sábado, 14 de junho de 2008

Elis Regina canta "Romaria"

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Portugal no seu melhor: a agonia do Latim, por exemplo



Veio nos jornais, a partir da agência Lusa: o número de alunos a aprender Latim diminuiu 80 por cento nos últimos dois anos e só em 4 por cento das escolas secundárias se ensina hoje a disciplina, aliás a turmas com o mínimo de alunos. Trata-se, tão-só, da língua que veiculou o essencial da cultura ocidental (de que somos herdeiros, quer o queiramos quer não, quer o saibamos quer não), para além de constituir as fundações da nossa língua, que é hoje falada por quase 200 milhões de falantes.
Por este andar, dentro de poucos anos, na maioria das escolas não vai haver um único professor de Língua Portuguesa/Português - aliás, já há bem poucos - que tenha estudado ao menos um ou dois anos de Latim.
Calculo que os da educação devam estar impantes. Aí está um dado do nosso progresso: os jovens do choque tecnológico não querem saber da língua da padralhada para nada!
E, no entanto, por exemplo, no Reino Unido, cuja língua não é românica (embora dois terços do seu léxico sejam de matriz greco-romana), entre 2004 e 2007 mais do que duplicou o número de secundárias a leccionar a disciplina e há mesmo 2500 escolas do 1º ciclo que dão às crianças introdução ao Latim para as ajudar na aprendizagem da gramática inglesa.
Nem apetece ser irónico.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Ilha de Moçambique, porque é 10 de Junho



A mítica ilha de Moçambique, onde Camões, por volta de 1570, com o livro já acabado, após cerca de dezassete de "exílio" oriental, terá esperado miseravelmente por uma boleia que o trouxesse de regresso à pátria. "Pátria", claro está, é só uma maneira de dizer, como bem se percebe nos finais de quase todos os Cantos, esses sobre que quase sempre pesou, mais do que sobre a Ínsula Divina, um velado silêncio.

domingo, 8 de junho de 2008

Emigrantes portugueses



É tocante vê-los e ouvi-los, na Suíca, onde trabalham na restauração e fazem limpezas, tão entuasiasmados, tão orgulhosos com o seu país, a cepa torta de onde foram obrigados a sair um dia. É o grau máximo da humildade, afinal. O sermão da montanha terá sido dito para eles.

É já em 2013, no fim da próxima legislatura..., disse convictamente o doutor Valter Lemos, mostrando 'fair-play' para com a gargalhada que provocou


Ontem, num encontro destinado a explicar a reforma da educação especial, Valter Lemos manifestou a convicção de que em 2013 haverá em Portugal "uma verdadeira escola inclusiva", uma afirmação que provocou uma gargalhada na plateia, constituída maioritariamente por docentes de educação especial. Aos jornalistas, Valter Lemos disse compreender a reacção dos professores, afirmando que ela é justificada pela história de falta de consistência nas reformas da educação em Portugal. "É a incredulidade normal de um país que se habituou a não ser consistente nas opções que faz. Percebo perfeitamente a reacção dos professores, percebo que haja alguma incredulidade quando se está habituado a tanta inconsistência", disse, e acrescentou que revela "desconfiança em relação à história das reformas da educação em Portugal" e não às políticas deste Governo.Público, 8/6/08.

sábado, 7 de junho de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Splendor in the Grass

"Esplendor na Relva", de Elia Kazan, com a melhor Natalie Wood de sempre.
À atenção da UNESCO: devia ser património da humanidade.
E também devia ser de visão obrigatória nas escolas, já agora.

Sobre a subvalorização da literatura nos programas de Português

Mark Rothko, 1949

Penso que se tal subvalorização triunfasse e se instalasse, ela poderia muito provavelmente representar não só uma severa limitação dos modos de circulação da literatura, mas uma violenta expropriação das possibilidades e do direito de acesso à relação literária, para muitos daqueles que por razões das suas origens familiares e, em geral, sócio-culturais, não terão, fora da escola, muitas oportunidades para se encontrarem com a literatura. Neste caso, como em outros, a demagogia populista, que ‘resolve’ as dificuldades evitando-as, faz o jogo que destinaria a literatura a reserva de elites (se é que elas ainda se dão a tais futilidades).

GUSMÃO, Manuel (2006), “Desde que somos um diálogo”, in: Inês Duarte e Paula Morão (org.), Ensino do Português para o Século XXI, Edições Colibri / Dep. de Linguística Geral e Românica e Dep. de Literaturas Românicas / FLUL, p 24.

sábado, 31 de maio de 2008

Bons negócios, maus sinais...


Noventa mil europeus, esmagadoramente portugueses, a maioria jovens - e dessa maioria, uma boa parte liceais -, deliraram com o "espectáculo incrível" (sic, disseram alguns na TV, entusiasmadíssimos) que uma bêbada decadente, com uma voz miserável e a cair em palco que metia dó, deu ontem à noite no "Rock in Rio".
Bons negócios, maus sinais...

Futuros d-erres brincando à selvajaria fascista


As praxes têm valor pedagógico. Permitem identificar quem, humilhando ou deixando-se humilhar, confunde universidade com pocilga.
João Pereira Coutinho, Expresso, 31/5/08

sexta-feira, 30 de maio de 2008

terça-feira, 27 de maio de 2008

Bem visto

Sistema de ensino: rumo à infantilização crescente
Por Paulo C. Rangel (do Blogue Geração de 60, 20/5/08)

Ao que parece o Conselho Nacional de Educação - com a bênção já há tempos anunciada do Ministério da Educação - vai propor a fusão do primeiro e do segundo ciclos do ensino básico. Medida cujo intuito será o de submeter as criancinhas dos seis aos doze anos ao regime maternal-paternal do professor único (ou melhor, do professor tendencialmente único). Tudo isso com o superior propósito de evitar os traumas da transição de um sistema de um único docente para um sistema de vários docentes.
Em Portugal, continua-se no trilho da infantilização e desresponsabilização de crianças e jovens. Que trauma pode sofrer um ser humano de dez anos por passar de um regime de professor único para um de cinco ou seis professores (se forem dez, como se diz, serão, de facto, demais...)? E esse trauma não se agravará se vier a ser sofrido aos doze ou treze anos, altura em que tem de lidar com todas as mudanças da adolescência?
Aos dez anos, não haverá já maturidade psicológica para viver com a diversidade e a multiplicidade das relações e dos carismas humanos? Não será altura de as crianças saírem do casulo para o mundo multipolar da teia de relações? Não será benéfico conviver com diferentes perfis e métodos de ensino e aprendizagem? Não se ganhará com a competência especializada dps professores de cada área? E já agora que tem isto tudo a ver com a pobreza infantil, que foi, pelo menos, no anúncio dos media, associada a esta reforma visionária?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O serviço administrativo (da coluna de Francisco José Viegas no Correio da manhã)

Serviço administrativo.
Por mais vontade que uma pessoa tenha de deixar um aceno simpático para a ministra da Educação, a verdade é que ela se encarrega de impedir o gesto. Não apenas por culpa dela, mas sobretudo por causa da «doutrina» que domina o Ministério e os seus pedagogos oficiais. É por isso que a ministra diz (numa entrevista à TVI) que a liberdade de escolha é nefasta e prejudicial e é por isso que admite veladamente que o caminho para acabar com o insucesso escolar é o fim das reprovações. Todos sabemos de onde vêm essas ideias e todos (com as naturais excepções dos génios que a ministra tem a cercá-la no ministério) sabemos que os resultados podem ser bons para as estatísticas mas são maus para o ensino. Os governos pensam que um bom ministro da Educação se deve limitar a pôr a casa em ordem; isso, a ministra fez. Mas pedia-se mais: uma mudança na cultura da escola, um sinal de que o ministério não quer apenas melhorar as estatísticas, mostrando serviço administrativo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Professores a darem despesa...



Agora são os chumbos que custam muito dinheiro ao país, isto é, são os professores a darem despesa, sem haver necessidade. Pensava que os chumbos já fossem residuais, mas, afinal, mesmo os poucos que vai havendo ainda são o maior sorvedouro de dinheiro mal gasto de todo o estado português.
Não deixa de ser extraordinário: uma reprovação bem acompanhada não resulta, mas com uma ou sucessivas transições artificiais já o problema fica resolvido... Pensando que a escola pública vai sendo cada vez mais para os "filhos dos outros", "coitaditos", por lá andarem a "socializar" e a adquirir "competências" (seja lá o que isso for)... Chumbos para quê, afinal?

Que a escola não as abandone

Crianças guineenses: têm como língua materna um crioulo de base portuguesa ou uma língua africana sem escrita, estudam (em) Português. Que a escola não as abandone. É caso para dizer, ao contrário dos Pink Floyd (terão filhos, ou serão apenas uns tipos cheios de dinheiro e de "liberdade"?) : Teachers! Don't leave the kids alone!

É uma linguista (Inês Duarte) que o diz: ensine-se explicitamente gramática!


Nas últimas décadas, a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua tem sido subalternizada nas aulas de Português.

Porventura por influência das abordagens comunicativas dominantes nas línguas estrangeiras, tem-se atribuído a tal reflexão um papel secundário ou meramente instrumental – o da correcção de erros de uso.

Os efeitos desta filosofia são conhecidos. Os alunos concluem a sua escolaridade secundária sem consciência explícita das regularidades da língua, dos tipos de unidades que formam as palavras a as frases, dos paradigmas flexionais, dos processos de formação de novas palavras, dos padrões de articulação entre frases. O seu fundo lexical activo e passivo é mais restrito do que seria desejável. São notórias as suas deficiências relativamente ao domínio das convenções ortográficas e das regras de pontuação.

Sem retirar às aulas de língua materna o objectivo de trabalhar as modalidades ouvir/falar, ler/escrever, sustentamos que elas são o espaço curricular em que a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua deve caber como componente autónoma. Sustentamos que é necessário dar aos alunos, nas aulas de Português, múltiplas ocasiões para um trabalho “laboratorial” sobre a língua, desligado dos objectivos comunicativos com que a utilizamos como falantes.

Inês Duarte, “Oficina gramatical: contextos de uso obrigatório do conjuntivo”, in Para a Didáctica do Português – Seis Estudos de Linguística, Lisboa, Edições Colibri,1992, p. 165.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Poema de Vasco Graça Moura


lâmpada votiva/3

agora deu-se à terra o que é da terra
e as flores amontoam-se em sinal
de ser fugaz a vida, sobre a cal.
e enquanto cada dia desaferra,

com seu sopro bravio virão ventos
e as gaivotas, levando-lhes outras vozes,
uivos do mar, pios, metamorfoses.
nada ela escutará nesses momentos.

haverá fumo e fogo, deslembranças,
ecos, recordações, nuvens, ruídos,
outros cortejos tristes, recolhidos,
ali por perto hão-de brincar crianças

num jogo descuidado. um grupo vence-o.
mas fica a minha mãe posta em silêncio.