por Maria Rita Angeiras
Você foi a primeira a nascer, mas já chegou com a manha das caçulas, pescando sorrisos com olhares doces e enchendo nossas vidas de música e de risadas, desconfiando do seu alto poder diante de tanta gente boba de amor. Não pude te conhecer logo, quando você fez bico na maternidade e decidiu ficar lá mais um tempo, mas era certo que estava apenas descansando sua alegria frágil antes de receber tantos cheiros, apertos e beijos. E quando te conheci, algum tempo depois, já de roupa colorida e olhos pretos curiosos, você só não me partiu em duzentos pedaços pequenos porque eu tinha que te segurar bem forte nos meu braços. Você me ganhou no primeiro segundo e me ganha cada dia que eu vou pra terrinha e acordo cedo, coisa que nunca fiz, só pra te pegar no colo e decorar cada parte perfeita do teu rostinho de princesa antes de voltar pra casa. Dizem que você se parece comigo quando criança e eu faço questão de também achar, carregando uma certa glória por você poder se lembrar da sua tia não pelas raras visitas, mas pelas vezes em que você se olha no espelho, brincando de ser boneca que anda e que fala. Também rezo todos os dias pra você não crescer com pressa, pra poder aproveitar bem muito o castelo que a gente construiu com um dragão bravo na porta só pra zelar teu sono e te proteger dos pesadelos. E me apavoro de saber que você já está correndo feito uma doidinha, porque agora já pode fugir sorrateira dos nossos abraços apertados demais e do nosso jeito bobo de te amar incondicionalmente. Enquanto isso, vou ensaiando daqui de longe os “não” que nunca vou conseguir te dizer e toda a poesia que ainda vou escrever pra falar do amor que esse teu berço guarda, como uma caixinha de música que guarda uma bailarina cansada de dançar o dia inteiro. E quando penso que você é a nossa menina, sei que me engano. Não é você que é a nossa menina, nós é que somos todos seus, minha linda.
Gordon fez um sinal com a mão e disse: ‘Faça o serviço, os três sabem demais'. André Muhle, Maria Rita Angeiras e Rafael Moreno. Três amigos. Cada um em um canto do mundo. Aqui, todos reunidos. Crônicas novas toda semana.
terça-feira, 30 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
APESAR
por André Muhle (pronuncia-se "múli".)
Eu não sei assoviar. Também não sei fazer bola de chiclete, nem muito menos piscar um olho só. Minha orelha esquerda é 1,6 centímetros mais pra cima do que a outra e tenho uma cicatriz de quase dois palmos no antebraço direito. Tenho gastrite moderada, gengivite crônica e uma hérnia de hiato que, em outras palavras, é quando um pedacinho do estômago passa pra cima da válvula que controla a entrada e a saída da comida. Já tive 16 cáries, não consigo beber whiskey e fico assustado em qualquer lugar com mais de 55 pessoas. Tenho uma enorme aversão a tudo que contém chocolate preto. Isso inclui bolos, biscoitos e milkshakes. Eu checo umas 4 vezes seguidas se o alarme do carro foi ativado e umas 6 se o despertador do celular está corretamente programado. Não me seco direito quando saio do banho e adoro, mas adoro mesmo qualquer música do Raça Negra. Quando eu acordo, meu cabelo parece um gato persa levando um choque elétrico. Mas ainda tem coisa pior antes disso. Eu durmo na vertical e acordo na horizontal, chuto qualquer pessoa que esteja por perto e tenho uma dificuldade gigante de dormir de conchinha. Sem falar que eu também ronco e fico dando uns pulinhos a madrugada inteira. Não sei dançar forró, repito os mesmos pratos no restaurante e sou mais nerd do que deveria ser. Fico com a pele irritada toda vez que faço a barba, meus olhos sempre acordam vermelho e, não sei porquê, mas acho que sou levemente bipolar. Por falar nisso, é bom dizer também que sou extremamente hipocondríaco. Se eu achar que vou ter dor de cabeça, já tomo na hora duas aspirinas fortes. Sou ansioso, nervoso, perfeccionista e não sei fazer baliza direito. Tenho o nariz grande, a barriga saliente e estou com rompimento dos ligamentos do músculo da virilha. Eu trabalho tanto, tanto, mais tanto que eu estou escrevendo esse texto sábado a noite, aqui, no trabalho. Mas, se ainda assim, você topar, eu topo também.
Eu não sei assoviar. Também não sei fazer bola de chiclete, nem muito menos piscar um olho só. Minha orelha esquerda é 1,6 centímetros mais pra cima do que a outra e tenho uma cicatriz de quase dois palmos no antebraço direito. Tenho gastrite moderada, gengivite crônica e uma hérnia de hiato que, em outras palavras, é quando um pedacinho do estômago passa pra cima da válvula que controla a entrada e a saída da comida. Já tive 16 cáries, não consigo beber whiskey e fico assustado em qualquer lugar com mais de 55 pessoas. Tenho uma enorme aversão a tudo que contém chocolate preto. Isso inclui bolos, biscoitos e milkshakes. Eu checo umas 4 vezes seguidas se o alarme do carro foi ativado e umas 6 se o despertador do celular está corretamente programado. Não me seco direito quando saio do banho e adoro, mas adoro mesmo qualquer música do Raça Negra. Quando eu acordo, meu cabelo parece um gato persa levando um choque elétrico. Mas ainda tem coisa pior antes disso. Eu durmo na vertical e acordo na horizontal, chuto qualquer pessoa que esteja por perto e tenho uma dificuldade gigante de dormir de conchinha. Sem falar que eu também ronco e fico dando uns pulinhos a madrugada inteira. Não sei dançar forró, repito os mesmos pratos no restaurante e sou mais nerd do que deveria ser. Fico com a pele irritada toda vez que faço a barba, meus olhos sempre acordam vermelho e, não sei porquê, mas acho que sou levemente bipolar. Por falar nisso, é bom dizer também que sou extremamente hipocondríaco. Se eu achar que vou ter dor de cabeça, já tomo na hora duas aspirinas fortes. Sou ansioso, nervoso, perfeccionista e não sei fazer baliza direito. Tenho o nariz grande, a barriga saliente e estou com rompimento dos ligamentos do músculo da virilha. Eu trabalho tanto, tanto, mais tanto que eu estou escrevendo esse texto sábado a noite, aqui, no trabalho. Mas, se ainda assim, você topar, eu topo também.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
MARIA AMAVA JOAQUIM
por Rafael Moreno
- Joaquim, eu te amo.
- Eu também, Maria.
- Sou louca por você.
- Ô, Amiga, eu também.
- Quero esfregar meu corpo no seu.
- Ta doida?
- Eu te amo com todo meu coração, meu corpo, minha alma.
- Santa mãe.
- Eu quero estar nua do seu lado.
- Nossa Senhora.
- Dormir de conchinha, Joaquim.
- Calma, mulher. Você sabe que Raimundo é meu amigo. Meu amigo do peito.
- Raimundo é um bundão. Eu quero ficar com você.
- Espera. O que ta acontecendo com vocês?
- Ele só quer trabalhar.
- Trabalhar?
- Me deixou aqui, sozinha, pra ir pro Recife. Sozinha, Joaquim!
- Ele fez isso por vocês, Maria. Pra vocês casarem.
- Fez pra ser gerente, aquele bundão.
- Não fala assim dele, vai.
- Vem ficar comigo, Joaquim.
- Não dá, Maria. Me desculpa.
- Mas eu te amo.
- Você já bebeu demais.
- Olha o meu corpo, Joaquim. Não é você que sempre falou que eu poderia ser bailarina do Gugu?
- Você é muito bonita. Sabe disso.
- Não é você que dizia que queria ter um cabelo igual ao meu?
- Seus cabelos são lindos mesmo. Sedosos, brilhantes.
- Então, vem ficar comigo.
- Não, Maria. Você sabe que não.
- Joaquim, olha só isso daqui. Olha o meu decote.
- Peraí, Maria. Pára com isso. Raimundo é meu amigo.
- Sente isso aqui. Coloca a mão.
- Você bebeu demais.
- Coloca a mão aqui, Joaquim.
- Ai, meu Deus. Melhor eu ir embora.
- Aqui, Joaquim.
- Vou chamar um táxi.
- Não, vem ficar comigo. O Raimundo não vai saber nunca. Ele só pensa na Insinuante de Casa Forte.
- Ele quer juntar dinheiro pra vocês casarem, criatura.
- Ele é um bundão.
- Não fala assim do Raimundo.
- Vem ficar comigo.
- Não posso.
- Não pode ou não quer?
- Táxi!
- Por causa do Raimundo? Ele nunca vai saber de nada.
- Não é só por causa de Raimundo.
- Você não me acha bonita?
- Você é muito bonita. Tem uma pele linda.
- Então por que não vem ficar comigo?
- Táxi!
- Vou entrar nesse carro com você. Vou tirar a roupa aqui na rua.
- Se cuida, Maria.
- Joaquim! Eu vou tirar a roupa aqui na rua!
(acompanhe também os outros textos da série "Quadrilha", de julho de 2008 e abril de 2009).
- Joaquim, eu te amo.
- Eu também, Maria.
- Sou louca por você.
- Ô, Amiga, eu também.
- Quero esfregar meu corpo no seu.
- Ta doida?
- Eu te amo com todo meu coração, meu corpo, minha alma.
- Santa mãe.
- Eu quero estar nua do seu lado.
- Nossa Senhora.
- Dormir de conchinha, Joaquim.
- Calma, mulher. Você sabe que Raimundo é meu amigo. Meu amigo do peito.
- Raimundo é um bundão. Eu quero ficar com você.
- Espera. O que ta acontecendo com vocês?
- Ele só quer trabalhar.
- Trabalhar?
- Me deixou aqui, sozinha, pra ir pro Recife. Sozinha, Joaquim!
- Ele fez isso por vocês, Maria. Pra vocês casarem.
- Fez pra ser gerente, aquele bundão.
- Não fala assim dele, vai.
- Vem ficar comigo, Joaquim.
- Não dá, Maria. Me desculpa.
- Mas eu te amo.
- Você já bebeu demais.
- Olha o meu corpo, Joaquim. Não é você que sempre falou que eu poderia ser bailarina do Gugu?
- Você é muito bonita. Sabe disso.
- Não é você que dizia que queria ter um cabelo igual ao meu?
- Seus cabelos são lindos mesmo. Sedosos, brilhantes.
- Então, vem ficar comigo.
- Não, Maria. Você sabe que não.
- Joaquim, olha só isso daqui. Olha o meu decote.
- Peraí, Maria. Pára com isso. Raimundo é meu amigo.
- Sente isso aqui. Coloca a mão.
- Você bebeu demais.
- Coloca a mão aqui, Joaquim.
- Ai, meu Deus. Melhor eu ir embora.
- Aqui, Joaquim.
- Vou chamar um táxi.
- Não, vem ficar comigo. O Raimundo não vai saber nunca. Ele só pensa na Insinuante de Casa Forte.
- Ele quer juntar dinheiro pra vocês casarem, criatura.
- Ele é um bundão.
- Não fala assim do Raimundo.
- Vem ficar comigo.
- Não posso.
- Não pode ou não quer?
- Táxi!
- Por causa do Raimundo? Ele nunca vai saber de nada.
- Não é só por causa de Raimundo.
- Você não me acha bonita?
- Você é muito bonita. Tem uma pele linda.
- Então por que não vem ficar comigo?
- Táxi!
- Vou entrar nesse carro com você. Vou tirar a roupa aqui na rua.
- Se cuida, Maria.
- Joaquim! Eu vou tirar a roupa aqui na rua!
(acompanhe também os outros textos da série "Quadrilha", de julho de 2008 e abril de 2009).
segunda-feira, 15 de junho de 2009
COMO QUEM RESPIRA
por Maria Rita Angeiras
É o minuto, é o instante, é o seguinte, é a hora,
que passa, que vira, que muda, e o resto é mais, é menos,
depende da hora, do tempo, do segundo,
mas é tudo tão sonho, pesadelo, escuro, sossego.
São planos, papéis, lençóis, travesseiros,
enganos, puros, humanos, erros, adoráveis consertos,
portas e linhas tortas, mas minhas, só minhas, importa?
É o vento, é o poema, é o beijo, chorado, apertado, soluçado,
é a despedida com um lenço na mão, que segura, feito peneira,
as palavras, como areia, que vão caindo no chão.
É o talvez, é o pode ser, é o sim que não cai,
segurado pelos braços, pelos pés, atados,
pela dúvida, pelo vai, pelo não vai,
mas se duvida, não toca, então sai, só sai.
É a loucura sem a doidice de vez,
cada vez, dessa vez, mais uma vez, quantas vezes?
Dois, só nós dois, sem eles, sem vós, nós.
Um passo atrás e estamos sós.
É a cama, é a lama, é o céu de pijama,
ama, não engana, não brinca, e vou, e volto,
e sumo, e te adoro, e te amo, e te odeio, e te xingo e te gosto.
São sorrisos, conversas, borrachas, papéis,
brancos, azuis, coloridos, perdidos
no incrível preto, amarelo, roxo, rosa, verde, infinito.
Madrugadas sem volta, só de ida, sem vinda,
linda, louca, viva, mas perdida, eternamente perdida.
É o minuto, é o instante, é o seguinte, é a hora,
que passa, que vira, que muda, e o resto é mais, é menos,
depende da hora, do tempo, do segundo,
mas é tudo tão sonho, pesadelo, escuro, sossego.
São planos, papéis, lençóis, travesseiros,
enganos, puros, humanos, erros, adoráveis consertos,
portas e linhas tortas, mas minhas, só minhas, importa?
É o vento, é o poema, é o beijo, chorado, apertado, soluçado,
é a despedida com um lenço na mão, que segura, feito peneira,
as palavras, como areia, que vão caindo no chão.
É o talvez, é o pode ser, é o sim que não cai,
segurado pelos braços, pelos pés, atados,
pela dúvida, pelo vai, pelo não vai,
mas se duvida, não toca, então sai, só sai.
É a loucura sem a doidice de vez,
cada vez, dessa vez, mais uma vez, quantas vezes?
Dois, só nós dois, sem eles, sem vós, nós.
Um passo atrás e estamos sós.
É a cama, é a lama, é o céu de pijama,
ama, não engana, não brinca, e vou, e volto,
e sumo, e te adoro, e te amo, e te odeio, e te xingo e te gosto.
São sorrisos, conversas, borrachas, papéis,
brancos, azuis, coloridos, perdidos
no incrível preto, amarelo, roxo, rosa, verde, infinito.
Madrugadas sem volta, só de ida, sem vinda,
linda, louca, viva, mas perdida, eternamente perdida.
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