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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Treze poemas e doze passagens de Augusto dos Anjos no livro Toda poesia

Versos íntimos Augusto dos Anjos Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!                                                                     [1901] -------- Soneto Augusto dos Anjos                                             ...

365 dias trabalhando no meu primeiro romance

Hoje, 30 de janeiro, completei 365 dias trabalhando no meu primeiro romance. E continua... Já posso brincar de dizer que, dos 37 que tenho, dediquei 1 ano a você.

Os melhores versos do poema Umbigo, de Nicolas Behr — Parte 02

Nicolas Behr - Foto: Roberto Castello “minha poesia é como uma árvore florida por onde você sempre passa e nunca a vê” “minha poesia não é virtude nem vício. é precipício” “minha poesia coloca o abismo embaixo do braço e vai passear com ele pelos desfiladeiros” “minha poesia é parar o liquidificador com a mão” “minha poesia está morta. então deus está morto. então tudo é possível. então estamos todos fudidos” “minha poesia povoa os terrenos baldios da alma” “minha poesia pisa no rabo do rato que segura o carimbo. o rato ri mas não solta o carimbo” “minha poesia escreve para não sair do inferno” “minha poesia é quebra-cabeça. cabeça que você mesmo quebra, monta e desmonta” “minha poesia é a arte de permanecer viva entre os moribundos” “minha poesia quando rói as unhas escolhe-as a dedo” “minha poesia é a ponte sobre o abismo que separa o poeta do leitor” “minha poesia só é entendida por entediados” “minha poesia tira a máscara de bacana da cara do ...

Catorze passagens de Ferreira Gullar no ensaio “Augusto dos Anjos ou Vida e morte nordestina”

Ferreira Gullar (Foto: Renato Parada) e Augusto dos Anjos (Desenho aqui ) Trechos do sensacional ensaio “ Augusto dos Anjos ou Vida e morte nordestina ” (1974-1975), em que o poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-2016) escreve sobre o poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914): “Não conheço nenhum outro poeta brasileiro, anterior a Augusto dos Anjos, que, a fim de exprimir a experiência concreta vivida, tenha de tal modo abandonado os recursos literários usuais, dado costas aos canais prontos da metáfora prestigiosa. Essa necessidade de não se desprender do vivido, de não traí-lo, de não disfarçá-lo com delicadezas, de erguê-lo de sua vulgaridade à condição de poesia por força da palavra é que determina a originalidade desse poeta e o salto que sua obra significa naquele momento da nossa poesia.” “(...) É como se a poesia tivesse que descer ao mais sórdido da miséria humana para, aí, iluminá-la. É assim, me parece, que se deve entender a temática macabra de Augusto dos...

Os melhores versos do poema Umbigo, de Nicolas Behr — Parte 01

Nicolas Behr - Foto: Timo Berger “minha poesia é um peixe que vive na terra e voa” “minha poesia esmaga o poema na mão e cheira” “minha poesia é cromoterapia em preto e branco” “minha poesia se perde no deserto e chora areia” “minha poesia sente que tem alguém neste momento atrás da minha poesia com uma faca” “minha poesia tem como sonho ser um pesadelo” “minha poesia fez a cama na varanda e se esqueceu do cobertor” “minha poesia quando quer ver fecha os olhos” “minha poesia sabe que tudo já foi dito, menos desta forma” “minha poesia vem do passado e por lá mesmo fica” “minha poesia berra e nas estrofes nascem chifres” “minha poesia encara de costas o pelotão de fuzilamento” “minha poesia coloca a questão. o crítico tira” “minha poesia é aplaudida no auditório vazio” “minha poesia é cheia de lugares comuns que ninguém conhece” “minha poesia não é a grande poesia de manuel bandeira mas é a certeza de que o poeta está vivo” “minha poesia que a t...

Augusto dos Anjos, preciso

Augusto dos Anjos - Imagem daqui “O beijo, amigo, é a véspera do escarro” “O amor, poeta, é como a cana azeda, A toda boca que não o prova engana.” “A mão que afaga é a mesma que apedreja” “Ah! Por que desgraçada contingência À híspida aresta sáxea áspera e abrupta Da rocha brava, numa ininterrupta Adesão, não prendi minha existência?” “Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.” “(...) a mais alta expressão da dor estética Consiste essencialmente na alegria.” “O amor tem favos e tem caldos quentes E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal; O coração do Poeta é um hospital Onde morreram todos os doentes. ” [o amor] “É a transubstanciação de instintos rudes, Imponderabilíssima e impalpável, Que anda acima da carne miserável Como anda a garça acima dos açudes!” “Que dentre de minh’alma americana Não mais palpite o coração – est...

Música para Escrever #11 — Do Make Say Think, KAUAN, Glories, I/O e Afformance

Das teimosas e persistentes ilusões (e ainda e ainda fazer dizer pensar outras verdades): você, você é uma história na ferrugem, um langor, um sopro de vento. Não há quietude em colocar a besta para fora da mente. Qualquer um, em qualquer lugar, sente saudade e a afeição de música para filme imaginário, número 1, através dos muros. Confira o post #11 da série Música para Escrever , com os melhores sons de post-rock, a alumiar a mente e transcender em palavras. Do Make Say Think Toronto | Canadá Bandcamp aqui Facebook aqui Foto daqui Melhor disco para escrever " Stubborn Persistent Illusions " (2017) Ouça aqui Para continuar escrevendo " & Yet & Yet " (2002) Ouça aqui " Do Make Say Think " (1999) Ouça aqui " Other Truths " (2009) Ouça aqui " You, You're a History in Rust " (2007) Ouça aqui ----------- KAUAN Rússia Bandcamp aqui Site aqui...

Sete passagens de Lev Tolstói no romance Khadji-Murát

Lev Tolstói - Foto daqui “O chafariz estava emporcalhado, provavelmente deixado assim a propósito, de modo que não se podia apanhar água nele. Igualmente emporcalhada estava a mesquita, e o muezim com os mutalins a estavam limpando. Os velhos, chefes de família, reuniram-se na praça e, de cócoras, discutiam a situação. Ninguém falava sequer do ódio aos russos. O sentimento que experimentavam todos os tchetchenos era mais forte que o ódio. Não odiavam, mas simplesmente não reconheciam aqueles cães russos como gente. Era uma sensação de asco e estupefação ante a crueldade absurda daquelas criaturas, e o desejo de destruí-las, a exemplo do desejo de destruir os ratos, as aranhas venenosas e os lobos, era um sentimento natural como o instinto de conservação.” “O pequeno tufo consistia em três plantas. Uma delas fora cortada, e o resto de um ramo aparecia como um braço decepado. Em cada uma das outras duas havia uma flor. Essas flores tinham sido vermelhas, mas agora estavam n...