O prazer de sacanear um publicitário.
A eterna piada do Toddynho da Daniela Albuquerque.
O nosso dialeto: pescoção não tem nada a ver com girafa, foca pode ser um bicho meigo ou não, e furo não é simplesmente um furo, oras.
Perrengue financeiro cheio de glamour.
A neurose de conhecer todos os assuntos, discorrer sobre todos os assuntos, ter opinião sobre todos os assuntos, afinal jornalista não pode ficar sem assunto.
A imagem de uma máquina de escrever – que ninguém mais usa – como foto de capa do Facebook.
O encanto e a roubada de namorar um jornalista.
A crença de que tudo – até as coisas mais banais – tem uma história oculta e interessante.
O pânico de saber que Pelé está numa UTI bem no sábado de seu plantão.
O dilema “como alguém que reclama tanto da profissão pode gostar tanto dela?”.
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Suporte técnico
Se você não faz ideia de como começar o seu texto, digite “leia mais porque isso vai ajudar você a escrever melhor”.
Se você não aguenta mais receber ligação de assessor enquanto não faz ideia de como começar o seu texto, digite “mande seu release para o meu e-mail que depois eu leio com calma”.
Se você tem dúvidas de Português, digite “deixe de preguiça e dê uma olhada no dicionário”.
Se você não sabe como encaixar o "quem" e o "como" no seu lead, digite “Kama Sutra, mil e uma posições para o seu lead”.
Se você não entende a sua letra no bloquinho, digite “consulte um farmacêutico”.
Se você precisa escrever uma página, mas não tem tanta informação para tanto espaço vazio, digite “punhetação jornalística sem culpa”.
Se o seu computador deu pau e você não salvou o texto, digite “se ferrou, mané”.
Para reclamar da pauta ou do café aguado da redação, digite “alguém topa ir ao bar tomar uma cerveja e ouvir minhas lamentações?”.
Para cancelar sua matéria, digite “editor, o senhor tem um minutinho, por favor?”.
Ou aguarde para ser atendido. No momento, todos os nossos editores estão ocupados com o fechamento.
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Se você precisa escrever uma página, mas não tem tanta informação para tanto espaço vazio, digite “punhetação jornalística sem culpa”.
Se o seu computador deu pau e você não salvou o texto, digite “se ferrou, mané”.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Procurando um livro sobre jornalismo? Saiba como comprar A vida de jornalista como ela é
O livro A vida de jornalista como ela é – o melhor do blog de Duda Rangel, que fala sobre a profissão com bom humor, pode ser comprado apenas por depósito ou transferência bancária. O valor do livro é R$ 22,90, com frete grátis para todo o Brasil.
A conta corrente para o depósito ou a transferência: N/Couto Comunicação Ltda. – Banco Itaú (341), Agência: 3094, Conta corrente: 04272-2 – CNPJ: 05.264.054/0001-88. O comprovante da operação deve ser enviado para livrododuda@gmail.com, com o endereço completo de entrega (não se esqueça do CEP).
Você pode pedir também dedicatórias escrevendo para o e-mail livrododuda@gmail.com.
Assim que o livro é encaminhado, o comprador recebe um código de rastreamento dos Correios para acompanhar o pedido. As vendas e entregas são feitas apenas no Brasil.
Peça o seu livro. Indique aos amigos.
O meu singelo obrigado.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2014
10 teimosias de jornalista
1. Ser jornalista.
2. Fazer três perguntas seguidas numa coletiva de imprensa depois de o assessor ter avisado que era uma só por repórter.
3. Continuar aceitando frila daquela editora que sempre atrasa o pagamento (quando paga).
4. Invadir a área restrita ao resgate numa tragédia pra conseguir a melhor foto, apesar de o policial berrar que não pode entrar ninguém, nem jornalista, dá pra respeitar?
5. Querer salvar o mundo.
6. Ligar 50 vezes ao assessor para ouvir o outro lado, mesmo com o risco de o outro lado estar 50 vezes numa reunião importante.
7. Não dar ouvidos ao editor e, claro, à própria mãe e cobrir guerra entre polícia e traficante sem colete à prova de balas.
8. Sentir asco, revolta, mas não deixar de ler o blog do Reinaldo Azevedo.
9. Fazer todo fim de ano aquelas resoluções de ano novo, tipo descolar mais frilas ou arrumar um tempo pra academia, e nunca cumprir nada.
10. Comer pra cacete na boca-livre até passar mal, mesmo sabendo que se comesse pra cacete na boca-livre passaria mal.
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3. Continuar aceitando frila daquela editora que sempre atrasa o pagamento (quando paga).
4. Invadir a área restrita ao resgate numa tragédia pra conseguir a melhor foto, apesar de o policial berrar que não pode entrar ninguém, nem jornalista, dá pra respeitar?
5. Querer salvar o mundo.
6. Ligar 50 vezes ao assessor para ouvir o outro lado, mesmo com o risco de o outro lado estar 50 vezes numa reunião importante.
7. Não dar ouvidos ao editor e, claro, à própria mãe e cobrir guerra entre polícia e traficante sem colete à prova de balas.
8. Sentir asco, revolta, mas não deixar de ler o blog do Reinaldo Azevedo.
9. Fazer todo fim de ano aquelas resoluções de ano novo, tipo descolar mais frilas ou arrumar um tempo pra academia, e nunca cumprir nada.
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quinta-feira, 23 de outubro de 2014
O jornalista em tempos de eleição
Tem o jornalista que não vê a hora de o segundo turno acabar para voltar a viver e se desintoxicar dos discursinhos, do beija-mão e de outras mentiras. Tem o jornalista que não vê a hora de o segundo turno acabar para não precisar mais ler tanta mensagem raivosa no Facebook. Tem o jornalista que trabalha na assessoria de um candidato, mas vota no outro e que ninguém saiba disso, ok? Tem o jornalista que não suporta o editorial do patrão, mas o que eu posso fazer se preciso deste emprego? Tem o jornalista com saudade da Copa do Mundo. Tem o jornalista que adora bastidor de debate na TV. Tem o jornalista que comenta pesquisa e, veja bem, este resultado pode significar isso, mas também pode significar aquilo e blá-blá-blá. Tem o jornalista que preferia ser mesário a trabalhar na cobertura da apuração, porque trampo de mesário acaba mais cedo e ainda rola um sanduba de mortadela. Tem o jornalista que se esforça para promover reflexões isentas e inteligentes nas redes sociais. Tem o jornalista que pensa e agora que o frila da eleição acabar o que eu vou fazer da vida? Tem o jornalista que compartilha o Reinaldo e tem o que compartilha o Gregório. Tem o jornalista todo orgulhoso por registrar um momento tão importante da história. Tem o jornalista todo feliz porque até o fim do mês cai a grana do frila da eleição, mas, claro, sempre com uma margem de erro de 30 dias para mais.
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014
A primeira entrevista a família nunca esquece
CENA INTERNA
Estão todos na sala – a mãe, o pai, o irmão caçula, o avô, a tia estranha, a vizinha invejosa – para acompanhar a primeira entrevista da Paulinha na TV. Clima de final de Copa do Mundo.
A vizinha invejosa: deve ser meio chato trabalhar nesse tal Canal do Boi, né?
O pai: pior se ela trabalhasse no TV Fama.
A vizinha invejosa: pior nada, melhor. Ela estaria entrevistando artista e não boi.
A mãe: a Paulinha não entrevista boi. Ela vai entrevistar o...
O pai: veterinário.
A mãe: isso, o veterinário. Ele é doutor.
O irmão caçula: mãe, o vovô dormiu.
A mãe: pai, acorda. É a primeira entrevista da sua neta na TV.
O irmão caçula: o vovô não acorda fácil.
A mãe: paaaaaai!!!
O avô (acordando): já acabou?
O pai: vai começar.
A mãe: será que fizeram uma escova boa nela?
O pai: será que vai dar uma daquelas crises de pânico nela?
O avô: será que ela vai dizer que foi o avô que a incentivou a estudar jornalismo?
O pai: não, seu Jacinto, é uma entrevista com um veterinário. Não é arquivo confidencial do Faustão.
A mãe: silêncio, gente.
A vizinha invejosa: já tá começando a chover. Acho que a Sky vai sair do ar.
A mãe: que sair do ar, nada! Vira essa boca pra lá.
O irmão caçula: vô, abre o olho.
O avô: eu não tô dormindo, Pedrinho.
O pai: começou!
Silêncio.
A mãe: como ela tá linda.
A tia estranha: é sobre o que mesmo o assunto?
Todos: xiiiiiiiiii!
Um minuto e 17 segundos depois.
A vizinha invejosa: mas já acabou?
O pai: é assim mesmo. Hoje tá tudo muito moderno e rápido.
A mãe: ai, gente, que orgulho da Paulinha. Vocês viram como ela falou bonito, como ela segurava o microfone bonito?
O pai: e ela não teve nenhum branco.
A mãe: foi perfeita. Ai, gente, até chorei.
A vizinha invejosa: eu gostei do veterinário. Bonitão. Cara de safado também. Vai dar em cima da Paulinha, com certeza.
A tia estranha: alguém pode me responder sobre o que era o assunto?
O pai: tia Néia, sobre novas técnicas de inseminação para o gado nelore.
A tia estranha: credo.
A mãe: um dia essa menina ainda vai tá entrevistando presidente do Brasil na Globo!
O irmão caçula: agora o senhor já pode dormir, vô.
O avô: minha neta tava linda, como eu sempre sonhei.
A mãe: Pedrinho, vai lá na lavanderia e solta o Bonner.
O pai: você prendeu o Bonner na lavanderia? Que a Paulinha não saiba disso!
A mãe: amor, o Bonner ia ficar aqui latindo a entrevista inteira.
A vizinha invejosa: deixa eu voltar pra minha casa, gente, que já vai começar o TV Fama.
O clima ainda é de grande comoção na sala. A chuva aumenta. A Sky sai do ar.
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Estão todos na sala – a mãe, o pai, o irmão caçula, o avô, a tia estranha, a vizinha invejosa – para acompanhar a primeira entrevista da Paulinha na TV. Clima de final de Copa do Mundo.
A vizinha invejosa: deve ser meio chato trabalhar nesse tal Canal do Boi, né?
O pai: pior se ela trabalhasse no TV Fama.
A vizinha invejosa: pior nada, melhor. Ela estaria entrevistando artista e não boi.
A mãe: a Paulinha não entrevista boi. Ela vai entrevistar o...
O pai: veterinário.
A mãe: isso, o veterinário. Ele é doutor.
O irmão caçula: mãe, o vovô dormiu.
A mãe: pai, acorda. É a primeira entrevista da sua neta na TV.
O irmão caçula: o vovô não acorda fácil.
A mãe: paaaaaai!!!
O avô (acordando): já acabou?
O pai: vai começar.
A mãe: será que fizeram uma escova boa nela?
O pai: será que vai dar uma daquelas crises de pânico nela?
O avô: será que ela vai dizer que foi o avô que a incentivou a estudar jornalismo?
O pai: não, seu Jacinto, é uma entrevista com um veterinário. Não é arquivo confidencial do Faustão.
A mãe: silêncio, gente.
A vizinha invejosa: já tá começando a chover. Acho que a Sky vai sair do ar.
A mãe: que sair do ar, nada! Vira essa boca pra lá.
O irmão caçula: vô, abre o olho.
O avô: eu não tô dormindo, Pedrinho.
O pai: começou!
Silêncio.
A mãe: como ela tá linda.
A tia estranha: é sobre o que mesmo o assunto?
Todos: xiiiiiiiiii!
Um minuto e 17 segundos depois.
A vizinha invejosa: mas já acabou?
O pai: é assim mesmo. Hoje tá tudo muito moderno e rápido.
A mãe: ai, gente, que orgulho da Paulinha. Vocês viram como ela falou bonito, como ela segurava o microfone bonito?
O pai: e ela não teve nenhum branco.
A mãe: foi perfeita. Ai, gente, até chorei.
A vizinha invejosa: eu gostei do veterinário. Bonitão. Cara de safado também. Vai dar em cima da Paulinha, com certeza.
A tia estranha: alguém pode me responder sobre o que era o assunto?
O pai: tia Néia, sobre novas técnicas de inseminação para o gado nelore.
A tia estranha: credo.
A mãe: um dia essa menina ainda vai tá entrevistando presidente do Brasil na Globo!
O irmão caçula: agora o senhor já pode dormir, vô.
O avô: minha neta tava linda, como eu sempre sonhei.
A mãe: Pedrinho, vai lá na lavanderia e solta o Bonner.
O pai: você prendeu o Bonner na lavanderia? Que a Paulinha não saiba disso!
A mãe: amor, o Bonner ia ficar aqui latindo a entrevista inteira.
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quarta-feira, 3 de setembro de 2014
O perfil do jornalista brasileiro
2 de cada 3 jornalistas que lamentam a provável extinção do jornal impresso não têm o hábito de ler jornal impresso.
43% dos jornalistas passam mais tempo na frente do computador do que com seus namorados. Os outros 57% estão encalhados.
O Facebook é o principal meio para o jornalista bisbilhotar a vida alheia com a desculpa de estar em busca de pautas interessantes.
7 em cada 10 assessores de imprensa ficam indignados quando alguém diz que assessor não é jornalista. Os demais resolvem a questão na porrada.
De cada 10 jornalistas, 11 reclamam da vida pra cacete.
99% dos jornalistas ainda têm que explicar pra tia que, apesar de serem jornalistas, não trabalham na Globo.
Pizza requentada é o prato mais consumido no almoço por quem trabalha em casa. Em seguida vem o miojo sabor galinha caipira.
De cada 10 jornalistas culturais rotulados de gays em fofocas de mesa de bar, 4 são heterossexuais apesar de não parecerem, 3 são gays enrustidos e 3 são tão donos dos respectivos cus que não têm vergonha de assumir o que fazem com os respectivos cus.
Enquanto 76% dos jornalistas vivem sem um plano de carreira, apenas 2% conseguem viver sem um telefone celular.
De cada 5 mulheres jornalistas, 3 pensam em trocar o emprego por um marido igual ao da Ticiana Villas Boas.
O jornalista do século 21 cria a pauta, vai atrás das fontes, é motorista, apura, checa, escreve, revisa, vende Natura, edita texto, põe título, subtítulo, legenda, vende ovo de Páscoa, faz foto, trata imagem, filma, edita vídeo, joga na Mega-Sena, sobe arquivo no site, fecha matéria e, nas horas vagas, faz um monte de frila.
O jornalista do século 21, acreditem, também trepa.
88% dos jornalistas garantem que, a partir da próxima segunda-feira, vão começar a cuidar mais da saúde.
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7 em cada 10 assessores de imprensa ficam indignados quando alguém diz que assessor não é jornalista. Os demais resolvem a questão na porrada.
De cada 10 jornalistas, 11 reclamam da vida pra cacete.
99% dos jornalistas ainda têm que explicar pra tia que, apesar de serem jornalistas, não trabalham na Globo.
Pizza requentada é o prato mais consumido no almoço por quem trabalha em casa. Em seguida vem o miojo sabor galinha caipira.
De cada 10 jornalistas culturais rotulados de gays em fofocas de mesa de bar, 4 são heterossexuais apesar de não parecerem, 3 são gays enrustidos e 3 são tão donos dos respectivos cus que não têm vergonha de assumir o que fazem com os respectivos cus.
Enquanto 76% dos jornalistas vivem sem um plano de carreira, apenas 2% conseguem viver sem um telefone celular.
De cada 5 mulheres jornalistas, 3 pensam em trocar o emprego por um marido igual ao da Ticiana Villas Boas.
O jornalista do século 21 cria a pauta, vai atrás das fontes, é motorista, apura, checa, escreve, revisa, vende Natura, edita texto, põe título, subtítulo, legenda, vende ovo de Páscoa, faz foto, trata imagem, filma, edita vídeo, joga na Mega-Sena, sobe arquivo no site, fecha matéria e, nas horas vagas, faz um monte de frila.
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segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Dependência
O que seria do correspondente internacional sem a Reuters? Do pauteiro da Sonia Abrão sem as merdas do Rafael Ilha? Do fim do mês sem os frilas? O que seriam das minhas noites viradas de textos pra amanhã cedinho sem o vício do café? Das pautas impossíveis sem fé? Das filosofias de botequim sem os jornalistas de botequim? O que seria do furo sem o faro? Da estagiária ambiciosa-incompetente-mas-gostosinha sem o editor-executivo que adora estagiárias-ambiciosas-incompetentes-mas-gostosinhas? Do crítico musical sem a palavra visceral? O que seriam das mesas-redondas esportivas sem os erros do juiz? Do fotógrafo no vermelho sem os bicos corporativos e os casamentos e as festinhas infantis? Do repórter arrumadinho que aparece na TV sem o produtor faz-tudo que não aparece na TV? O que seria da Rádio SulAmérica Trânsito sem os 439 quilômetros de congestionamento de Sampa? Do analista econômico sem o economês? Do currículo do foca sem as trapaças da Times corpo 16? O que seria do repórter sem o tesão de ser repórter?
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terça-feira, 12 de agosto de 2014
10 dicas para ser um bom jornalista
Tenha paixão pela profissão: ok, amor não enche barriga, já disse mil vezes seu pai, mas paixão é envolvimento, é o que nos impede de desistir nos primeiros, sei lá, 200 obstáculos.
Resgate a essência do jornalismo: curiosidade, investigação, responsabilidade na apuração e na divulgação das informações, essas coisas que há tempos resolveram sair de moda.
Sinta orgulho de ser jornalista: cague geral para os rankings desgracentos que têm os jornalistas sempre no topo. Se você não tem orgulho do que faz, melhor pedir para sair.
Use os recursos tecnológicos para o bem: tecnologia é como colesterol, tem a boa e tem a ruim. A ruim nos deixa preguiçosos, a boa nos permite voar cada vez mais alto.
Não espere respostas prontas sobre seu futuro: sim, jornalistas são os caras que fazem as perguntas, mas no quesito “seu próprio futuro” o que cabe a você são as respostas.
Seduza seu leitor: deixe-o apaixonado por seu texto, com vontade de novos encontros. Nada como a arte da conquista à moda antiga.
Busque sempre: histórias incríveis, personagens invisíveis, momentos risíveis. E jamais bote no seu texto uma rima tosca como essa que eu acabei de botar.
Arrisque uma linguagem diferente: esqueça os leads, as regras, os dogmas. Pegue a velha receitinha de jornalismo sempre fácil de fazer e jogue no lixo. Não reciclável, claro.
Não agonize junto com as mídias tradicionais: há vida jornalística após a morte do jornal impresso. Tá me ouvindo? Enxugue essas lágrimas já. Tem um mundo novo bem aqui.
É bom levar uma vida saudável, mas um porre vez ou outra é ótimo: a alma jornalística carece de purificação. Mas se beber não dirija, nem agende uma entrevista importante.
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Use os recursos tecnológicos para o bem: tecnologia é como colesterol, tem a boa e tem a ruim. A ruim nos deixa preguiçosos, a boa nos permite voar cada vez mais alto.
Não espere respostas prontas sobre seu futuro: sim, jornalistas são os caras que fazem as perguntas, mas no quesito “seu próprio futuro” o que cabe a você são as respostas.
Seduza seu leitor: deixe-o apaixonado por seu texto, com vontade de novos encontros. Nada como a arte da conquista à moda antiga.
Busque sempre: histórias incríveis, personagens invisíveis, momentos risíveis. E jamais bote no seu texto uma rima tosca como essa que eu acabei de botar.
Arrisque uma linguagem diferente: esqueça os leads, as regras, os dogmas. Pegue a velha receitinha de jornalismo sempre fácil de fazer e jogue no lixo. Não reciclável, claro.
Não agonize junto com as mídias tradicionais: há vida jornalística após a morte do jornal impresso. Tá me ouvindo? Enxugue essas lágrimas já. Tem um mundo novo bem aqui.
É bom levar uma vida saudável, mas um porre vez ou outra é ótimo: a alma jornalística carece de purificação. Mas se beber não dirija, nem agende uma entrevista importante.
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terça-feira, 15 de julho de 2014
Privilégio de jornalista
Não, credencial no pescoço não é privilégio. Descolar uma boca em evento restrito a “poucos e bons” muito menos. Privilégio de ser formador de opinião? Hoje, com as redes sociais e os reclames aqui ali acolá, todo mundo é formador de opinião. O quê? Privilégio de ser o Quarto Poder? Caraca, você insiste com esse Quarto Poder, hein? Já te falei que Poder com caixa alta é um troço tão decadente.
Quer saber? Privilégio de jornalista é ter um olhar que poucos têm, uma sensibilidade rara, um ouvido atento. Coisas simples. Assim.
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Quer saber? Privilégio de jornalista é ter um olhar que poucos têm, uma sensibilidade rara, um ouvido atento. Coisas simples. Assim.
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terça-feira, 10 de junho de 2014
A pauta, segundo a narração esportiva
Narrador:
Comeeeço de pauta, torcida brasileira. Olha lá o repórter, já se manda para o ataque. Não quer perder tempo. Vai ligar para o entrevistado, precisa apurar mais alguma informação para fechar o texto. Pega o celular pelo canto esquerdo da mesa, tá procurando o telefone da fonte. Não acha. Recomeça o lance. Abre agora a gaveta pela direita, procura o bloquinho. Deve ter anotado em algum lugar este telefone.
Comentarista:
Tá um começo de pauta meio desorganizado. Tá faltando criatividade ao repórter para encontrar o telefone da fonte.
Narrador:
O repórter decidiu jogar no Google o nome do assessor. Tá lá, consegue o telefone do assessor, parece que ele vai ligar. Ligou. O telefone tá tocando, tá tocando, tá tocando! Cadê o assessor, minha gente? Atendeu! Pede para esperar um instantinho. Que música chata, torcida brasileira. O repórter espera! (Merchan: tá no vermelho? Tá precisando pagar o aluguel? Ligue agora para a CrediPress, a única financeira que empresta dinheiro só para jornalistas. Saia da miséria hoje mesmo!) E o repórter ainda tá esperando o assessor.
Comentarista:
É uma pauta de muita paciência. Não vai ser fácil furar a retranca do assessor.
Narrador:
Acabou a musiquinha chata, o assessor voltou. Diz que a fonte está numa reunião. Sei não! Tá com cara de simulação. A fonte tá fazendo cera. O assessor pede pro repórter ligar mais tarde. O repórter diz tudo bem, mas tá ansioso. O que é que só você viu?
Repórter de campo:
O editor, aqui na beira da redação, já pediu para o repórter dar um gás na pauta, porque hoje o deadline tá apertado.
Narrador:
Haaaja emoção! O repórter decide se levantar da mesa, acho que vai tomar um café. Sai pela esquerda, dribla a mesa do editor, passa pela secretária, consegue chegar à maquina do café. Procura as moedas. Cadê as moedas? Como é atrapalhado esse repórter! Acha as moedas no bolso pela direita. Aperta o botão. Cappuccino. Sem açúcar. O teeempo passa. O repórter tá nervoso por causa do entrevistado que não fala. Acaba de beber o cappuccino, decide voltar para sua mesa. Vai ligar de novo pro assessor. Tá voltando pra mesa. Que é isso? Ele deu uma bela olhada pra bunda da estagiária gostosa. Pode isso?
Comentarista de arbitragem:
Pode, claro que pode. Quem nunca olhou pra bunda da estagiária gostosa? Lance normal. Segue a pauta.
Narrador:
(Merchan: tá a fim de comprar um livro sobre jornalismo com bom humor? Compre já “A vida de jornalista como ela é”, do Duda Rangel. À venda pela página do blog no Facebook!) O assessor pede para o repórter esperar na linha. Acho que acabou a reunião. Não, acabou não. Ou melhor, acabou, mas o entrevistado já entrou em outra reunião. Tá complicada a vida do repórter. E você confere comigo o teeempo da pauta. Faaaltam 20 minutos para o deadline!
Comentarista:
O que o entrevistado está fazendo é a típica antipauta. O fair play passou longe.
Narrador:
(Merchan: Dia dos Namorados chegando e você encalhado, amigo jornalista? Cadastre-se hoje mesmo no Dateline.com, o único site de relacionamento dedicado exclusivamente a jornalistas encalhados. Saia da seca hoje mesmo!) Olha lá o repórter, descolou o celular do entrevistado. Vai ligar direto para a fonte. Não quer esperar mais. Ligou! O celular toca, toca. Atendeu a fonte. Agora não dá pra fugir mais. O repórter é rápido, já faz uma pergunta, mais outra, anota tudo. Quero ver só entender esta letra depois. Faz uma terceira pergunta. Já pode pedir música no Fantástico. Conseguiu tudo.
Repórter de campo:
O editor já avisou que não vai acrescentar nenhum minuto. É só o tempo regulamentar do deadline mesmo.
Narrador:
Minuuutos finais de pauta. O repórter começa a escrever. Tá tentando entender a letra no bloquinho. Eu avisei que não seria fácil. Ele mal respira. É concentração total agora. A estagiária gostosa passa desfilando ao lado do repórter e ele nem percebeu. Por essa ninguém esperava.
Comentarista:
É como diz aquele velho ditado: “cabeça de jornalista é uma caixinha de surpresas”.
Narrador:
Olha lá, o repórter já começa a redigir o título. Não vai dar nem tempo de revisar. Vai lá, vai apertar o “enter”. Apertooou o “enter”. A matéria foi embora, com todas as aspas que o repórter tanto queria.
Comentarista:
Eu diria para você que foi uma pauta apertada, mas o resultado acaba sendo justo, porque o repórter batalhou a informação, teve paciência para quebrar a retranca do entrevistado.
Narrador:
Feeecha-se o template! Fiiim de pauta, torcida brasileira!
Já comprou o livro do Duda Rangel? Conheça a loja aqui, curta, compartilhe. Frete grátis para todo o Brasil.
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Comeeeço de pauta, torcida brasileira. Olha lá o repórter, já se manda para o ataque. Não quer perder tempo. Vai ligar para o entrevistado, precisa apurar mais alguma informação para fechar o texto. Pega o celular pelo canto esquerdo da mesa, tá procurando o telefone da fonte. Não acha. Recomeça o lance. Abre agora a gaveta pela direita, procura o bloquinho. Deve ter anotado em algum lugar este telefone.
Comentarista:
Tá um começo de pauta meio desorganizado. Tá faltando criatividade ao repórter para encontrar o telefone da fonte.
Narrador:
O repórter decidiu jogar no Google o nome do assessor. Tá lá, consegue o telefone do assessor, parece que ele vai ligar. Ligou. O telefone tá tocando, tá tocando, tá tocando! Cadê o assessor, minha gente? Atendeu! Pede para esperar um instantinho. Que música chata, torcida brasileira. O repórter espera! (Merchan: tá no vermelho? Tá precisando pagar o aluguel? Ligue agora para a CrediPress, a única financeira que empresta dinheiro só para jornalistas. Saia da miséria hoje mesmo!) E o repórter ainda tá esperando o assessor.
Comentarista:
É uma pauta de muita paciência. Não vai ser fácil furar a retranca do assessor.
Narrador:
Acabou a musiquinha chata, o assessor voltou. Diz que a fonte está numa reunião. Sei não! Tá com cara de simulação. A fonte tá fazendo cera. O assessor pede pro repórter ligar mais tarde. O repórter diz tudo bem, mas tá ansioso. O que é que só você viu?
Repórter de campo:
O editor, aqui na beira da redação, já pediu para o repórter dar um gás na pauta, porque hoje o deadline tá apertado.
Narrador:
Haaaja emoção! O repórter decide se levantar da mesa, acho que vai tomar um café. Sai pela esquerda, dribla a mesa do editor, passa pela secretária, consegue chegar à maquina do café. Procura as moedas. Cadê as moedas? Como é atrapalhado esse repórter! Acha as moedas no bolso pela direita. Aperta o botão. Cappuccino. Sem açúcar. O teeempo passa. O repórter tá nervoso por causa do entrevistado que não fala. Acaba de beber o cappuccino, decide voltar para sua mesa. Vai ligar de novo pro assessor. Tá voltando pra mesa. Que é isso? Ele deu uma bela olhada pra bunda da estagiária gostosa. Pode isso?
Comentarista de arbitragem:
Pode, claro que pode. Quem nunca olhou pra bunda da estagiária gostosa? Lance normal. Segue a pauta.
Narrador:
(Merchan: tá a fim de comprar um livro sobre jornalismo com bom humor? Compre já “A vida de jornalista como ela é”, do Duda Rangel. À venda pela página do blog no Facebook!) O assessor pede para o repórter esperar na linha. Acho que acabou a reunião. Não, acabou não. Ou melhor, acabou, mas o entrevistado já entrou em outra reunião. Tá complicada a vida do repórter. E você confere comigo o teeempo da pauta. Faaaltam 20 minutos para o deadline!
Comentarista:
O que o entrevistado está fazendo é a típica antipauta. O fair play passou longe.
Narrador:
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Repórter de campo:
O editor já avisou que não vai acrescentar nenhum minuto. É só o tempo regulamentar do deadline mesmo.
Narrador:
Minuuutos finais de pauta. O repórter começa a escrever. Tá tentando entender a letra no bloquinho. Eu avisei que não seria fácil. Ele mal respira. É concentração total agora. A estagiária gostosa passa desfilando ao lado do repórter e ele nem percebeu. Por essa ninguém esperava.
Comentarista:
É como diz aquele velho ditado: “cabeça de jornalista é uma caixinha de surpresas”.
Narrador:
Olha lá, o repórter já começa a redigir o título. Não vai dar nem tempo de revisar. Vai lá, vai apertar o “enter”. Apertooou o “enter”. A matéria foi embora, com todas as aspas que o repórter tanto queria.
Comentarista:
Eu diria para você que foi uma pauta apertada, mas o resultado acaba sendo justo, porque o repórter batalhou a informação, teve paciência para quebrar a retranca do entrevistado.
Narrador:
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terça-feira, 27 de maio de 2014
Viver o jornalismo é experimentar
Que tal trocar de editoria? Recomeçar? Do zero? Topa? Conhecer pautas novas, fontes novas? Diversificar as ideias? Desacomodar a alma? Que tal desapegar um pouco da redação e curtir uma de assessor? Ou vice-versa? Por que não levar mais a sério o sonho de escrever um livro? De virar correspondente em algum canto do mundo? Deixar os medos de lado? Por que não arriscar uma linguagem que ainda ninguém arriscou? Experimentar novas posições em seu lead? O quem por trás do por quê? O onde por cima do como? Que tal se libertar do lead? Já pensou em usar a tecnologia para construir uma imprensa mais plural? Viver o jornalismo é experimentar. Vai que você gosta.
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terça-feira, 20 de maio de 2014
Sabe esse meu jeito?
Sabe esse meu jeito de querer tudo pra ontem? É o deadline. Sabe esse meu jeito meio ausente? É que eu tenho dois empregos e ainda faço uns frilas por aí. Sabe esse meu jeito de ficar perguntando sobre seus amores passados? É o tal jornalismo investigativo. Sabe esse meu jeito irritado? É tensão pré-matéria especial. Sabe esse meu jeito pensativo? É que amanhã vence o aluguel, porra, e eu preciso de uma solução rápida pra coisa. Sabe esse meu jeito de ficar corrigindo o Português de todo mundo? É um pouco vício e, ok, um pouco de sacanagem. Sabe esse meu jeito desesperado? É que eu ainda tenho três matérias pra escrever. Sabe esse meu jeito todo metido? É que no próximo fim semana eu tô de folga, galera, eu tô de folga! Sabe esse meu jeito sonhador de ser? É charme. Sabe esse meu jeito meio chato? É chatice mesmo.
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terça-feira, 29 de abril de 2014
10 sintomas da pobreza de um jornalista
1. Ir à pauta de busão para embolsar a grana do táxi.
2. Fazer anotações na mão para economizar folhas do bloquinho.
3. Ir a uma coletiva chata só para garantir o almoço do dia.
4. Esfregar a caneta velha entre as mãos para soltar a tinta ressecada.
5. Passar a madrugada à base de café requentado escrevendo frilas que pagam mal pra cacete.
6. Aproveitar a entrevista com uma dermatologista famosa para perguntar qual o melhor tratamento para olheiras de jornalistas que passam a madrugada à base de café requentado escrevendo frilas que pagam mal pra cacete.
7. Decorar a casa só com presentinhos de assessor.
8. Perguntar ao entrevistado qual a operadora do celular dele para escolher o melhor chip e gastar menos no pré-pago.
9. Vender tudo que é tranqueira no MercadoLivre para conseguir comprar uma máquina fotográfica no MercadoLivre.
10. Usar a mesma calça jeans e o mesmo All Star há anos.
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3. Ir a uma coletiva chata só para garantir o almoço do dia.
4. Esfregar a caneta velha entre as mãos para soltar a tinta ressecada.
5. Passar a madrugada à base de café requentado escrevendo frilas que pagam mal pra cacete.
6. Aproveitar a entrevista com uma dermatologista famosa para perguntar qual o melhor tratamento para olheiras de jornalistas que passam a madrugada à base de café requentado escrevendo frilas que pagam mal pra cacete.
7. Decorar a casa só com presentinhos de assessor.
8. Perguntar ao entrevistado qual a operadora do celular dele para escolher o melhor chip e gastar menos no pré-pago.
9. Vender tudo que é tranqueira no MercadoLivre para conseguir comprar uma máquina fotográfica no MercadoLivre.
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terça-feira, 15 de abril de 2014
A arte de fazer tudo desaparecer
Apalpou os bolsos e nada.
Foi só voltar à redação e se dar conta de que o bloquinho de anotações havia desaparecido.
Era especialista em fazer as coisas desaparecerem. Bloquinhos, canetas, celulares, ideias geniais de dez minutos atrás. Seu apelido na redação era o “Repórter Lost”.
- Porra, São Longuinho, me ajuda aí.
O santo, que não é bobo, fingia não ouvir. Ajudar jornalista dá muito trabalho.
No bloquinho perdido estavam todas as aspas bombásticas para a grande matéria do dia. Resolveu voltar ao local da pauta, a rodoviária da cidade.
- Por favor, o senhor não viu um bloquinho perdido por aí, não? Um bloquinho de anotações pequeno, assim desse tamanho, capa azul ou vermelha, agora eu não lembro, todo sujo, com umas folhas bem rabiscadas, tipo letra que só farmacêutico entende.
Repetiu a pergunta várias vezes e nada.
Por que não inventam um bloquinho com microchip, rastreado por satélite e o cacete?
Se não reencontrasse o bloquinho, teria de se lembrar das informações e das aspas bombásticas de cabeça. Logo ele que, por três vezes seguidas, havia sido reprovado num curso de memorização a distância.
- Porra, São Longuinho, eu dou mil pulinhos mais juros extorsivos de 13,7% pelo milagre, tipo cheque especial, topa?
O santo, que não é bobo, topou. Mas pediu 15%.
Foi o faxineiro quem encontrou o bloquinho. No banheiro.
- Ó aqui, seu jornalista, seu bloquinho perdido. Mas eu vou falar uma coisa pro senhor: essa letra aí nem farmacêutico entende.
A matéria estava salva, o faxineiro ganhou um beijo na testa e o santo levaria seus 1.150 pulinhos de boa. No carro, voltando à redação pela segunda vez, foi saboreando as aspas bombásticas. O deadline apertou. Pensou num lead.
Mas foi só sentar para escrever a matéria e... O que estava acontecendo? Queria porque queria digitar e nada. A ideia genial de lead de dez minutos atrás havia desaparecido. Assim, sem mais nem menos. E sem deixar rastros.
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Foi só voltar à redação e se dar conta de que o bloquinho de anotações havia desaparecido.
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- Porra, São Longuinho, me ajuda aí.
O santo, que não é bobo, fingia não ouvir. Ajudar jornalista dá muito trabalho.
No bloquinho perdido estavam todas as aspas bombásticas para a grande matéria do dia. Resolveu voltar ao local da pauta, a rodoviária da cidade.
- Por favor, o senhor não viu um bloquinho perdido por aí, não? Um bloquinho de anotações pequeno, assim desse tamanho, capa azul ou vermelha, agora eu não lembro, todo sujo, com umas folhas bem rabiscadas, tipo letra que só farmacêutico entende.
Repetiu a pergunta várias vezes e nada.
Por que não inventam um bloquinho com microchip, rastreado por satélite e o cacete?
Se não reencontrasse o bloquinho, teria de se lembrar das informações e das aspas bombásticas de cabeça. Logo ele que, por três vezes seguidas, havia sido reprovado num curso de memorização a distância.
- Porra, São Longuinho, eu dou mil pulinhos mais juros extorsivos de 13,7% pelo milagre, tipo cheque especial, topa?
O santo, que não é bobo, topou. Mas pediu 15%.
Foi o faxineiro quem encontrou o bloquinho. No banheiro.
- Ó aqui, seu jornalista, seu bloquinho perdido. Mas eu vou falar uma coisa pro senhor: essa letra aí nem farmacêutico entende.
A matéria estava salva, o faxineiro ganhou um beijo na testa e o santo levaria seus 1.150 pulinhos de boa. No carro, voltando à redação pela segunda vez, foi saboreando as aspas bombásticas. O deadline apertou. Pensou num lead.
Mas foi só sentar para escrever a matéria e... O que estava acontecendo? Queria porque queria digitar e nada. A ideia genial de lead de dez minutos atrás havia desaparecido. Assim, sem mais nem menos. E sem deixar rastros.
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segunda-feira, 7 de abril de 2014
Jornalista, breve definição
Ser jornalista é vida sem meio-termo. É ter diploma de bipolaridade. Ou não ter diploma. É amor e é dor. Entusiasmo e apatia no mesmo dia. É querer salvar o mundo sabendo que essa merda não tem mais jeito, não. É ter muitas ideias para o futuro e não ter a menor ideia do futuro. É bater e é apanhar. É ser seguramente inseguro. É ter ora uma vontade louca de viajar o planeta ora de ficar quietinho no seu canto. É ir do Inferno ao Céu numa única pauta. É odiar Matemática, mas encher a matéria de números. É querer fazer tanta coisa e ter uma preguiça danada. É ser livre sem ser livre. É se achar mesmo quando se está perdido. É ter porra nenhuma para celebrar e, ainda assim, ir ao bar. Um brinde à porra nenhuma! É fazer graça da desgraça. É dormir cheio de aflição e acordar cheio de excitação. Ser jornalista é ser tudo isso e não ser. Eis a confusão.
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terça-feira, 25 de março de 2014
O jornalista supersincero
Você não tem uma foto melhor, não? Eu vi a que você me mandou, mas você tá tão gorda lá, cara de cu. Vai estragar minha matéria.
Caneta de novo? Vocês já deram jabá melhor pra imprensa, hein?
Eu não vou publicar o seu release porque tá uma merda.
Reunião? Teu chefe não tá em porra nenhuma de reunião. Ele não quer é me atender.
Não vem com esse papo de amiguinho. Você só tá me escrevendo porque tá desempregado e quer uma boquinha aqui na redação.
Prefiro que você me envie as respostas por e-mail. É que estou com uma preguiça danada de fazer a entrevista por telefone.
O lançamento do celular em si não me despertou nenhum interesse. Eu só vim mesmo pra coletiva pra comer. Aproveita e me passa aquele canapé. O de tomate seco.
Você não tem uma declaração mais original, não? Essa história de que agora é levantar a cabeça, corrigir os erros e trabalhar duro em busca dos três pontos é tão clichê.
Ele tá em reunião ainda? Escuta, querida, não é que eu me importe com o que ele tem a falar. Eu tô cagando pro que ele tem a falar. É que eu tenho que ouvir a porra do outro lado pra fechar a matéria.
Adoro desgraça de pobre. Sempre dá audiência.
Já que você está muito a fim de me namorar, eu preciso te avisar: eu não sou famoso, eu trabalho de fim de semana e, ontem num e-mail, você escreveu abraço com dois esses. É com cedilha, anta!
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Caneta de novo? Vocês já deram jabá melhor pra imprensa, hein?
Eu não vou publicar o seu release porque tá uma merda.
Reunião? Teu chefe não tá em porra nenhuma de reunião. Ele não quer é me atender.
Não vem com esse papo de amiguinho. Você só tá me escrevendo porque tá desempregado e quer uma boquinha aqui na redação.
Prefiro que você me envie as respostas por e-mail. É que estou com uma preguiça danada de fazer a entrevista por telefone.
O lançamento do celular em si não me despertou nenhum interesse. Eu só vim mesmo pra coletiva pra comer. Aproveita e me passa aquele canapé. O de tomate seco.
Você não tem uma declaração mais original, não? Essa história de que agora é levantar a cabeça, corrigir os erros e trabalhar duro em busca dos três pontos é tão clichê.
Ele tá em reunião ainda? Escuta, querida, não é que eu me importe com o que ele tem a falar. Eu tô cagando pro que ele tem a falar. É que eu tenho que ouvir a porra do outro lado pra fechar a matéria.
Adoro desgraça de pobre. Sempre dá audiência.
Já que você está muito a fim de me namorar, eu preciso te avisar: eu não sou famoso, eu trabalho de fim de semana e, ontem num e-mail, você escreveu abraço com dois esses. É com cedilha, anta!
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quinta-feira, 6 de março de 2014
10 formas de você convencer seus pais de que vale a pena estudar jornalismo
Vocês já pensaram quantos prédios eu derrubaria se fosse engenheiro civil? Quantos bisturis eu esqueceria dentro de gente inocente se fosse cirurgião? Ser jornalista é um ato de amor à vida alheia.
Quando eu estiver na bancada do Jornal Nacional dizendo boa noite para milhões de brasileiros, a vizinhança toda vai ter inveja de vocês pelo filho que vocês têm. (nota: o único ponto negativo é que no futuro eles vão cobrar isso de você)
Vocês sabem que eu nunca fui bom em nada. Não sei chutar uma bola de futebol e nas Olimpíadas de Matemática da escola eu sempre era eliminado na primeira fase! Pô, a única coisa que faço direito é contar histórias.
Como o meu irmão mais velho já estudou o que vocês queriam, agora eu vou poder estudar o que eu quero, certo? Tipo ser jornalista, certo?
Vocês têm noção de quanto custa uma faculdade de medicina?
Mãe, como jornalista, eu vou descolar convite pra senhora ver o Roberto Carlos no navio. Quando eu estou aqui eu vivo este momento lindo, mãe! Tudo de graça!
Pai, quem é que precisa de dinheiro? Ok, tá, tudo bem, eu preciso de dinheiro, aliás, eu ia até pedir pro senhor me arrumar uma grana agora, mas dinheiro também não é assim tudo nessa vida.
Aí a Mãe Alzira jogou aquelas pedrinhas na mesa, aí a Mãe Alzira soltou aquela fumaça fedida de cigarro na minha cara, aí a Mãe Alzira disse pra mim “mizifia, suncê vai ser jornalista”, aí eu lembrei que a senhora me disse uma vez, mãe, que a Mãe Alzira não falha.
Pai, eu tô na dúvida entre ser stripper e jornalista. Qual profissão o senhor acha que eu devo seguir? (nota: existe, sim, o risco de alguns pais responderem stripper)
Lembram quando vocês me falavam que ler é o máximo? Quando vocês falavam que a gente tem que lutar por um mundo melhor? Buscar sempre a verdade? Agora, não adianta vocês ficarem me olhando torto. A culpa é toda de vocês.
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Quando eu estiver na bancada do Jornal Nacional dizendo boa noite para milhões de brasileiros, a vizinhança toda vai ter inveja de vocês pelo filho que vocês têm. (nota: o único ponto negativo é que no futuro eles vão cobrar isso de você)
Vocês sabem que eu nunca fui bom em nada. Não sei chutar uma bola de futebol e nas Olimpíadas de Matemática da escola eu sempre era eliminado na primeira fase! Pô, a única coisa que faço direito é contar histórias.
Como o meu irmão mais velho já estudou o que vocês queriam, agora eu vou poder estudar o que eu quero, certo? Tipo ser jornalista, certo?
Vocês têm noção de quanto custa uma faculdade de medicina?
Mãe, como jornalista, eu vou descolar convite pra senhora ver o Roberto Carlos no navio. Quando eu estou aqui eu vivo este momento lindo, mãe! Tudo de graça!
Pai, quem é que precisa de dinheiro? Ok, tá, tudo bem, eu preciso de dinheiro, aliás, eu ia até pedir pro senhor me arrumar uma grana agora, mas dinheiro também não é assim tudo nessa vida.
Aí a Mãe Alzira jogou aquelas pedrinhas na mesa, aí a Mãe Alzira soltou aquela fumaça fedida de cigarro na minha cara, aí a Mãe Alzira disse pra mim “mizifia, suncê vai ser jornalista”, aí eu lembrei que a senhora me disse uma vez, mãe, que a Mãe Alzira não falha.
Pai, eu tô na dúvida entre ser stripper e jornalista. Qual profissão o senhor acha que eu devo seguir? (nota: existe, sim, o risco de alguns pais responderem stripper)
Lembram quando vocês me falavam que ler é o máximo? Quando vocês falavam que a gente tem que lutar por um mundo melhor? Buscar sempre a verdade? Agora, não adianta vocês ficarem me olhando torto. A culpa é toda de vocês.
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
G.R.E.S. Unidos da Redação
Carnaval de jornalista tem o plantão aí, gente, tem a ala das focas, a ala das assessoras, tem o atrás da grande matéria só não vai quem já morreu, tem credencial que vale mais que abadá, tem ascensão e queda do diploma categoria luxo, tem o bota lá no lead, bota, meu amor, tem a expectativa da apuração, tem a concentração no fechamento, tem a dispersão da equipe após essa correria toda, tem a velha que guarda os textos numa pastinha, tem o empregobeleza, tem release cheio de adereços, tem pauta que é um ziriguidum só, tem entrevistado do balacobaco, tem a porta-jabá a desfilar pela redação, tem o puxador de saco-enredo, tem a rainha da boca-livre, tem jornalista mascarado, tem quem não gosta de rua bom repórter não é, tem ô abre aspas que eu quero publicar, tem a apoteose do furo, tem a folia dos bloquinhos, tem o quesito profissão maluca dez nota dez.
Veja também: as marchinhas jornalísticas de carnaval cantadas
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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Marchinhas jornalísticas de carnaval
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