O mistério da Palavra tem tanto de complexo como de simples. Talvez por essa razão, Ela se torne convergente ou discordante conforme é sentida ou decifrada.
Desde ontem que na minha cabeça este assunto fermenta e se exacerba como uma prioridade de reflexão.
Seria mais cómodo deixá-la só entre mim e Deus dada a fragilidade da questão.
Mas, tal como a oliveira precisa ser agitada para que caiam os frutos, a Palavra também tem que ser remexida para que colhamos a Sua essência/verdade.
Tudo vem a propósito dum “confronto” que pôs – mais uma vez – diante dos meus olhos esta realidade: a nossa igreja está dividida. Quando faço esta afirmação, não a baseio numa conclusão leviana mas sim na constatação de factos.
Existem vários movimentos dentro da Igreja, uns mais conservadores do que outros, mas – penso eu – todos terão o mesmo objectivo: apresentar e levar Jesus através da Palavra. Evangelizar. Neste contexto considero a divisão saudável na medida em que na sua diversidade se consegue chegar mais facilmente a um maior número de pessoas. Como seres limitados e diferentes quer nas mentalidades, capacidades de entendimento e porque não dizer gostos, não nos realizamos de igual forma e estes movimentos desempenham um papel importantíssimo e abrangente na captação dos que ainda levitam na Sua busca e ancoram onde sentem as suas carências mais preenchidas.
Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em nós. 1Cor12,4
Todos diferentes mas progredindo na mesma direcção.
Este é um projecto arrojado? Sim. Mas muito aliciante. Eu acredito nele, se assim não fosse este blogue não existiria.
Porém, dentro de mim tudo se entristece quando me apercebo que algumas dessas fracções caminham isoladas, com as suas regras estruturadas, muito próprias e de costas voltadas umas para as outras, defendendo o seu caminho como sendo o único e mais verdadeiro, rejeitando e esquecendo que o projecto é uno e só vingará se não perdermos de vista o objectivo do mesmo. O resultado é um fomentar de confusão nos que só querem seguir Jesus e a fragmentação desse “Corpo” que acaba por enfraquecer.
Ora, vós sois o corpo de Cristo e sois seus membros, cada um no seu lugar. 1cor 12,27
É urgente que haja união entre os cristãos e para isso é preciso que todos nós tenhamos como prioridade, uma vontade de desempenhar com paixão aquilo que Deus quer de nós, que por sua vez, pode não ser igual ao que Deus espera do outro, mas é igualmente importante.
Jesus convida-nos a segui-lO. É um convite de amor, que só fará sentido se for aceite – acima de tudo – com e por amor. Porque só com amor seremos capazes de nos encaixar nas diferenças dos outros e aceitá-las, colhendo e acreditando que estamos todos no mesmo caminho se o nosso coração e postura estiverem em consonância com o Seu projecto.
Senão corremos o risco de sermos maus exemplos para quem ainda está oscilante e perdido.
Dirão alguns que a fé não é só sentir – como se o “sentir” por si só, fosse uma coisa vaga e questionável, ou até pouco credível – mas também raciocinar. Concordo! É isso que estou fazendo neste momento: raciocinando. Mas este meu raciocínio leva-me a concluir que o que sinto é que me faz raciocinar e aprofundar. Não consigo dissociar o sentimento do raciocínio nem relega-lo para segundo plano.
Como é que Jesus chega até nós? Não é através da Palavra dita ou escrita que por sua vez se manifesta num “sentir” que nos instrui e convida a sermos o Seu espelho nas nossas atitudes? Então, logo este “sentir” é a minha fé e o meu “sim” ao Seu projecto, o meu abraço à Sua vontade. Este “sentir” não é um esboço desenhado a carvão ou a giz que o vento leva, mas sim uma gravação que permanece tatuada cá dentro, por isso não pode ser posto em causa.
Jesus entra no coração de todos os que se dispõe a recebe-lo, sem excepção. Independentemente da sua cultura, inteligência ou condição social, porque na Sua humildade e grandeza, desce ao nosso encontro e aceita a nossa pequenez.
Como membros da nossa Igreja, unamo-nos no Seu infinito amor!
Dulce Gomes
(Ps: Já tive a graça de estar presente em alguns destes movimentos. Quando digo "graça" é porque neles encontrei Jesus, nos gestos e pessoas e dentro de mim. Por isso apelo ao acolhimento mútuo no amor. Esse é o caminho para que embora diferentes não se quebrem os elos que nos unem: O amor de Cristo)
ESTA POSTAGEM TOCOU A SUSCEPTIBILIDADE DE ALGUMAS PESSOAS, QUE, PELA SUA INTRANSIGÊNCIA APELIDARAM ESTE BLOG DE "CATOLICISMO MORNO".
HOJE, A POSTURA DESTE ESPAÇO MANTÉM-SE PORQUE A MINHA POSIÇÃO ENQUANTO AUTORA DE TODOS OS TEXTOS É A MESMA. O SILÊNCIO FOI QUEBRADO PARA REFORÇAR QUE CONTINUO DEFENDENDO QUE O AMOR DE DEUS EM NÓS TEM QUE PREVALECER SOBRE A MESQUINHES E PREPOTÊNCIA INDIVIDUAL DE CADA UM. AMO JESUS!
Dulce Gomes