O romance entre eles parecia ir bem... muito beijnho, muita conversa, muito mimo. Um dia, sem mais nem menos, ele disse que não era amor. Que aquilo que viviam era um filme de quinta categoria, sem originalidade, totalmente clichê. Ia embora. Não podia ficar mais dividindo a cama com uma mulher tão dada, uma mulher tão dedicada... uma mulher apaixonada.
Declarou todo seu desinteresse por ela, fechou a porta do banheiro e abriu a torneira. O jorro da ducha engolia os soluços que ela derramava na cama. Lençóis cobriam o corpo magro e infeliz que insistia em mantê-la viva... O banho dele demorando-se.
Vestiu-se sentindo uma pontinha de dor... na ponta dos dedos, no canto da unha. Quase indolor, pouco lhe doía. Acendeu o cigarro... usando a fumaça como álibi para sua indiferença ao bater a porta sem olhar para lado algum.
Ela calou aquele choro de piedade insuportavelmente mendicante... Levantou-se, caminhou até a janela com vista para a rua e abriu a vidraça. O ar, o vento, a vida... tudo entrou por aquela minúscula fresta.
Ali, ela sorriu... entristecida e sozinha.... Arrancou do rosto as marcas da despedida com as costas da mão... limpou dos lábios o desejo de pedir que ele ficasse.
Olhou à sua volta: a casa tomada por fantasmas de um amor eterno que sucumbira desde o início... um amor perverso e misterioso. Um desamor. E o que restou do lado de dentro das paredes foi um abandono explícito de corpos que já se consumiram ardentes...
Só lhe sobrou a pergunta: Onde pôr as cinzas em que se transformou aquela paixão?
...Ela respirou as últimas partículas do oxigênio que partilharam... soprou suas esperanças poluídas...
Caiu do décimo andar.
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