Dizem que a poesia da alma
tem um lugar cativo dentro do meu peito
só porque o meu coração o Amor já albergou.
Mas que faço eu agora, com as palavras de antigamente?
Faço flores de papel com as rosas que cravei nos poemas?...
Faço pássaros da lua e bordo-lhes os meus amores no bico?...
Faço rios de sal e invento um mar mansinho para as estrelas mais confusas?...
Dizem que a poesia da alma
tem um lugar cativo dentro do meu peito...
Mas o meu coração tem quatro quartos e meio por alugar.
Também tem janelas que as lágrimas embaciam
e purpurinas que aos sorrisos
com um brilhozinho nos olhos agradecem.
Dizem que sou uma alma triste...
talvez seja apenas uma...triste alma
que nas palavras recita o pensamento de uma vez só.
Não lhe esconde as angústias...
Não vira as costas aos pesadelos...
Nem tão pouco tem coração de rocha
que aos solavancos as tempestades anuncia.
Ah, mas tem os lábios mais claros e os beijos mais lúcidos
que a tua boca jamais numa simples vida encontrou.
Tem nos olhos a terra mais quente e afável
que o teu olhar assim despido para o mundo um dia provou.
Dizem que sou um pedaço de alma
que o corpo um dia poeticamente rejeitou...
Fez-se a mudança e o coração criou letras órfãs do medo e da dor...
Dizem que a tua poesia tornou-se banal e que os sentimentos perderam o dom de palpitarem nas veias...
Mas os teus dedos...
mas os filhos da mãe dos teus dedos...
ainda deixam marcas pretas na areia
e a tua alma sofre o síndrome de inspirar emoções...
Porque a barriga dos sonhos mesmo faminta
na ponta dos teus dedos jamais se esvazia.
Daniela Gomes Pereira
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