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terça-feira, 12 de novembro de 2013

O Rei do Camarote agregou valor ao jornalismo


Quando o jornalista da Vejinha que entrevistou o Rei do Camarote resolveu dar mil explicações para provar que sua reportagem era, sim, verídica, pensei: “fodeu de vez”.

Um repórter suplicando “acredite em mim, meu amor, e não no batom que estão inventando para a minha cueca” é algo muito mais sério do que simplesmente saber se Alexander de Almeida é um boçal real ou um boçal fake.

Ok, assim como a minha ex-mulher, a imprensa nunca foi 100% honesta, mas ao menos parecia honesta. Parece que nem parecer ela parece mais.

Apesar do meu “fodeu de vez” e do quê de desalento do início deste texto, a discussão toda que rolou em torno da verdade ou não da história foi ótima.

Se antes a grande imprensa era a dona de uma verdade absoluta, hoje a pluralidade de informações, contrainformações, subversões e opiniões deixou tudo muito relativo.

E tudo muito maluco também. E a bagunça que virou a circulação da informação nos obriga a pensar e questionar cada vez mais.

O que é verdade, afinal? E o que não é? Em quem confiar?

O jornalista sempre teve o dever de ser um sujeito desconfiado. Agora esta missão é de todo mundo que consome informação.

É claro que muito leitor acostumado à passividade vai achar que desconfiar dá um trabalhão danado, que ainda é melhor uma verdade mastigada. Tenho mesmo que me importar com cuecas e seus batons?

Mas outros tantos vão despertar. E este despertar é urgente.

Mesmo sem querer, a Vejinha, o repórter cheio de explicações e seu rei boçal (real ou não) ajudaram a agregar valor ao jornalismo.


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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Histórias de quem consome o Jornalismo


Seu Zé se atualiza sobre as maracutaias de Brasília pela rádio. Precisa de assunto para conversar com os passageiros de seu táxi.

Lúcia lê o horóscopo assim que abre o jornal. Não passa um dia sem se enganar.

Orlando não sai para o trabalho de manhã sem antes ouvir o bom dia da Renata Vasconcellos. E, claro, o da sua mulher também.

Dona Maria liga a TV no fim da tarde para ver a filha falar de ações preferenciais e ordinárias e derivativos e commodities. Não entende porra nenhuma, mas adora este ritual.

Quim, também conhecido como “o português da banca”, dá uma olhadela nas manchetes dos jornais populares e pendura os mais toscos na lateral da banca. Pro povão se deliciar.

Érica compra revistas de Saúde e Fitness para conhecer as novas dietas da moda que ela não vai fazer. Porque odeia dietas.

Ricardo se inspira nas crônicas do Verissimo para manter vivo o sonho de ser escritor.

Isabel lê todas as matérias sobre cinema asiático e artes plásticas. Para comentar com as amigas no almoço. E fingir que é culta.

Indignado com o trânsito, Paulo liga na rádio de trânsito. Só para ficar um pouco mais indignado.

Silmara, a cabeleireira, deixa a TV de seu salão ligada e sem som. Fica suspirando pela buniteza do apresentador do jornal.

Antes de ir para o canteiro de obras do metrô, Juraci pára na banca do Quim. Solta um “eita, danado” quando lê sobre o marido corno que fez picadinho da mulher.

segunda-feira, 22 de março de 2010

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Na poltrona do avião, numa ponte aérea, esmagado entre dois homens de terno e gravata, seguia minha viagem para uma pauta do jornal. O sujeito da direita, de cabelos grisalhos, bem barbeado e ar imponente, carregava um jornal nas mãos, o da empresa onde eu trabalhava. Tinha cara de alto executivo. “Homens de terno e gravata parecem ser mais importantes, mesmo que, no fundo, sejam uns bostas”, dizia meu avô. No meio deles, estava eu, de camiseta, calça jeans, tênis e cara de sono.

O homem da direita começou a folhear o jornal. Depois de alguns minutos, pegou o caderno para qual eu escrevia e passou a ler minha matéria, que estampava a capa daquela edição. Fiquei ansioso. Nunca tinha estado tão próximo de um leitor que não me conhecia. Iria gostar? Leria até o fim? Parecia atento, interessado. Mas logo desviou o olhar, para conferir o rebolar de uma comissária de bordo que desfilava pelo corredor. Se soubesse o quanto eu tinha ralado, não teria feito tal desfeita com meu texto.

Pensei em abordá-lo. E se eu falasse que o Duda Rangel do papel era eu? Acreditaria num cara tão mal vestido? Acharia engraçada a coincidência? Seria indiferente? Em TV, os rostos ficam famosos; em impresso, somos meras assinaturas.

– Esses vereadores fazem um monte de sacanagem e depois usam a imprensa para limpar a barra com a opinião pública, comentou o homem, girando levemente o corpo em minha direção.

– O senhor falou comigo?, perguntei.

– Foi só um desabafo. Não entendo essa imprensa que engole qualquer asneira de um entrevistado.

É certo que, às vezes, engolimos mesmo algumas idiotices, mas alguns executivos engravatados não têm a mínima idéia do que é o trabalho de um jornalista, as dificuldades da apuração, a obrigação de ouvir os dois lados da história. O homem, então, virou a página do jornal e me esqueceu. Meu consolo foi o sorriso da comissária, que voltava pelo corredor, com deliciosas Maxi Goiabinhas nas mãos.