- Esses dias eu comprei este saco de bala de paçoca num semáforo. Achei bem ruim. Quer uma?
- Sou contra esse tipo de coisa.
- Comprar coisas em semáforo?
- Não, não. Disso sou a favor. Já comprei de tudo e sempre dá para negociar. O último globo terrestre que adquiri, comprei em um farol do Butantã. Acho que na rua Vital Brasil. O vendedor me fez pela metade do preço e, como não tinha troco, me voltou uma bóia do Pato Donald. Farol é garantia de bons negócios.
- Nem sempre. Essa bala de paçoca aqui é horrível.
- Acredito. Mas como eu dizia, sou contra esse tipo de coisa.
- Não falou o tipo de coisa. Semáforo? Paçoca? Bala? Não entendi.
- Sou contra coisas que emulam outras coisas que são feitas de outras coisas.
- Você é contra bala de paçoca?
- Isso. Mas não só. Toda paçoca é de amendoim, correto?
- Parece que tem uma paçoca no nordeste que é salgada e é feita de carne. Serve essa?
- Não serve. Esotu falando da paçoca doce, a que nós conhecemos como paçoca. Tipo a Amor.
- Tipo a Amor, então aí, sim, todas são de amendoim.
- Certo. Nesse caso, então, a bala teria de ser de amendoim, não de paçoca. Qual a diferença entre uma bala de paçoca e uma bala de amendoim? Nenhuma. Então, a bala de paçoca é uma enganação.
- Desenvolva.
- Para ser uma bala de paçoca, ela deveria esfarelar, já que a principal característica da paçoca, ao lado do fato de ser se amendoim, é esfarelar. Mas a partir do momento que ela esfarelar, vai deixar de ser bala e se tornará uma paçoca. Bala e paçocas são antíteses. Não se pode criar balas de paçocas assim como não se pode criar paçocas de balas de amendoim.
- Mas criaram. Olha aqui na minha mão: tenho um pacote pela metade de bala de paçoca. Como você chama isso?
- Bala de amendoim querendo te enganar. Aliás, me dá uma, para eu experimentar.
- Pega todas.
- ...
- Gostou?
- Argh! Parece que tem areia dentro. Acho que tá podre.
- É a textura do tipo paçoca que dá a impressão arenosa na bala.
- Nossa! Eu já era contra na teoria, agora sou contra na prática.
- Falei que era ruim.
- Então,mas essa minha implicância com coisas que emulam outras que são feita de outras vai além da bala de paçoca. Por exemplo, pastel de pizza.
- Aquele que vai queijo, orégano e tomate?
- Exatamente. O pastel de pizza me irrita porque tem um nome muito genérico para algo bem singular. Existem pizzas de atum, pizzas portuguesas, pizzas quatro queijos. Acho que o pastel deveria chamar pastel de pizza de queijo, tomate e orégano. Porque deixando o termo "pastel de pizza" em aberto, o vendedor poderia, em tese, enfiar o que quisesse dentro e dizer " é de pizza de atum", "é de pizza portuguesa" e assim vai.
- No caso, o mais correto seria chama de "pastel de queijo, tomate e orégano", porque de pizza ele não tem nada. A não ser que o pastel de pizza passe a ter, dentro dele, massa de pizza. Nesse caso, o nome pastel de pizza teria a ver.
- Pois é, é muita falta de lógica. Isso me irrita. Muito. Extremamente. Absurdamente. Fico uma fera. E me dá mais uma bala, porque minha boca ficou seja.
- Mas só tem a de paçoca.
- Me dá já!