Manuel Maria Carrilho oferece mais um tema para reflexão, com a sua lógica e clareza ímpar, no artigo que se transcreve.
Fazer contas não basta!
Diário de Notícias. 31-03-2011. por MANUEL MARIA CARRILHO
Reduzir o que está em causa nas próximas eleições à tagarelice contabilística em torno do défice é de uma lamentável cegueira e mediocridade. Na verdade, só uma coisa verdadeiramente interessa agora - é que as próximas eleições legislativas abram mesmo um novo ciclo na vida do País.
E se um novo ciclo implica naturalmente uma maioria, ele exige bem mais do que isso: exige, para lá de uma clara maioria parlamentar, um novo projecto e uma nova confiança que conquistem a sociedade. Nas actuais circunstâncias, exige uma legislatura patriótica que integre vários partidos, motive os parceiros sociais e mobilize a sociedade civil em toda a sua diversidade.
O País precisa de austeridade, mas precisa também de crescimento. Austeridade sem crescimento não altera o caminho para o colapso, apenas muda a sua natureza e, talvez, o seu timing. A ortodoxia "austeritária" sem mais conduzirá o País por uma espiral cada vez mais intensa de cortes e de protesto, que deixará o País em pele e osso.
É por isso fundamental articular a austeridade com o crescimento. Mas como a austeridade é imediata e o crescimento é a prazo, é fundamental que a sua articulação dê origem a um projecto estruturado que seja bem explicado aos portugueses.
Um novo ciclo também é isso: a substituição da infernal demagogia em que temos vivido por uma pedagogia que saiba combinar o realismo com a ousadia, isto é, reconhecer os problemas que temos e, sobretudo, avançar com soluções inéditas mas credíveis. É tempo de mostrarmos que somos capazes de fazer mais do que auto-estradas, rotundas e estádios de futebol!
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