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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Entrevista exclusiva – Sem ser votada, PEC do diploma desabafa: “Tomo antidepressivo”


Em 2011, quando se completaram dois anos do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, o blog Desilusões perdidas teve uma emocionante conversa com o diploma, que falou de suas dificuldades, da tentativa de suicídio e até da amizade com o também marginalizado diploma de datilografia (releia a entrevista completa aqui). Agora, por ocasião do terceiro aniversário, a entrevista é com a PEC do diploma, que vive a dramática espera para ser votada no Congresso.

PEC, muitos jornalistas diplomados estão botando grande fé na sua aprovação, mas a coisa parece demorada. Dá para acreditar ainda num desfecho rápido para a história?

Naquele Congresso, você bem sabe, meu caro Duda, o povo não gosta muito de trabalhar. Aí, fica difícil ser votada. Assim como os jornalistas, eu também estou numa expectativa grande, mas o que eu posso fazer? Agora tem também essa CPI do Cachoeira, depois vem eleição, e é bem capaz que eu caia no esquecimento.

Você sente apoio total dos jornalistas?

Em alguns momentos, me sinto desprestigiada por parte deles. Tem uns aí que nem sabem que eu existo. Outros nem sabem o que é uma PEC. É mole? Vou te falar: esse povo do jornalismo quer ter direito a um monte de coisa, mas é lerdo. Pouca iniciativa, sabe?

O que pretende fazer de sua vida após a aprovação, caso ela realmente ocorra?

Vou descansar um pouco, porque essa coisa de ficar parada, ociosa, também cansa. Sei lá, de repente vou badalar em algum cruzeiro. Meu sonho é ver o Roberto Carlos no navio.

Sei que você tem uma relação bastante próxima com o diploma. É verdade que ele recusou um convite para participar de A Fazenda 5?

Houve, sim, um convite da TV Record que ele recusou, por não se considerar uma subcelebridade. O diploma acredita ter ainda um protagonismo. O que o deixa triste são as mentiras publicadas por aí. Pela própria imprensa, o mais lamentável. Chegaram a escrever que o diploma estava gravando uma ponta num filme pornô.

A amizade entre ele e o diploma de datilografia acabou mesmo?

Este é outro absurdo que disseram. A relação deles está maravilhosa. E mais: outros diplomas marginalizados, como o diploma do curso de leitura dinâmica e o diploma de médico brasileiro formado na Bolívia, também fazem parte do grupo agora. Aquilo virou uma grande família.

Para encerrar: como você lida com a demora em ser votada?

Gosto muito de ficar acessando o site do Senado para saber se vou entrar na pauta de votação ou não. Muito doido isso. Sou ansiosa desde a infância. Minha mãe queria me levar ao psicólogo, mas meu pai achava bobagem. Essa nossa PECzinha ainda vai crescer com problema na cabeça, ela dizia pro meu pai. Agora, para segurar a barra só com remédio mesmo. Tomo antidepressivo todos os dias. Às vezes, uns florais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tristes histórias de quem migrou para o jornalismo sem diploma (e já se arrependeu)


Sou modelo e meu sonho sempre foi ser famosa. Todo ano me inscrevo para a seleção do Big Brother e já ganhei o concurso Miss Festa da Jabuticaba lá na minha cidade. Quando soube que não precisava mais de diploma para ser jornalista, vibrei: “Chegou a minha vez”. Pedi o registro no Ministério do Trabalho, botei minha minissaia e fui pra capital atrás de uma chance na televisão. E não é que eu arrumei um emprego? Só que até agora nada de fama. O máximo que faço é redigir notas cobertas. Que ironia, logo eu que sempre gostei de me despir! Se isso é ser jornalista, então eu tô fora! Quero ter um programa só meu pra apresentar, ser reconhecida nas ruas. Odeio escrever notinha. Prefiro concentrar minhas energias no concurso Garota Festa do Milho Verde 2012 que tá logo aí.
(Suellen Adriely – Sabará/MG)


A medicina foi a maior decepção da minha vida. Muito trabalho para pouco retorno financeiro. Vocês sabem quanto estes vermes dos planos de saúde pagam por uma consulta? Uma merreca! Você trabalha praticamente de graça aqui no Brasil. É mais vantajoso fazer trabalho voluntário na África. Foi quando resolvi mudar de profissão. Como sempre gostei de escrever, descolei um emprego como repórter em um jornal diário. A desgraça é que nada mudou! Plantões intermináveis, celular que toca no fim de semana e uma miséria no fim do mês. Para ser sincero, acho que até piorou. Não consigo sequer decifrar minha letra no bloquinho de anotações. Antes, isso era um problema dos meus pacientes.
(Mário Sérgio Ponzio – Guarulhos/SP)


Só depois de me formar, em Antropologia, descobri que o mercado de trabalho estava saturado. Todo antropólogo quer viver em alguma tribo indígena, mas o problema é que tem pouca tribo para muito profissional. A solução foi buscar oportunidade em outra área. Por que não o jornalismo? Nem precisa mais de diploma. A idéia da diversidade humana de uma redação também me seduziu. Mas quem disse que arrumo emprego como jornalista? Arrumo nada. Acho que no Brasil tem menos redação do que tribo de índio. Fugi de uma roubada e caí em outra. Um amigo publicitário, que também sofre com a saturação dos mercados, me disse que o lance agora é a construção civil. Com o boom imobiliário, tá sobrando vaga de pedreiro. “Vamos bater laje, Dionísio!” Sou fraco fisicamente, mas até que gosto da idéia da diversidade humana de um canteiro de obras.
(Dionísio Cardoso – São Paulo/ SP)

Leia também:
Todo mundo virou jornalista
Diploma, dois anos na marginalidade

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Diploma, dois anos na marginalidade


Há dois anos o diploma de jornalismo perdeu o seu valor. Caiu na bebida, tentou o suicídio. Acabou na gaiola do passarinho. Agora, ele reaparece para esta entrevista polêmica e cheia de sensacionalismo, concedida com exclusividade ao blog Desilusões perdidas.


Como tem sido sua vida nesses últimos dois anos?

É difícil você ser valorizado por décadas e, de uma hora pra outra, descobrir que não serve mais. Se não for numa redação, onde eu vou trabalhar com dignidade? Vou confessar pra você que passei necessidade. Muito amigo sumiu, inclusive gente de sindicato.

O que faz para sobreviver?

Nem eu sei como sobrevivo, ainda mais com quatro bacuris lá em casa pra criar. Faço bico, de toalha plastificada de mesa, forro gaiola de passarinho. Mas é complicado. Você sabe o que é ficar todo sujo de bosta de calopsita?

Algum rancor do doutor Gilmar Mendes?

Como bom cidadão, eu respeito qualquer decisão da Justiça, mas não vou negar que esse filho-da-p### fod## a minha vida. Vamos falar a verdade. Meu amigo, se hoje estou na marginalidade, bebendo pra cara###, a culpa é desse filho-da-p###.

É verdade que você tentou o suicídio?

Num momento de muita fragilidade eu quase fiz uma bobagem, sim. Pensei em pegar uma tesoura e me picar todinho. Eu já tinha perdido quase toda a minha fé. Foi quando eu encontrei alguém muito especial, que está iluminando o meu caminho, alguém que eu já tenho no coração.

Você encontrou Jesus?

Não, não foi Jesus, eu encontrei o diploma de datilografia. Anos atrás, o cara ficou na pior pela mesma razão, a barra pesou pra ele. Mas aprendeu a lidar com o vazio existencial. E está me ensinando muita coisa bacana. Camarada mesmo.

Alguns grupos ambientalistas pedem a entidades de ensino superior do Brasil que comecem a emitir o diploma de jornalismo em papel semente para que o graduado possa plantá-lo tão logo se forme. O que acha dessa idéia?

Acho legal ser responsável com a natureza, mas não pro meu lado. Essa coisa de virar plantinha seria mais uma humilhação pra mim. Esses ambientalistas deviam se preocupar com assuntos mais importantes, como o peido da vaca.

Você tem acompanhado a sua PEC no Congresso?

Estou meio desanimado com essa minha PEC. Meu lobby no Congresso tá mais fraco do que carro 1.0 subindo a ladeira.

Como mudar isso?

Sem o apoio da mídia, é impossível ter alguma perspectiva boa. É por isso que eu agradeço muito a oportunidade desta entrevista. Tenho batalhado também alguma coisa com as produções da Sônia Abrão e da Luciana Gimenez. Se eu puder expor meu drama no Superpop, acredito que muita gente possa me ajudar.

Uma mensagem final, por favor.

O diploma de datilografia sempre me diz que nessa vida tem espaço pra todo mundo. Eu acho que eu ainda posso dar muito de mim para o jornalismo e peço aos jovens estudantes que não me abandonem. Tá cheio de diploma por aí pagando de bonitinho, outros se prostituindo por qualquer curso de dois anos, mas a minha proposta ainda é séria, tá certo? Isso é importante ficar claro. E... eu também queria... eu... bom, acho que é isso... desculpa, gente... eu prometi pra mim mesmo que não ia chorar, mas... Sério, gente, desculpa...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Simpatias para jornalistas


Para o diploma voltar a valer:

Pegue o diploma que você tinha plastificado para usar como toalha em refeições rápidas. Junte a ele um baralho de truco virgem, um livro de Marshall McLuhan e pétalas de duas rosas amarelas. Guarde tudo em uma gaveta e feche com chave. Costure uma foto do doutor Gilmar Mendes na boca de um sapo e enterre o sapo no lixão mais nojento que conhecer. Se milhares de jornalistas fizerem a simpatia, há grande chance de a PEC do diploma ser votada no Senado.


Para fazer a puta matéria e ganhar um Prêmio Esso:

Está amarrado? Sua carreira não progride? Livre-se da preguiça que te impede de sair às ruas para fazer grandes reportagens. Em uma bacia, coloque três copos de água, pedaços limpos de papel do seu bloquinho de anotações e pétalas de quatro rosas brancas. Molhe uma toalha amarela na água e a passe por todo o corpo. O ritual de purificação liberta o repórter de energias negativas, como o Google e o ar-condicionado da redação.


Para filar um rango mais decente em coletivas:

Se você não suporta mais comer canapezinho ou filé ao molho madeira com arroz e batatas, prepare um carré de cordeiro com cuscuz marroquino, harmonize com um Bordeaux tinto e leve tudo a uma encruzilhada. Velas especiais dão um charme à oferenda. Infalível. Em poucos dias, vai chover boca-livre chique. E, para não pagar mico à mesa, faça um curso de etiqueta, mesmo porque ainda não inventaram simpatia com este objetivo.


Para casar com alguém de outra profissão:

É uma simpatia três em uma. Ao casar com um(a) não-jornalista, você também atrai mais dinheiro e um parceiro mais estável (emocionalmente, profissionalmente, sexualmente e outros advérbios de modo). Mas não se trata de uma simpatia fácil. Depende de muita reza, muita vela, muito mel e muito sacrifício para trocar os deliciosos bares de jornalista por baladas cheias de gente careta e com um papo chato do caralho.


Para arrumar um emprego:

Descole uma imagem pequena de Santo Antônio do Bom Emprego, aquela em que ele segura uma pastinha com seu portfólio de matérias publicadas. Coloque o santo de cabeça para baixo em um copo de água e retire a pastinha de suas mãos. Só livre o danado do afogamento e lhe devolva o portfólio quando conseguir o emprego. Se em uma semana você não for chamado nem para uma entrevista, esqueça simpatias e melhore sua rede de contatos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Todo mundo virou jornalista!


Com o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista, muita gente de outras áreas passou a exercer a profissão, sem qualquer qualificação. Clássicas técnicas de entrevista, por exemplo, têm sido substituídas por métodos nada ortodoxos de busca pela informação. O blog denuncia alguns casos mais assustadores.

A moça do telemarketing

- Eu gostaria muito de poder estar entrevistando o senhor. O senhor teria um minutinho para poder estar respondendo algumas perguntas?

- É rápida essa entrevista, querida? É que eu tô no trânsito.

- Super-rápida, senhor. Para a sua segurança e para a minha também, gostaria de estar informando que a entrevista estará sendo gravada. Tudo bem?

O médico

- Você vai me desculpar, mas o que as cirurgias que eu já fiz ou os casos de hipertensão arterial na minha família têm a ver com a minha trajetória artística, musical? Você pediu para fazer o meu perfil profissional ou uma anamnese?

- Fica calmo, são só perguntinhas de rotina. Fumante?

A prostituta

- Alô, Sharon? Tá a fim de um frila bom? Mas, escuta, desta vez é cobertura completa, ok? Apuração, redação, texto final, fotos e até legenda de fotos. Topa?

- (mascando chiclete). Claro que topo, editor. Só que a completa, você sabe, é mais cara.

O jogador de futebol

- Você foi convocado pra reforçar a editoria de política nas eleições. Bem-vindo!

- Obrigado, professor, quer dizer, editor. A gente tá vindo pra somar e a editoria tá unida e espera fazer uma grande cobertura.

- Ah, serão 64 dias de trabalho na redação. Sem folga.

- Sem folga? Sério que rola concentração aqui também?

O assaltante

- Vai passando a informação, vai passando a informação! Rápido, porra! Eu quero o lead inteiro, vai! O que, quem, quando, onde, como e por quê! Tá demorando!

- O “como” e o “por quê” eu não tenho.

- Como não tem?

- Não tenho. Eu juro!

- Qué morrê? Passa logo o lead inteiro, porra!


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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Diploma de jornalista: aniversário de morte


No dia 17 de junho de 2009, ou seja, há um ano, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com os mais nobres objetivos democráticos e gastronômicos, decidiu acabar com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Lembro que, naquela noite, foi muito difícil suportar a dor da perda.

A primeira reação que muitos seres humanos têm em relação à morte – neste caso a morte do diploma – é a negação. Quando soube da notícia, não acreditei, achei que fosse pegadinha. Só podia ser, afinal quem poderia fazer, de forma séria, a comparação entre um jornalista e um cozinheiro? “Esse Gilmar Mendes é mesmo um fanfarrão”, pensei, na solidão de meu lar. Mas logo um amigo me telefonou e confirmou a morte. Não era brincadeira, não havia câmeras escondidas em meu apê.

“Esse Gilmar Mendes é mesmo um filho-da-puta”, pensei, novamente na solidão de meu lar, tão logo meu amigo desligou o telefone. Esta é a segunda reação à morte: a raiva. A exemplo de muita gente, tive vontade de ir até Brasília e invadir o STF com uma arma na mão. “Anos dedicados a uma faculdade de Jornalismo e agora, meritíssimo senhor Gilmar Mendes, descubro que meu diploma vale tanto quanto a minha vizinha do apê ao lado. Ou seja, nada. É isso que o senhor tem para me dizer?” E, depois, apertaria o gatilho.

Mas, assim como a negação, a raiva também passou e cheguei à terceira e última fase: a aceitação da morte. Claro que posso sobreviver sem o diploma. Já perdi tanta coisa nessa vida e sobrevivi. Só nos últimos tempos perdi minha mulher para um office-boy, meu emprego e a convivência diária com o Nestor. E não morri. Jornalistas estão mais acostumados a perdas do que a ganhos. E mais: jornalistas estão acostumados a sobreviver. Um ano após a morte do diploma, acho que cumpri meu luto. E aquela história de querer virar cozinheiro sem diploma e abrir um restaurante era tudo bobagem. Birra pura.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A sindicalização dos sem-canudo


Com o fim do carnaval (ufa!) e o início oficial de 2010 no Brasil, passamos a debater um tema de extrema importância para os novos rumos do jornalismo. Calma, pessoal, não falo dos modelitos de vestido da Patrícia Poeta no Fantástico, mas da possibilidade de o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo – que defende o diploma como parte da regulamentação da profissão – aceitar a filiação de profissionais sem o bendito canudo. Leia aqui o manifesto dos companheiros paulistas. A polêmica é pauta da próxima enquete, já no ar. Você é a favor ou contra a idéia?

Aproveito também este post para anunciar o resultado da última pesquisa – O que é pior para um jornalista no carnaval?. A alternativa vencedora foi “Ficar, simplesmente, de plantão enquanto a maior parte das pessoas se diverte”, com 33% dos votos, prova que jornalista não agüenta mais trabalhar em feriadão. Além de morrer de inveja de quem está no bem-bom.

Mas o negócio é ficar em alerta. Com tanto jornalista sem diploma ciscando por aí, estou começando a achar até perigoso folgar nos dias atuais. No carnaval, por exemplo, a RedeTV! montou uma equipe talentosíssima de repórteres sem graduação em jornalismo, com Iris Stefanelli, Carla Perez, Mirella Santos, Viviane Araújo e outras mais. A concorrência está cruel, minha gente, muito cruel.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Carta de um jovem jornalista ao Papai Noel


"Olá, Papai Noel. Eu me chamo João e acabei de me formar em jornalismo, como milhares de outros jovens do meu Brasil. Este ano, eu fiquei meio chateado com essa história de o diploma não ser mais obrigatório, mas não vou desistir da profissão que eu amo! Com ou sem diploma, porém, o problema maior é que está muito difícil arrumar um emprego. Estou justamente escrevendo para pedir uma oportunidade de trabalho neste Natal. Deixei uma meia pendurada na janela com meu currículo atualizado.

Nem precisa ser um emprego muito bom. Para começar, vale qualquer coisa. Sei que vou ganhar um salário bem pequeno, mas já estou mais conformado com isso. Na verdade, eu estou louco para aprender jornalismo na prática. Estão dizendo que em 2010 a crise vai passar, que a vida vai melhorar e estou mais confiante. Meus amigos dizem que sou muito otimista, que acredito em tudo, até em Papai Noel. Mas a gente precisa ser assim.

Eu sei que cometi alguns erros em 2009, mas nada tão grave que não me faça merecer este emprego. O senhor vai compreender. Eu matei umas aulas na faculdade, fiquei de bobeira na internet, escrevendo bobagem no Twitter, fuçando o Orkut alheio, lendo o blog do Duda Rangel. Também gastei dinheiro com a Playboy da Fernanda Young e eu sei que isso não foi legal. O único vício que eu tenho mesmo é beber demais, embora falam que todo jornalista bebe. Também dou um tapa num baseado de vez em quando, mas só quando estou estressado e com dor de cabeça. E, se é para uso medicinal, não há problema, o senhor bem sabe.

No geral, eu até fui um aluno dedicado na faculdade. Fiz os trabalhos direitinho, li um monte de livros que eles indicaram. Eu também sou bem-informado. Não gosto de ler jornal, mas sigo todas as notícias na internet, até de política internacional. E o meu Português é bem correto também. O senhor pode notar que não tem nenhuma vírgula separando o sujeito do predicado nesta carta, não tem “menas” nem exceção com “ss”.

Em 2010, como jornalista real, estou louco para ver se todas aquelas coisas que o Duda Rangel escreve no blog dele são verdadeiras mesmo. Estou com um puta tesão (ops, desculpa!) de ir para a rua, fazer reportagens, buscar sempre a história mais bacana, denunciar as coisas que estão erradas, comer coxinha de frango na padoca, ganhar um monte de jabá e almoçar de graça nos eventos. Eu também quero conhecer o tal pescoção, trabalhar até altas horas da madrugada. Só não quero ser corno, mas este pedido fica para o outro Natal, está bom? Não vou abusar mais do senhor! Obrigado, Papai Noel. João."

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O barbeiro demoníaco da Rua Cruzeiro


Ao contrário de alguns jornalistas metrossexuais que conheço, assíduos freqüentadores de clínicas de estética, sou um cara conservador. Ainda não compreendi muito bem esse lance de vaidade masculina. Um amigo até fez um alerta: “Duda, hoje o cara passa um creme na cara; amanhã, começa a raspar a bunda; depois, já está trabalhando na editoria de Cultura de algum jornal”. Minha única frescura é ir, a cada dois meses, ao salão do João, antigo barbeiro do bairro.

No salão do João, na Rua Cruzeiro, espécie de “sebo” também, eu resgato a leitura de umas revistas Playboy bem antigas e fico sabendo de todas as fofocas da vizinhança. O barbeiro, mesmo sem diploma de jornalista, sempre dá seus furos. Por ele, descobri que a filha do dentista engravidou do mecânico da esquina. Que seu Vitório, o velhinho que aluga o apê para mim, é viciado em Viagra com Coca-Cola. João não poupa ninguém.

Barbeiro, assim como taxista e aposentado, também tem opinião para tudo. Analisa cenários, faz previsões. João é comentarista de política: “Duda, ouvi dizer que o Lula vai dar o golpe e tentar o terceiro mandato”. João é comentarista de Esportes: “Se o Dunga não convocar o Ronaldo para a Copa, a gente não passa das oitavas”. João é comentarista do mundo do entretenimento. “Tô dizendo que esse Michael Jackson não morreu. Deve estar escondido na mesma cabana do Belchior no Uruguai”.

Minha ex-mulher sempre pedia para eu mudar o corte de cabelo, para algo mais moderno, num “centro de estética bacana”, mas nunca abri mão do salão do João. Sentado em sua velha poltrona de couro, em frente a um espelho com rachaduras e uma pequena televisão pendurada no teto, tenho informação e diversão. Só lamentei o dia em que o desgraçado espalhou pelo bairro que minha ex havia me trocado por um office-boy saradão, com a metade de sua idade. Barbeiro filho-da-puta!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Vida de foca


Monique Evans é a prova de que o jornalista não precisa de um diploma para brilhar na televisão brasileira. A titia foi a grande vencedora da pesquisa – Quem é o melhor jornalista sem diploma da TV? –, com 50% dos votos, deixando para trás Zé do Caixão (33%) e o ex-BBB Diego Alemão (16%). Quem não assistiu aos vídeos dos candidatos pode conferir as preciosidades em post anterior. Monique, repórter do TV Fama, esbanja talento na cobertura do concurso Mister Gay.

A nova pesquisa quer saber qual o maior sofrimento enfrentado por um jornalista em início de carreira. A enquete aborda o jornalista que já superou o desemprego e conseguiu um trabalho. A pergunta pode ser respondida por jovens e velhos jornalistas. Como desgraça pouca é bobagem, sobram opções interessantes. É votar e chorar, não necessariamente nessa ordem.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Enquete: Zé, titia ou Alemão?


Na onda do fim da obrigatoriedade do canudo, a nova enquete deste blog quer saber quem é o melhor “jornalista sem diploma” da televisão brasileira. Para tornar a escolha mais fácil, não deixem de clicar nos links abaixo e assistir aos vídeos dos três candidatos. Imperdíveis!

Candidato 1: Zé do Caixão, entrevistador e repórter do programa O Estranho Mundo de Zé do Caixão, do Canal Brasil. Veja um trecho de sua entrevista com Inri Cristo, que, com certeza, entrará para os anais do jornalismo mundial. Notem também sua destreza como repórter (ele segura o microfone com uma mão e o cigarro com a outra) e o pleno domínio da língua portuguesa, com expressões como “sejam bem-vindo”.

http://www.youtube.com/watch?v=J4JXKzIBV6Q


Candidata 2: Titia Monique Evans, repórter do TV Fama, já fez parte de minhas fantasias erótico-juvenis nos idos de 80. Hoje atua como uma conceituada jornalista na conceituada RedeTV!. No vídeo, titia faz uma reportagem (digna de receber um Prêmio Esso) sobre o concurso Mister Gay. Ela faz perguntas instigantes, como “alguma mulher já pôs a mão no seu cofrinho?”.

http://www.youtube.com/watch?v=-65On3OWwxQ


Candidato 3: Diego Alemão, ex-BBB, o cara que se disse apaixonado por uma caipira semi-analfabeta, ganhou a simpatia de milhões de mulheres românticas e, por conta disso, faturou o prêmio máximo do programa. Hoje, para complementar a renda, faz frila de repórter, especializado em Big Brother, único assunto que domina. No vídeo, ele entrevista o casal Max e Fran, um papo tão cabeça que deve ter deixado com inveja o Antônio Abujamra.

http://www.youtube.com/watch?v=kvkcLhHEoSk


PS: Na última enquete – O que você poderia ter feito com a grana usada para comprar o diploma de jornalista? –, a inspiração gastronômica sugerida pelo dotô Gilmar levou os leitores a darem a vitória à alternativa “Teria aplicado num restaurante, onde também seria o chef de cozinha”, com folgados 37% dos votos, bem distante das demais opções.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sombras e gargalhadas sádicas


Caminho por uma praça da Sé meio sombria.

- Uma esmola pro ceguinho, pelo amor de Deus. Pode dar dez centavos, senhor, cinco centavos, o que tiver. Deus vai lhe devolver em dobro.

Eu conheço essa voz. Sim, eu conheço. Chego mais perto e identifico o sujeito. O ceguinho é o Amaral, meu antigo colega de redação, o editor de Economia. Logo ele, um cara fino, de ações sempre nobres, elegantes.

- Amaral, desde quando você é cego, rapaz?

- Duda?! Ô, meu amigo, fala baixo, por favor.

Amaral me conta que, desde que o diploma para os jornalistas perdeu o seu valor, ele e vários outros velhos colegas perderam o emprego, perderam tudo. Ele poderia estar roubando, como me explica, mas preferia pedir ajuda pro ceguinho.

- Triste é o caso do Fonseca, o repórter de Turismo. Lembra dele, Duda? Sem diploma, caiu na marginalidade. Vivia aqui na praça assaltando aposentados até ser preso.

Fico chocado com a história do Fonseca. Depois, o Amaral me revela histórias ainda piores de outros amigos, que fazem de tudo para sobreviver num mundo sem diploma, gente vendendo DVD pirata nas ruas, vendendo o corpo, a alma.

Minha cabeça começa a girar e, de repente, não estou mais naquela praça triste. Estou agora num grande campo aberto, um gramado imenso e bonito. Vejo os ministros do STF felizes. Eles pulam, riem, viram cambalhotas, como crianças ou loucos de um sanatório. Gilmar Mendes saltita de mãos dadas com o Daniel Dantas. De repente, quem aparece? O office-boy que roubou a minha mulher! Sádico e cheio de soberba, ele gargalha e me mostra um diploma do curso de farramenteiro do Senai. “O meu vale, o seu, não; o meu vale, o seu, não.”

Acordo assustado, suado, cheio de tremedeiras.

- Filhos-da-puta!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Meu caro diploma


Vamos considerar, apenas para efeito de cálculo, que a mensalidade de um curso de jornalismo custe 800 reais. Em um ano, um estudante gastaria 8 mil reais (10 mensalidades). Em quatro anos, esta facada subiria para 32 mil, sem contar gastos com transporte, alimentação, livros e cachaça (mais uns 5 mil reais). Tudo isso para conquistar o precioso diploma.

É certo que, além do canudo, o aluno adquire conhecimentos para toda a vida. Eu, por exemplo, aprendi a jogar truco e nunca mais esqueci. Mas, cá entre nós, 37 mil reais por um pedaço de papel que não vale mais nada é coisa pra cacete. Então fica a pergunta: o que você teria feito com a grana investida no diploma? A nova enquete está no ar. Custa nada participar!

A pesquisa que acabou de ser encerrada – Você acha que um jabá pode corromper um jornalista? – teve como grande vitoriosa a alternativa “Não. Acredito na ética, apesar de ganhar um salário de merda”, com 41% dos votos. Isso não significa, porém, que estes jornalistas cheios de nobres intenções recusem o presentinho. Apenas não deixarão que o mimo influencie no texto final, quer dizer, acho que não deixarão, sei lá, mil coisas...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Diploma, ascensão e queda


Ontem fui dormir meio angustiado. O que farei com o meu pobre diploma de jornalista? Será que devo usá-lo para forrar e proteger o chão das mijadas noturnas do Nestor? Será que devo juntá-lo aos diplomas de alguns amigos, plastificar tudo e formar um incrível jogo americano para refeições rápidas? Será que devo fazer um aviãozinho de papel, como fazia o Silvio Santos com dinheiro, e jogá-lo pela janela do meu apê? Será que devo devolvê-lo à faculdade e pedir reembolso? Será que devo guardá-lo em meu banheiro para o dia em que faltar papel higiênico? Ou será que devo apenas sepultá-lo em um lixo qualquer?

A única certeza que tenho é que, a partir de hoje, serei cozinheiro profissional, inspirado nas sábias palavras do Gilmar Mendes. Sem diploma, é claro. Aliás, alguém pode me ensinar aquela técnica de cortar legumes de uma forma bem rapidinha?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O que a faculdade não ensina


Enquanto perdemos tempo com o blablablá sobre a obrigatoriedade (ou não) do diploma, uma outra questão, até mais importante, fica em segundo plano: a péssima qualidade dos cursos de Jornalismo. Por isso, deixo aqui sugestões de algumas disciplinas, com seus temas de estudo, que poderiam ajudar os jovens coleguinhas a enfrentar, de maneira menos dolorosa, a realidade de nossa profissão.

Jornalismo Contemporâneo: Questões de Sobrevivência

– Aprenda a ser ágil em uma redação cada vez mais enxuta: a arte de escrever três matérias ao mesmo tempo.
– É possível decolar na carreira tendo um péssimo texto? A estratégia de dar para o chefe ainda funciona?
– O desafio de trabalhar pra caralho e sem folga, e ter uma vida saudável.
– Regras básicas para se tornar um assessor de imprensa eficiente e feliz, mesmo odiando este tipo de trabalho.

Teoria Geral da Economia para Enforcados

– Como fazer o seu mísero salário render até o fim do mês.
– Complementando a renda: fazer frila ou vender o corpinho? Os prós e contras de cada opção.
– Evite gastos desnecessários: a arte de decorar sua casa apenas com jabás.
– Plano de carreira na redação: mito ou realidade?

Psicologia Aplicada à Desgraça Cotidiana

– Nunca serei um fodão da TV: a melhor maneira de lidar com as frustrações.
– Como tomar uma porrada de furos da concorrência e não se sentir um merda.
– Maximizando a força interior: sou um fracassado, mas não cometi suicídio.
– Não deixe a sensação de poder subir à cabeça: a famosa frase "sabe com quem você está falando?" é uma grande bobagem.

Sociologia do Caos na Pós-Modernidade

– A arte de trabalhar em hard news e ver o crescimento dos filhos (se tiver tempo de fazê-los).
– Os plantões e a cornitude: estudos de caso.
– Como ter vida social fora da redação, sem precisar interagir apenas com jornalistas.

Elementos Jurídicos no Jornalismo: uma Introdução

– Crimes sexuais: comer a estagiária pode dar cadeia?
– Direito trabalhista: vale a pena colocar seu empregador no pau pelas horas extras que não foram pagas?
– Como transformar sua condenação por calúnia em doação de singelas cestas básicas.


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