– Olha o elogio! Jornalista bonita não paga nada pra experimentar!
– Bom dia, seu Ailton.
– Bom dia. A patroa vai querer levar o quê?
– Tem folga? Eu queria uma dúzia bem gostosa de folga.
– Não tem, querida, me desculpa. Folga tá em falta. Os produtores dizem que é por causa da estiagem nas redações. Pouca gente pra muito trabalho.
– Sei. Mas não tem previsão de chegar?
– Tá difícil. A senhora não quer levar plantão? Tem bastante e o preço tá bom.
– Obrigada, seu Ailton. Eu tô há dois sábados levando plantão. Queria variar, sabe?
– Vou ficar devendo.
– E liberdade de imprensa orgânica o senhor tem aí?
– Ah, essa eu tenho, patroa. E tá bonita, viu? Vai querer quanto? Tá quarenta reais o quilo.
– Tudo isso?
– Mas é liberdade de boa qualidade, sem coisa tóxica, sem interferência de anunciante, de político. A patroa sabe que esta é a única barraca de jornalismo da feira que tem liberdade orgânica. O que mais se acha por aí é liberdade vagabunda, pela metade.
– O senhor tá certo. Me embrulha meio quilo que eu vou levar.
– A patroa é quem manda. E o elogio? A senhora não vai querer nem experimentar? Chegou agora, fresquinho!
– O senhor tem o quê?
– Eu tenho “seu texto é ótimo” e “que pauta mais criativa”.
– Tá bom, me dá só uma lasquinha desse “que pauta mais criativa”.
– Tá suculento este elogio.
– Tô vendo, seu Ailton.
– E como eu dizia, patroa, pra jornalista bonita é de graça.
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quarta-feira, 30 de maio de 2012
Feira
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segunda-feira, 28 de maio de 2012
Os melhores (ou piores) aforismos de Duda Rangel (parte 4)
O bom jornalista é aquele que checa até declaração de amor que recebe.
Todo jornalista deveria acreditar em reencarnação. Sei lá, chance de voltar coisa melhor numa próxima vida.
Personagem para matéria é como marido: difícil encontrar um realmente bom.
Jornalista tem mania de guardar recorte de suas matérias. Para nunca mais ler.
Um dia o piso do jornalista ainda será um porcelanato daqueles bem chiques.
Jornalista que escreve três matérias num dia só tem direito a pedir música.
Jamais pergunte a um repórter chato como foi a pauta dele do dia. Porque ele vai te contar.
O bom repórter escreve certo, mesmo que por pautas tortas.
Jornalista, antes de querer salvar o mundo, aprenda a salvar o texto que você está escrevendo.
No crees en asesores de prensa buenos, pero que los hay, los hay.
Vida de repórter é um combate de MMA: a luta acaba quando a matéria é finalizada.
Beije um jornalista. Vai que ele vira um príncipe. Ou um empresário de sucesso.
Leia também:
Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 3)
Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 2)
Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 1)
Todo jornalista deveria acreditar em reencarnação. Sei lá, chance de voltar coisa melhor numa próxima vida.
Personagem para matéria é como marido: difícil encontrar um realmente bom.
Jornalista tem mania de guardar recorte de suas matérias. Para nunca mais ler.
Um dia o piso do jornalista ainda será um porcelanato daqueles bem chiques.
Jornalista que escreve três matérias num dia só tem direito a pedir música.
Jamais pergunte a um repórter chato como foi a pauta dele do dia. Porque ele vai te contar.
O bom repórter escreve certo, mesmo que por pautas tortas.
Jornalista, antes de querer salvar o mundo, aprenda a salvar o texto que você está escrevendo.
No crees en asesores de prensa buenos, pero que los hay, los hay.
Vida de repórter é um combate de MMA: a luta acaba quando a matéria é finalizada.
Beije um jornalista. Vai que ele vira um príncipe. Ou um empresário de sucesso.
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Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 2)
Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 1)
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sexta-feira, 25 de maio de 2012
Chororô na fila do seguro-desemprego
A repórter, toda metida a superior, toda metida a engraçada, sonhava com um vídeo seu bombando no YouTube, nas redes sociais. Viral jornalístico! Um dia rolou. Entrevista na delegacia. Mas que tragédia! Ficou famosa no Brasil todo por humilhar um joão-ninguém sem a menor noção do que é um exame de próstata. Um joão-ninguém que sequer sabia pronunciar a palavra próstata.
Sua atitude foi execrada pelos colegas de profissão. Pegou mal. Mas ela não é a única culpada, é? Não importa. No mundinho jornalístico, a corda sempre estoura para o lado do mais fraco. E vejam a ironia: a repórter, que parecia tão forte, também é fraca.
Na fila do seguro-desemprego, ela é abordada por outro repórter de TV, que por coincidência também cursou a escola dateniana de jornalismo com requintes de crueldade.
– Você humilhou aquele menino na delegacia!
– Não humilhei, não. Eu só entrevistei!
– Não humilhou, mas quis humilhar.
– Fiz isso, não!
– Mas a gente tem um vídeo que mostra você humilhando o coitado.
– Este vídeo é falso. Foi uma montagem.
– Ah, é falso?
– Eu gostaria, inclusive, de pedir a ajuda daquele perito, o Semolina, para provar que o vídeo é falso!
– Qual o nome do perito?
– Semolina.
– Qual o nome?
– Semolina.
– Semolina? (o repórter se segura todo para não gargalhar)
– Não é?
– Semolina?
– É, aquele perito gordinho, com uma barbona branca, que tá sempre aparecendo na televisão.
– Qual o nome dele mesmo? Semolina? (rindo)
– Moço, eu não sei pronunciar o nome dele.
– Agora, ó, só para resumir a situação: semolina é um negócio que tem no pão, sei lá, um cereal. O nome do perito é Molina. Perito Molina!
– Molina?
– Molina! O gordinho que tá sempre aparecendo na televisão, com barba de Papai-Noel, é Molina. Não é Semolina! Entendeu, porra?
O sistema é bruto para a repórter toda metida a superior, toda metida a engraçada.
O vídeo da tal repórter na delegacia aqui.
Sua atitude foi execrada pelos colegas de profissão. Pegou mal. Mas ela não é a única culpada, é? Não importa. No mundinho jornalístico, a corda sempre estoura para o lado do mais fraco. E vejam a ironia: a repórter, que parecia tão forte, também é fraca.
Na fila do seguro-desemprego, ela é abordada por outro repórter de TV, que por coincidência também cursou a escola dateniana de jornalismo com requintes de crueldade.
– Você humilhou aquele menino na delegacia!
– Não humilhei, não. Eu só entrevistei!
– Não humilhou, mas quis humilhar.
– Fiz isso, não!
– Mas a gente tem um vídeo que mostra você humilhando o coitado.
– Este vídeo é falso. Foi uma montagem.
– Ah, é falso?
– Eu gostaria, inclusive, de pedir a ajuda daquele perito, o Semolina, para provar que o vídeo é falso!
– Qual o nome do perito?
– Semolina.
– Qual o nome?
– Semolina.
– Semolina? (o repórter se segura todo para não gargalhar)
– Não é?
– Semolina?
– É, aquele perito gordinho, com uma barbona branca, que tá sempre aparecendo na televisão.
– Qual o nome dele mesmo? Semolina? (rindo)
– Moço, eu não sei pronunciar o nome dele.
– Agora, ó, só para resumir a situação: semolina é um negócio que tem no pão, sei lá, um cereal. O nome do perito é Molina. Perito Molina!
– Molina?
– Molina! O gordinho que tá sempre aparecendo na televisão, com barba de Papai-Noel, é Molina. Não é Semolina! Entendeu, porra?
O sistema é bruto para a repórter toda metida a superior, toda metida a engraçada.
O vídeo da tal repórter na delegacia aqui.
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quarta-feira, 23 de maio de 2012
Jornalismo #sussa, jornalismo #mtoloco
Trabalhar em revista bimestral é #sussa. Fechamento diário é #mtoloco.
Fazer entrevista por e-mail é #sussa. Olhar na cara do entrevistado é #mtoloco.
Cobrir jogo de futebol do aconchego de uma redação é #sussa. Tomar chuva à beira do gramado é #mtoloco.
Boteco no fim da noite é #sussa. Encontrinho de amigos em apê de fotógrafo é #mtoloco.
Teleprompter é #sussa. Improviso é #mtoloco.
Viver com a grana do Eike Batista é #sussa. Sobreviver com salário de jornalista é #mtoloco.
Tomar um furo da concorrência é #mtoloco. Dar um furo é #mto+mtoloco.
Escrever 20 linhas quando o espaço é de 20 linhas é #sussa. Escrever 20 linhas quando o espaço é de 50 é #mtoloco.
Máquina fotográfica digital é #sussa. Rolinho de filme para revelar na maior correria era #mtoloco.
Ilze Scamparini é #sussa. Marcos Uchôa sem capacete é #mtoloco.
Entrevistar o Suplicy é #muuuuitosussa. Entrevistar o Maluf é #mtoloco.
Vender pauta do Chico Buarque para a imprensa é #sussa. Vender pauta do Manga Rosa, o Julio Iglesias de Linhares, é #mtoloco.
Pode até não parecer, mas TCC é #sussa. O jornalismo na prática é #mtoloco.
Ser jornalista é #mtoloco. Ser jornalista e casar com outro(a) jornalista é #mtolocoaocubo.
Fazer entrevista por e-mail é #sussa. Olhar na cara do entrevistado é #mtoloco.
Cobrir jogo de futebol do aconchego de uma redação é #sussa. Tomar chuva à beira do gramado é #mtoloco.
Boteco no fim da noite é #sussa. Encontrinho de amigos em apê de fotógrafo é #mtoloco.
Teleprompter é #sussa. Improviso é #mtoloco.
Viver com a grana do Eike Batista é #sussa. Sobreviver com salário de jornalista é #mtoloco.
Tomar um furo da concorrência é #mtoloco. Dar um furo é #mto+mtoloco.
Escrever 20 linhas quando o espaço é de 20 linhas é #sussa. Escrever 20 linhas quando o espaço é de 50 é #mtoloco.
Máquina fotográfica digital é #sussa. Rolinho de filme para revelar na maior correria era #mtoloco.
Ilze Scamparini é #sussa. Marcos Uchôa sem capacete é #mtoloco.
Entrevistar o Suplicy é #muuuuitosussa. Entrevistar o Maluf é #mtoloco.
Vender pauta do Chico Buarque para a imprensa é #sussa. Vender pauta do Manga Rosa, o Julio Iglesias de Linhares, é #mtoloco.
Pode até não parecer, mas TCC é #sussa. O jornalismo na prática é #mtoloco.
Ser jornalista é #mtoloco. Ser jornalista e casar com outro(a) jornalista é #mtolocoaocubo.
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segunda-feira, 21 de maio de 2012
Fico assim sem o jornalismo (versão de Fico assim sem você – Claudinho e Buchecha)
Foto sem legenda,
Pauteiro sem agenda,
Sou eu assim sem você.
Gravador sem pilha,
Edição sem ilha,
Sou eu assim sem você.
Por que é que tem que ser assim,
Se o meu salário é tão ruim?
Pressão a todo instante,
Rotina alucinante
E pautas que não têm mais fim.
Plantão sem cafezinho,
Caneta sem bloquinho,
Sou eu assim sem você.
Texto sem espaço,
Foca sem cagaço,
Sou eu assim sem você.
Eu não existo longe de você
Viver sem grana é o meu maior castigo
Por tantas vezes tentei te esquecer
Mas jornalismo, tu é meu amigo.
Papel sem palavra,
Estágio sem roubada,
Sou eu assim sem você.
Programa sem ibope,
Novela sem Zé Bob,
Sou eu assim sem você.
Por que é que tem que ser assim,
Se o meu salário é tão ruim?
Pressão a todo instante,
Rotina alucinante
E pautas que não têm mais fim.
Boteco sem cerveja,
Cachoeira sem Veja,
Sou eu assim sem você.
Evento sem comida,
Matéria sem ser lida,
Sou eu assim sem você.
Eu não existo longe de você
Viver sem grana é o meu maior castigo
Por tantas vezes tentei te esquecer
Mas jornalismo, tu é meu amigo.
Pauteiro sem agenda,
Sou eu assim sem você.
Gravador sem pilha,
Edição sem ilha,
Sou eu assim sem você.
Por que é que tem que ser assim,
Se o meu salário é tão ruim?
Pressão a todo instante,
Rotina alucinante
E pautas que não têm mais fim.
Plantão sem cafezinho,
Caneta sem bloquinho,
Sou eu assim sem você.
Texto sem espaço,
Foca sem cagaço,
Sou eu assim sem você.
Eu não existo longe de você
Viver sem grana é o meu maior castigo
Por tantas vezes tentei te esquecer
Mas jornalismo, tu é meu amigo.
Papel sem palavra,
Estágio sem roubada,
Sou eu assim sem você.
Programa sem ibope,
Novela sem Zé Bob,
Sou eu assim sem você.
Por que é que tem que ser assim,
Se o meu salário é tão ruim?
Pressão a todo instante,
Rotina alucinante
E pautas que não têm mais fim.
Boteco sem cerveja,
Cachoeira sem Veja,
Sou eu assim sem você.
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Matéria sem ser lida,
Sou eu assim sem você.
Eu não existo longe de você
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Por tantas vezes tentei te esquecer
Mas jornalismo, tu é meu amigo.
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sexta-feira, 18 de maio de 2012
20 atitudes para ser um jornalista melhor
Atitudes positivas podem não atrair aumento de salário, mas atraem, sem dúvida, boas energias.
1. Saia para a rua com uma pauta e volte com outra bem diferente.
2. Abrace um assessor de imprensa.
3. Escreva um texto todinho sem aspas.
4. Leia pelo menos dois jornais por dia. Todo dia.
5. Ao saber que foi pautado para cobrir o buraco na rua, sorria.
6. Faça refeições regulares, a cada três... dias.
7. Abrace um entrevistado chato.
8. Adote um foca abandonado.
9. Ensine um repórter velho o que é Facebook, Twitter, iPod.
10. Cultive o seu próprio pé de maconha. Orgânica.
11. Compartilhe o almoço boca-livre com um motorista faminto.
12. Não guarde rancor daquele seu chefe filho-da-puta-corno-desgraçado-babaca que cassou sua folga.
13. Mande um manual de redação para a reciclagem.
14. No plantão de domingo, ligue para o(a) namorado(a) para dizer que está com saudade.
15. Abrace o doutor Gilmar Mendes (brincadeira, não precisa chegar a tanto).
16. Lembre de Deus não apenas no desespero do fechamento.
17. Respeite as minorias, como os jornalistas que ganham bem.
18. Doe mais sangue. A quem realmente merece.
19. Elogie um release.
20. Passe uma semana inteira sem reclamar. Ok, um dia sem reclamar. Uma horinha?
Já comprou o livro do Duda Rangel? Conheça a loja aqui, curta, compartilhe. Frete grátis para todo o Brasil.
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1. Saia para a rua com uma pauta e volte com outra bem diferente.
2. Abrace um assessor de imprensa.
3. Escreva um texto todinho sem aspas.
4. Leia pelo menos dois jornais por dia. Todo dia.
5. Ao saber que foi pautado para cobrir o buraco na rua, sorria.
6. Faça refeições regulares, a cada três... dias.
7. Abrace um entrevistado chato.
8. Adote um foca abandonado.
9. Ensine um repórter velho o que é Facebook, Twitter, iPod.
10. Cultive o seu próprio pé de maconha. Orgânica.
11. Compartilhe o almoço boca-livre com um motorista faminto.
12. Não guarde rancor daquele seu chefe filho-da-puta-corno-desgraçado-babaca que cassou sua folga.
13. Mande um manual de redação para a reciclagem.
14. No plantão de domingo, ligue para o(a) namorado(a) para dizer que está com saudade.
15. Abrace o doutor Gilmar Mendes (brincadeira, não precisa chegar a tanto).
16. Lembre de Deus não apenas no desespero do fechamento.
17. Respeite as minorias, como os jornalistas que ganham bem.
18. Doe mais sangue. A quem realmente merece.
19. Elogie um release.
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terça-feira, 15 de maio de 2012
Nem a pau, tá?
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sexta-feira, 11 de maio de 2012
Mãe de jornalista
Em homenagem ao Dia das Mães, um post para relembrar.
Mãe de jornalista é mais preocupada do que todas as outras mães preocupadas do mundo. Meu filho, se for pro morro cobrir guerra entre polícia e traficante, não esquece de levar o colete à prova de balas, tá me ouvindo? Não quero filho meu pegando bala perdida por aí. Mamãe deixou o colete arrumadinho lá na sua cama.
Mãe de jornalista não tem noção da rotina do filho. Não, mãe, eu não tô na farra. Tô no pescoção, mãe. Isso, mãe, pescoção é trabalho. Pois é, mãe, jornalista trabalha até essa hora. Então, mãe, também não vai dar pra almoçar com a senhora no domingo. Vou estar de plantão. Por favor, mãe, não chora. Mãe?
Mãe de jornalista não entende o visual desleixado do filho. Há quantos anos você usa essa calça? E esse All Star todo sujo? A barba, meu filho, faz a barba! Parece um mendigo!
Mãe de jornalista adora comparar a filha jornalista com o filho médico. Você poderia muito bem ter feito como o seu irmão, o Pedro Paulo, e seguido a profissão do seu pai. Filha, aquele consultório o seu pai construiu pra deixar pra vocês dois! Ainda dá tempo de mudar, filha! Faz como o Pedro Paulo.
Mãe de jornalista também tem orgulho da filha. Recorta tudo que é matéria publicada no jornal. Coleciona, mostra pra família, pras amigas invejosas. Ou fica sentadinha na frente da TV, joelhos colados, mãos sobre as coxas. Não perde um instante da entrevista da filha, com não sei quem, sobre sei lá o quê. Pela tela, faz cafuné na cabeça da moça. Os olhos num aguaceiro só.
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Mãe de jornalista é mais preocupada do que todas as outras mães preocupadas do mundo. Meu filho, se for pro morro cobrir guerra entre polícia e traficante, não esquece de levar o colete à prova de balas, tá me ouvindo? Não quero filho meu pegando bala perdida por aí. Mamãe deixou o colete arrumadinho lá na sua cama.
Mãe de jornalista não tem noção da rotina do filho. Não, mãe, eu não tô na farra. Tô no pescoção, mãe. Isso, mãe, pescoção é trabalho. Pois é, mãe, jornalista trabalha até essa hora. Então, mãe, também não vai dar pra almoçar com a senhora no domingo. Vou estar de plantão. Por favor, mãe, não chora. Mãe?
Mãe de jornalista não entende o visual desleixado do filho. Há quantos anos você usa essa calça? E esse All Star todo sujo? A barba, meu filho, faz a barba! Parece um mendigo!
Mãe de jornalista adora comparar a filha jornalista com o filho médico. Você poderia muito bem ter feito como o seu irmão, o Pedro Paulo, e seguido a profissão do seu pai. Filha, aquele consultório o seu pai construiu pra deixar pra vocês dois! Ainda dá tempo de mudar, filha! Faz como o Pedro Paulo.
Mãe de jornalista também tem orgulho da filha. Recorta tudo que é matéria publicada no jornal. Coleciona, mostra pra família, pras amigas invejosas. Ou fica sentadinha na frente da TV, joelhos colados, mãos sobre as coxas. Não perde um instante da entrevista da filha, com não sei quem, sobre sei lá o quê. Pela tela, faz cafuné na cabeça da moça. Os olhos num aguaceiro só.
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quarta-feira, 9 de maio de 2012
O jornalismo, ano 2070 d.C.
O papel, como a gente conhecia no passado, não existe mais. Jornais e revistas chegam ao leitor em e-paper, afinal, em 2070, quase não há mais árvores no planeta.
Também não há repórteres na rua. A cobertura das enchentes em São Paulo, por exemplo, é feita por uma versão avançadíssima do Google Earth. Dá até para entrar em barraco alagado, entrevistar morador indignado. Tudo remotamente.
A transmissão das informações é ultraveloz. E vai ficar ainda mais. Comenta-se que daqui a 10 anos, lá por 2080, as pessoas vão ficar sabendo de mais uma eliminação do Corinthians na Libertadores antes mesmo de o jogo começar.
Nas redações, 30% dos jornalistas são robôs. Só não tem mais máquina, porque uma lei estabelece este teto. A reserva de mercado resistiu ao tempo. Os robôs trabalham com conteúdo repetitivo, como matérias de mercado financeiro e críticas de jogos de futebol.
A boca-livre perdeu a graça, porque o filé mignon ao molho madeira em 2070 é servido em cápsulas. Os canapés dos vernissages, idem. Tudo no mundo agora é ingerido em cápsulas.
As credenciais para eventos não existem mais. A identificação dos repórteres é feita pela íris – em alguns casos até mesmo pelo odor dos corpos –, tudo isso ligado a um sistema inteligentíssimo de dados que comprova se o jornalista está realmente trabalhando ou só tentando entrar no evento sem pagar. O fim da carteirada.
A PEC do diploma ainda está para ser votada no Congresso. Mas isso deve acontecer no próximo mês. Sem falta.
Os carros de reportagem voam para as pautas. Literalmente.
O envio de releases e o follow up dos assessores de imprensa são feitos por telepatia. O ato de xingar o assessor que transmitiu um pensamento numa hora inoportuna também.
Não existem mais furos de reportagem. Nem os cobiçados prêmios. Tudo porque, lá pelo ano de 2062 se não estou enganado, foi inventada uma máquina de extrair a vaidade dos jornalistas. E sem vaidade, meus caros, furos e prêmios pra quê?
Também não há repórteres na rua. A cobertura das enchentes em São Paulo, por exemplo, é feita por uma versão avançadíssima do Google Earth. Dá até para entrar em barraco alagado, entrevistar morador indignado. Tudo remotamente.
A transmissão das informações é ultraveloz. E vai ficar ainda mais. Comenta-se que daqui a 10 anos, lá por 2080, as pessoas vão ficar sabendo de mais uma eliminação do Corinthians na Libertadores antes mesmo de o jogo começar.
Nas redações, 30% dos jornalistas são robôs. Só não tem mais máquina, porque uma lei estabelece este teto. A reserva de mercado resistiu ao tempo. Os robôs trabalham com conteúdo repetitivo, como matérias de mercado financeiro e críticas de jogos de futebol.
A boca-livre perdeu a graça, porque o filé mignon ao molho madeira em 2070 é servido em cápsulas. Os canapés dos vernissages, idem. Tudo no mundo agora é ingerido em cápsulas.
As credenciais para eventos não existem mais. A identificação dos repórteres é feita pela íris – em alguns casos até mesmo pelo odor dos corpos –, tudo isso ligado a um sistema inteligentíssimo de dados que comprova se o jornalista está realmente trabalhando ou só tentando entrar no evento sem pagar. O fim da carteirada.
A PEC do diploma ainda está para ser votada no Congresso. Mas isso deve acontecer no próximo mês. Sem falta.
Os carros de reportagem voam para as pautas. Literalmente.
O envio de releases e o follow up dos assessores de imprensa são feitos por telepatia. O ato de xingar o assessor que transmitiu um pensamento numa hora inoportuna também.
Não existem mais furos de reportagem. Nem os cobiçados prêmios. Tudo porque, lá pelo ano de 2062 se não estou enganado, foi inventada uma máquina de extrair a vaidade dos jornalistas. E sem vaidade, meus caros, furos e prêmios pra quê?
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segunda-feira, 7 de maio de 2012
Hino Nacional do Jornalismo
Ouviram os estudantes lendas clássicas
De fama e um poder tão retumbante,
Também de liberdade e sonhos ricos,
Brilhou a esperança nesse instante.
Se isso tudo fosse verdade,
Poderíamos gozar a nossa sorte,
Mas a dura realidade
Que condena as ilusões à própria morte!
Ó vida amada,
Desgraçada,
Salve! Salve!
Jornal, trabalho intenso e bem corrido,
De folga e da família a gente esquece,
E quando surge o filho tão sumido,
Mamãe é só sorriso e agradece.
Pulsante pela própria natureza,
És bela num caminho tortuoso,
E o teu futuro é cheio de incerteza.
Vida agitada,
Entre outras mil,
És profissão
Tão adorada!
A vocação é nossa mãe gentil,
Puta que nos pariu.
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De fama e um poder tão retumbante,
Também de liberdade e sonhos ricos,
Brilhou a esperança nesse instante.
Se isso tudo fosse verdade,
Poderíamos gozar a nossa sorte,
Mas a dura realidade
Que condena as ilusões à própria morte!
Ó vida amada,
Desgraçada,
Salve! Salve!
Jornal, trabalho intenso e bem corrido,
De folga e da família a gente esquece,
E quando surge o filho tão sumido,
Mamãe é só sorriso e agradece.
Pulsante pela própria natureza,
És bela num caminho tortuoso,
E o teu futuro é cheio de incerteza.
Vida agitada,
Entre outras mil,
És profissão
Tão adorada!
A vocação é nossa mãe gentil,
Puta que nos pariu.
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quinta-feira, 3 de maio de 2012
Cadê a liberdade de ser jornalista?
Celebrar o dia da liberdade de imprensa é bom. Só quem viveu o perrengue de uma repressão política ou viu jornal ser fechado na porrada sabe que hoje os tempos são, felizmente, outros. Mas cadê a liberdade de ser jornalista? A mídia é livre. E nós?
Quantos jornalistas ainda são torturados pela tal linha editorial de seus veículos, espancados por publicações que mais parecem porta-voz de partido político? Tem também o anunciante, que é legal e paga o nosso salário, mas alguns são linha-dura, tipo delegado do DOPS. Experimenta só fazer propaganda contrária.
E onde está o interesse social? Será que ele morreu num pau-de-arara? Apagou depois de tanto choque elétrico? O interesse social é um exilado, um desaparecido? Em tempos de imprensa livre, os interesses que prevalecem são diversos. E nós, jornalistas, ficamos perdidos entre o que deve ser dito e o que convém ser dito. Esqueçam as receitas de bolo da ditadura. Hoje, temos os dossiês customizados, as matérias de encomenda.
Claro que existem empresas de comunicação sérias, que valorizam a liberdade conquistada e respeitam o jornalista. Sim, não dá para generalizar. Mas é triste constatar que os próprios jornalistas estão deixando de acreditar na imprensa. Ou sentindo vergonha dela. Não é fácil enfrentar o Sistema. Viramos reféns. Ou você aceita ou está fora. Como diria o capitão Nascimento, o Sistema é foda.
Celebrar o dia da liberdade de imprensa é bom, mas seria ainda melhor se esta imprensa livre fosse capaz de aprender o verdadeiro sentido de “ser livre”.
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Quantos jornalistas ainda são torturados pela tal linha editorial de seus veículos, espancados por publicações que mais parecem porta-voz de partido político? Tem também o anunciante, que é legal e paga o nosso salário, mas alguns são linha-dura, tipo delegado do DOPS. Experimenta só fazer propaganda contrária.
E onde está o interesse social? Será que ele morreu num pau-de-arara? Apagou depois de tanto choque elétrico? O interesse social é um exilado, um desaparecido? Em tempos de imprensa livre, os interesses que prevalecem são diversos. E nós, jornalistas, ficamos perdidos entre o que deve ser dito e o que convém ser dito. Esqueçam as receitas de bolo da ditadura. Hoje, temos os dossiês customizados, as matérias de encomenda.
Claro que existem empresas de comunicação sérias, que valorizam a liberdade conquistada e respeitam o jornalista. Sim, não dá para generalizar. Mas é triste constatar que os próprios jornalistas estão deixando de acreditar na imprensa. Ou sentindo vergonha dela. Não é fácil enfrentar o Sistema. Viramos reféns. Ou você aceita ou está fora. Como diria o capitão Nascimento, o Sistema é foda.
Celebrar o dia da liberdade de imprensa é bom, mas seria ainda melhor se esta imprensa livre fosse capaz de aprender o verdadeiro sentido de “ser livre”.
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