade em alta e políticos vazios de ideias, fanfarrões e sem qualquer desejo de servir um estado para o bem de todos. Fala dos avanços da investigação criminal, altura em que se dá a separação da acusação pela confissão por tortura e a acusação através de prova provada, que mesmo não havendo confissão o autor do crime é acusado e cumpre pena.
Sou suspeito, mas tenho Francisco Moita Flores como um autor de eleição. Os seus romances proporcionam uma leitura de prazer, bem escritos e com uma cultura vastíssima enriquecem quem se atrever na sua leitura.
“ O Douro era o ventre materno que a aconchegava no colo quando sofria ou era feliz. Dona Antónia sabia. Ninguém é feliz para sempre. A felicidade é uma pontuação, não é uma frase. E só a pode sentir no auge das emoções quem sofreu intensamente.”