segunda-feira, janeiro 31, 2022
Drenos
para que nunca esqueças
do quanto custou drenar as flores do teu sangue.
quinta-feira, janeiro 27, 2022
A invisibilidade do teu ser
Como invisíveis, são as roupas dos corpos
quando despidos.
Sem pele nem alma, pregam na madeira
de uma cama, um orgasmo de memórias
As tuas mãos são PINCÉIS
que nos dedos o teu coração mergulha a tinta.
As paredes brancas, são as tuas telas nuas..
Como pautas descascadas de tons e sustenidos.
Numa orquestra de sons embrulhados em papel, desejosos por uma história, ainda por compor.
A tua cor é SANGUE e vinho tinto...
quando corre nas tuas veias com fluxo e sobre pressão.
Como VERMELHA é a tua boca
quando te mata a fome com palavras quentes...
Condenando o teu ESÓFAGO
Às letras ÁCIDAS que te provocam REFLUXO.
A tua cor é MUDA e transparente...
Silenciada, como o VIDRO dos teus olhos
que o inconformismo salpicou de terra CASTANHA
e encharcou de MAR.
Passam ARCO-ÍRIS de ideias, ofuscando a LIBERDADE da tua mente...
Soltas a mão pintada de fresco, para lhes amordaçar o credo das suas vontades
ESSA TUA INVISIBILIDADE DE SER ...
É AO MUNDO QUE ELA PERTENCE.
domingo, janeiro 23, 2022
Carta à tua ausência
quinta-feira, janeiro 20, 2022
Um punhado de gente pequena...
Que bom que é ser um mortal rotulado com prazo por expirar mas pouco consumido. É como se fossemos um produto gourmet que não se prova porque tem um gosto diferente daquilo que geralmente deixamos no prato numa refeição normal. Não é que tenha mau gosto, mas tem um gosto que não se define e isso é um pouco constrangedor para a alma habituada a paladares pouco profundos.
Olho-me como uma sopa... uma sopa de legumes com textura aveludada. E quando passo pelo dia sem imprimir às pernas passos apressados como numa garfada as inquietudes à solta pelos quintais. Dizem que são aves de penas duvidosas aquilo que saboreio sem cessar... a mim sabem-me a frango do campo com aromas de alguidar.
Hoje acordei com pensamentos de gente pequena, não mais que um metro e meio de altura sem comprimento ideal para abrir uma cova no chão e sem elasticidade facial para sorrir rasgado até atingir o sol em cheio no olho. Não faz mal, faço-lhe carinhos até ele fechar os olhos por sua própria vontade e não por me ouvir rezar por alguma escuridão porque a saudade ofusca-me o peito.
E o tempo hoje está tão politicamente correcto que até enjoa os sentimentos... é absurda esta monotonia na descrição humana das coisas que acontecem ou de tudo o que fica por acontecer.
Como se a veia triste pudesse ser um vaso impossível de romper porque o sangue desgostoso flui com gosto e a veia cava da alegria fosse só um caminho ténue para furar alguma angústia.
Enfim, sabemos que até no coração da gente pequena o amor bate com todo o vigor...
Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados
segunda-feira, janeiro 17, 2022
Ode a um "se" poético...
Deixando as suas rotinas mais decoradas e mais bonitas.
Dando corpo às sombras e aos pensamentos, para que possam enroscar-se em mim.
Poeticamente acreditando na vida, sem lhe pedir certezas...
sem a julgar por nada e por coisa alguma.
Entro num frasco de vidro, como uma experiência ainda não concreta...
uma mistura mal amanhada de coração e muita dor.
O mundo mexe comigo...
o mundo envolve-me como um fragmento com corante,
sublima-me a razão, como se ela
sólida mas por instantes, pudesse terminar todos os seus gestos,
numa ingénua nuvem de vapor.
Poeticamente escrevendo sobre a vida,
sem a conhecer bem,
sem lhe adivinhar os rituais e os credos que a conduzem pelo presente.
Como se num poema, coubessem todas as tuas dores mais profundas
como se nele, conseguisses encontrar o ritmo das palavras,
para que as possas fazer, suspirar mais lentamente.
Como se num poema, a tua alma fosse mais límpida e com mais brilho...
Como se... este “se” que não se ausenta dentro de ti...
Este “se” que te atormenta a lucidez
e não te deixa viver,com a tua paz, sozinha e tranquila.
Odeias este “se” quando ele se apodera dos teus dedos e da tua poesia.
Poeticamente, eras um furacão que nada derrubava na passagem,
mas que sabia agitar todas as sensações.
Poeticamente, eras um mar, onde conseguias navegar sem direção
e não te importavas com nenhum naufrágio,
desde que pudesse dar à costa , com a tua alma despida.
Poeticamente, eras tempo sem medida,
com um pé no passado e o outro no presente,
sem medo de os calcar simultaneamente ,convicta e decidida.
Não te reconheces nesta poesia, falta algo para a sentires novamente tua.
Falta-lhe o coração acelerado...
Falta-lhe o erotismo dos corpos tatuados com uma só letra...
Falta-lhe a chama sedutora dos versos metáfora...
Falta-lhe a cor que encontravas, até com os olhos enterrados na escuridão...
Este “se” que não se resolve...
que não se compadece, com a tua procura amarrada firmemente,
às linhas e aos parágrafos de uma folha de papel.
Este “se” que não sente a dor dos teus dedos
pressionados contra o negro de um teclado.
Poeticamente falando da vida...
Poeticamente falando da vida...
Que vida, escrevo neste poema ?
domingo, janeiro 16, 2022
Meditação forçada
Inspiramos o ar frio das manhãs, para refrescarmos algum fogo interior, que nos consuma a paciência.
Expiramos vapor de água, em forma de lágrimas mais salgadas, para arrefecer os vulcões da alma.
Inspiramos risos como baratas tontas, porque é suposto para o mundo sorrir.
Às vezes, não encontramos facilmente motivos para sorrir, mas empurramos os lábios para a frente da batalha,
com uma bandeira vermelha e os dentes muito brancos.
Expiramos gargalhadas , orgulhosos pela genuinidade da nossa graça, mas sabemos que ninguém a ouviu.
Mas amamos ser palhaços dos outros.
Inspiramos as flores pelas narinas, como quem inspira droga.
Ficamos viciados pelos seus perfumes e expiramos ondas de carinho a cada passo do caminho.
Inspiramos amor pelos povos e pela natureza, como quem deseja preservar um planeta inteiro.
Expiramos inundações nos rios
e terramotos nos peitos, quando percebemos que para o universo,
não somos mais do que formigas a investir ,no mesmo carreiro.
Inspiramos gentileza pelos poros dos nossos braços...
Como quem confia na certeza de um prolongado abraço.
Mas continuamos a expirar de mãos vazias o apocalipse dos nossos traços.
No princípio de todas as coisas, está o fim de outras tantas...
Pelo meio expiramos vida educadamente.
Quando já não temos forças para tanta inspiração...
Meditamos o mundo com a boca toda fechada.
sábado, janeiro 15, 2022
Cut the blue
with your fingers hot and on fire.
Like blades forged
in a burning sun.
Your face is suspended on a sky wall,
and your mouth spits out oceans.
So blue in the darkness of your eyes...
So black your moonlight...
sexta-feira, janeiro 14, 2022
Gomo doce sem sentido
Minha laranja tão amarga nas emoções...
Meu gomo doce nos sentidos.
És um sol imperfeito,
que me aquece o rosto e
me derrete o tempo nas curvas.
Inspiro o teu perfume,
carregado por uma acidez,
que me corrói as certezas...
Expiro-te do meu ar, delicadamente,
como se os meus pulmões estivessem adormecidos.
Sem nuvens no horizonte,
nem pragas no meu corpo.
Respiras ao teu ritmo
e eu deixo-me ir,
nas tuas folhas verdes.
Fazes de mim, cauda de um vente leste.
Joaninha de asas curtas,
bordadas com transparências nuas
e de histórias esculpida.
quinta-feira, janeiro 13, 2022
Mutações seguintes
É como se fosses entrar, num jogo de tabuleiro viciado. Mas pensar, só por pensar desagrada-te... aborrece-te talvez.
Um pensamento deve ter um fundo. Deve ser criado com uma paisagem, quase como um cenário de um filme.
Um pensamento deve ter roupa, de preferência roupa cara, com várias camadas que não estão , efectivamente à mostra.
Depois, o teu objectivo profundo, é despir cada uma delas... lentamente e sem qualquer ordem específica.
Assim como um "strip-tease" da mente, com a tua alma a servir de mirone e à espera de classificar a tua performance,
de vulgar até uma mais ousada.
O pensamento devia iniciar-se pela fresca, logo pela manhã ao acordar...
É certo e sabido, que é o momento em que o corpo melhor reage aos estímulos e encontra-se mais desperto.
Certo ?... Não, errado!
Os pensadores inatos, de manhã estão dormentes... reagem aos estímulos quase como , se de robots se tratassem.
Não existem pensamentos profundos, só pensamentos "borracha", daqueles que esticamos e esticamos, até a flexibilidade acabar.
Os pensamentos "borracha", também se apagam fácilmente das nossas cabeças.
São quase ligeiras brisas, que só nos refrescam os neurónios e depois partem desfocados, para outro lugar.
São pensamentos rotineiros, mas que não fazem mossa , na nossa alma.
São corpóreos, efémeros...estalamos os dedos, bebemos um café, corremos sem direção pré-definida e eles somem .
Assim, simplesmente... evaporam-se das nossas ideias.
Agora os sacanas dos pensamentos profundos, esses não...
Esses pagam estadia prolongada, fazem da nossa mente e da nossa alma , autênticos "resorts" de luxo.
E por lá ficam, noites e dias a fio a saborear, o nosso interior como se fosse um mergulho em águas tropicais... quente e irresistivel.
Eu gosto de pensamentos profundos, mesmo que eles me tirem do sério, são desafiantes... como o são todos os jogos de tabuleiro.
Tudo o que nos promove, uma acção- reacção do coração, tem um propósito para existir.
É algo que nos preenche, quando encontramos a solução das nossas incógnitas.
Não é fácil, solucionar os nossos pensamentos... nem sequer é simples, descodificá-los.
É como tentar compreender o significado de um sonho... às vezes, não conseguimos encontrar o fio de ligação à nossa realidade e ficamos chocados.
Chocados não de admiração, "chocados" mesmo de sofrer um choque, daqueles que nos percorrem com electricidade todo o corpo.
Talvez a expressão mais correcta, seja mesmo... "ficamos electrocutados".
Um pensamento profundo dá choque, é algo que fica dentro de nós, como se fosse electricidade pura.
Um raio que nos atinge em cheio e nos penetra pelo coração, irradiando o nosso organismo e iluminando todos os nossos sentidos, até cair no pára-raios que é a nossa alma.
Fica tudo lá... suspenso e flutuando com um desfilar de memórias que se apresentam reflectidas nos nossos olhos.
O pensamento perturba, tira-nos o sono e desafia a nossa capacidade de sentir, sem enlouquecer.
Por vezes, os pensamentos enlouquecem-nos e não há nada a fazer.
Apenas , permitir que a sua loucura, não nos desfigure o carácter e a amplitude do nosso ser. ..
continua, numa reflexão perto de si...
quarta-feira, janeiro 12, 2022
Asas de carvão
terça-feira, janeiro 11, 2022
Choque térmico e uma margarida gelada
segunda-feira, janeiro 10, 2022
Mutações
domingo, janeiro 09, 2022
Bird Seeds
Bird Seeds
Se fosses um pássaro para albergar as minhas sementes...
Se fizesses voar do meu ventre seco, as palavras que não te disse, meu criador..
O sofrimento que não amparei, com as minhas mãos cansadas, de não te conseguir abraçar.
No ventre, da minha alma já não te ofereço descendentes para gravares o teu carácter na frontalidade do meu peito.
Se fosses um pássaro, para fazeres voar as minhas sementes, que dentro de mim não nascem...desde que tu em mim morreste.
Soprava o teu corpo pluma para longe, envolto no vento que aquece a minha boca.
Fazia-te regressar ao mundo, no meu útero, quente e protegido.
Longe do frio da terra campa.
Matava as tuas dores, e vestia cores nas suas peles de sombra.
Se fosses um pássaro, entrava nas tuas asas, quando estivesses no olho do furacão... Deixava-me ir, leve e desprendida do meu ser.
Este mês nascias para mim outra vez..
23 voltas ao céu e giravas mais perto do meu chão.
Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados
Bebe chuva menina
No teu terceiro poema, bebe chuva...
Bebe chuva, sempre que o sol em ti tarda a chegar.
E os teus lábios serão salgados, temperados como um arroz cremoso.
Bebe chuva, sempre que a lua os teus sentidos domine.
E os teus lábios serão de pele e sombras vermelhas.
No teu terceiro poema, não digas nada, por entre a boca entreaberta... Bebe chuva e murmura, palavras que falam em silêncio.
Fecha os olhos, não precisas deles para sentires, na tua boca a chuva. A que sabe uma gota de chuva, quando ela se enrosca na tua boca, num prolongado beijo?
Sabe a desejo.
Bebe chuva menina.. Bebe chuva.
Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados
Regresso
Regresso a ti...
Regresso a CASA..
A este lar quente dos meus devaneios da mente.
Tinha saudades tuas e do modo aberto e desprendido, com que me deixavas nas tuas entranhas entrar.
Voltei a casa, ao aconchego, onde deito as minhas palavras, nesta tua cama, vestidas com lençóis de cetim.
Onde exponho o meu corpo, com o mesmo grau de bravura, com que dispo a minha dor.
Sem impor a mim mesma, qualquer limite ou barreira, à minha imaginação e à ousadia do meu ser.
Regresso a ti, de braços nus e violados, só para que o teu abraço, me penetre bem fundo.
O meu beijo
Mural fresco e jovem, que eu quero beijar prolongadamente e recuperar o romance do nosso tórrido passado .
Que bom que é, regressar a ti, minha alma acesa, tão pronta para incendiar a folha de papel.
Que curioso é ver-te aqui, plena de sentimentos
e rebeldias, ainda tão visíveis nos rostos esculpidos em cada parede.
Algumas, sei que já as derrubei, e não deixei nem o vestígio da sua primeira pedra.
Alguém, disse-me um dia, que os passados, nascem com a certeza de que, mais tarde ou mais cedo, serão para serem enterrados.
E os passados enterrados, têm ordem expressa do mundo, para morrerem longe de nós e felizes... E eles morrem, mas escolhem fazer a campa, bem no meio do nosso peito. Enterram-se num buraco bem fundo, para que aos olhos do mundo, pareçam apenas espaços vazios e inofensivos.
Mas tu e eu, sabemos que isso é mentira.. E que os passados, mesmo em nós enterrados e esquecidos, ainda nos matam. São psicopatas do nosso coração, que nos alvejam as catacumbas da mente. E fazem-no sempre, pela calada da noite, para que os nossos olhos despertem.
E os meus olhos despertaram, secos e cristalinos, como tu gostas. Vamos ver o mundo a partir daqui? Como fazíamos antes, com os olhos virados para a lua e a cabeça a viajar, tão distante.