quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Provocar a provocação.

Quero-te de poucas palavras. Quero-te sem filosofias. Quero-te desinibido e de cabeça quente, perdida. Quero-te com as tuas feridas delirantes, as tuas histórias de amor e de ódio e com os teus segredos que te aprisionam. Quero que os vingues no meu corpo, sem moral nem religião. Quero-te sem glamour nenhum. Quero-te sem formalidades nem apresentações. Quero-te jantar, banquete que o dia nunca sacie. Quero-te perigo livre, pecado vivo e erro crasso. Quero o maior de todos os teus fantasmas - tu mesmo.

Quero-me arrependida no dia seguinte, quero-me culpada. Só então me saberei viva - vivendo-te.

Contradanças.

Olha-me como se nos conhecessemos há muito, muito tempo. Falamos de banalidades, uma ou outra subtilidade, como quando me quer perguntar se tenho namorado sem me perguntar se tenho namorado. Afinal, não nos conhecemos há muito, muito tempo. Olha-me fixamente, sem timidez nem rodeios, cativa-me quando sorri confiante. Não se deixa intimidar pelo meu riso alto, arrepia-me a nuca quando fala mais baixo. Diria que o faz propositadamente, aguça-me os sentidos e arrepia-me a nuca, quando fala mais baixo. Cruzo as pernas, tenho as costas direitas e brinco com o copo, fingindo-me distraída. Sei que me observa, vai tocar na minha mão para me chamar. Olha-me sempre nos olhos, como se nos conhecessemos faz muito, muito tempo. Não sei dizer o que nele mais me intriga. Se a subtilidade das suas conversas banais, se o seu olhar confiante. Mais tarde haveríamos de dançar juntos. Eu a deixar-me levar por um estranho, que me guia em passos confiantes, como se soubesse que ritmo melhor me fica. Como se soubesse exactamente onde pousar a sua mão, confiante, para que me deixe levar pelo seu corpo. E o seu corpo é quente - há aqui um coração. E deixo-me levar por ele, mesmo que não lhe saiba contar as pulsações.

Apaixonei-me por um estranho que gostava de dançar, há muito, muito tempo.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Principezinho.

Se eu percebesse a tua língua e entendesse a tua filosofia de vida, faria de ti um bom livro. Dos ilustrados, se eu pudesse poupar outrém a tentar ler-te como uma imagem e ter-te, chapado, numa figura simples. Como o Princepezinho, um menino charmoso e intrigante. Afinal, nos bons livros, os mistérios primam sempre pelo fascínio. E nunca, mas nunca, pela desilusão.
Se eu percebesse por que idioma se rege o teu coração, faria de ti uma boa moral para crianças. Adolescentes. Adultos. Idosos. Inseguros. Apaixonados. Firmes. Misteriosos. Eu faria.
Mas as histórias não se escrevem de ses.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Peço-te.

Estou cansada de lutar contra as tuas sombras. Esgotei-me a fazer braço-de-ferro contra os teus fantasmas. Tu não me deixas vencer, não consigo ser maior quando me vês pequena. E não vês que é quando fujo que mais preciso que me procures? É quando te nego um abraço que mais quero que mo forces, me esmagues o peito no teu. Tenho saudades do teu peito no meu. Se preciso que me olhes nos olhos, tu olha, porque não consigo mais enfrentar o chão, temendo que não me encares com o carinho que te tenho. Olha-me com carinho. Abraça-me, o meu peito no teu. E se não digo sempre o que sinto, tu nem sempre mostras o que te regem os sentidos, portanto deixemo-nos de guerrilhas. Deixemo-nos de moralidades, não me vejas pequena! Deixa-me vencer. Deixa-me, por uma vez, vencer. Deixa-me ser maior e mais capaz que os nossos fantasmas. E dá-me um momento para te Amar, olhos nos olhos. Não vês?

Fujo porque preciso de ti e não o sei dizer senão correndo. E nem tudo tem de fazer sentido, por uma vez.
Levas-me a conhecer os mais bonitos sítios, pela ponta dos teus dedos.

Dueto.

Não me envolvas nas tuas falinhas mansas. Não me convenças com o teu discurso imperceptível, as tuas falas codificadas em alegorias audazes e apetecíveis. Oh não, não sejas apetecível. Não me seduzas com brisas de um Outono quente, um sopro no coração já frio. Não me mostres a vulnerabilidade de um corpo solitário, não quero ver a solidão de dois corpos roubados por uma só noite. Não me acompanhes na valsa lenta das minhas insónias e não me elogies os capítulos de vanguarda de histórias que te contaram de mim. Não me queiras ler por ti, não. Não me faças sentir que ainda existe peito, que ainda existe vontade, que ainda sobra calor de ti para mim. Deixa-te de falinhas mansas e joga justo. Não me faças esquecer de regras, apagar linhas e barreias por um beijo solitário roubado. Não me desafies para uma partida onde estou condenada a perder. A perder-me, percebes?
Eu sei que percebes e peço-te que guardes os dados e as tuas falinhas mansas. Às vezes não tem mal termos um coração solitário, já frio, que esqueceu que, um dia, virá o Outono aquecer-nos as noites e os pés dormentes.

sábado, 14 de novembro de 2009

Liga-me só para me dizeres que ainda me amas.

Sexta-feira 13.

Na passada quarta-feira, de madrugada, entrei no meu jipe com mais três amigos, depois de umas horas de estudo e muitos cafés na faculdade. Os fechos estavam encravados e estava irritada por não ter levado antes o carrinho, o fiat a que, por casa, chamamos de «boguinhas», seria bem mais fácil porque não tem nada estragado, manias do meu pai mais a segurança. Entramos os quatro porque estavamos a meio de uma conversa e estava frio, mas só dois iríamos fazer a viagem, o susto das nossas vidas. Embirrei que tinha de me ir embora - o meu pai vai-me dar na cabeça, gente - e ouvia sempre um "só mais dois minutos Joana, só até acabar a história". O Zé lá acabou de contar a história sobre a ex namorada, parece que os namoros tristes e os mal-amados têm estado na boca do mundo, ultimamente. Tentei convencer os outros dois a ficarem em minha casa, assim poderíamos ficar a conversar mais um pouco. Joguei a carta de não ter bateria, assim podia usar o telemóvel de um deles caso me perdesse pelo caminho, para avisar os meus pais. Mas não resultou, emprestaram-me antes um telemóvel - "mandas daqui a dás-mo amanhã". Contrafeita, a fazer caretas, lá fiquei com o telemóvel e escrevi mensagem ao meu pai, porque ele tem a mania das seguranças, que ia um pouco atrasada porque ainda ia levar um amigo a casa. Os dois de trás saíram, eu e o Zé pusemos o cinto.
Lembro-me que arrancamos com uma porta mal fechada, o sinal vermelho piscava na minha frente, paramos dois metros depois para a fechar. Uma vez tudo em ordem, confirmo duas vezes que levo luzes e seguimos caminho.
Iamos a conversar os dois, já conheço o Zé desde o ano passado, porque fomos da mesma turma do 12º, mas acho que nunca o cheguei a conhecer. Falavamos banalidades, pus a música baixa e sei exactamente o CD que tocava. Nunca tinha levado o Zé a casa e da última vez que se falara do sítio eu não estava só a cafés e íamos num taxi para uma festa, portanto não sabia de todo. Engraçado, dessa vez iamos no taxi os 4 que haviam estado no meu jipe, na passada quarta-feira, antes de arrancarmos os dois com uma porta mal fechada e histórias de amores mal-amados. Conduzia devagar, indecisa porque o meu sentido de orientação não é o melhor. Combinamos passar pelo colégio onde andamos no 12º, daí ele saberia dizer-me caminho e daí eu saberia ir para casa também. Combinado, conduzo devagar.
Aproxima-se um cruzamento, está verde. A música toca relativamente baixo, Rui Veloso. Continua verde quando me aproximo, a minha instrutora ensinou-me a ir com atenção até chegar perto do semáforo e depois não hesitar, está verde.
Não hesitei. Oiço um berro do Zé, vejo as mãos dele a tentar agarrar o banco, um carro cor metálico funde com a lateral do meu.


Dizem que nestas alturas vês a vida na frente dos olhos. You don't.


Os airbags abriram na hora, explode-me uma nuvem branca na minha cara e o volante está preso. O meu primeiro instinto é fechar os olhos, o Zé vai a falar calmamente comigo - "vamos ficar bem Joana, vamos ficar bem Joana" - e algo me diz que devia ver por onde estamos a ir. Abro muito os olhos, vejo mal do esquerdo e concentro-me no que consigo ver pelo direito, inclino-me sobre a almofada branca e sinto o pânico de girarmos vezes sem conta. Há um poste com anúncios publicitários, não consigo evitar bater-lhe. O embate é do meu lado, um baque demasiado rápido para me aperceber da sua gravidade, o jipe continua em movimento. Travo com toda a força, vejo ao fundo uma escadaria vertiginosa. Não vou cair por ali, não posso cair por ali, travo com os dois pés, puxo do travão de mão enquanto penso que tenho de ver a minha mãe ainda hoje. Não me está a doer nada e estamos demasiado perto das escadas, viro o carro contra um prédio, penso que talvez assim perca velocidade. Na montra tem um banco, o millenium bcp, partem vidros e o jipe abranda com o choque. Estou a travar com todas as minhas forças, viro mais o volante contra a parede, puxo mais o travão de mão. O carro pára a dois metros das escadas, se tanto. Há fumo e vidros por todo o lado, o Zé berra-me que saia rápido, destranco as portas mas não dou com o puxador. Há alguém que do lado de fora corre para a minha porta, mas não vejo bem do olho esquerdo. Começa-me a doer a mão direita, parece ter um formigueiro, lateja-me a cara e quando me abrem a porta e me içam para o ar frio da noite de quarta-feira passada apercebo-me que não consigo apoiar o pé no chão. Tento agarrar o telemóvel que me tinham emprestado, não consigo ver bem do olho esquerdo. O Zé anda pelo seu pé e olha o jipe desfeito. Sinto uma onda de dor, uma percepção que até à altura tinha bloqueado. Berro com todas as forças, choro pânico e medo e só então dou conta que seguro só a capa de um telemóvel. Continuo a gritar, o Zé abraça-me e imploro que alguém me deixe fazer uma chamada. Não pensei na altura como haveria tanta gente na rua naquelas horas da noite, um senhor liga para o 112 e uma menina vem-me dizer que se vê a minha carteira da janela partida do jipe. Estou a berrar que não quero saber da carteira, estou só a berrar, estou a sentir dores, estou a sentir medo, estou a odiar o senhor que me estragou tanto numa fracção de segundo. Passo as mãos pelo rosto, pelo pescoço, olho-as a medo, procurando sangue. Rodo as mãos intactas perto da cara, verifico que estou a ver bem. A cambalear, amparada pelo Zé, vou perguntar em lágrimas como está o senhor, o outro condutor, que não me responde porque está drogado até aos olhos e só me olha sem expressão. A polícia vai recolher testemunhos, tenho de escrever a minha versão e tenho de assinar e já não tenho lentes e levam-me para dentro da ambulância de maca. É muito branca e brilhante, a ambulância. As meninas estão vestidas de vermelho, pedem-me dados que, com o stress, não consigo dar. Coisas simples, como a minha data de nascimento. Choro muito, não menina, não sei em que ano nasci. Imploro que esperem pelo meu pai, ele é médico, digo repetidamente, não quero sair daqui sem ele chegar e ele já vem. Choro muito e o polícia faz-me soprar num aparelho que apita muito, diz que o meu nível de álcool está a zeros, eu só estive a cafés, lembro-me. Manias da segurança mas se tivesse ido com o «boguinhas» estaria desfeita muito antes de ver as meninas de vermelho e o aparelho que tem um tubo para soprar e que apita muito.
O Zé vem para a ambulância depois de mim, faz-me festas na cabeça e chora muito também, doi-lhe a cabeça e vai ter de fazer uns exames. É assustadora a visão de um amigo numa cadeira de rodas, num fundo muito branco, um fundo muito brilhante.
A viagem para o hospital pareceu interminável. É então que vês a tua vida em flashes, pessoas com quem queres estar antes de um dia, num cruzamento à noite, caíres do teu jipe numa escadaria a pique. Rostos que te sorriem, da ambulância muito branca e muito brilhante. Há objectos pendentes de umas prateleiras, a maior parte são tubos azuis e a menina de vermelho diz-me que sopre para um saco de papel para respirar melhor. Enerva-me ver o saco inchar de ar, desinchar sem ar. Não era suposto isto acalmar-me? Porque a viagem parece interminável.
Estive a soro e a raios-X por cada pedaço de mim. Cada osso foi visto, medicado e recomendado descanso. Mas ninguém me explicou como fechar os olhos sem lá estar de novo, sem ver tudo com a maior nitidez e o maior medo.

Quarta-feira passada foi sexta-feira 13.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A despedida.

Amanhã acordo num sítio novo - mas vou recordar-me sempre deste aqui. Vos, recordar-vos, aqui, no Coração em Demasia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Aviso.

O Coração em Demasia anda de máscara, quando diz "não tem mal" mente e está a chegar ao fim dos seus dias pelo mundo www.
Tomar um café.
Atravessar na passadeira.
Deixar o despertador tocar.
Estudar pela noite dentro.
Fechar janelas, abrir uma porta.
Dizer que sim.

Ignorar uma chamada.
Usar o cabelo solto.
Negar.
Tomar banho antes de deitar.
Cantar no caminho para casa.
Tomar chá sem açúcar.
Copiar um teste.
Pintar as unhas.
Explicar a uma amiga o exercício que ela não soube fazer.
Lavar os dentes.
Fazer os TPC de véspera.
Adiar.
Telefonar ao colega X.
Pedir dinheiro emprestado.


Faltar às aulas.
Carregar o andante do metro.
Imprimir os acetatos no e-learning.
Dizer que não.
Acordar a tempo e horas.





Todos os dias tomamos decisões. Mas esta
- Vou deixar-te
pode mudar uma vida. Ou talvez duas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Maybe not.

«A guy and a girl can be just friends but at one point or another they will fall for each other - maybe temporarily, maybe at the wrong time, maybe too late or maybe forever.»

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ama-la.

Deita-se com ela e sabe exactamente como a vai ver puxar os lençóis. Primeiro encolhe os joelhos, em simultâneo, estica os dois braços e agarra o edredão com as duas mãos firmes. Inclina-se para trás num só gesto, suave, acolhedor. Costuma apanhar o cabelo num rabo-de-cavalo enquanto não está mesmo para adormecer, está mais à-vontade assim. Chega-se para um lado da cama, oferece-lhe a outra metade com um sorriso. Tem vezes em que toca suave e carinhosamente na cama, duas vezes, chamando. As suas unhas são delicadas, os seus dedos finos. Nos seus olhos orbita um brilho intenso e os seus lábios são cheios.
Deita-se com ela e conhece exactamente cada palmo do teu corpo. Sabe, por exemplo, que encontrará música country na sua boca doce, ganhará vontade de dançar de texanas em cima de balcões depois de um beijo seu. Poderia cantarolar um ióreléri-ióreléri-ô quando ela abraça as suas costas entre um "amo-te" e um suspiro sinceros. Sabe também que na sua barriga moram segredos que teme a descoberto e que entrega ofegante, redentora e contrafeita. Sente-se capaz de berrar um grito de guerra quando ela se entrega, ofegante e bonita. Sabe-a bonita, deitada na metade da sua cama pequena.
Deita-se com ela e descobre um amor por inteiro. Um amor como nenhum outro que até então sentira. Um amor completo, repleto. Um amor que vem do peito e não vai a lado nenhum, porque tem de ficar aqui. Na cama com a mulher da sua vida - a que bate suave e carinhosamente, duas vezes, com a palma da mão no colchão, esperando.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Outrora foi assim. (*)

O dia rompe nublado. O sol, tímido, é quente e brilha nas árvores molhadas. Plantas que piscam na serra, aqui e além, dando sinais da chuva passada na noite anterior. Lavou as ruas e enxotou os cães vadios, já pelas redondezas só gatos famitos cirandam.
Acordo com a claridade fraca espreitando pela persiana fechada quase até tocar o chão. Olho-te dormindo, beijo-te o cimo das costas. Um beijo cheio, silencioso. Continuas adormecido, arrepias-te com os meus lábios há pouco acordados. Levanto-me devagarinho, tímida como o sol. Pisco os olhos ensonada, como a serra que brilha orvalhadas, enquanto me encaminho para a cozinha. É pequena e chateia-me a janela ser ainda menor que os metros quadrados que piso descalça. Abro a porta do frigorífico, procuro o pacote de leite meio gordo e a manteiga com sal. Ligo a torradeira enquanto recolho uma bandeja, um prato de sobremesa e uma caneca. Apanho o cabelo enquanto o pão torra e o leite com chocolate quente, já pronto, arrefece na bandeja prateada. Tudo pronto, levo para o quarto. Estás a despertar, Bom dia meu amor. Sorris, um sorriso bonito, enches o peito de cheiro a torrada e a amor.
(*) 03 Agosto de 2009.
Sentia-me capaz de fazer isto todos os dias, pelo resto da minha vida. Acordar-te pela manhã como a claridade, com um beijo cheio e o coração entregue numa bandeja prateada.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Começar mal a semana.

1101: Tento ligar-te.1749: Estou A ISTO de te reportar à GNR como desaparecida.2224: Concluo que me sinto-me perdida, sem ti.

domingo, 1 de novembro de 2009

Foge foge bandido.

Já estive mais longe de pegar nas minhas coisas, nas chaves do carro, e só parar no norte da Suécia. É o mais perto que tenho de um plano.