sábado, 24 de setembro de 2016

GARROTE


 
Solto as palavras a polvilharem de melancolia a espuma dos dias.

Acreditei na utopia implícita do teu olhar, que me dizia pertencer.

Mas depois enrolo um cigarro de ausência.

Do meu peito esventrado, jorram vontades náufragas deixadas num cais longínquo.

Jaz na curva do tempo, as realizações que imergiram num oceano de reticências.

Na retina mortiça do meu olhar, restam-me dias órfãos e lamacentos cheios de vazio.

Fio condutor de esperança corroído pela indiferença.

Não quero o fim!

Urge a necessidade suprema de rebuscar forças para reescrever todos os capítulos de uma história inacabada.

Vejo-me ao espelho do tempo, e faço o mea culpa, de covardemente adiar o inadiável.

Circuncisei as minhas vontades que acabaram por se diluírem em promessas inócuas.

Mas porquê esta mordaça à vontade de me reerguer, de poder gritar:

Eu, quero ser eu!

Ó raiva, que me trespassa um peito dilacerado!

Caia a cortina sobre este primeiro ato.

A peça ade ter o epílogo que eu escolher.

 

 

DIOGO_MAR

sábado, 10 de setembro de 2016

AQUI ME TENS


 
Tu não me conheces, aliás poucos são os que me conhecem.

Sou um passageiro do tempo à boleia do vento, que varre a tua hipocrisia para a sargeta do abandono.

Serei sempre a incógnita que habita no livro da tua vida.

Sou imperfeito, porque a perfeição é imperfeita.

Habito o real, na franja do irreal.

Dou-me a quem eu quero, mas só quando eu quero.

Não faço pactos movediços alicerçados em falsas aparências.

Riu, quando por dentro choro, mas também sei chorar quando por dentro riu.

Peso as tuas palavras e messo a profundidade do teu olhar, sem que dês por isso.

Dou guarida ao silencio ensurdecedor que te despe.

Leio nas entrelinhas o que amordaças ou por covardia, não tens coragem para me dizer.

Deixo-me embalar pela tua esperteza saloia, para que no momento certo desfira com mestria a estocada final.

Não me dou pela metade, nem te aceito pela metade.

Detesto meias palavras e frases de indecisão e indefinição.

Ou é, ou não é!

Ou tudo, ou nada!

Não algemo os sentimentos, muito menos consinto que tu o faças.

Por tudo isto, podes-me procurar sofregamente no vazio dos teus dias, ou no recôndito das tuas noites.

Serei a areia fina que te escapa por entre os dedos.

Podes na solidão chamar o meu nome, evocando as tuas fantasias e desvaneios, numa ânsia sem limites.

Sabes, vivo no limiar do racional com o irracional.

Erro, mas não sou errante.

Não me julgues pela minha aparência, mas sim pela minha essência, se conseguires descodificar-me.

No dia que te despojares do alimento podre de preconceito bafiento e queiras incorporar-me, procura-me, estarei sentado à soleira de uma casa chamada tempo, que só estará ao alcance de um número muito restrito de convidados.

Procura-me, encontra-me, ama-me com a intensidade que alguns me possam odiar.

Jamais tive a pretensão de agradar a todos.

Serei o sol da tua sombra, ou a sombra do teu sol.

Sem que tu me vejas, eu vou sempre passar e estar de uma forma indelével por aí…

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

MATRIZ


 
Calcorreia os caminhos de mim

Conhece todos os meus recônditos cantos onde me perco numa cemente de indefinição.

Bebe da minha alma a alegria de breu vergada ao jugo do faz de conta.

A felicidade mora na porta ao lado.

Não sabes quem eu sou!

Eu também não!

Sei que sou, estou, e vou.

Mas será que vou?

Onde e para onde?

Encontras-me a esquina de um tempo adiado de braços abertos, cheios de vazio.

As páginas do livro voaram, entapetando o passado, sobrando a capa e contra capa, onde fossilizou o título:

Quis saber de mim!

 

 

DIOGO_MAR