domingo, 17 de abril de 2011

Inimigos.



Após o expediente partia apressado tentando alcançar a condução, a qual pagava com uma nota amarrotada e seguia para um endereço obscuro onde habitava uma kit net bagunçada repleta de DVDs, quadrinhos e miniaturas.
Cruzou apressado a porta que pedia com um adesivo “distância”, despiu-se angustiado e agarrou a fantasia e foi a vestindo sobre o corpo suado. Com bastante dificuldade conseguiu montar sua personagem, e ao passar ao lado de um espelho sorriu bem satisfeito. Mirou seus agora ferozes olhos e se disse:
-Seu nome é Logan!
Não havia uma Harley Davidson, o dinheiro ainda não era suficiente então a opção era enfrentar olhares preconceituosos em lotações e toda parte, não havia o respeito à excentricidade, que o dinheiro compra então suas aventuras eram mais modesta que a do verdadeiro herói, e seus inimigos se armavam de zombaria, causando feridas  talvez impossíveis para seu fator de cura.
Por outro lado a personagem o fortalecia, e em seu nicho o que chamava a atenção era a caracterização impecável, o andar altivo, arrogante! Ali ninguém ousava fitá-lo por muito tempo, nem mesmo Batman ou Jaspion!
Seus ossos adamantinos, suas garras retrateis, sua capacidade de recuperação instantânea e sentidos animalescos eram mal pesados e faziam suspirar aqueles que “tinham” poderes menores como voar, intangibilidade, celeridade, controle climático, telepatia, telecinésia...
Existia uma aura em torno da personagem, da sua virilidade agressiva, um magnetismo animal as quais os homens invejavam, e as mulheres desejavam.
Então passeava orgulhoso pelo evento, entre o stand de Jornada nas Estrelas e Chaves quando seu aguçado faro rastreou, dentre milhares de heróis o seu arquiinimigo!
Entre empurrões e saltos espetaculares nas bancadas de produtos foi desenvolvendo seu balé mortal até que seu corpo pousou suave poucos metros dele: Dentes-de-Sabre!
Ele comprava umas rosquinhas e um copinho de café quando o barulho da expulsão das garras o fez se virar. Parecia confuso com a situação, mas logo se deu conta do que estava para acontecer! As fibras de seu corpo se contraíram preparando a energia do salto, a adrenalina excitou-os e o sabor do sangue inimigo se antecipou em seu paladar!
Ambos rosnaram:
-Creed!
-Logan!
E saltaram cortando o ar e seus corpos com o metal e a queratina de suas garras! Arranharam-se, morderam-se, socaram-se e as roupas iam sendo destruídas enquanto as garras plásticas e as unhas cultivadas a longos meses se partiam e o sangue e hematomas iam surgindo tão abundantemente quanto nos quadrinhos! Bateram-se e quebraram todas as bancas daquele espaço enquanto Darth Vader, Homer Simpson, e tantas outras personagens torciam por seu preferido, e ainda alguns  filmaram para um novo post no You Tube!
O “embate terminou em empate”, ambos tombaram exaustos ao mesmo tempo, mas ainda ameaçavam uma retribuição assim que seus corpos estivessem totalmente curados; mais ou menos daqui uns cinco minutos!
 O pode mutante falhou, e uma ambulância foi chamada para o socorro, e ambos foram movidos ao som de aplausos para seu retiro em algum hospital, onde permaneceriam pelo menos um mês!
Aquele evento ficou para história e todos  fizeram questão de elogiar e agradecer seus organizadores; que além de oferecerem uma ótima estrutura para os amantes do Cosplay, ainda inovaram oferecendo uma espetacular luta entre tão mortíferos e amados personagens!

Anderson Dias Cardoso.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fetiche.


No acidente o carro lhe levou uma perna; belíssima, torneada como uma coluna de bronze e terminada em pezinho delicado, que deixou sua imagem inversa como uma peça de saudades!
Após o doloroso luto um conformismo discreto quase lhe alegrou o coração, mas ainda se negava a fitar o lugar mutilado.
Eu, entre carícias e palavras de conforto não me mostrava chocado com aquela falta e ainda me espantava com a formosura restante. Então a confiança pôde retornar; a erguendo pelas mãos lhes fez recobrar a vida, e o sorriso se tornou constante, se viu preparada para receber sua nova perna!
Ela se encaixou no ponto de vergonha e minha linda era de novo uma infanta, ousada em seus passos e rodopios e ao cabo de dias a intimidade das partes a levou às brincadeiras mais extravagantes.
Numa ocasião, descobertas ambas pernas o luzir da perna metálica me despertou a curiosidade, e me encantei com sua força e rigidez. Seu toque frio seduziu-me o tato e meus olhos fugiam constantemente do foco dos olhos negros para o lustroso aparato!
Uma compulsão foi o que se tornou para mim! Ao invés da maciez dos fios escuros preferia acariciá-la onde não era ela! E eu tentava disfarçar tal interesse alternando minha atenção entre o aço e a carne!
O namoro levou ao casamento e o amor foi envelhecendo junto aos corpos e aquela perna se mantinha  eterna, tanto pelo zelo quanto pela muda de peças, enquanto a outra tinha transtornado seu aspecto, minada de rugas, manchas, varizes, estrias e salpicada de sulcos faziam me resvalar numa repulsa inconsciente...
Não obstante meu amor foi fiel até seu fim, nenhuma carne me atraiu, de forma alguma a traí, e se fraquejou alguma vez o coração o que seduziu não pôde me retribuir os chamegos;
Meu outro afeto era frígido, rígido e inoxidável!

Anderson Dias Cardoso. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Amor De Filha.


Algumas vezes salvas da miséria pela habilidade culinária da mãe, que vez por outra era trazida a casas opulentas para preparar banquetes, dos quais as sobras e umas poucas notas lhes recompensavam.
 Gasto os parcos rendimentos e devorada a comida fria a preocupação se assomava à nova fome e a mulher saia a biscatear de todas as formas para lhes assegurar o teto e o consolo ao estômago vazio.
A necessidade e caráter a condicionaram ao trabalho, e desses a primeira lhe forçava a aceitar centavos por litros de suor, mas esperava da vida a recompensa em sua filha e quando ousava sonhar um pouco mais além se via retribuída por uma filha formada e próspera, em uma casinha sua e uns poucos mimos.
Das freguesas costumeiras uma se tornou amiga, e sua filha amiga da filha, as crianças se perdiam na imensidade do imóvel enquanto a mãe revezava entre o fogão e a vassoura.
As crianças se encantavam com a imensa coleção de bonecas, da quais selecionavam as mais belas para construírem suas estórias e assumir seus papeis ainda que inconscientemente, e ao fim do expediente ficava a saudade, principalmente daquela que não tinha bonecas para fantasiar!
Mãe e filha dobraram a esquina, e a mão calejada entregou uma moeda à pequena para que satisfizesse um pequeno capricho de uns poucos caramelos no bar mais próximo; e separando-se a menina alcançou o balcão e fez seu pedido e os recebeu em um saquinho quase murcho, e ao se virar para retomar sua volta à casa um homem de camisas brancas a abordou, e nivelando se a ela, e olhando nos seus olhos ele se disse um anjo, pediu que não gritasse ou revelasse sua identidade e lha oferecia o desejo do coração!
-Peça; eu vim para realizar!As palavras brilhavam entre  dentes branco!
A garota baixou a cabeça, lembrou se de sua mãe, dos trabalhos e fadigas e fez silêncio por uns minutos e retornou ao desejo já decidida:
-Quero bonecas mais belas que as de minha amiga!
Satisfeito o desejo o anjo a deixou e as histórias de mãe e filha seguiram seu previsível caminho rumo à mediocridade...

Anderson Dias Cardoso.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Asco.


A ala mais visível do restaurante burguês era povoada por uns mesmos rostos abastados.
Mesas próximas a rua os expunham  como uma vitrine de vaidades muito apreciada, e os sorrisos e maneirismos afetados  eram o prato dos adolescentes!
Conversas, chopes, e alegria! O cardápio  com novidades de carnes e vinhos  e os pedidos forraram a mesa de beleza e aromas!
Andrajosos às vezes  também ousavam perambular por aqueles espaços a  remexer os lixos, esmolar e ofender o bom gosto da nobre freguesia.
A figura era esquelética. Cabelos desgrenhados e vestes rotas e imundas compunham uma imagem de miséria. Movia-se lenta, e sua tosse chamava atenção, e selecionando restos dignos os engolia como paliativo para uma imensa fome. 
Notando-a a conversa animada dos filhos da fortuna se tornou em sussurro;  convergiram  para aquele teatro de miséria e viram-na como contraste à suas  farturas...
Eles zombaram! 
A velha tossia alto... E eles riam!
Ela abaixou-se e abriu um embrulho, e mastigou mais alguma coisa, e eles lha ergueram um ruidoso brinde! Comiam bocados de carne e deixavam seus sucos escorrerem animalescamente das bocas cheias, e o gosto e a fome lhes foi um prazer a ser exposto, e a cada bocado mais aumentava a fome!
Eles continuavam a afrontá-la, e num início de irritação ela agitou a cabeleira, e atirou restos às mesas do escárnio e eles riram mais dos braços finos que não lhes alcançava com sua pouca potência!
Ela tossiu, praguejou e eles erguiam os pratos cheios!
Ela xingou... Xingou...Xingou; e os pulmões pediram clemência, e vendo a derrota da miserável eles gargalharam! Ela; por fim lançou um olhar malicioso e sorriu discretamente!
Um acesso de tosse ainda mais violento, e o peito expectorou, e a velha gargalhou, devolvendo lhes o  olhar de escárnio e cuspiu uma imensa massa de muco ensangüentado!
Os olhos orgulhosos  se desviaram enojadíssimos,  e os estômagos se revoltaram e aquele almoço que profanava as dignidades  se findou abruptamente!
A imagem se fixou na retina, e a repulsa à alma!
Cada qual pagou sua conta, e sem se despedir saíram para nunca mais voltar!

Anderson Dias Cardoso. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Surpresas Extraterrenas.


A TV se encontrava surpresa na cidade de Marisco, interior do Ceará.
 O câmera gemia baixo o riso, a imagem tremia um pouco e o repórter assumia o ar grave característico do ofício e uma família típica nordestina tentava se posicionar no melhor enquadramento possível.
Armado o cenário o patriarca dá um passo à frente,  a pedido do homem engravatado e a imagem fechou detalhando aquela curiosa criatura. Marcou a camisa xadrez azul entreaberta e a pele morena de poucos pelos, subiu pelo rosto largo e já meio enrugado pelo trabalho eficiente do sol, fixou se um pouco no bigode espesso que tentava esconder a boca falta de dentes, passeou por olhos bem cansados e terminou no surrado boné que estampava propaganda política.
Descobriu se logo que seu nome era Cirilo, e reivindicava a si e sua família como uma extravagante família extraterrena!
O homem engravatado então pôs se a passear pela sua história e descobriu uma longa genealogia localizada especificamente naquela terra, dos quais alguns dos  remanescentes; seus avós paternos haviam morrido anos atrás; em dias severíssimos.
-Vô Raimundo morreu de fome, vó Tônha morreu de tristeza!
A família agora contava seis pessoas: Ele, Miriã, e os quatro meninos Raimundo, Batista, Américo e o bebê Jurandir.
Moravam na casinha de adobro, tinham umas seis cabras e estavam cadastrados em planos de assistência do Governo!Tudo muito absurdo!
Da história família passou a questionar dos métodos de locomoção utilizados na viagem interplanetária, da existência de uma nave ou algo que comprovasse a verdade que teimavam em confirmar, e o homenzinho sacudia negativamente e acusava os jagunços nomeados “Calangos Secos” de terem surrupiado o módulo de sobrevivência que os trouxe até a terra.
-Roubaram tudinho os cabras!- Dizia muito indignado. - Acho que trocaram por carne seca numa vila acolá...
Interessado pela história, agora como um assunto cômico sentiu se simpatizar pelo homem e quis saber sobre o quotidiano; quis continuar o chiste, e soube que gostavam muito de novelas, séries americanas e filmes do Mazzaropi!
Tinham um fusca 79, o qual servia de galinheiro para umas poucas galinhas; a mãe, de braços muito finos escovava os longos cabelos três vezes ao dia, e todos os filhos esperavam se tornar jogadores de tênis, mesmo sem quadra ou equipamentos por perto!Coisas da admiração!
Cirilo os convidou para um café e lhes ofereceu um pedaço farto de queijo de cabra, que foi comido gostosamente, e mostrou-lhes a casa simples e os brinquedos das crianças, e se encaminhando para o fim da entrevista lhe foi perguntado por que tinha chamado a imprensa àquele lugar, e ele disse com voz firme que queria pedir ajuda ao governo para a construção de uma nave que os conduzisse ao seu planeta natal!
O repórter abriu espaço para que o homem fizesse o apelo, e até sentiu um pouco de pena daquela família, que parecia ter sido transtornada pelo clima quente.
A petição simplória reafirmava a confiança no governo, agradecia pela já iniciada transposição do São Francisco, e pedia a construção da tal nave, pois eles sentiam muita falta de seu planeta...
A câmera foi desligada, e numa rápida conversa dos envolvidos e cumprimentos sinceros a equipe da TV se despediu desejando muita sorte aos que ficavam!
Quando o pó do furgão se desfez no horizonte o homenzinho se abraçou com sua mulher, e dessa e seus filhos se formaram uma corrente humana, e Cirilo disse com voz desanimada:
-Eles não acreditaram ni nóis... Aposto que se fosse uma famía de  ET americano eles ia levar a sério!

Andeson Dias Cardoso.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Chocolate e Mentiras.


A mesma mentira soava na rádio, e o caminhão se quebrava em lugar idêntico!
A propaganda do desastre ensaiado vendia o chocolate vagabundo como iguaria fina; e chamava às pressas estúpidos felizardos para lhes esvaziar o baú...
Chocolates enfeitados de adjetivos! Divertida farsa!
A primeira compra foi só surpresa, negociação tranqüila e simpatia demais para motoristas acidentados.
Fregueses familiarizados os chamavam pelo nome, mandavam lembranças aos entes e se abraçavam às caixinhas de porte inferior ao anuncio.
O acesso ao doce barato desculpava a falsidade da publicidade, e nos meses seguintes ainda esperavamos pela próxima quebra do caminhão instável...
Um engano que seguia doce; aumentando os lucros de seus pais ao preço dessa banalização de mentiras...
Singelas; mas ainda mentiras.

Anderson Dias Cardoso. 

quarta-feira, 30 de março de 2011

Um Desses Dias Amargos.


O despertador fere os ouvidos enquanto o sol vandaliza os olhos e o relógio me empurra para minha rotina!
Visto roupas rotas, tomo uma refeição pobre e sigo espremido na lotação e oprimido no emprego.
A rádio não sintoniza meus gostos, as vozes me irritam todas!
E os diálogos? Realmente hoje nada me interessa!
A hora freia, minha angústia aumenta e a tarefa entregue tortura as mãos e o nervos!
Ouço um podcast e penso: Pode “Cast out”! Tento me concentrar no silêncio, mas a broca ao lado o fulmina!
O martelo acerta duas vezes o mesmo dedo, a paciência atinge seu limite, mas a legislação me impede de “matar” alguém! E zombando de mim  até os minutos recusam a finar, antes parecem se replicarem em sucessivos instantes!
No almoço, marmita fria, carne dura, verduras murchas e pouca fome!
No quilo, o tempo se apressa, o estômago pesa e o corpo amolece!
No seu fim a máquina costura rápido, a mente trabalha lenta e a obra feita quase merece o lixo!
Penso em pedir dispensa, penso nas despesas e por fim me despeço do pensamento!
Custa! O  fim do expediente, custa mas chega!
E minha alegria é  o ônibus cheio, uma programação televisiva repetitiva e os costumeiros pesadelos...
Dos quais o pior deles é o “bolso vazio”!

Anderson Dias Cardoso. 



domingo, 27 de março de 2011

Caridade Torta.

Cumprindo a parte que os cabia, propondo se ao trabalho social romântico que vez ou outra toca o coração dos homens se encaminharam às cercanias da cidade levando pasta, ataduras, anticépticos, dapsona... sua medicina para corpos semi-decompostos..
Avistaram a vila triste, a "Casa de Hansen" e o sorriso e conversa animada se obscureceram e quando adentraram na comunidade de farrapos humanos a sua saúde quase os envergonhou!Tanta podridão dorida... Terrores físicos e carências emocionais!
O marido adiantando-se rogou os que não se afastassem, e quando notaram receptividade seus passos convergiram esperançosos e alguns desses correram, mas pararam à costumeira distância.
O casal ia se apresentar, dizer de suas especialidades como hansenólogos, e as intenções de cuidá-los, mas as vozes os conduziram apressadas a uma emergência!
Num barraco úmido uma jovem mãe de mãos enfaixadas se contorcia na cama manchada de sangue e pus, e as contrações anunciavam a vinda de uma nova vida como um contraste de vida e morte.
A criança nascida, linda e perfeita foi espetáculo para uma dúzia de olhos, e esperada por outra centena fora do casebre, e sua beleza foi um breve esquecimento da feiúra da maldita doença.
Lavaram-na em água fria, ataram o umbigo, cobriram-na com uma toalha limpa que haviam trazido, e quando a criança foi entregue à mãe esta encolheu as mãos, que exibiam crostras, mas o amor brilhou em seus olhos então ela quis abraçar seu rebento; e o coração da médica doeu de ciúmes.
As mãos enfaixadas da mãe se deixaram entrever, e exibiam o aspecto um pouco repulsivo, mas eram passíveis de  recuperação, então a médica reforçou a dobra do tecido e entregou a menina à mãe, fazendo recomendações de que não lhe tocasse a pele nua.
Nesse instante a médica escorregou os dedos sobre o ventre que recusou por tanto tempo em gerar, e esses mesmos dedos secaram uma lágrima que disfarçava a inveja em ternura... Ela olhou para seu esposo, e seus olhos negociaram a farsa, e ambos trocaram a caridosa missão pelo desejo de maternidade!
Eles disseram das péssimas condições sanitárias do local, convenceram a mãe do contágio certo da criança, e omitiram que antes do maldito sentimento lhes acometer  estavam dispostos a tratá-la, deslocando-a para um lugar mais apropriado, e ainda cuidar dos daquela colônia.
A oferta de adoção foi feita, e considerando o bem da pequena tudo se resolveu com muitas lágrimas sentimentos de dor, gratidão, e contentamento!
Como sinal de muito boa vontade o casal tratou as mãos feridas, e as atou com novas faixas, esquecendo propositalmente o dapsona e outros medicamentos que reverteriam o entorpecimento nevral e tratariam os ferimentos evitando a perda de membros e órgãos. Se despediram, cumprimentados pela legião de mortos vivos pela sua bondade e ousadia diante da doença e da repulsa, e todos desejavam melhor sorte para a criança que agora escapava daquele destino.
Eles partiram e se esqueceram daquele lugar, chamaram a menina "Vitória", como tantas outras fugidas da morte e a boa criação que a deram lhes apaziguava o coração.
Anos depois o leprosário foi vendido a uma construtora para um empreendimento condominial após ser purgado; e os doentes se espalharam por toda a cidade, e em um passeio familiar a já adolescente Vitória depositou algumas moedas numa caneca de uma certa pedinte, e sua mãe, surpresa voltou alguns passos e fitou os olhos (agora cegos), e as mãos desprovidas de dedos e reconheceu a mãe de sua filha... Então a  caneca soou com mais algumas moedas atiradas pela compaixão de Vitória, e a mulher sorriu um sorriso triste de agradecimento...

Anderson Dias Cardoso.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Camiseta Suja.




Como a solução para camisetas sujas em um serviço tipicamente manual resolvi me utilizar de um estranho, mas muito eficaz engenho: Virava-as ao avesso e as vestia novamente, deixando a  sujeira escondida ao desvirá-las no fim do expediente.
Sempre que os olhos incompreensíveis me alcançavam, com um julgamento típico eu me afirmava em silêncio, e as vezes sorria desses pensamentos que minha estranheza causava.
As vezes, quando interrogado me dizia devoto de "SANTO ANTÔNIMO", o padroeiro dos avessos, e me ria do trocadilho, aumentando ainda mais a pose de doido!
O ápice das más interpretações, foi  uma  irmã confusa oferecendo  a camiseta à minha mãe e expondo minha loucura, ou falta de asseio:
-Mãe, acho que o mano não toma banho direito, olha só como o avesso das camisas estão imundas!!!
Algumas pessoas devem ser explicadas...Na maioria; eu as prefiro enxergando com seus
próprios preconceitos.

Anderson Dias Cardoso. 

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Ciclo Das Mediocridades.


Novamente humilhado naquele emprego ridículo, por um chefe despótico em uma situação financeira pouco melhor que a sua  foi outra vez se refugiar no diminuto banheiro tentando esconder algumas lágrimas e esvaziar a bexiga tensa.
Livrou se do choro com um pouco de água fria, recostou-se na vagabunda porta de lata, que gemeu alto e então levantando  afastou-se, e enquanto a respiração reencontrava seu compasso a bexiga reclamou por alívio.
Executava todo o ritual de se despir quando, olhando para o interior da bacia encontrou uma formiga que por lá errava próxima a água.
Ele conteve ainda a urina e se maravilhou com as proporções entre si e a formiga.
Esqueceu suas  vexações e se imaginou um colosso capaz de aniquilar toda uma colônia daquelas criaturinhas insignificantes. Sorriu de deboche, e urinou violentamente varrendo-a quase morta para a superfície das águas e completou seu escárnio com uma descarga a qual segurou a botoeira por longos instantes.
Saiu satisfeito, sentindo-se novamente homem, não verme!
Uma semana após, falecia por uma forte gripe...

Anderson Dias Cardoso. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Terrores Noturnos.


Houve tempos onde as camas não eram divididas a não ser no amor, e os sonos eram mais tranqüilos, as colunas não se deformavam tanto e os dias passavam menos extenuantes e irritadiços.A Revolução Industrial espremeu nas cidades as gentes e os espaços se tornaram raros e os quartos acolheram dois ao invés de um.
Hoje, o que era praticidade tornou se romantismo, ou quase; pois existe o ressonar, cutucões e flátulos, que no dia seguinte produzem no mínimo protestos e talvez a separação!
Atormentei muitíssimo meu matrimônio com estes mesmos sons, movimentos e aromas até que o conformismo  sossegou uma esposa raivosa e a noite passou a ser dormida por inteira.
Acostumado a um descanso silencioso me vi espantado por uma conversa empolgada às 3:00 da madrugada!
Ela sorria, respondia a uma amiga desconhecida para mim e dizia: "Depois eu te conto!", e sorria mais alto, e meu coração tentava escapar do peito! O monólogo durou alguns minutos e findo, meu sono demorou a me convencer novamente!
Muitas vezes me espantei com minha esposa; outras beirei a morte com aquela voz alta que me fazia um espectador de um diálogo estranho, com uma interlocutora abstrata!



Anderson Dias Cardoso.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Religiosidade.


Chegou perfumado, em suas mãos presente e flores;
Chamei-o Alberto mas este não era seu nome, e quando me disse amor preferi ouvir prazer.
E como amor ingrato não reconheceu seus gostos no banquete oferecido.
E se forcei a prosa, dizendo dos meus afetos fez se de estranho, como se falasse de outro!
E eu o bajulei por seus olhos azuis, sua boca rosada e seu mais apetecível silêncio!
E o depois; numa sala aconchegante dividimos uma TV, enquanto ela nos dividia,
E ao se aproximar o sorrateiro sono,
Ou um disfarçado tédio eu me despeço sem beijo,
Peço que volte amanhã, ou mesmo algum dia qualquer, e aceno fria a Alberto;
E ele me relembra que o nome é Jesus!


Anderson Dias Cardoso. 

domingo, 13 de março de 2011

Um Selo De Qualidade???É Comigo???

Recebi esse selo de qualidade de um blog que acompanho e aprecio bastante!http://raylsonbruno.blogspot.com

O negócio é postar o selo, responder às perguntas e repassá-lo para outros blogs que eu considere que mereçam e ainda não têm:( A forma de postagem seguem mais ou menos esse mesmo padrão)


Aqui estão as perguntas:
Nome: Anderson  Cardoso.
Uma música: Every Thing do Life House.
Humor: Na maioria das vezes falta...mas quando vem é um pouco ácido.
Uma cor: Duas...hehehehe!Azul e branco.
Estação: Inverno.
Como prefere viajar: De jeito nenhum...hehehe...
Um lugar: Minha casa.
Um filme: Na verdade um documentário: A Corporação do Micheal Moore.
Um livro: A Bíblia.
Um prazer: Ler.
Um seriado: Os Simpsons.
Time do coração: Meu coração tá ocupado com coisas mais úteis...
Frase mais dita por você: minha esposa disse que é: "Sei lá!!!", uma outra é "Esqueci o que tava falando..."
Porque tem um blog: Escrever é uma forma de despertar outras pessoas para os absurdos que nos cercam.
Sobre o que você escreve: Nada em específico, mas geralmente retrata as misérias humanas.
Escreva a primeira coisa que vier a cabeça:"Pra que???"
O que achou do selo: Muito bacana, me sinto valorizado!




E aqui estão os blogs que eu considero merecedores:

http://acorda-amor.blogspot.com/
http://deaeomundo.blogspot.com/
http://na-ponta-do-meu-lapis.blogspot.com/
http://wwwreginagois.blogspot.com/
http://culturaleste.blogspot.com/
http://blogdoprofex.blogspot.com
http://mmelomaisdomesmo.blogspot.com/
http://mousahrt.blogspot.com/
http://filosofiadebanheiroecias.blogspot.com
http://www.variedadesedicas.com

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Menino Das Marionetes.


A traição delatada  e a ira paterna lhe presenteou com um espancamento e a amputação de uma enorme parcela  da língua, e a mãe, aterrorizada esperou pelo repouso do monstro e fugiu com seu ferido para uma aldeia distante.
A criança não mais falava,  e sempre se encontrava às pernas de sua mãe. Era criança agitada, triste, e por não saber como avivar aquele olhar ela pegou agulha e linha e pôs se a cozer alguns trapos e dando-lhes uma forma bem precisa, fazendo nascer  um boneco bem simpático! A criança sorriu, e a mãe lhe entregou o boneco, mas o garoto tomou os instrumentos e imitando seus  movimentos  logo o deu um irmão.
A criança se esmerou naquela arte e superou a genitora; logo a casa quase não continha tantos bonecos,  a mão construtora também os animavam em um teatro vívido,  multicolorido, e de personalidades  tão distintas quanto às dos humanos;  e no dia em que ela o enxergou junto a estante dos brinquedos, vestindo sua mão com um dos favoritos  ele se voltou com uma surpresa... A boca do boneco se moveu, e a voz do garoto soou!
Dois anos de silêncio, e ainda poucas palavras... Ele falava pelo boneco!
A mão abriu lhe a boca e encontrou a meia língua, e ela se ajoelhou o obrigando falar, mas tudo era gemido, então ela ergueu o boneco, pretendendo  desvendar o truque, mas  a simplicidade de tecidos e amarras era tudo!  E foi acomodando o boneco à pequena mão que a voz ousou ressurgir!
Os  bonecos então falavam de fantasias; cantavam e dialogavam desenvoltos, mas recusavam a emprestar a voz ao passado, ou a temas dolorosos. Eles confortavam a mulher, a faziam rir, e dessas brincadeiras nasceu um modesto teatro que alegrou aquela aldeia.
Todas as crianças se achegavam e até se acotovelavam a fim de observar a menos distância um espetáculo raro para remotas datas, e findo espetáculo se aproximavam ainda mais; admirados  com tão grande talento em tão pequeno corpo! Os bonecos faziam festa!
Muitos dias de teatro e as crianças, já acostumadas com os bonecos  tentaram conversa com seu manipulador, mas este; abrindo os lábios tentava, mas não deixava escapar nenhuma palavra; a mãe, comovida  anunciou sua mudez e todos os olhos se cruzaram em desconfiança e a mulher reforçou abrindo a boca e mostrando a língua mutilada! Ela lhes contou a história; eles se foram murmurando...
A noite trouxe uma multidão à porta da casa, e os gritos os arrastaram para a frente do casebre e as tochas os iluminaram mais que a lua!
Clamaram: - Bruxa! Demônio!- E os apedrejaram
Naquele tempo não se conheciam histeria... Naquele tempo não Havia Freud.

Anderson Dias Cardoso. 

segunda-feira, 7 de março de 2011

Diógenes e a Lâmpada.




Os pés empoeirados chutam a peça, o corpo se inclina, apanha e limpa-a fazendo reluzir o metal desprezado.
Ia atirá-la fora, como um desprezo às tentações dos deuses que desde muito ignorava, mas a vibração do artefato o aterrorizou, e a névoa se corporificou como uma
manifestação quase onírica que ofereceu, com voz firme, os desejos que lhe cabiam.
-Mestre Diógenes, tens direito à três desejos!
O andrajoso se irritou ao máximo! Reduzira ao mínimo os caprichos da vida e agora outro (além de Alexandre) o tentava seduzir com as intranquilidades do possuir!
Nada queria, mas a voz instava ansiosa para que seus pedidos o libertassem.
Diógenes se lembrou de seus parcos bens; seu barril-casa, seu alforge, seu bastão e tigela e o coração se estremeçeu ao imaginar perder sua liberdade ao se prender pelo apego a oque quer que fosse e então voltou-se resoluto ao Gênio e barganhou seus desejos.
-Dos três quero somente um, e desobrigado estará de sua empreita!- Acertada a estranha troca o Gênio inquiriu o filósofo e lhe concedeu o pedido.
O Gênio partiu radiante, deixando selado a lâmpada; agora habitada por um eufórico novo morador.
Muitas outras vezes esfregada, a lâmpada liberava somente o pó que maculava as mãos pois o filósofo se recusava sair e atender qualquer pedido que o libertasse de sua nova liberdade...
Um lar...era tudo que precisava!

Anderson Dias Cardoso. 

sábado, 5 de março de 2011

Itinerários De Um Lobisomem Moderno.

Estava sozinho, ou, acompanhado por um estranho e a noite se apresentava clara, sossegada
e os ponteiros do relógio se adiantavam com mais pressa. Um pigarro, ou coisa parecida me
tira do transe; meu companheiro de espera se movimenta muito e a suspeita começa a aguçar
meus ouvidos, e inquietar meus sentidos.
Houve um toque; um sobressaltar do coração e a boca gemeu baixinho. A mão pressionou o
ombro e me virei assustado olhando para as mãos que podiam bem estar empunhando uma arma!
-Calma!- A voz, ao menos não ameaçava.
-O que quer de mim?- Dois passos inconscientes me levaram a me afastar.
-Calma...eu não mordo...Não mais!
Mantive-me a uma distância segura, em prontidão para qualquer golpe ou disparo, pouco me
importando com o assunto de meu interlocutor.
Passado os instantes iniciais de tensão a voz começou a tomar contorno, e quando a calma
veio entabulamos uma simpática conversa!
O pequeno homem calvo vinha da região norte, estava albergado não sei aonde e sua
conversa agora me entretia até a chegada do metro. Parecia entendido em mitologia, e se
dizia fã de Rômulo e Remo, ou melhor, da "Loba" que os amamentou; deu a entender que era
coisa de família.
Do tal mito passou a me perguntar o que havia me assustado naquele encontro e eu revelei
que achava que era um lunático armado. Ele suspirou aliviado e aquilo me intrigou e
passei de interrogado à inquiridor e acabei me descobrindo falando com um "Lobisomem"que
procurava se integrar à sociedade!
Realmente era lunático! Sua "estrutura" não combinava em nada com os mitos, relatos e
fotografias!
-Mais ou menos como os índios meu interesse pelas matas se findou! Cinema, automóveis,
restaurantes...Eu quero conforto!- Se explicou.
-E quanto ao pelo?
-Depilação à laser, hormônios...Não acha que essa discreta calva me caiu bem?
-E a "cara de cachorro"?
-Ótimos cirurgiões! Atendem 24 hrs, e realizaram as cirurgias na lua cheia! Serraram
aqui, enxertaram ali- e mostrou algumas cicatrizes quase imperceptíveis, e no fim da
apresentação me presenteou com cartões dos tais especialistas, e me fez diversas
recomendações de hotéis-clínica especializados em atendimentos no pós-operatório!
-Posso indicar um dentista, ortodontista, meu aparelho mastigatório teve que ser
totalmente readaptado quando em forma lupina!- Mais alguns cartões saltaram na minha mão!
-E as costas arqueadas?- Me indicou ortopedistas.
-E quanto aos instintos animais?
-Muita psicanálise meu amigo!!! Posso indicar! Era uma agressividade latente; desejo por
sangue, instintos sexuais bestiais...tudo coisa do passado! Hoje sou uma nova pessoa!
Menos carne na dieta, menos ira no coração, e desejos mais contidos...
O metro veio deslizando silencioso pelos trilhos, e ao entrar no vagão  me perdi daquela
figura curiosa. Então percebi que a ciência começava a trazer das matas mais do que os índios, matando uma cultura, matando o folclore...

Anderson Dias Cardoso. 

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Pequena Crônica De Um Publicitário Em Potencial!

Duas cadeiras das muitas da barraquinha de hot-dogs ocupadas, uma conversa alegre, de
boca cheia; nada de importante apenas a diversão pós aula de sempre.
Interrompidos pela chegada de um amigo e seus novos amigos (coisa que faz parte da natural desagregação de fim do colegial) resolvemos os convidar a tomar assento.
Dessa reunião dois grupos de diálogo se formam, mas água e azeite novamente se repelem; um deles, meio constrangido silencia; e o recém chegado se empolga comentando os projetos musicais da banda que ameaça a se formar.
Eu tento falar ao amigo, mas os amigos do amigo eram mais ilustres e minha voz soou fraca
então preferi o silêncio!
A conversa atingiu o ponto do planejamento da capa do CD e as idéias (muito primárias por
sinal!) foram lançadas para a votação, e das melhores sacaram a tradicional proposta da
figura do monstro!
Monstro devorando, monstro no cemitério, monstro e mulheres nuas, monstro rasgando a capa do CD e saltando para fora...E enquanto decidiam a fonte e localização geográfica da mesma no CD eu pude escutar o nome da banda: "The Intruders"!!!
A negociação se desenvolvia empolgadíssima, e uma idéia me veio à mente, e desejei tomar parte da conversa:
- A banda se chama "The Intruders"?- Ousei; e as vozes se calaram atentas.
- Sim!
- "Os Intrusos", não é???
- Sim!- Houve uma expectativa em torno da minha interrupção.
- Vocês planejam colocar a figura de um monstro rasgando a capa do CD e saltando para
fora do mesmo?
- É.- Se inclinaram para frente.
- Acho essa idéia meio batida, que tal algo mais sofisticado e original?
- Como o quê?
Abri um sorriso perto do  cínico e disse:
- Um homem deitado, pronto para fazer seu exame de próstata!
E as gargantas liberaram as mais selvagens gargalhadas, e logo que as lágrimas deixaram de escorrer dos olhos divertidos um dos amigos do amigo me disse:
- Isso é que é ser intruso!!!Há,há,há!!! Ei amigo; você é engraçado; por acaso toca algum instrumento???

Anderson Dias Cardoso. 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Adotados Nascem dos Sonhos.

Quando o espelho lhe começou a contar a verdade a respeito de seus cabelos encaracolados
e olhos negros em uma família de madeixas escorridas e olhos claros; quando a idade
começou a lhe clarear a mente ela correu para os braços paternos e interrogou sua
procedência.
Era filha do vácuo?A cria da rejeição ainda nos braços procurou os caminhos de seu
itinerário!
Filha de quem?Deixada por quê???E as perguntas se avolumavam junto à angústia de se
descobrir estranha ao seu passado e procurou se esconder ainda mais sob os braços do pai
que não era pai, e sentiu falta da mãe que não era mãe e que cumpria horário numa
importante reunião.
Do abraço o pai se afastou um pouco, e as mãos fortes se ofereceram às delicadas, e de
joelhos se nivelou ao olhar triste; e ela, agora arisca negou a carícia.
Não sou filha, não vim daquele ventre amado era o que as frases imaturas tentavam
explicar, e ainda outras tantas tumultuavam se na boca miúda.
Mas os olhos do pai se esqueceram dessa dor empática quando lhe brilhou uma estória à
mente, e um sorriso foi o início da cura!
-Você é minha filha sim; mas não nasceu da barriga da mamãe! A criança, confusa e
surpresa interrompeu o choro e se apegou a possibilidade de uma redenção.
-De onde eu nasci?
-Houve um tempo onde não entendíamos o mundo então inventávamos vários deuses que com suas vidas se explicavam todos os mistérios, e desses
um foi Zeus, o pai dos deuses, e dele e Métis, a deusa da prudência nasceu  Atênas, a
deusa da sabedoria!
Os olhos vermelhos de choro começaram a se transmutar e gradativamente começaram a
refletir segurança, e ela implorou por continuação.
-Ela não teve um nascimento normal, ou fácil, ou mesmo convencional!Ela não foi gerada no
útero de Métis, mas na cabeça de Zeus!!!
A criança  suspirou admirada, mas o pai não ofereceu trégua à sua curiosidade:
-A cabeça daquele poderoso deus doeu com as dores do parto, e o pai gritava tais dores e
deu à luz, com a ajuda de seu filho Hefesto sua linda filha veio ao mundo e foi a mais
sábia, e amada por seu pai, que a fez seu braço direito!
A criança olhou-o sem entender, mas ele, ainda com o sorriso brilhando nos lábios
completou sua estória:
-Você nasceu, assim como aquela deusa! Nasceu na minha mente ainda antes de nascer!Nasceu
dos sonhos em que eu a imaginava com os mesmos olhos escuros e cabelos crespos!E esse seu
sorriso era minha delícia, e eu esperei tantos anos por esses seus abraços!Eu sonhei
você, e sofri por cada dia que esteve longe de mim, e procurei por esse sonho até que a
encontrei, esse sonho que era você...minha filha!
Dai então o pequeno coração se aquietou, se abriu a receber todo aquele amor pois não se
compreendia mais como um descarte, mas como presente.

Anderson Dias Cardoso. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Comédia do Nome.

Na maternidade o alvoroço, a decisão importante do nome do infante!
Uma colagem dos antepassados familiares, ou a homenagem às personagens famosas?
O que se ressaltar? Inteligência, sensibilidade, ou mesmo fortuna?
Ah! Para meu filho um nome espichado como o tal D.Pedro II! Nome nobre, imponente e com
todos os anjos e arcanjos!
Identidade de várias linhas, nome que chame a atenção, representação de todas as
virtudes!
E foi ditado ao oficial aquela composição enorme de nomes, e de Certidão à CPF, de
cartões à passaportes passou (o nome) a ser um espanto, enfado, e aborrecimento ao que o
pertencia; e nas progressões dos dias a mão que era ágil ao redigir tamanho título tornou se agora econômica e preguiçosa impressora de uma breve e estilizada rubrica!!!

Anderson Dias Cardoso. 

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Padeiros Não tem coração!

No rodízio para se comprar lanche o escalado foi "Fulano", sujeito baixo e robusto e em toda normalidade da situação chegou à padaria e fez seu pedido, e o padeiro, enquanto embalava as quitandas começou a assuntar:
-O filho do "Sicrano" também trabalha com vocês na Selaria?
-Sim, trabalha.-Respondeu Fulano lacônicamente.
-Ele deve comer como uma anta né???Digo...pelo tanto de quitandas que esta levando...
Fulano respondeu com um sorriso de mofa e apressou seus passos para compartilhar a galhofa com os companheiros de serviço.
O rosto de deboche, ao atravessar a porta chama a atenção, e a história arranca muitas risadas e uma promessa de vingança a ser executada no dia posterior.
Outro dia, e o ofendido se escala para à compra e promete, no mínimo desaforos!
E lá ele se demora um pouco, aumentando as expectativa e especulações a respeito do que seria feito ao pobre padeiro, pois o ofendido o excedia em muito em tamanho e força.
A chegada trouxe junto também um sorriso de escárnio, nada de sangue ou hematomas e quando questionado a respeito da vendetta respondeu satisfeito:
-Cheguei, pedi as quitandas e logo o apertei ameaçadoramente para que repetisse o que tinha dito de mim. Queria que me chamasse de "Anta" na minha cara!!!
-E ai??? O que ele disse???- Perguntamos ansiosos pelo desfecho da tragédia, e ele disse cheio de malícia:
-Ele disse que não tinha dito nada daquilo, e que isso era invenção daquele macaquinho!
Então as risadas mudaram de endereço!
 Essa é uma história real.


Anderson Dias Cardoso.
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