29/10/2014

Acerca do Amor saudável...

Vi há uns tempos, não sei onde, provavelmente no Citador, que a receita para um Amor saudável é não depender. Não ver o outro como uma parte de nós, sem a qual ficaremos incompletos, mas como um complemento. Sem obsessões nem exigências.
Estúpida e auto-crítica como sou, pensei "ééééé... eu devia tentar ser mais assim. Não me ralar nem ficar triste nem morrer de saudades porque já não o vejo há mais de uma hora... Nem sentir pavor genuíno só porque penso ou sonhei que poderia algum dia ficar sem ele... Eu devia ser assim..."

Mas que porra!!! Eu não devo ser assim coisa nenhuma. Ninguém deve ser assim. Se alguém quer ter um amor em que não sinta obsessão, medos ou dependência, arranja um cão. Ou uma planta! Aí, claramente, eu não preciso do outro para nada, embora desfrute imenso do tempo que passamos juntos e me sinta um pouco mal se me esqueço ocasionalmente de a regar...
Mas se estamos a falar de Amor, aquele Amor com A grande, o Amor da minha vida, eu devo e QUERO depender dele. E devo ficar devastada e incompleta sem ele. Porque se isso não acontecer não é um Amor, é um arranjinho confortável, um "aquece-pés", uma orelha para nos ouvir e um abraço quando o nosso corpo pede. Mas eu não quero um arranjinho. Eu quero um Amor. E esse, meus amigos, vem com obsessões e dependências e tudo. Paciência. É lindo assim mesmo!

25/10/2014

Amor perfeito é... #2

Eu - "Vi, no trabalho, um casal para aí de 70 anos, altos e magros. Americanos, pareceu-me. Todos enrugados. Ela de corsários de licra e ele de calções pelo meio da coxa. Fabuloso!"
Ele  - ""Nós vamos ser assim."

...e eu achei as palavras dele a coisa mais romântica de sempre!

12/10/2014

Animais em cativeiro

Por razões de protecção e preservação de algumas espécies, elas são retiradas do seu ambiente selvagem e mantidas em cativeiro, cuidadas e alimentadas, protegidas. Os instintos animais são esquecidos ou, pelo menos, adormecidos. Em caso de necessidade de regressar ao estado selvagem, o animalzinho vai enfrentar problemas muito sérios. Vai sofrer um choque, porque está frágil e habituado a um ambiente confortável e acolhedor.

Eu era um animal selvagem. Eu não tinha ninguém, a não ser eu própria, e os meus dias eram feitos daquilo que eu provocava. Depois ele veio e acolheu-me e domesticou-me e agora eu tenho pavor de ser lançada na selva outra vez. De me ver só e dependente de mim mesma para tudo.
Um pavor que é inevitável porque "quem ama tem medo de perder" e que tantas vezes me deixa sem ar e toma conta de mim, que sou tão permeável a ansiedades e previsões de desgraças...
E depois penso que fui domada e tenho vontade de lhe morder a mão... Mas é com amor!

08/10/2014

Olá Outono...

Antes de mais nada: sim, tenciono realmente publicar este post sem uma satisfação acerca do motivo pelo quer não escrevi durante tanto tempo. Inércia não se justifica. 
Venho hoje porque esta altura do ano tem sempre um efeito especial em mim... Não necessariamente positivo. É época de recomeços e mudanças e eu sou um bocado avessa a ambas, embora tantas vezes me tenha já apercebido que são frequentemente mudanças boas...
Mas ando descontente comigo porque ando descontente com tudo, mesmo sem razão nenhuma para tal. Observo a comédia humana e, em vez de me integrar, de me alegrar ou compadecer conforme cada episódio, mantenho-me à margem, porque sinto repulsa por quase tudo.
As pessoas são boas. As pessoas vão levando as coisas... Eu é que sou descontente e teimo que não pode estar simplesmente tudo bem; não. Há que fazer teses e procurar explicações metafísicas para tudo e imaginar aquilo que não sei... Quase sempre sendo injusta em relação às pessoas visadas.
Em conclusão, o mal não é do mundo. É meu. Mas a consciência disso não me deixa mais disposta a fazer as pazes com ele.  Estou a modos que amuada por motivo nenhum. Só porque não vejo motivos para me animar. É um inferno para quem me atura. Pobrezinho do meu Amor, que leva comigo sem ter encomendado nada... =)

04/08/2014

Solo lunar

Não há vento em mim. Eu sou pacata e quieta e, por isso, duram muito tempo as marcas que outros me deixam. E fico a remoer, ora eufórica, ora desolada, o que outros me fizeram. Não há vento em mim para aplanar novamente as pegadas que outros deixaram. É preciso que venham outra vez, os mesmos ou outros, desfazer as marcas velhas e deixar novas, melhores ou piores. E essas também vão durar. Porque não há vento em mim. Como na superfície lunar.

31/07/2014

Amor perfeito é...

...sentirmos um cheiro na nossa pele e não termos a certeza se é nosso ou se foi o nosso Amor que no-lo deixou.

13/07/2014

Aqui me confesso...

...porque se o confesso aos ouvidos de alguém vou soar irremediavelmente louca e obcecada...
Confesso-me ciumenta... De uma bicicleta, imagine-se!!! De uma bicicleta que o mantém até tarde no ginásio 3 dias por semana, em que não o vejo porque sai tarde e cansado. Da bicicleta com a qual ele participa em competições e passeios aos Domingos, para os quais descansa no sábado à noite (também não é muito bom fazermos planos para essa altura, portanto) e dos quais descansa no Domingo à noite (e por esta altura já sabem o que é que isso significa, não já? Pois... Nada de planos para mim).
Então amuo e aqui venho confessar o meu ciúme e ódio cego por um quadro de carbono (é tão leve, é mesmo um sonho!!!), com duas rodas, um selim e um guiador (de carbono também).
Tenho ciúmes do tempo que partilham, da satisfação que ela lhe dá, das fotos por todo o lado, do cansaço que lhe provoca, das feridas que invariavelmente ele traz, arranhōes e esfoladelas.
Tenho ciúmes incompreensíveis de tudo isto e das pessoas que têm oportunidade de o partilhar com ele, quando eu, por causa do horário de trabalho e falta depedalada, não posso.
Estou doente de ciúmes e desespero. Capaz de assassinar uma bicicleta. "ciclocídio"???

09/07/2014

"Memoirs of an Imaginary Friend", de Matthew Green


Já tinha visto o título e a capa em várias das páginas e fóruns literários por onde vou passando. A sinopse é chamativa, a conhecida escritora Jodi Picoult escreve que já há muito que não era absorvida da forma que este livro a absorveu, e a crítica compara-o a "O Quarto de Jack", que não li (nem quero, credo! já viram bem a sinopse daquilo???)...

Surgiu a oportunidade de o conseguir através de uma troca combinada num grupo do facebook criada para esse efeito... E ainda me entusiasmou mais o facto de se tratar da edição em inglês.
Budo é o narrador. E é um amigo imaginário. Não pode tocar no mundo real, não pode ser visto ou ouvido por outro humano além do que o imaginou. Esse menino é Max. O Max tem 8 anos, que é idade em que a maior parte dos meninos já deixou de acreditar nos seus amigos imaginários, fazendo com que eles deixem de existir. Mas Max é um menino especial. Através das descrições tão simples e quase infantis, mas tremendamente verdadeiras, que Budo faz do seu amigo, percebemos que ele será autista, com todos os problemas e limitações que as crianças autistas enfrentam.
A história do dia-a-dia pacato e monótono de Max e Budo (feita de fugas a demonstrações de carinho por parte dos pais e das pessoas em geral, idas para a escola e ter que lidar com meninos maldosos, e discussões tidas pelos pais, a que Budo assiste, acerca de Max não ser normal e precisar de ajuda) sofre uma alteração radical no dia em que Max é raptado por uma professora, cujo filho morrera. Budo é o único a assistir ao rapto e a saber quem é a culpada. É a partir daí que, o que era um conto fofinho e enternecedor, passa a ser uma história comovente e frustrante porque nos vemos confrontados com as limitações de um amigo imaginário, incapaz de comunicar com as pessoas ou de tocar seja o que for no mundo real.
É um livro diferente de tudo o que já li, sem dúvida, onde questões como "o que é correcto" versus "o que é a nossa vontade", o próprio sentido da existência ou o que exisitrá (ou não existirá) para além da morte, pairam a todo o momento.

30/06/2014

Ama-te a ti mesmo porque...

Todos somos sós.
Mesmo que alguns de nós tenhamos alguém com quem partilhar o nosso tempo e a nossa individualidade.
Todos somos sós. Sozinhos. E, à noite, quando fechamos os olhos, mesmo que haja alguém ao nosso lado, é só o interior da nossa cabeça que vemos.

28/06/2014

Acácia - 3 em 1

E, de uma assentada, aproveitando uma inacreditável promoção  da editora, consegui os 2º, 3º e 4º volumes da saga (que normalmente custariam um total de 49, 44€) por 23 euros e trocos, já com portes... Só acreditei quando os livros chegaram às minhas mãos...
 
Li o primeiro volume há já algum tempo e escrevi a minha opinião aqui...
 
Inicialmente, vi-me um pouco perdida, tentando retomar o fio à meada e relembrar quem era quem na história. Como a cada volume da versão original correspondem dois volumes em português, o ideal é que se leiam aos pares (o 1 e o 2; o 3 e o 4)... e agora mal posso esperar por ver o 5º e 6º volumes...
 
Presságios de Inverno
O segundo volume. Sendo o primeiro tão claramente introdutório, escrito naquela fórmula quase cinematográfica de uma existência idílica, uma família feliz, mas um passado e uma herança sórdidos que ameaçam irromper à superfície... e irrompem mesmo... É neste ponto que o 1º volume nos deixa, num caos em que a família invasora amaldiçoada há tantas gerações regressa para usurpar o trono. O Rei Akaran é morto e os seus quatro filhos separados e levados para pontos distantes do Reino para tentarem sobreviver escondidos até estarem prontos a regressar.
"Presságios de Inverno" vai reencontrar os nossos desafortunados herdeiros nove anos depois da fuga e é maravilhoso ver de que forma tão inesperada e surpreendente eles cresceram e se revelam na sua nova existência. Agora, jovens adultos, sentem o apelo de se reunirem e tentarem recuperar o domínio de Acácia, vingando o Pai. É um volume intenso, de guerras e intrigas crescentes e um final surpreendente.
 
 
Outras Terras
O terceiro volume. Após o desfecho algo inesperado da guerra travada no volume anterior, temos Acácia de novo sob o poder da família Akaran. No entanto, a existência está longe de ser pacífica ou idílica, como era anteriormente. A nova jovem rainha, endurecida pelas circunstâncias, enfrenta as perigosas intrigas da corte, enquanto os irmãos, ambos destroçados pela recente guerra, a ajudam na manutenção da paz e recuperação do território destruído.
Surge um novo e perigoso desafio que é a necessidade de conhecer melhor e reforçar alianças com o desconhecido povo que habita as "Outras Terras", para lá das fronteiras do Mundo Conhecido. Há acções muito diversas, passadas em palcos muito distintos, mas todas elas ligadas entre si. É de grande habilidade conseguir narrar desta forma sem confundir o leitor. A trama adensa-se, aparecem muitas novas personagems e é quase hipnotizante ir absorvendo as revelações que dão a conhecer melhor os pormenores deste mundo imaginado.
 
 
O Povo das Crianças Divinas
Este volume lê-se de um fôlego, porque é pura acção, descoberta, terror e fascínio do princípio ao fim. Se o volume anterior é a viagem para um novo continente, neste temos a chegada e confrontação com algo totalmente inesperado. O que se temia é afinal pior, e o que se desconhecia é maravilhoso.
Desde o primeiro volume sabemos que a paz no Império de Acácia se mantém graças a uma droga que o povo consome e o mantém dócil e anestesiado. Essa droga, Bruma, é produzida nas Outras Terras, vendida ao Mundo Conhecido em troca de uma Quota: crianças que são retiradas dos pais e enviadas para esse continente para fins obscuros. Este volume mostra o destino dessas crianças, algumas delas tornadas Crianças Divinas...
É um óptimo desvendar do mistério que se alimentou nos 3 volumes anteriores.
Há traições até dizer chega, magia e feitiços com os quais não se deveria brincar, e aproxima-se uma nova guerra. A maior de sempre. Só faltam dois volumes!
 
 
 

24/06/2014

Este tempo é maravilhoso

É perfeito. O melhor dos dois mundos.
Num dia calço botas impermeáveis porque chove e troveja. No dia a seguir deixo os meus pés arejar e apanhar sol com umas sandálias fresquinhas porque o sol voltou em força. Num dia desejo ter trazido mais um casaquinho... No dia seguinte levo o casaquinho e esqueço-me dele ao vir embora porque não faz falta.
Hoje tenho desejos de comidinha quente e reconfortante, um bacalhau assado com batatinhas e muito azeite, a cheirar a Natal... Ou umas salsichas frescas estufadas com couve lombarda, bem fumegantes... Mas amanhã, provavelmente, vou querer uma salada russa fresquinha porque com o calor o apetite abandona-me...
É lindo não termos oportunidade para nos queixarmos do tempo que faz porque logo a seguir ele muda e faz-nos a vontade.

Não... Não fumei nenhumas brocas... Estou só a tentar ver o lado positivo deste tempo de loucos. Nem sei se marque férias de praia, se de neve.... (riso histérico)

16/06/2014

"Esta vida de bordo há-de matar-me"...

...são dias só de febre na cabeça*
 
Não é só o calor, que amplia e desfoca tudo. É a minha própria natureza. É a natureza humana, em geral. Luta por aperfeiçoamento, por mais, por melhor, por maior, por eterno... E, ao cansaço e desgaste da luta segue-se ora a desilusão do fracasso, ora a alegria efémera da vitória, acompanhada de perto do pavor da perda, da insónia que traz a insegurança... E esta montanha russa continua, e renova-se e repete-se...
Às vezes é exaustivo e a sensação de tontura sobrepõe-se a tudo. Mas quando conseguimos inspirar até ao fim, mesmo até ao fundinho do difragma, e abrimos os olhos e olhamos o que temos... oh, como é tudo tão belo!
 
*Opiário de Álvaro de Campos

13/06/2014

A Consulta Aberta

Ando há 8 dias com uma rouquidão cavernosa. Nem dores de garganta, nem febre. Tosse muito seca, sobretudo à noite. Ia tomando umas coisas que tinha cá em casa para tratar a garganta e a tosse, muita mebocaína, muitos rebuçados de mentol. Ao fim de uma semana sem resultados nenhuns e mal conseguindo falar, lá me arrasto para a consulta aberta.
Na minha mente iam as imagens da ultima vez que fui ao médico por causa de sintomas semelhantes: ainda criança, o doutor sai de trás da secretária, apalpa-me o pescoço, ausculta os pulmões, espreita para dentro da garganta enquanto eu digo aaaaaaaahhh... Essas coisas fofinhas!
Na Consulta Aberta, paguei 5 euros, porque como trabalho e recebo uma migalha acima do salário mínimo tenho que inchar de cada vez que preciso recorrer ao SNS. O senhor doutor não saiu de trás da secretária, não me tocou e olhou mais para o monitor do computador do que para mim nos 4 minutos que lá estive. Deu-me uma receita para aviar na farmácia e foi preciso eu perguntar, já meio desesperada "mas afinal isto é o quê??" para ele me responder a meia voz "heee... É uma laringite. As melhoras..."
Mas que porra é esta? Para a próxima consulto-me directamente no computador, em vez de usar intermediários que me levam 5€...

01/06/2014

"A Sétima Porta", de Richard Zimler

 
...e com este livro tomo a firme resolução de que não vou ler mais sobre a Guerra, Nazis, Judeus, Holocaustos, Pogroms e afins... este ano tenho tido tendência para me interessar, por um motivo ou outro, por livros com esta temática e já tive a minha dose. Agora só quero livros fúteis e ligeiros e felizes...
 
Encontrei-o com 20% de desconto no Fnac e, como tem mais de 600 páginas, foi irresistível, já que representaria leitura para muito tempo.
Richard Zimler, americano naturalizado português e a viver no Porto, atingiu maior reconhecimento após a publicação do Romance "O Último Cabalista de Lisboa", que não li. Sei, no entanto, que a personagem central desse livro, Berequias Zarco, é um antepassado de uma das personagens chave d'"A Sétima Porta", Isaac Zarco. Berlim é o centro da acção, que principia em início dos anos 30 e que continuará durante a ascenção inexorável no Nacional-Socialismo alemão e os horrores da Guerra.
Neste livro não há combates. Há o interior de lares berlinenses e as lutas secretas que cada um trava com a sua consciência e a sua vontade. Não há heróis fardados. As personagens que acompanhamos são, na sua maioria, pessoas com um qualquer tipo de deficiência física ou mental e judeus, ambos alvos favoritos do extermínio nazi.
A contadora da história é Sophie que, nonagenária e a viver em Nova Iorque na actualidade, relata os pormenores gravados a fogo na sua memória dos amores e amizades, perigos, dores e revoltas da sua adolescência e juventude.
Zimler é brilhante na forma como dá voz a dúvidas e anseios femininos. Tem sentido de humor requintado. E oferece-nos um leque de personagens maravilhosas, tão ricas.
 
Mas não quero mais ler sobre a guerra nos próximos tempos. Pronto.

11/04/2014

Diz que os loucos não sabem que são loucos. Certo? Que eles pensam que é tudo real e que são os outros que estão pirolitos...
Eu sei que sou louca. Sei que a minha mente é doente, com a mania da perseguição, que faço filmes, prevejo catástrofes, imagino a todo o tempo os piores cenários possíveis e o terror de toda a gente estar a pensar mal de algo que eu fiz ou de mim própria e ser incapaz de me dizer... e eis-me sempre a massacrar e a perguntar "mas está mesmo tudo bem" e a justificar tudo o que faço 20 vezes, para martírio e histeria de quem me ouve.
Mas eu sei que sou louca. Logo, isso demonstra que estas minhas paranóias não são loucura... mas são. Eu sei que são. Eu sei que sou exaustiva. Mas não consigo calá-las...
Onde é que isso me deixa?? estarei a inaugurar um novo patamar de sandice??

05/04/2014

"Marina", de Carlos Ruiz Zafón


Continua a ser imperdoável, tal como foi em "A Sombra do Vento" e "O Prisioneiro do Céu", a mania que este homem tem de contar histórias sobrepostas a outras histórias, isto é, há duas personagens centrais, Óscar e Marina que, além de viverem o seu próprio drama e tragédia, investigam por auto recreação a história mais trágica e horripilante ainda de outras duas personagens, neste caso, Mikhail e Eva... isso faz com que metade do livro seja constituído por relatos de diversas personagens, envelhecidas e decadentes, que viveram a dita tragédia 30 anos antes.
Fora este pormenor medonho (irrita-me, pá, esta tendência que o homem tem de contar história atrás de história, sobrepondo umas às outras...como se as tivesse a borbulhar lá dentro e tivesse que as mandar cá para fora, sob pena de rebentar se não o fizer)... dizia eu, fora isto, gostei do livro... Gostei tanto que li coisa de 200 páginas num dia. Gosto das metáforas que ele usa para descrever os sons que as coisas fazem ou o céu de Barcelona, gostei da história horripilante que ele criou... A dita Marina ficou um pouco aquém do que eu esperava, já que é ela que dá o nome ao livro... Lá está, aquilo que eu dizia de ele criar histórias tão densas sobrepostas umas nas outras... Em suma, o gajo desagrada-me mas é certo que já nem me lembrava da última vez que li tantas páginas no mesmo dia...

25/03/2014

"The Book Thief", de Markus Zusak


O livro de que se fala. De quem toda a gente fala... e que deu um filme. De quem toda a gente fala também...
Comprei-o no aeroporto de Gatwick, enquanto esperava pelo avião que me traria de volta e paguei umas inacreditáveis 7,99£ apenas...
E, agora que terminei a leitura, acredito naquela crítica que li, que dizia que quem lê este livro não volta a ser a mesma pessoa.
Talvez tenha ajudado um pouco associar à personagem de Hans, o Papá, a figura bonacheirona do Geoffrey Rush, que é quem interpreta o papel no filme, e conhecer a doçura do rosto da actriz que dá vida à fascinante Liesel Meminger... talvez isso tenha ajudado. Mas o livro vale por si só.
O narrador que nos conta a história é a Morte. E acreditem que é, talvez, o narrador mais charmoso e amável que já conheci, cheio de respeito pelo leitor, dando as respostas rapidamente, nada de artificialismos que fazem crescer o suspense...
A nossa "book thief" (porque "book thief" soa infinitamente melhor do que "ladra de livros" ou "rapariga que roubava livros") vive com os seus pais adoptivos nos arredores de Munique, em plena Segunda Guerra Mundial e a Morte, que ocasionalmente, no meio do circo que é a Huminadade, encontra alguém que a faz parar e interessar-se, cruza-se com Liesel diversas vezes e observa-a e admira-a. E dá-se ao trabalho de nos contar a sua história, e a do homem com o coração no acordeão, da mulher com rosto de papelão e a palavra Saumensch sempre na ponta da língua, do Judeu que ficou encandeado pela luz das estrelas numa noite de bombardeamentos, e do rapaz que teria para sempre cabelo cor de limão.
Vi o filme na véspera de terminar a leitura. É belíssimo e, ainda assim, sabe a tão pouco! É um livro maravilhoso! E é o meu souvenir de Londres!

23/03/2014

Um ano

Há um ano atrás eu tinha um amor novo, recente. Há um ano atrás o ar tinha começado a ter cheiro e as coisas, todas as coisas, passaram a ter um outro encanto, se me faziam lembrar dele, ou uma outra insignificância, se nada tivessem a ver com ele.
Há um ano atrás eu tinha finalizado um percurso sinuoso, vertiginoso, para abraçar algo novo; para me deixar abraçar, o que também era algo novo.
Há um ano atrás tudo o que eu tinha era um amontoado de anos mais ou menos iguais, mais ou menos mornos. Hoje, um ano inteirinho depois, tenho uma nova colecção de risos e recordações. Não imaginaria nunca o que poderia mudar num ano; tanta coisa! Toda a minha forma de ver a vida e os outros!
E, agora que já passou um ano, dia após dia dou por mim a pensar "há um ano fizemos isto", ou "há um ano fomos ali pela primeira vez", ou "há um ano nasceu esta brincadeira"... Há um ano atras eu estava a apaixonar-me pelo meu amor.
Os dias estão a ficar novamente soalheiros e quentes e eu sinto em mim aquela excitação de me estar a apaixonar outra vez porque, agora que já passou um ano, eu já posso pensar "no ano passado fizemos assim e fomos ali", e isso enche-me de vontade e de expectativa para ver o que o nosso segundo ano nos ira trazer. Apaixonar-nos de novo!

"Ao Sabor do Momento", de Melissa Bank

Ouviram falar da loucura da Editorial Presença? Pois eles publicaram na sua página do Facebook que havia livros grátis...e era verdade... fazia-se Like, seguia-se algumas instruções, partilhava-se com os amigos e eis uma lista com dezenas de livros, dos mais variados géneros, que podíamos escolher e só teríamos que pagar os portes de envio (2,80€). Eu ganhei três. O meu respectivo ganhou outros tantos e teve a fineza de mos oferecer... quem tem um Amor maravilhoso, quem é? =)
É certo que a esmagadora maioria dos livros não eram best-sellers ou de escritores muito conhecidos... mas eram livros grátis, bolas! E escandalizou-me um pouco a lata de algumas pessoas que postaram comentários a desdenhar dos livros disponíveis... Enfim...
 
Este livro foi um dos que veio parar cá a casa à conta do dito passatempo. E que deliciosa leitura, foi... Tão ligeiro e bem disposto. Estava a precisar de um livro pouco absorvente, leve e alegre e deu-me um enorme gosto lê-lo... A nossa personagem principal e narradora é muito pouco "heróica", muito pouco admirável, muito pouco coerente... É uma rapariga oriunda de uma família judia, mas que não é muito dada nem à religião, nem às pessoas, nem a coisa nenhuma, para dizer a verdade... É incongruente, mas é carente e cheia de boas intenções e desejos de auto-aperfeiçoamento... Uma personagem que podia ser qualquer das pessoas que encontramos na rua todos os dias. Ainda assim, é uma narrativa interessante e calorosa. Viva a Editorial Presença! =)

08/03/2014

"Vôo Final", de Ken Follett

 
Este senhor, o mestre, o rei, o supra-sumo dos thrillers (e dos Pilares da Terra)... este senhor deixou-me muito mal. Abandonei o livro. Eu nunca faço isto. Mas teve que ser. Abandonei a leitura à página 180, não se pode dizer que não lhe dei uma oportunidade... Mas se a história está a ser reles até à página 180, desconfio que não vá melhorar.
Não me puxava. Não vi uma história ou trama ou o famoso frio na barriga que os thrillers provocam. As personagens não me despertaram simpatia ou interesse.
Segunda guerra mundial; uma Dinamarca ocupada e uma fina rede de espiões que tenta apurar se os nazis têm no país ocupado alguma espécie de radar ou tecnologia que lher permite saber informações acerca dos movimentos da RAF britânica. Até aqui tudo muito bem, mas aquilo é uma novela. Um jovem Harald Olufsen, que é irmão de Arne, piloto da força aérea dinamarquesa, noivo de Hermia, que está na Inglaterra e lidera as operações de espionagem aos nazis, comunicando com Poul, que é namorado de Karen, por quem Harald se apaixona... Uma salgalhada! Medonho!

07/03/2014

"A Herança Bolena", de Philippa Gregory

 
Desta senhora já li "Duas Irmãs, Um Rei", "A Rainha Vermelha" e "A Rainha Branca"... A mulher é uma doida, especialista em literatura do sex. XVIII, mas com uma panca tremenda pela história da Inglaterra, sobretudo o período da Guerra dos Primos e da dinastia Tudor...
Todos os livros dela que li até aqui tinham o condão de nos transportar para a respectiva época; as narradoras sempre participantes, sempre contando a história na primeira pessoa, sempre femininas, num mundo governado por homens quase sempre cruéis.
Neste caso particular, a história é contada a três: após a tragédia da morte de Ana Bolena, segunda mulher de Henrique VIII, Ana de Cléves vem para Inglaterra para ser a nova rainha; ela é uma das narradoras; as outras são duas das suas damas de companhia, Jane Bolena e Catarina Howard que, por motivos diferentes, desempenham papéis importantes nos acontecimentos históricos narrados.
Há sempre uma mistura subtil de História e ficção, é muito envolvente e mesmo emocionante penetrar nos dramas e traições desta corte maravilhosa e cruel.
Desconfio que seja particularmente do agrado de leitoras femininas... digo eu... =)

05/03/2014

Voltei...

...foi pouquinho. Dois dias completos em Londres, mas não dava para mais, por questões de agenda, de tutão e da minha ansiedade por estar fora do ninho... =)
Mas foi magnífico! Andei quilómetros e ganhei uma bolha no pé mas vi (quase) tudo o que havia para ver e tenho a certeza que seria impossível aproveitar mais e melhor do que eu fiz.
Para quem conhece bem as ruas do Porto e a sua linha do Metro, Londres é um pouco familiar, ainda que numa escala maior. É fácil orientarmo-nos; não é fácil entender as pessoas, mesmo que se domine o Inglês. É uma cidade frenética. Não se pode hesitar. Se se hesita na saída do metro há logo alguém que pede licença ou vem contra nós; se se pára na rua para uma foto, somos abalroados. Se vamos atravessar a rua, temos que olhar para todos os lados porque mesmo que não venham carros (e nunca se sabe se vêm da esquerda ou da direita) é bem provável que venha de lá uma bicicleta com um ciclista muito impaciente a pedalar. Se se pede uma sandes numa cafetaria mas não se pedir um talher ou um guardanapo ou uma bebida também ninguém pergunta se os queremos. Se vamos numas escadas rolantes temos que ir sempre encostados à direita porque há gente que sobe ou desce as escadas a correr, apesar de elas serem rolantes. É tudo frenético. Hesitar leva a atropelamentos e insultos.
Ouvi tanto português como inglês. E italiano. E francês.
Em todas as esquinas há surpresas e histórias e imagens conhecidas de filmes, documentários ou fotografias.
E há narcisos. Em todos os canteiros, em todos os jardins. Muitos narcisos amarelos, a minha flor favorita!
E é tudo caro. A comida é cara. Os transportes são caros. Mas a cultura é barata. Visitei dois dos melhores Museus do mundo (o Museu de História Natural e o Museu Victoria & Albert) de borla e comprei um livro que cá custa 19,99€  por 7,99£, que dá menos de 10€.
Estou apaixonada!
Prometo algumas fotos para breve... =)

01/03/2014

Bem....

Vou só ali a Londres e já venho!
Bom inicio de semana para todos!!!

23/02/2014

"Memórias de Um Mestre Falsário", de Graham Joyce

Participei num passatempo do Facebook cujo prémio era este livro; vi-lhe a capa e li a sinopse que encantam pelo despretenciosismo e graça:

 
William Heaney é uma fraude. Ainda assim, uma fraude cheia de charme. Escritor de talento, prefere escrevinhar poesia para um amigo (que se torna famoso à conta disso). Produz também primeiras edições falsas de obras de Jane Austen para espoliar os tolos e ambiciosos coleccionadores de primeiras edições. Mas não é maldoso. O dinheiro vai direitinho para um lar de sem-abrigo, e os seus crimes na verdade não fazem mal a ninguém. Há razões para não ter chegado mais longe. Quando jovem fez algumas coisas de que se envergonha.

Ah, e vê demónios!

Esta é a sua história. A história de um homem que vive com remorsos, que bebe demais, que é refém do seu demónio e é capaz de ver os dos outros: figuras sombrias, indistintas, esperando, alcandoradas no ombro das pessoas. À espera de um erro, de um momento de fraqueza… Entretanto, William aguarda sem saber bem o que aguarda. Algo que o resgate dos sofrimentos do mundo? O amor? Mas até lá, toma-se mais um copo?...


Fiquei à espera de uma narrativa mirabolante, cheia de salas escuras a cheirar a químicos e fugas apressadas às autoridades, assim ao estilo de "Apanha-me se puderes"... Apesar de não estar nem próximo disso, o que encontrei não me deixou insatisfeita. O palco é a cidade de Londres e são dadas, quase sem notarmos, todas as coordenadas, ruas e bares duvidosos onde o nosso protagonista se desloca, tendo uma especial preferência por bares ou pubs obscuros onde algum escritor famoso costumasse destilar a sua inspiração. Pode-se fazer um roteiro desses locais. É um pormenor engraçado...
William Heaney é narrador e protagonista; charmoso, sem dúvida, com um humor e sarcasmo muito tipicamente masculinos. Gosto disto. Gosto de romances que gritam que foram escritos por homens; falta-lhes algo de pegajoso que as escritoras femininas costumam ter.
Conhecemos o seu círculo de amigos e conhecidos, personagens muito diferentes, muito bem caracterizadas, correspondentes cada um ao seu próprio tipo. E pela voz de William são contadas, mais ou menos em simultâneo, três histórias diferentes: a do seu presente de mestre falsário, que afinal não o é assim tanto. É mais como um Robin dos Bosques da actualidade. A da sua juventude sombria, na Universidade, de onde vem a sua familiaridade com os demónios (que mais não são do que os medos e os fantasmas de cada um), e ainda a história de Seamus, um veterano da guerra do Golfo que tem um impacto brutal na vida de William.
 
O livro devora-se e, lamento dizer, mas o final luminoso e optimista deixou-me tremendamente insatisfeita. Não é que eu goste que aconteçam desgraças às minha personagens, atenção. Mas a história que se constrói ao longo do livro é densa e esperava um final a condizer, em vez de um em que tudo se sana e fica leve e feliz... Só tenho pena deste pequeno pormenor... pequenino...

14/02/2014

"Acácia - Ventos do Norte", de David Anthony Durham


Ora porra...gostei mesmo. E digo "ora porra" porquê?
Porque esta saga, composta de 3 volumes, foi transformada pela editora portuguesa em 6 volumes, sendo que cada um dos originais, foi dividido em 2. Deste modo, a curiosidade pela capa e pela sinopse levou-me a ler o primeiro volume, na esperança de não gostar da fantochada de um mundo todo alternativo e coiso... mas afinal gostei. E agora cá estou eu à caça dos seguintes volumes... Quem me manda pôr-me a jeito??

Acácia é a ilha a partir da qual é governado todo o Mundo Conhecido. As suas várias nações vivem em paz há 22 gerações, governadas pela família Akaran. Mas uma disputa antiga, que enviou uma velha família nobre de Acácia para o exílio nas terras geladas do Norte, é reacesa quando o Rei é assassinado e os seus 4 filhos separados e escondidos em locais seguros.
A aparente paz de Acácia é mantida graças a um pacto feito pelo primeiro rei com um povo vizinho, comprometendo-se este último a fazer entrar drogas no reino, que mantêm o povo dócil e fácil de manipular, em troca de um tributo de crianças acacianas que lhes são entregues periodicamente, para serem usadas presumivelmente como escravas.
É contra este sistema que os rebeldes do Norte se insurgem e o leitor é confrontado com um dilema moral acerca de quem são os bons e os maus da fita.

A elaboração desse Mundo Conhecido, diferente de tudo o que existe no nosso mundo, das suas culturas, tradições, religião, língua, foi feita de forma fascinante. Senti-me realmente "absorvida" por algo de diferente, cheia de curiosidade e empatia pelas diversas personagens... e não sei quanto tempo irá durar a angústia da procura dos volumes seguintes... Espero que não dure muito!

Karma? ...és tu??

Odeio o dia dos namorados. Odiava-o antes de ter namorado. Odeio-o este ano da mesma forma... tanto que não tinha nada mais combinado com o respectivo além de um jantar de pizza e ver um filme com uma mantinha no colo...

...e eis que o rapaz, que já ontem se queixava de mal-estar, me acorda hoje tão doente que se calhar nem o vou ver, para não me pegar os vírus... Ora porra.

Sr. Karma, já percebi.

11/02/2014

Esquizofrenias

Dentro de mim há mundos. Há muitas mulheres: a dócil, a passiva, a fria, a orgulhosa, a solitária, a carente, a ácida, a amante... Há homens também. Há dias de um pragmatismo e inocência quase masculinos. E há bestas: há feras enraivecidas e irracionais.
Dentro de mim há lugar para todos eles. Às vezes cedem o lugar dominante uns aos outros de forma pacífica; são as variações de humor que vêm com os dias e as variações do próprio estado do tempo. Outras vezes, infelizmente, confrontam-se em debates brutais para apurar qual se irá impor.  E aí eu ouço vozes na minha cabeça, sinto impulsos ora destrutivos, ora pacíficos, alternando-se de minuto a minuto. São dias de exaustão emocional, em que me sinto cansada e frágil.
Não os sei explicar a quem me questiona acerca da estranheza do meu humor. Não os sei explicar sequer a mim própria.
Quando penso neste fenómeno, dou por mim a desejar com todo o coração que a Briseis dócil, serena, "masculina" se imponha mais frequentemente.
Pode-se dizer, acho, que tenho em mim uma versão um pouco mais elaborada e insana do Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Será maravilhoso se conseguir alternar entre as minhas várias naturezas tirando partido do melhor de cada uma delas em cada situação. E será catastrófico se, em vez de as domar a elas, me domarem elas a mim, numa espiral de descontrolo imprevisível e fatigante.

06/02/2014

Para não me esquecer

O Amor não e um teste. Não é uma prova que presto ou ele me presta todos os dias.
A minha ansiedade desvairada e ridícula faz-me, às vezes, quando ando em "modo esfregão", pensar que não estou "apta" ou "capaz" de ser quem ele conhece e quem ele espera encontrar em mim. Este é o meu terror, para com ele, para com todo a gente, para com o mundo. Algo em mim se desliga do exterior e sinto-me desajustada e estranha e ameaçada. Ele também me assusta quando estou assim. Porque ele é o meu Amor. Se há alguém no mundo para quem eu quero estar sempre bem e dar sempre e só o melhor de mim, é ele. Logo, a minha responsabilidade e o peso que sinto para estar bem com ele é incalculável.
Mas o Amor não é um teste. O Amor não requer o melhor de nós todos os dias. O Amor é precisamente a antítese disso: é o compromisso trocado entre duas pessoas de que vão compreender-se e apoiar-se e esperar-se todos os dias, cada dia. Sem pressão, sem pressa. Adaptando-nos um ao outro como a roupa se adapta ao estado do tempo.
O Amor é a manta que sabemos que está à nossa espera quando regressarmos a casa. É a palavra apaziguadora e reconfortante que nos compreende sem necessitar de entender racionalmente as nossas razões.
O Amor é uma declaração feita todos os dias; uma declaração de que nos gostamos, nos queremos e de que nos sentimos a falta na ausência. O Amor é algo bom. E é uma arma que tenho agora para combater a minha ansiedade e os meus medos. Não devo ter medo do meu Amor.
É insano colocar sequer essa hipótese.

05/02/2014

"O Leitor", de Bernhard Schlink


Já vi o filme há bastante tempo, e desde essa altura me ficou uma curiosidade por ler o livro.
Talvez tenha escolhido um tempo um bocadinho infeliz, pouco depois de terminar a leitura de "Ele está de volta", que relata um hipotético regresso de Hitler e a retoma dos seus planos para dominar o mundo, e na semana em que se celebrou o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto, a 27 de Janeiro...
"O Leitor" é um livro que se sente. No período do pós-guerra, uma geração jovem vê-se a braços com o dilema de perdoar, ignorar ou condenar abertamente os crimes levados a cabo, activa ou passivamente, pelos seus pais.  Michael é um jovem invulgar, que conhece uma mulher invulgar em circunstâncias invulgares também. Começam uma relação que se pauta por encontros regulares em que ele a visita em casa, lê para ela páginas e páginas de livros e, depois, fazem amor... Este romance quase idílico tem um fim repentino, quando ela, Hanna, desaparece sem uma palavra. Anos mais tarde, enquanto frequenta o curso de advocacia, Michael volta a vê-la, numa sala de tribunal, sendo acusada, com um grupo de mulheres, de crimes contra os judeus nos velhos campos de concentração.
O livro é uma reflexão profunda do significado dos sentimentos e das emoções, do peso do nosso passado e da nossa capacidade de ocultar um segredo a todo o custo. É uma história de redenção e rancor e perdão. Um livro onde, me pareceu, a palavra mais repetida é "embotado". Parece uma contradição, um livro onde o narrador, o próprio Michael, afirma tantas vezes ter os sentimentos ou o pensamento embotado e que, no entanto, reflecte tão profundamente sobre os temas apresentados.
É pequeno. Lê-se bem. Leiam.

03/02/2014

Michael Bublé na Meo Arena


Oh, senhores... que classe, que graça, que charme, que voz...! Que espectáculo!
Um artista que chamou "crazy bitch" a uma fã que veio de Espanha para o ver, e que beijou o palco no final do concerto... Foi único. O melhor presente de aniversário de sempre! sim...estive desde meados de Dezembro em pulgas para isto! =)

Fantando-me as palavras, achei este texto maravilhoso porque me fez reviver alguns momentos: http://myway.pt.msn.com/noticia/michael_buble_em_lisboa_senhor_amor_19129.aspx

28/01/2014

Estou zangada

...e isso não tem nada de mal, certo?
Dou-me conta, nestes dias em que estou em "modo esfregão".... Já falei disto aqui, certo? Modo esfregão. Há dias em que uma pessoa se sente bem, bonita, capaz... E há dias em que nos sentimos um esfregão, daqueles muito enxovalhados e gastos e repelentes... Tenho andado em modo esfregão. E passo um lápis negro sobre a linha das pestanas, de modo a levantar-me o olhar, ou um bâton garrido que desvie as atenções do meu rosto pálido... Mas, ainda assim, estou em modo esfregão.
Dizia eu, então, que nos dias em que estou em modo esfregão apercebo-me com terror da fragilidade de tudo.  Não sei... Como se estivesse a usar óculos demasiado graduados, que me fazem ver mais do que queria e me deixam com náuseas ao mesmo tempo. Quase consigo ver o sentido das coisas, da própria Vida, e esse sentido resume-se a nada. Somos formiguinhas. Minúsculas e pouco inteligentes, ridículas na nossa azáfama, na nossa rotina que alguém se lembrou de criar e que vamos seguindo de forma mecânica, muito pouco inteligente. E acho tudo insuportável. Tudo ridículo. E eu, mais ridícula ainda, por não conseguir misturar-me. E tenho medo das pessoas. Um medo cego e irracional. Medo da sua simpatia e mais medo ainda da sua crueldade. Não me zango. Tenho medo de me zangar com as pessoas, medo de queimar pontes. Perco a noção do que me pertence por direito e daquilo que ultrapassa esse direito e onde eu deveria ceder. Sei que estou em desequilíbrio e isso destrói a confiança que tenho nas minhas próprias emoções e razões.
Então, estou zangada. Estou zangada com as pessoas que conheço e que me desiludem, com as pessoas que fazem disparates, que são mesquinhas ou más... Estou zangada porque a alternativa a isso é ficar triste... E acho que já andei triste tempo de mais. Seja zangada, então.

24/01/2014

"Onde Crescem Limas Não Nascem Laranjas", de Amanda Smyth


Comprei o livro em 2010... Sim, a sinopse agradou-me mas confesso, envergonhada, que me deixei levar assim que vi a capa... =)

Na altura, a leitura revelou um livro frouxo, como acontece tantas vezes. As ilhas de Trindade e Tobago são o palco onde se desenrola a história. Celia foi criada pela tia Tassi, porque a sua mãe morreu ao dá-la à luz e o pai é um inglês que nunca a conheceu. Sentindo-se sempre desajustada daquela vida, sonhando com o pai e uma vida em Inglaterra, decide fugir de casa, na aldeia de Black Rock, em Tobago, depois de ter sido violada pelo tio, um homem cruel e alcoólico. Parte para Trindade e ao longo do livro vamos acompanhando os seus dias, o trabalho, a descoberta do amor, das suas alegrias e da infelicidade do abandono... Sempre com uma previsão dada pela velha adivinha da aldeia a pairar sobre a sua cabeça como uma nuvem negra: o seu destino seria infeliz; quem amasse, iria partir-lhe o coração, assim como ela partiria o coração de quem se interessasse por ela.
Voltei a lê-lo nestes dias. Tinha a firme convicção de que me desagradaria igualmente e o destinaria a alguma venda ou troca pela internet. Mas soube-me bem!
A narrativa é lírica, quase noveleira. Encanta a descrição da natureza do arquipélago, das plantas, do calor, do quotidiano dos trópicos. Embora a heroína não desperte particular admiração ou empatia, fui-lhe seguindo os passos com certo interesse e compadeci-me do seu infortúnio. Quem sabe? talvez me tenha comovido por agora, ao contrário da primeira vez que li, saber o que é ter um amor e sentir o terror de o ver desmoronar? quem sabe?
Para já, não o vou vender ou trocar. Vai continuar na minha estante. A sua bela capa.

12/01/2014

"Ele está de volta", de Timur Vermes


Adolf Hitler acorda num baldio no meio da Berlim contemporânea, meio desorientado e com a farda a cheirar a querosene. Rapidamente se apercebe que algo de muito estranho aconteceu porque não há bombardeamentos ou ruínas; é ajudado pelo dono de um quiosque ali perto, que pensa tratar-se de algum vagabundo que se desentendeu com a mulher, embora se pareça muito com certa personagem histórica, até nos modos, e aquela farda que não lembra a ninguém...E assim começa esta história, narrada na primeira pessoa.
Desconheço os pormenores da vida de Hitler, mas li que o livro está muito bem escrito, num estilo que se assemelha ao do Mein Kampf , tornando-o arrepiantemente verosímil.
E é mesmo assombroso eu ter acabado por "simpatizar" com este herói involuntário que vê na segunda "oportunidade" que lhe foi dada de cá vir a prova de que ele iniciou uma demanda que só ele próprio pode concluir, desta vez servindo-se das tecnologias, a televisão e a internet. Nunca assumindo abertamente a sua verdadeira identidade, deixa as pessoas pensarem que é um comediante que leva o seu papel de interpretar o führer demasiado a sério e, num tom meio brincalhão, meio de mau gosto, vão sendo partilhadas connosco as interpretações que ele faz do modo como vivemos hoje, desde as nossas relações pessoais, até à economia europeia e a revolução tecnológica. É um livro de duras críticas e ironias aos nossos dias, feitas por um homem que, historicamente, cometeu das maiores atrocidades na tentativa de criar a raça e o mundo perfeitos.
Apesar disso, merece respeito por ser uma análise cuidada e quase minuciosa dos aspectos ridículos com que estamos habituados a lidar no nosso dia-a-dia, sobretudo no que respeita à falta de seriedade ou carácter da classe política.

11/01/2014

o que fazer?

... o que fazer quando uma situação que estava ultrapassada regressa para nos assombrar?
O que se faz quando, após uma escalada longa e laboriosa, um pé escorrega e perdemos uma parte grande da altura que conseguimos tão alegremente conquistar?

Por mais que eu queira chorar e desistir de lutar contra o impulso de tremer, sei que a resposta correcta é: NADA. Não se faz nada. Não se olha para baixo, não se vê que estamos próximos do chão outra vez. Continua-se a olhar para cima e, agarrado à ideia de que não foi tanto assim o que se perdeu, retoma-se a subida para recuperar o mais rapidamente possível do deslize. Não se faz mais nada. Não se desce até ao chão e à segurança para ficar em posição fetal e tentar esquecer que vimos as alturas. Nem se fica imóvel no meio do nada, demasiado teimoso para descer e demasiado medroso para continuar a subir. Então, se não se desce nem se fica no mesmo sítio, para cima é que é caminho. E as mãos podem arder do esforço e o corpo pode acusar o cansaço, mas ambos têm determinação para continuar; mais um bocadinho. Mais o que for preciso.

Então, eu não vou fazer nada. Talvez chore, por uma questão de revolta e descompressão. Mas de resto, nada.