7 de out. de 2013

Escrever

É como mobiliar uma casa vazia.
Às vezes começo colocando um sofá e tapetes na sala. De vez em quando, os primeiros móveis vão direto para o quarto, e é lá que fico morando um tempão, esquecida dos outros espaços da casa. 
Habitar um novo texto: cada vez acontece de um jeito, mas uma história só termina quando a casa está completa, com roupas dentro do armário, cheiro de bolo na cozinha, portarretratos e objetos espalhando lembranças por todos os cantos.
Enquanto moro nesse lugar, muitas vezes mudo a decoração, hospedo pessoas que vão e vem, aprendo a conviver com quem vai ficando. No final, quase sempre é difícil abandonar essa morada – tudo em volta já se tornou querido e familiar demais. A hora de ir embora sempre é um pouco triste, mas não só:  também fico feliz vendo a casa finalmente pronta pra receber visitas. 
Depois disso, passo um tempo perambulando pela cidade, me atrevo por bairros desconhecidos, descubro ruas simpáticas e, em algum momento, me interesso por outro endereço. Nos primeiros dias, estranho os barulhos da vizinhança, a cara do jornaleiro, a distância até a padaria. Mesmo assim, decido ficar porque, depois de pintar as paredes de branco e passear sem pressa pelos ambientes ainda vazios, sinto o perfume de uma história novinha em folha misturado ao cheiro da tinta fresca.

3 de out. de 2013

relógica

a espera
    estica
o tempo

    no relógio
 outra lógica
 outra língua

um ponteiro no enquanto
outro, no ainda

30 de set. de 2013

Frankfurt

No catálogo da Callis, rumo à Feira de Frankfurt: boa sorte para todos os autores brasileiros!

26 de set. de 2013

Poção

De repente sou a menina que queima a língua sem paciência de esperar o chocolate esfriar.
Às vezes o passado reaparece assim: numa noite fria, com um gosto doce e urgente.
e continuar me encantando com as Reinações da Narizinho

a imagem veio lá do Felicidário.

22 de set. de 2013

Memória

Às vezes, é uma frase ou nem isso: é só o jeito de dizer. Certa música, um cheiro inesperado, coisas que acontecem e imediatamente me colocam em outro lugar, como se eu estivesse sentada, imóvel, na cabine de um trem que me leva em alta velocidade rumo aos meus 7, talvez, 9 anos. Então uma menina acena do lado de fora do trem, sorri pra mim e no mesmo instante já está dentro do vagão, sentada ao meu lado, repetindo a frase ou trazendo de volta o perfume que agora viaja comigo. Não demora, ela se acomoda no meu colo, pouco a pouco adormece dentro de mim e, ninada pelo sacolejo rápido do trem, sonha num tempo que nunca envelhece.

15 de set. de 2013

domingo


meu pensamento voa
pelo espaço
num tempo muito curto:
gira o mundo num segundo

meu pensamento flutua
pelo espaço
num tempo distante:
volta ao passado num instante

meu pensamento decola
pelo espaço
de um outro tempo:
visita o futuro a todo momento

A ilustração é de Wolf Erlbruch

9 de set. de 2013

Como começou

Bem que eu arrisquei minhas pinceladas nas sessões de aquarela que rolaram tempos atrás na casa da May Shuravel -- pra lembrar dessa história basta clicar aqui
O melhor disso tudo foi ter acompanhado o comecinho de "Quando a Lua Tomou Chá de Sumiço", uma lindeza de livro escrito pela Maria Amália Camargo e ilustrado pela May durante aquelas tardes coloridas. Mas o melhor do melhor foi a dedicatória carinhosa que eu, Carla Caruso e Maria Eugenia ganhamos dessas duas comadres talentosas: "uma lembrança das nossas agradáveis tardes de cháquarela". Adorei! 

2 de set. de 2013

Diário de um gato

(...) Nascer foi um alívio. Depois de dois loooongos meses tentando me acomodar entre três gatas folgadas, eu já tinha perdido o humor, não aguentava ficar nem mais um minuto esmagado daquele jeito! Não havia o que fazer, então tive que aguentar firme e esperar a hora certa. Mesmo com todo aquele desconforto, fui um cavalheiro e cedi a vez pra que as três saíssem do sufoco antes de mim, afinal, a situação era difícil pra todos nós! Bom... Confesso que não fiz isso só por gentileza. Quis ser o último pra ter o gostinho de desfrutar daquele espaço todo só pra mim, pelo menos durante alguns momentos. Foi muito gostoso, pena que durou pouco; não dava pra arriscar demais, então finalmente vim ao mundo, o único macho da ninhada, branquinho como neve, e diferente em tudo o mais das minhas três irmãs chatas e acinzentadas (...).

Como tenho aparecido menos por aqui, segue um trecho de um dos motivos do sumiço.
Ao trabalho!

19 de ago. de 2013

Longe

Carros, navios e aviões transportam a gente pra longe -- cidades distantes, países que ficam do outro lado do mundo. Mas só a imaginação é capaz de nos levar ainda mais longe, viajando sem limites até o lugar onde mora a saudade.
...
Uma ideia para a quarta capa da nova edição do meu "Longe", que sai logo, logo pela Salamandra, agora com ilustrações (maravilhosas!) da (megatalentosa) Maria Wernicke. Aguardem!  

17 de ago. de 2013

É hoje!

Eu entendo: num sabadão quieto e gelado como hoje, o que pode ser melhor do que ficar em casa, lendo um bom livro ou assistindo a um episódio de Downton Abbey debaixo do cobertor?
Tenho certeza de que a Maria Eugenia também entende.
Mas acontece que estamos indo pra Livraria da Vila, lá na Fradique Coutinho, torcendo pra encontrar os amigos e festejar o nosso novo livro, tentando ignorar aquele estado de pânico pré-lançamento -- a imagem da livraria vazia, dois ou três familiares sem graça por ali, e nós duas, sentadinhas na mesa, olhando para o nosso Buááá!
Então, é isso. Claro que a gente entende. Mas vamos ficar muito felizes se vocês aparecerem por lá!

12 de ago. de 2013

Lançamento

(...) e quem disse que a gente só chora quando tem problema?
felicidade também vira lágrima,
só que essa nem parece salgada:
é um versão adocicada!

...
Maria Eugenia e eu esperamos vocês no sábado, a partir das 15h, na Livraria da Vila.

8 de ago. de 2013

(*)
Aprisionada no papel em branco, uma história me espreita pelas entrelinhas.

(*) imagem do ilustrador Berk Ozturk.

6 de ago. de 2013

mãe

num agosto de antes
uma manhã igual: clara

no mesmo céu imenso
o vento ainda dorme

uma única nuvem paira

no agosto de hoje
uma manhã igual: eternidade

no quieto das coisas
o tempo finge que para

no sempre da saudade