Os cadernos de Esporte dos jornais ou os programas do gênero na TV são uma espécie de Série B ou Segunda Divisão do Jornalismo. Estão bem longe do status do Primeiro Caderno de um jornal, que fala, principalmente, de Política. Mas na Copa do Mundo a coisa muda. O Caderno de Esportes torna-se o mais importante, ganha mais páginas, mais anunciantes.
Repórteres de outras editorias são chamados para uma força-tarefa. Colunistas que não entendem porra nenhuma de futebol aventuram-se a discorrer sobre esquemas táticos. Na TV, os jornalistas esportivos sofrem um choque de elegância e trocam as camisas pólo pela roupa chique. Ficam bonitos, mas não escondem o desconforto com o terno e a gravata.
Preencher tantas páginas dos jornais e tanto espaço na TV apenas com matérias de futebol seria uma grande chatice, então sobram “enfoques diferenciados”. O que falta é criatividade. Confira as matérias mais manjadas de Copa do Mundo, que você com certeza já viu em Mundiais passados e está vendo na edição sul-africana.
Jogadores de búzios, tarólogos, videntes e enganadores em geral apontam quem vai ganhar a Copa. Como cada um indica uma seleção diferente fica difícil saber em quem acreditar.
As torcedoras elegem os jogadores mais gatos do Mundial. Destaque para os que têm as coxas mais grossas e os cabelos mais estilosos. Retranca especial com os atletas italianos.
Os profissionais que não podem assistir aos jogos do Brasil porque estão trabalhando, como policiais, médicos, os caras da empresa de energia elétrica e, claro, vários estagiários.
As insuportáveis matérias sobre os colecionadores de figurinhas dos jogadores da Copa, com o ainda mais insuportável enfoque dos “adultos que viram crianças”.
Gente que não curte futebol. As pessoas que, enquanto está todo mundo enchendo a cara e torcendo pelo Brasil, assistem a um ciclo de filmes poloneses ou visitam um museu vazio.
O comércio de todo tipo de artigo ligado à seleção do Brasil, de bandeirinhas e roupinhas para cachorro a camisinhas falantes que, uma vez vestidas, dizem “pentacampeão”.
Flashes por todo o País de locais públicos com a aglomeração de torcedores durante o jogo do Brasil. Gente de peruca, segurando imagens de santos e, claro, várias gostosas.
Jogadores brasileiros de outras Copas palpitam e falam merda à vontade. Artistas, políticos e outras personalidades não ficam atrás e também palpitam e falam merda à vontade.
Torcedores supersticiosos ensinam mandingas que ajudarão o Brasil a ganhar a Copa, como aquele Zé Mané que assiste a todos os jogos com a mesma cueca verde-amarela fedorenta.
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sexta-feira, 11 de junho de 2010
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Bola na trave não altera o placar
Um olho no campo, o outro na tela do notebook. Era assim que eu cobria um jogo de futebol da tribuna de imprensa do estádio, principalmente nas noites de quarta-feira. O jogo acabava quase à meia-noite e o deadline era apertadíssimo. O juiz apitava o fim e eu tinha uns cinco minutos para enviar o texto para a redação. E, se por um atraso meu a matéria do jogo ficasse de fora da edição, no dia seguinte, meu editor e a torcida dos dois times me xingariam muito, mas muito mesmo. Não dava para bobear. O jeito, então, era assistir à partida e, ao mesmo tempo, escrever o seu relato.
Numa dessas noites de quarta-feira, estava eu num estádio, passando um frio do caralho – a tribuna não era uma sala fechada –, apertando os olhos para driblar minha miopia e enxergar algo naquele campo mal-iluminado e tendo de suportar um joguinho horrível. Vida de repórter esportivo não é fácil. No intervalo do jogo, já havia escrito uns 80% do texto. Vocês já repararam que nos relatos de jogos o primeiro tempo tem sempre mais espaço? Mesmo que todos os gols tenham acontecido no segundo.
A estratégia de deixar o texto quase pronto ainda no intervalo tem lá seus riscos também. O lead naquela noite fria dizia que o empate sem gols resumia bem a mediocridade da partida, sem qualquer emoção. A matéria estava fechada aos 35 minutos do segundo tempo e eu torcia para que nenhum dos times marcasse um gol no tempo que restava. Teria de reconstruir todo o texto.
Acho que, na história do futebol mundial, nunca alguém torceu tanto por um zero a zero como eu naquela noite. A tensão era tão grande que eu até esqueci o frio. Para piorar, o filho-da-puta do juiz ainda decidiu dar uns cinco minutos de acréscimo. Aos 49, a bola foi cruzada na área, o centroavante cabeceou para o chão, com força, no canto do goleiro. Tremi. A bola bateu na trave e saiu. Na tribuna, eu gritei, aliviado, como se comemorasse um gol. Quem disse que repórter esportivo não pode torcer?
Numa dessas noites de quarta-feira, estava eu num estádio, passando um frio do caralho – a tribuna não era uma sala fechada –, apertando os olhos para driblar minha miopia e enxergar algo naquele campo mal-iluminado e tendo de suportar um joguinho horrível. Vida de repórter esportivo não é fácil. No intervalo do jogo, já havia escrito uns 80% do texto. Vocês já repararam que nos relatos de jogos o primeiro tempo tem sempre mais espaço? Mesmo que todos os gols tenham acontecido no segundo.
A estratégia de deixar o texto quase pronto ainda no intervalo tem lá seus riscos também. O lead naquela noite fria dizia que o empate sem gols resumia bem a mediocridade da partida, sem qualquer emoção. A matéria estava fechada aos 35 minutos do segundo tempo e eu torcia para que nenhum dos times marcasse um gol no tempo que restava. Teria de reconstruir todo o texto.
Acho que, na história do futebol mundial, nunca alguém torceu tanto por um zero a zero como eu naquela noite. A tensão era tão grande que eu até esqueci o frio. Para piorar, o filho-da-puta do juiz ainda decidiu dar uns cinco minutos de acréscimo. Aos 49, a bola foi cruzada na área, o centroavante cabeceou para o chão, com força, no canto do goleiro. Tremi. A bola bateu na trave e saiu. Na tribuna, eu gritei, aliviado, como se comemorasse um gol. Quem disse que repórter esportivo não pode torcer?
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