Nassim Nicholas Taleb numa ilustração para a New Yorker (2002)Os aforismos, as máximas, os provérbios, os pequenos ditos e, até certo ponto, os epigramas são a mais antiga forma literária – frequentemente integrados no que agora chamamos poesia. Encerram a compacidade cognitiva do chavão (embora sejam quer mais poderosos quer mais elegantes do que a versão inferior atual), com alguma mostra de bravata na capacidade de o autor comprimir ideias poderosas em meia dúzia de palavras – particularmente num formato oral. Com efeito, tinha de ser bravata, porque a palavra árabe para um dito improvisado é «ato de masculinidade», embora tal noção de «masculinidade» seja sexualmente menos carregada do que parece e também possa ser traduzida por «as capacidades de se ser humano» (
virtude tem a mesma raíz em latim,
vir, «homem»). Como se aqueles que conseguem produzir pensamentos com esse poder fossem investidos de poderes talismânicos. (...) Nunca se tem de explicar um aforismo – como a poesia, é algo que o leitor necessita de enfrentar sozinho.
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Alguns aforismos retirados das partes que li de
A Cama de Procusto, de Nassim Nicholas Taleb:
A pessoa que mais receamos contradizer somos nós próprios.
Se a sua raiva diminui com o tempo, praticou uma injustiça; se aumenta, sofreu uma injustiça.
A procrastinação é a alma a revoltar-se contra o aprisionamento.
É mais difícil dizer
não quando realmente queremos dizer não do que quando não queremos.
Normalmente, chamamos de «bom ouvinte» a alguém com uma indiferença habilmente refinada.
A maioria das pessoas receia perder o estímulo audiovisual por ser demasiado repetitiva quando pensa e imagina coisas por si própria.
É difícil travar o impulso de revelar segredos em conversa, como se a informação manifestasse o desejo de viver e o poder de se multiplicar.
Amor sem sacrifício é como roubo.