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Ser capaz, como um rio que leva sozinho
a canoa que se cansa, de servir de
caminho para a esperança.
E de lavar do límpido a mágoa da mancha,
como o rio que leva, e lava.
Crescer para entregar na distância calada
um poder de canção, como o rio
decifra o segredo do chão.
Se tempo é de descer, reter o dom da
força sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir, para, subterrâneo,
aprender a voltar e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
Como um rio, aceitar essas súbitas ondas
de águas impuras que afloram a escondida
verdade nas funduras.
Como um rio, que nasce de outros, saber seguir,
junto com outros sendo e noutros se prolongando
e construir o encontro com as águas
grandes do oceano sem fim.
Mudar em movimento, mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.
(Thiago de Mello)
Ser capaz, como um rio que leva sozinho
a canoa que se cansa, de servir de
caminho para a esperança.
E de lavar do límpido a mágoa da mancha,
como o rio que leva, e lava.
Crescer para entregar na distância calada
um poder de canção, como o rio
decifra o segredo do chão.
Se tempo é de descer, reter o dom da
força sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir, para, subterrâneo,
aprender a voltar e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
Como um rio, aceitar essas súbitas ondas
de águas impuras que afloram a escondida
verdade nas funduras.
Como um rio, que nasce de outros, saber seguir,
junto com outros sendo e noutros se prolongando
e construir o encontro com as águas
grandes do oceano sem fim.
Mudar em movimento, mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.
(Thiago de Mello)