sábado, 20 de agosto de 2016

UM PEITO DE MAR



É numa enseada a transbordar de calmaria, cúmplice dos meus encantos e desencantos, que solto amarras ao olhar faminto por um elasse a uma esperança fugidia.

Sou um barco a deriva encalhado na bruma cega de ausência.

Na orla das minhas palavras dispersas, estio um grito de silêncio angustiado, deixando-me embalar nos braços de um vento cálido e mestiço, que afaga o meu corpo, emprenhado num mar de vontades adiadas.

Não me falem do infinito, ou do além, já não cabe no meu peito mais lonjura.

Tenho pressa do beijo desta maresia que morde os meus lábios ardentes de vazio.

Adamastor, paladino de mil amores náufragos, que perderam o norte.

Eu aqui fundeado nos braços deste mar chão, salgado pelas lágrimas paridas de uns olhos flamejantes, por realizações suspensas em ondas de indefinições.

Não quero nada que detenha e asfixie o meu ego!

Quero a imponência da imensidão, da liberdade, do tangível e a utopia do inatingível.

Quero os meus sonhos, enfunados nas velas da felicidade, velejando nos braços de um mar confidente de mil memórias.

 

DIOGO_MAR

 

domingo, 10 de julho de 2016

ERUPÇÃO DE SAUDADE



Percorro as palavras escarpadas de ausência.

Pontiagudas, cravam-me o peito árido, de vontades amordaçadas.

Faço o meu leito numa cama cheia de vazio, onde me sinto um indigente.

Beijo-te e Abraço-te no imaginário.

Sabes, ainda compro a fragância do teu perfume que inunda o quarto, dando corpo as minhas fantasias.

Guardo a chave do cofre que o tempo nos roubou, encerrando todos os momentos realizados, outros adiados, mas sempre repletos de cumplicidade, e tão nossos.

Percorro o meu leito, tateando o passado, penso em ti, em nós!

Depois desfaleço por sobre os lençóis do desencanto.

O feixe de luz moribundo do candeeiro, desmaiava nas paredes esbranquiçadas de langor.

Corri a cortina, procurando vida para lá dos vitrais.

Contemplei o jardim, o velho mas frondoso plátano, eixava-se embalar pela aragem cálida, que lhe acariciava o corpo.

Não te vislumbrei!

Foi então que o sino da saudade, tocou a rebate dentro do meu despojado peito.

As lágrimas, precipitavam-se no parapeito da minha janela de sacada, palco e fronteira de esperanças abortadas.

Nego-me passar a limpo o rascunhado por nós, guardando na sebenta da nossa mais recôndita memória.

 

 

DIOGO_MAR

domingo, 26 de junho de 2016

O TRAVO DA MENTIRA



Rasgava os dias, como de folhas de papel se tratassem.

A tinta da esferográfica do tempo, eram as gotas da chuva que se misturavam com as minhas lágrimas.

Os momentos eram efémeros, perdiam-se no vazio das horas, salobras frias e impessoais.

Sufocava no meu peito deserto e árido a vontade de ser eu.

Os dias, haviam dado lugar a longas e infindáveis noites de desalento.

Acabrunhado, escondia-me por de trás da cortina de uma alegria mentirosa.

Enganava-me, vendendo uma imagem de aparência destorcida, da minha essência carcomida pela dor lânguida e incandescente da opressão que me violentava.

O meu pensamento velejava à boleia de faluas de sonhos abortados.

Pintava o sol nas paredes do meu coração, emprestando-lhe a luminosidade de que era faminto.

Havia perdido a noção do direito do avesso ou o avesso do direito.

Desdobrava a estrada da vida raivosa, perdida em curvas e contra curvas, desembocando num desfiladeiro de contradições.

Decepado por interrogações, suspiro pelo meu eu.

 

DIOGO_MAR

domingo, 10 de abril de 2016

PASSAGEIROS DO MEU PEITO



Aqui estou perplexo, perdido ou achado, nem eu sei bem, já que o grau de indefinição garroteia a minha identidade.

É como uma névoa que ofusca a essência das minhas raízes.

Derrotas e vitórias, alegria e sofrimento, felicidade e angústia folhas da sebenta da vida, onde rascunhamos amor e ódio.

Eu existo, eu estou aqui.

Hoje mais cansado que ontem, mas com a vontade de me renovar a cada dia.

Os anos vão castigando o corpo, mas a determinação, essa continua intocável, ela é o néctar da minha sobrevivência, numa cúmplice aliança com os meus personagens que fazem de mim o que sou.

Reinvento-me a cada exemplo colhido na vivência de uma estrutura familiar alicerçada no meu imaginário, desnudando-me das roupas conspurcadas de uma sociedade infeliz e submissa aos padrões asfixiantes.

Todos os dias, sumariamos os acontecimentos e de mim e para mim, partilhamos em uníssono sentimentos e todas as agruras a que juntos estamos expostos.

Eles são uma parte integral da minha alma, do meu ser.

São o que não fui, veem o que não vejo, fertilizam de realização as minhas frustrações, encerram o passaporte de tudo que mais almejo.

São o alimento para a alma, são o impulso para a minha travessia.

Amos tanto ou mais que a mim próprio, embora eu seja eles e eles sejam eu, mas cada um com a sua própria personalidade e caráter.

É como se de um fio condutor do meu mais profundo ego se tratasse, que dá corpo as realizações inatingíveis.

É a minha segunda vida.

Sempre vos digo, que ridículo, é ter medo de ser ridículo.

Eu não tenho.

O ADN que comungamos, faz deste relacionamento uma plena reciprocidade, perpetuando um amor sagaz, louco, verdadeiro, cúmplice e fiel, ancorado no cais do meu peito, de amarras presas ao meu subconsciente, onde mordo vontades sôfregas de aportar aos que dentro de mim, tem sido o baluarte da minha sobrevivência.

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 31 de março de 2016

NAS MARGENS DO ERRO



Não, nunca tive pretensões a ser prefeito.

O sabor do erro é tão pedagógico como o não errar.

Vivo na franja do irracional enlaçado com o racional.

As verdades, tanto quanto a mentira, fazem parte do guião ao qual fatalmente estamos ligados uma vida inteira.

A recusa ou a aceitação a luta ou a resignação, leva-nos ao caminho agreste e tortuoso, que calcorreamos de maneira ziguezagueante, durante a incógnita da travessia que envergamos o papel de passageiros do tempo.

Não fui formatado numa redoma de conduta exemplar, porque nunca o quis, gosto de sentir o amargo ou doce, que faz de nós os aprendizes, da escola da vida, onde temos de forma astuta, ter a arte e engenho, para esculpir o nosso caráter e personalidade e até porque não dizer a nossa sobrevivência.

A vida, não é feita de perfeição e de certezas!

As nossas atitudes, muitas vezes esborrataram, uma pintura que quisemos irrepreensível, mas é na rudeza das palavras e dos gestos, carregados de insensibilidade, que nos força a introspeção, rebuscando nas cinzas a ínfima partícula do verdadeiro núcleo da nossa essência.

Não te moldes ao prefeito, porque dessa forma, irás ver a vida passar-te ao lado e vais expelir relutância em relação aos que te rodeiam.

O erro sempre viverá nas margens da perfeição.

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 24 de março de 2016

QUEM SOU???



Sou aquele que amas ou odeias!

 

Sou aquele onde não cabem meios-termos!

 

Sou aquele que não faz nada hipocritamente para te agradar!

 

Sou aquele que vai em sentido contrário aos alienados, que covardemente dizem presente!

 

Sou aquele que acredita no amor eterno enquanto ele dura!

 

Sou o teu melhor aliado numa cumplicie aliança de amizade desinteressada e verdadeira!

 

Sou aquele que não amordaça os sentimentos!

 

Sou aquele que sabe reconhecer o valor de um não e de um sim!

 

Sou aquele que humildemente jamais confunde consenso com submissão!

 

Sou aquele que não se preocupa com o que os outros pensam e digam!

 

Sou Incondicionalmente igual a mim próprio, com defeitos e virtudes, incapaz de prostituir o caráter e a personalidade!

 

Enfim, sou assim e se não mudei até hoje, não te aches suficientemente bom/boa, para julgares e adulterares a minha maneira de estar, ser e viver.

 

Sim, este sou eu!!!

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 10 de março de 2016

ERRANTES



Perdidos nas maquiavélicas e frondosas avenidas do egoísmo.

Ignoramos em absoluto as humildes praças do altruísmo.

 

Alinhavamos os dias suspensos pelo preconceito.

Debruamos com linhas podres de gáudio a bainha do nosso peito.

 

Vagueamos moribundos pelas vielas clandestinas da desumanidade.

Submergimos nos becos lamacentos da cidade.

 

Veneramos à hipocrisia.

Garroteamos o nosso ego, assassinamos a nossa alegria.

 

Jazem os valores da humanidade.

Somos prisioneiros da nossa enfermidade!

 

Profetas das trevas que deambulam pelas escarpas do desespero.

Sobra-nos a sargeta, leito onde fossiliza o nosso desencanto cadavérico e austero.

 

Silhueta de uma assombração, que paira por sobre a nossa vivência

Nós aqui esmagados, perdemos a identidade da nossa essência!

 

DIOGO_MAR