Bom, parece que a doente Tilda Swinton ficou a dever um favor à única amiga que anuiu em acompanhá-la nessa última viagem de “férias”, Julianne Moore. Foi uma doente excepcional, fez tudo a sós, pensou e tratou de todos os pormenores, incluindo a promessa de a amiga não saber quando aconteceria. E morreu graciosamente, bem arrumada, festiva, pintada como se fora para uma festa. Quando a amiga a encontrou, parecia dormir, como se a morte apenas um sono e a passagem em nada a tenha desarrumado. No filme, a acompanhante parece sofrer mais que a doente. Acorda assarapantada, temendo ver fechada a porta do quarto – uma incontestada e nada casual porta vermelha -, sinal combinado para a presença da morte. O que nem é verdade. O cineasta preferiu focar-se em quem fica e sofre a perda. Mas, quem decide, mesmo tendo já decidido e pensando ser para si o melhor e mais digno, quanto sofre e já sofreu fisicamente antes de?! Não sabemos, nunca o saberemos se não vivermos igual situação. Ora a dor física é algo tão insuportável que nos tira de nós, nos aliena de tudo que não seja ela. E depois, o estar preparado para morrer, pode por acaso retirar-nos a sensação de que estamos de modo definitivo e irreversível a cortar com a vida?! Pois não sei. Sei que a amiga vai continuar a viver, sei que enquanto a doente toma o comprimido definitivo ela almoça com um amigo ex amante de ambas. Sei que as marcas ficam, mas não serão necessariamente más. Sei até que encontrou novo tema para possível romance (é escritora). E sei que a doente de cancro teve um grandessíssimo azar.
Pois, ainda há uma filha da doente e um desentendimento na relação desde sempre. Que não se resolve, tal como muitas coisas na vida não chegam a resolver-se. Não senti que o tema central fosse essa relação falhada.
Atentar contra a própria vida (e é aquilo viver?) num caso como este não me surge como acto criminoso - o realizador escolheu um caso fácil e simples, com gente que tem o poder de escolha ampliado e não se poupa a meios para conseguir o que deseja para si até ao mais ínfimo pormenor. Há um requinte na antecâmara da morte que chega a ser belo. Mas não é universal. Nem sequer os paliativos o são. Os paliativos que deveriam acompanhar os mais desprotegidos - os outros sempre encontram uma maneira -, os paliativos são um luxo de que só alguns hospitais usufruem e que deixam muito doente à mercê do coração que tarda em desistir da vida.
Acontece que não somos todos iguais. Existem mesmo muitos casos bastante desiguais do apresentado.