Faz hoje 39 anos que a União Soviética, temendo os efeitos da Primavera de Praga nas nações socialistas e nas "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 20 de Agosto de 1968. Os inevitáveis confrontos entre tropas do Pacto e manifestantes aconteceram nas ruas da cidade. O Presidente Dubcek foi detido por soldados soviéticos, levado para Moscovo e destituído do cargo. Esta repressão tinha o antecedente da Hungria de 1956 e veio a inspirar o movimento Solidariedade na Polónia em 1981. Eram sinais de decadência do império Soviético.
A Primavera de Praga foi o movimento gerado em 1968 por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, económica e social do país. A experiência de um "socialismo com face humana” foi conduzida pelo líder do Partido Comunista local, Alexander Dubcek, e, ao ser conhecida em 5 de abril de 1968, pelo inusitado, surpreendeu a sociedade tcheca, quando soube das propostas reformistas dos intelectuais.
O objectivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio do partido comunista e a livre organização partidária, com uma Assembleia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da sociedade tcheca. A liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população e o movimento que defendia a mudança radical da Tchecoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, foi chamada de Primavera de Praga. Aderindo á proposta, diversos sectores sociais manifestaram-se em favor da rápida democratização. No mês de Junho, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Acreditavam que era possível transformar, pacificamente, um regime ortodoxo comunista para uma social-democracia de moldes ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia colectivizada conviver com ampla liberdade democrática.
Como todo o autoritário ou ditador teme a mínima ameaça à sua segurança e vê inimigos e perigos por todos os lados, a URSS não gostou da experiência, invadiu Praga, em 28 de Agosto, com carros de combate e causou pesadas baixas nos civis que se manifestavam. Dubcek foi levado para Moscovo e destituído, e as reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Tchecoslováquia. O povo não serenou e em protesto contra o fim das liberdades conquistadas, o jovem Jan Palach ateou fogo ao próprio corpo numa praça de Praga em 16 de janeiro de 1969.
Exemplo da Hungria
A URSS já tinha tido uma má experiência com a Hungria, em 14 de Novembro de 1956, com a invasão por tropas soviéticas, para reprimir a revolta, de que resultou terem sido executados centenas de húngaros, aprisionados milhares e terem fugiram para a Áustria quase 200.000 pessoas.
Tudo começou em 1953, quando depois da morte de Estaline, Rakosi foi substituído por Imre Nagy, de linha mais moderada, que concedeu amnistias a prisioneiros políticos. Mas a ditadura temeu os perigos à sua força e em 1955 Nagy foi destituído pela ala dura do partido comunista húngaro, após ter tentado a abertura política.
Mas o povo gostou do cheiro a liberdade e, entretanto, aumentou o descontentamento social, nomeadamente de estudantes e operários, provocando uma revolta contra o regime, que explodiu em Budapeste, em 1956. Janos Kádar estabeleceu um contra-governo e pediu auxílio à URSS. E a 14 de Novembro, tropas soviéticas invadiram o país, como atrás se disse, foi instaurada uma ditadura comunista com Kádar na presidência, situação que se manteve durante cerca de três décadas. Nagy foi preso e executado.
Repressão na Polónia
As sementes tinham sido deitadas à terra na Hungria, germinaram e frutificaram na Tchecoslováquia, e, apesar da invasão, vieram a mostrar-se novamente, desta vez, na Polónia.
Wałesa tornar-se-ia fundador e líder do Solidariedade, a organização sindical independente do Partido Comunista que obteve importantes concessões políticas e económicas do Governo polaco em 1980-1981, sendo nessa altura ilegalizado e passando à clandestinidade.
Em 1980, Wałesa liderou o movimento grevista dos trabalhadores do estaleiro de Gdansk, em que cerca de 17 000 protestavam contra a carestia de vida e as difíceis condições de trabalho. A greve alargou-se rapidamente a outras empresas. Embora com dificuldade, as reivindicações dos trabalhadores acabaram por ser satisfeitas e tiveram consequências claramente políticas quando foi assinado um acordo que lhes garantia o direito de se organizarem livremente, bem como a garantia da liberdade política, de expressão e de religião.
Wałesa, por ter liderado as greves e por ser católico beneficiou de uma grande base de apoio popular. Porém, os seus ganhos tiveram um carácter efémero ante a resistência do regime que, no entanto, mercê das reacções à violência na Hungria e em Praga, não tomou aspectos de grande gravidade repressiva. Com efeito, em Dezembro de 1981 o Governo impôs a lei marcial, o Solidariedade foi considerado ilegal e a maioria dos líderes foram presos, incluindo Wałesa.
O país passou a ser governado pelo general Wojciech Jaruzelski. Mas a agitação operária continuou, embora de forma mais contida. Walesa só seria libertado em 1982 e, um ano depois, era galardoado com o Prémio Nobel da Paz, facto que motivou críticas do governo polaco. O Solidariedade saiu da clandestinidade após negociações com o Governo em 1988-1989, assim como outras organizações sindicais.
Com o desmoronamento do Bloco de Leste e a liberalização democrática do regime, ficou consagrada a realização de eleições livres. Em Dezembro de 1990 Wałesa foi eleito.
NOTA: Para elaborar este texto utilizou-se o apoio bibliográfico de:
Guia do Mundo, editora Trinova,
Pesquisa Google,
Wikipédia.
O inconseguimento de Montenegro (2)
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