Bebemos água da serra da Chela. Água onde beberam os bois é que não. É assim que os habitantes do Lubango se queixam sobre as condições sanitárias deficientes na cidade. É sempre o mesmo argumento: a urbe cresceu desproporcionada. A população aumentou, as redes de saneamento básico são as mesmas que os portugueses deixaram aptas para uma densidade de 60.000 habitantes enquanto hoje partilham o mesmo espaço e ar 1.078.215 habitantes numa extensão de mais de 79 mil quilómetros quadrados. (vide http://www.mat.gv.ao/portal mat/ ).
Se compararmos a cidade dos anos 60 e 70 com a cidade do séc.XXI poderemos ver as diferenças. Consultem os blogues http://www.pessoalissima.com/Terra/Lubango/Lubango.html e http://angolalubango.com.sapo.pt/fotos_sabandeira.html ou o blog http://www.sanzalangola.com/galeria/album09 com um espólio iconográfico valioso, que inclui arquivo do arquitecto Ludovice (o riscador de muitos monumentos por aqui ) e um repositório emocional saudosista profundo.
Verificamos o crescimento das casas de adobe e zinco, com o telhado seguro por pedras, sustentadas pelos regatos e poços artesanais e cisternas de manivela municipais. Já não nos orientamos apenas pelas quatro ruas principais hoje escortanhadas por ruas secundárias e com a simetria arruinada pela construção popular que nasceu por onde der. Já não existe o eucaliptal com corvos a grasnar por trás do prédio da Acajobel de que me falou uma querida amiga.
Já não existe a rua do Picadeiro por onde as pessoas passeavam ao fim da tarde em convívio. Hoje chama-se Avenida Hoji Ya Henda, mas ainda por aqui continuam a deambular as pessoas, a cruzarem-se, a comprar o abacaxi ou o cogumelo gigante na vendedora de bacia, a ir tomar o café nas pastelarias ou a saborear o sorvete nas gelatarias ou a ir buscar o pão fabuloso – de miolo cheio e côdea estaladiça e macia que se saboreia na alvorada e ao entardecer ainda quentinho com manteiga a derreter. A aquecer as mãos nas «noites frias da Huíla».
A cidade tem vida, esmorecendo a partir das 9h da noite porque não há iluminação pública espalhada por todas as zonas. Poucas casas comerciais continuam abertas depois dessa hora, com excepção de alguns restaurantes e bares. Destes, o mais conhecido é o Kopus Bar cuja entrada é de 1.500 Kz, mas quase sempre só o homem é que paga. Só aqui digo: «Viva o machismo»!
Também já não existe a fonte luminosa mas ainda lá está, e operacional, a Sé e a praça arranjadinha. Aliás, é o único sítio onde se mantém sempre funcional a iluminação pública. É o centro da cidade e onde se situam os edifícios governamentais e institucionais. Convém, não é?
Ainda existe a piscina da Nossa Senhora do Monte, mas não está operacional. Encontra-se em reabilitação, dizem. Pelas fotos do Antigamente lastima-se que não esteja já pronta e disponível, pois se tratava de um espaço de recreio muito apreciado por todas as famílias de Lubango e arredores. Abastecida com água puríssima da serra da Chela, sempre renovada, bordejada por flores e árvores floridas, tapete de relva e arbustos, prancha e trampolim para saltos. Lindo! Ainda hoje nos enche a vista, mais a memória é certo, por vislumbrarmos o que ainda pode voltar a ser.
Nós queremos ir lá espairecer! Ouça-nos a todos senhor novo autarca do Lubango. Devolva-nos esse prazer, esse lugar lúdico e hedónico. Precisamos de descansar alma, espírito e corpo na doce água da Chela de Ph 5,6. A entrada custa menos que a do Grande Hotel ou do Casper’s.