sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Missa 1 mês, 11.09.2020 - 19:00, Igreja da Boa Nova

Vou começar por contar uma história um pouco tonta mas cuja importância percebi ao longo deste ano.

Quando éramos crianças e havia frango para o jantar, nós os três lutávamos sempre pelas duas únicas pernas do frango. A Mãe ralhava-nos sempre e dizia "eu sempre deixei a melhor parte para os meus irmãos"

Acredito que ao longo da vida todos nós podemos tornar-nos melhores pessoas, mas a bondade na Mãe era um Dom inato.

11.08.2020 - 3:49

A Mãe partiu, 
E ao partir levou consigo um pedacinho de cada um de nós. 

Mas muito antes de partir, a Mãe semeou muito dela em todos nós.

A Mãe era uma pessoa genuinamente boa, 
Herdou esse Dom da Avó Estela. 
E tal como a Avó Estela permaneceu entre nós, através da bondade da Mãe,
A Mãe viverá muito para além da sua morte, através de nós 
- seus filhos Sissá, Pedo e Joãozinho, 
- suas netas Lila, Bê e Torinha, 
- seu Amor de uma vida inteira Alfedinho, 
- e de todos aqueles tocados e inspirados pela sua imensa bondade.

E nós, filhos e netas, 
Espelho da sua força,
Unidos como a Mãe nos ensinou, 
Seremos para sempre o amparo do Pai,
A prova viva do seu grande Amor,
Nunca finito,
Sempre ilimitado


#amormaior #coisasnossas

Anjinho da minha guarda
Minha doce companhia
Guarda a minha Mãe
Quer de noite, quer de dia

Menino Jesus de Praga
Concedei-me uma Graça
Fazei com que a minha Mãe 
Encontre depressa a Avó Estela





sábado, 2 de maio de 2020

Em dias como este
E todos os dias são como este
Por breves instantes
Sinto-a à distância de um telefonema
E em todos os dias como este
Acordo e caio abruptamente
Neste luto que ainda não é luto
E em mais pedaços me parto
Como a areia fina da praia
Como o céu escuro da noite
Finitos mas não limitados

Mãe



domingo, 2 de fevereiro de 2020

Ruy (o) Belo

E Tudo Era Possível
Na minha juventude antes de ter saído
de casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido.
Chegava o mês de Maio, em tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido.

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída.
Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer.
Só sei que tinha o poder de uma criança,
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer...

Canção do Lavrador
Meus versos lavro-os ao rubro
nesta página de terra
que abro em lábios. Descubro-
-lhe a voz que no fundo encerra
Os versos que faço sou-os
a relha rasga-me a vida
e amarra os sonhos de voos
que eu tinha à terra ferida

Poema que mais que escrevo
devo-te em vida. No húmus
a rego simples eu levo
os meus desvairados rumos
Mas mais que poema meu
(que eu nunca soube palavra)
isto que dispo sou eu
Poeta não escrevas lavra
in Obra Poética, vol. 1
Meditação Anciã
Aqui eu fui feliz aqui fui terra

aqui fui tudo quanto em mim se encerra
aqui me senti bem aqui o vento veio
aqui gostei de gente e tive mãe
em cada árvore e até em cada folha
aqui enchi o peito e mesmo até desfeito
eu fui aquele que da vida vil se orgulha
Aqui fiquei em tudo aquilo em que passei
um avião um riso uns olhos uma luz
eu fui aqui aquilo tudo até a que me opus

in Toda a Terra
A Mão no Arado
Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará

Oh! como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh! como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão
ao longo do mar transbordante de nós
no demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua

É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solidário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã

Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente

Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente

in O Problema da Habitação

ADVENTO DO ANJO
Ontem e anteontem já passados
arredondemos os olhos à volta
daquela antiga realidade
alfa ómega primeira e última
que sempre diante na fronte trouxemos
Circundemo-la de um colar de palavras
sem pálpebras pobres pálidas de rosto
roubadas às esquinas eivadas
de arestas agrestes pontiagudas
Percamos palavras como folhas
perdem no Outono as árvores, varridos
pelo contínuo apascentar de cuidados
Já se vão areando as praias de amanhã
desde ontem a morte morreu
E vamos e banhemo-nos no mar
que o anjo forte cúpula do tempo
se sente vir anunciar e fechar

in Todos os Poemas

republicando

e com o Adeus se faz o regresso


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

Eugénio de Andrade

republicando

as palavras dadas aos outros


já muitas vezes falei [lá] das palavras que se tornam do outro quando largadas ao vento. há sempre uma história por trás das palavras que contam as histórias que construo de palavras, palavras que são do outro mal as solto. há mesmo histórias que já nem são minhas de todo. acho mesmo que por vezes me esqueço da história das histórias que escrevo. e por isso qualquer história serve a história que é lida. E cada história visitada um dia pode ser uma nova história vivida no imaginário do outro. As palavras já não são minhas, nem as quero. são vossas, vivam-nas, façam delas histórias que vos agradem. a Ursa será sempre a Ursa, mas isso só nós sabemos. o resto.... o resto são histórias em aberto.


quinta-feira, 16 maio 2013